Tecnologias de gestão e arranjos produtivos: uma análise da rede de empresas do setor de vestuário no município de Colatina/ES
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- Vera Belo Jardim
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1 Tecnologias de gestão e arranjos produtivos: uma análise da rede de empresas do setor de vestuário no município de Colatina/ES Mônica de Fátima Bianco (UFES-PPGAdm) mfbianco@npd.ufes.br Raquel Azeredo de Oliveira (UFES) rqazeredo@yahoo.com.br Daniel Fragoso Galdino da Silva (UFES) danielfgs@yahoo.com.br Resumo Este artigo pretende analisar as formas de atuação das empresas do aglomerado do setor de confecções do município de Colatina, para entender-se os modos de cooperação ou não ali existentes, à luz de um referencial teórico em arranjos produtivos locais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada em nove empresas selecionadas a partir de um diagnóstico inicial realizado com empresas do setor, no município, no ano de Quanto aos resultados, pode-se dizer que os empresários do pólo não reconhecem suas formas de atuação como ação em rede. No entanto, pôde-se apreender diversas formas de cooperação em atividades consideradas pré-competitivas. Palavras Chave: Arranjos Produtivos Locais; Setor do Vestuário; Pólo de confecções. 1. Introdução Nos últimos anos, devido à crescente concorrência e busca por mercados, a economia têm redescoberto o valor e a importância das micros e pequenas empresas no cenário mundial. O crescimento do mercado, agora acessível de qualquer parte do mundo, tem provocado um crescimento na variedade de produtos, abrindo espaço para as micros e pequenas empresas, que se inserem de forma inteligente nos diversos nichos de mercado abertos ao desenvolvimento (CASAROTTO FILHO E PIRES, 2001). Esse ambiente tem proporcionado a criação de novas alternativas organizacionais, onde a cooperação tem tido lugar de destaque. Dentre essas novas alternativas uma das que vêm tendo lugar de destaque é a abordagem utilizada pelos chamados distritos industriais italianos. Para Dadalto (2001) há uma grande semelhança entre a trajetória do pólo de confecções de Colatina com o ocorrido no Norte da Itália, nos chamados distritos industriais italianos. Sendo as redes de cooperação entre empresas o aspecto mais marcante dessa relação. Esse fenômeno de cooperação entre empresas vem se consolidando não só em países industrializados como também em países com economia em desenvolvimento. Segundo Amato Neto (2000, p.34): Uma das principais tendências que vêm se intensificando na economia moderna, sob o marco da globalização e do processo de reestruturação industrial, é a que diz respeito às formas de relações intra e interempresas, particularmente aquelas envolvendo pequenas e médias organizações. A formação e o desenvolvimento de redes de empresas vêm ganhando relevância não só para as economias de vários países industrializados, como Itália, Japão e Alemanha, como também para os chamados países emergentes, ou de economias em desenvolvimento México, Chile, Argentina e o próprio Brasil. ENEGEP 2005 ABEPRO 3910
2 Hoje Colatina caracteriza-se como o maior pólo de confecções do estado do Espírito Santo, em termos de receita, possuindo seis empresas entre as dez maiores indústrias têxteis e de confecções (REVISTA150 MAIORES EMPRESAS DO ESPÍRITO SANTO, 2004). Partindo deste contexto é que surgiu a idéia de realizar-se primeiramente um diagnóstico do arranjo produtivo do vestuário em Colatina e depois, uma pesquisa que é a que deu origem a este trabalho, para investigar as formas de atuação em rede das empresas do setor do vestuário no município. Para tanto, após um estudo realizado ao longo do ano de 2004/2005 pode-se inferir alguns resultados aqui relatados. Este trabalho está dividido da seguinte forma, primeiramente há um enquadramento teórico do pólo, para em seguida apresentar os aspectos metodológicos para o desenvolvimento da pesquisa que deu origem ao artigo. A seguir, apresenta a análise dos dados coletados e por fim traz as considerações finais. 2. Discutindo arranjos produtivos locais (APL) Conforme definição proposta pela RedeSist (uma rede de pesquisadores em arranjos produtivos), arranjos produtivos locais são aglomerados territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais foco em um conjunto específico de atividades econômicas que apresentavam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; políticas, promoção e financiamento (LASTRES; CASSIOLATO; MACIEL, 2003). Há ainda, a concepção de Grandori & Soda (1995), elaborada a partir de uma compilação de diversos trabalhos. Esses autores sugerem uma nova tipologia conhecida como Redes Inter- Empresariais. Essas são descritas e classificadas segundo seus graus de formalização, centralização e mecanismos de cooperação; neste caso as redes empresariais podem se apresentar como (i) sociais, (ii) burocráticas e (iii) proprietárias (GRANDORI & SODA, 1995 apud AMATO NETO, 2000). A seguir, as conceituações segundo os autores: Redes Sociais as redes sociais têm por característica fundamental a informalidade nas relações interempresariais, isto é, prescindem de qualquer tipo de acordo ou contrato formal. Estão direcionadas para o intercâmbio da chamada mercadoria internacional (prestígio, status, mobilidade profissional e outros). Sendo subdivididas em redes sociais simétricas e assimétricas. Redes Sociais Simétricas caracteriza-se pela inexistência de poder centralizado, ou seja, todos os participantes dessa rede compartilham a mesma capacidade de influência. Redes Sociais Assimétricas caracteriza-se pela presença de um agente central, que tem por função primordial coordenar os contratos formais de fornecimento de produtos e/ou serviços entre as empresas e organizações que participam dessa rede. ENEGEP 2005 ABEPRO 3911
3 Redes Burocráticas as redes burocráticas, em oposição às redes sociais, são caracterizadas pela existência de um contrato formal, que se destina a regular não somente as especificações de fornecimento (de produtos e serviços), como também a própria organização da rede e as condições de relacionamento entre seus membros. Assim como para as redes sociais, pode-se subdividir as redes burocráticas em simétricas e assimétricas. Redes Burocráticas Simétricas as associações comerciais por auxiliarem o desenvolvimento de acordos formais de relacionamento entre diversas firmas dos mesmos setores, sem que prevaleçam interesses particulares, é um exemplo clássico e bastante comum de redes de burocráticas simétricas. Redes Burocráticas Assimétricas redes de agências, licenciamento e franquias são casos tradicionalmente conhecidos deste tipo de rede. Redes Proprietárias as redes proprietárias caracterizam-se pela formalização de acordos relativos ao direito de propriedade entre os acionistas de empresas, sendo também classificas em redes proprietárias simétricas e assimétricas. Redes Proprietárias Simétricas são as joint-ventures, geralmente empregadas na regulação das atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), inovação tecnológica e de sistemas de produção de alto conteúdo tecnológico. Redes Proprietárias Assimétricas são normalmente encontradas nas associações do tipo capital ventures, que relacionam o investidor de um lado e a empresa parceira do outro. Essas são encontradas em maior freqüência nos setores de tecnologia de ponta, nos quais se estabelecem os mecanismos de decisão conjunta e até mesmo de transferência de tecnologia gerencial. No levantamento realizado por meio da pesquisa quantitativa, no ano de 2004, foi possível realizar-se um enquadramento teórico segundo a orientação dada pelos autores, podendo-se afirmar que o aglomerado industrial do vestuário em Colatina apresenta-se, de um modo geral como redes sociais assimétricas. Neste contexto, passou-se a querer compreender como de fato essas empresas cooperam, se cooperam, e se os dados capturados na pesquisa anterior de fato se consolidam e em alguns casos, se esclarecem por meio de uma abordagem direta, realizando-se entrevista em profundidade, pois neste caso pretende-se poder realizar inferências teóricas, e não mais por amostragem, sobre as formas de atuação neste aglomerado. 3. Aspectos metodológicos da pesquisa Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, que dá continuidade a uma pesquisa quantitativa realizada no ano anterior. Segundo Jick (1983) apud Flick (2004), esses dois métodos se complementam no estudo de um assunto, de modo a compensar as deficiências de cada método isoladamente. Esta pesquisa pretendeu entender os principais aspectos referentes à forma de atuação em rede dentre empresas selecionadas. No caso, foram selecionadas 9 empresas dentre o universo de 123 abordadas na etapa anterior, pelo critério de conveniência, levando em consideração também o tamanho, isto é, escolheu-se três de grande, três de médio e três de pequeno porte, para aplicação do roteiro de entrevista elaborado para abordagem em profundidade, a partir das inferências obtidas na pesquisa anterior. Para análise dos dados foram utilizadas, basicamente, sete categorias principais extraídas dos dados coletados e das premissas elaboradas quando da elaboração do roteiro, consubstanciadas nas inferências amostrais obtidas anteriormente, conforme dito. Foram elas: caracterização das empresas e das relações de produção; concepção e atuação em rede; fatores facilitadores; infra-estrutura; principais investimentos; treinamento; e mudanças tecnológicas. ENEGEP 2005 ABEPRO 3912
4 Algumas vezes, para fins de apresentação, realizou-se uma subdivisão em determinadas categorias de análise. 4. Análise dos dados 4.1. Quanto à caracterização das empresas e das relações de produção Pôde-se apurar que as empresas do APL em Colatina podem ser dividas em dois grupos: os que prestam serviços de facção e os que se utilizam desse serviço. No entanto, o grupo que presta serviço de facção pode ainda ser subdivido em aqueles que somente fazem facção e os que produzem para si e ainda prestam serviços de facção. Essa terceirização da produção a facção é essencial para o setor, dada a sazonalidade. A variação da demanda é tão grande que em determinados períodos ela chega a dobrar. Conforme cita um empresário do setor: (...) você tem uma fabrica toda montada e quando dá no 2 semestre, você tem muitas vezes que dobrar a sua capacidade produtiva e, você não tem equipamentos nem mão-de-obra para isso. Ai então, você terceiriza. Outro fator que leva as empresas a terceirizar sua produção são as variedades dos produtos e as especificidades de maquinários que determinadas operações exigem, além da redução de custos que ela representa. Veja o depoimento, a seguir. Em função da grande variedade de peças que a gente faz, onde você teria que ter também uma grande variedade de maquinários específicos e um quadro grande de funcionários, a princípio a gente optou por terceirizar alguns segmentos que a gente tem oferta de mão-de-obra terceirizada e há a questão também da redução de custos. Há subcontratação também nos fornecimentos de insumos e componentes e na comercialização, sendo, no entanto realizada com empresas de fora do pólo. Uma atividade que as empresas não terceirizam é o desenvolvimento de produtos, para não compartilhar os conhecimentos dizem os empresários do setor; assim como as atividades administrativas e os serviços gerais. No caso das grandes empresas, há departamentos responsáveis por cada área contabilidade, R.H., processamento de dados, já as pequenas têm uma pessoa que se responsabiliza por todos esses setores, exceto a contabilidade Quanto à concepção e atuação em rede Os empresários do pólo possuem um relacionamento pessoal, considerado por eles como muito forte. Uma das formas de interação entre as empresas se dá por meio do SINVESCO (Sindicato das Indústrias do Vestuário de Colatina). Conforme ilustrado pela fala de dois entrevistados: As empresas aqui, elas têm a característica de cooperação, existe o SINVESCO, que é um sindicato muito forte. Ele interage com as empresas. [...]existe essa interação com as empresas e até mesmo pelo fato da cultura mesmo regional, né! A maioria dos proprietários são conhecidos entre si, têm uma visão de mercado muito semelhante, daí esse bom relacionamento. (...) nós temos aí o sindicato das indústrias e eventualmente a gente está tendo reuniões, está trocando idéia, discutindo lançamentos, modelagens, enfim na luta por redução de carga tributária(...). Além do sindicato, as empresas interagem entre si por meio de atividades de facção e troca de informações. Segundo um dos entrevistados, ENEGEP 2005 ABEPRO 3913
5 O que existe aqui é uma empresa precisando da outra, precisa uma da outra em termos de facção. As parcerias são estabelecidas entre: (a) as próprias empresas; (b) entre as empresas e os fornecedores e (c) com as associações e organizações locais. Veja as falas dos entrevistados, (a) As parcerias se dão mandando clientes, compartilhando mercadorias. Por exemplo: tenho um pedido urgente e não chegou ainda a matéria-prima, aí a gente pega emprestado e quando chega a gente devolve. (b) Vicunha, César, Menegoti. Esses fornecedores geralmente oferecem treinamentos na área de criação, moda e apresentação de produtos. (c) Essa parceria se realiza através do sindicato (SINVESCO)... reivindicando junto ao poder público alguma coisa. Quanto às lideranças locais, não se pode dizer que há liderança, mas sim influência de alguns grupos, principalmente em se tratando de atuar como exemplo. Os grupos Mimo e Guermar possuem maior destaque por se tratarem de grandes empresas, estarem a muito tempo no mercado e também, por seus sócios estarem à frente do SINVESCO. Isso implica em influência local, veja o que diz um entrevistado. Os grupos Mimo e Guermar, esse povo grande, que vem a mais tempo no mercado levantaram muito para o pólo ser o que é hoje, principalmente a facção. Eles devem ter hoje muitas fábricas pequenas que dependem deles, que não fecharam porque eles estão ai dando serviço, apoiando, isso é muito interessante para o setor. As formas mais comuns de ações conjuntas estabelecidas por essa rede de empresas são as ações reivindicatórias junto ao poder público, capacitação de recursos humanos, viagens conjuntas a feiras e outras, como um consórcio de exportação que eles tentaram implementar e que não obtiveram êxito Quanto aos fatores facilitadores As principais vantagens de se estar em Colatina, sob a ótica dos empresários locais, são a disponibilidade de mão-de-obra qualificada e o fato de serem reconhecidos como um pólo de confecções. Assim, são citados como fatores facilitadores para o pólo: a aquisição de maquinário; o fato de serem lançadores de moda; a oferta e a facilidade de treinamento da mão-de-obra, dentre outros. Isso fica ilustrado pelos seguintes trechos retirados das entrevistas: Não tenho dificuldade em produzir com qualidade, adquirir máquinas e estar em Colatina ajuda, pois tem muitas pessoas que vendem máquinas e oferecem tecnologia de ponta aqui na nossa cidade, justamente porque tem muitas empresas. Eles se sentem atraídos pelo nosso mercado. Hoje nós somos lançadores de moda. Nas viradas de estação nós somos lançadores de moda, onde a Santista, a Cedro, Vicunha, que são os maiores fornecedores desse mercado, Santanense também, vêm lançar suas coleções aqui. Colatina é a única cidade do estado que é lançada essa moda aqui, ela é lançada na mesma época em todo o Brasil, e Colatina é uma dessas cidades. Essa parte de treinamento ao nível de você conseguir trazer para dentro da cidade cursos externos, palestras para qualificar o funcionário quando você tem uma rede maior, um conjunto de empresas, isso se torna mais fácil (...). ENEGEP 2005 ABEPRO 3914
6 As vantagens o pólo traz oferta de mão-de-obra, apesar de nem todos serem treinados no nível que a gente desejaria, mas ela traz oferta, diferente se você estivesse em uma cidade que não tivesse tradição no caso da confecção, você teria dificuldade de arranjar costureira Quanto à infra-estrutura O pólo de confecções de Colatina possui certas dificuldades de infra-estrutura, como o acesso a financiamentos de equipamentos mais sofisticados, principalmente pelas altas cargas tributárias e o custo da mão-de-obra qualificada, pelo fato da oferta de vagas ser maior. Esses são aspectos citados, principalmente, pelos pequenos empresários entrevistados. A principal dificuldade que eu acho são equipamentos mais sofisticados, que no caso tudo é cotado em dólar, e há dificuldade de financiamento. O próprio treinamento de mão-de-obra, as grandes empresas têm até um departamento para treinar, têm convênio com alguma entidade, e a pequena empresa sempre tem essa dificuldade e acaba recebendo mão-de-obra, às vezes, até mesmo descartada das grandes empresas, porque ela não tem outra alternativa. Outro aspecto relevante no que diz respeito à infra-estrutura local, é a falta de serviços técnicos especializados, como consultorias técnicas, manutenção industrial, etc. Quando estes estão presentes no pólo são muito caros ou são apenas básicos. Eu acho que faltam serviços técnicos na questão de moda, de atualidade. [...]essa parte de estilo, de criação, na minha opinião é bem carente. Por ser um pólo de confecção deveria ter um curso universitário que tratasse desse assunto. Essa parte de serviço técnico em Colatina é muito fraca, pelo menos eu não sei. Talvez, por exemplo, tem aqui o SENAI e o SESI, para as pequenas empresas eles dão um apoio que acredito que seja considerável, mas para uma empresa que pega um certo porte eles já não servem. A gente costuma dizer que a gente forma para eles. Eles costumam pegar os funcionários que nós formamos e usar. Então, na verdade, esse serviço técnico em Colatina, eu acredito que seja praticamente zero, tanto de manutenção, se você precisar de manutenção de máquina é difícil achar e é car. O custo é muito alto pela dificuldade de se encontrar determinado profissional Quanto ao treinamento Os principais treinamentos realizados no pólo estão voltados para a produção e produtividade, conforme relata a empresária: Hoje nossos principais treinamentos são em cima disso, da costureira, constantemente ela está aprendendo uma operação nova (...). Quando o treinamento é mais específico e não existe no pólo, as empresas mandam seus funcionários para fora, até do estado em algumas situações, para realizá-los. A percentagem de funcionários que freqüentam esses cursos varia de empresa para empresa, assim como os investimentos em treinamento de cada uma delas. Cada empresa possui sua própria política, de modo que não há interferência de uma política voltada para a ação conjunta do APL Quanto aos investimentos As empresas estão modernizando suas fábricas e têm uma preocupação com o desenvolvimento de produtos e com a qualificação da mão-de-obra, buscando aumentar sua capacidade produtiva para atender o mercado. Assim, diz o entrevistado, ENEGEP 2005 ABEPRO 3915
7 Modernização das fábricas, você está sempre tentando melhorar, trocando uma máquina mais antiga, defasada, por um maquinário de maior produtividade. Produtos na confecção hoje, tá uma loucura, você tem que estar sempre buscando novidades. Você não pode fechar os olhos para as tendências de mercado. Qualificação do pessoal também é outro item que você não pode deixar de lado, porque com o surgimento de novas máquinas você tem que também estar reciclando o pessoal para poder trabalhar nessas máquinas. Quanto ao apoio financeiro para esses investimentos, os empresários dizem trabalhar com recursos próprios devido às altas taxas praticadas no mercado. Não existe apoio financeiro, tudo é capital próprio ou banco privado. Nem CEF, nem BB, o que oferecem normalmente é inviável(...) 4.7. Quanto às mudanças tecnológicas Dentre os principais equipamentos que as empresas possuem, destacam-se: o CAD, as máquinas eletrônicas e as máquinas de bordar. Esses, normalmente, são adquiridos com capital próprio por causa das dificuldades dos empresários obterem financiamentos. Normalmente tudo capital próprio, pois o sistema de financiamento do estado hoje é muito burocrático e difícil, causa muito transtorno para a gente conseguir. Se você precisa de um volume um pouquinho maior, você leva pelo menos seis meses para conseguir. Esses equipamentos servem para ajudar a superar as pressões competitivas do mercado, sofridas por estas empresas. Pressões por uma produção de qualidade, ágil, flexível e de baixo custo. Segundo alguns entrevistados, Começamos a sentir dificuldades em produzir certos tipos de peças e adquirimos essas máquinas importadas italianas para poder se adequar ao mercado, porque senão, a gente não teria como competir. Automaticamente existe a pressão do mercado, sem dúvida. Porque você tem que competir com agilidade, com entrega rápida. Os reflexos de toda essa pressão são as mudanças nos processos produtivos e nas ações junto aos clientes, fornecedores e parceiros. Com os clientes busca-se entendê-los. Os fornecedores são mais cobrados. Já, as parcerias com outras empresas não são reconhecidas como conseqüência da pressão do mercado. Junto aos clientes, a gente realiza promoções, procura oferecer novidades, novos artigos. Com os fornecedores a gente busca uma parceria, todo fornecedor nosso, a gente faz uma avaliação de cada um deles quanto à qualificação. Então na verdade, já existe uma parceria de comprometimento, de entrega do produto. Ele sendo qualificado se compromete com a qualidade do produto, com o prazo de entrega e com o valor mesmo. Por ser parceiro a gente tenta buscar a melhor forma de pagamento, o melhor valor do produto. 5. Considerações finais Quanto ao relacionamento entre as empresas, muitas das pequenas só existem por serem faccionistas, prestadoras de serviços especializados para as grandes empresas. Existem cooperações nas áreas de treinamento de mão-de-obra, principalmente os técnicos, privilegiados pela concentração geográfica das empresas. Dessa forma, esta concentração ENEGEP 2005 ABEPRO 3916
8 geográfica permite que eles tenham facilidade de acesso a determinados fatores facilitadores à competição, ou seja, fatores influentes no custo de produção. No entanto, os empresários do pólo, definitivamente, não se enxergam enquanto rede. Eles admitem fatores de cooperação vinculados a troca de informações e ou materiais/insumos. Reconhecem que há por parte de algumas grandes empresas, ações que auxiliam na negociação do pólo junto aos organismos públicos que são intermediadas pelo SINVESCO, órgão de representação dos empresários. Além disso, essas grandes empresas atuam como agentes pró-ativos, influenciando no comportamento das empresas e, muitas vezes, sendo exemplos a serem seguidos. Esse tipo de comportamento de empresas em APL, não chega a ser uma exceção, tendo em vista a análise feita pelo autor a seguir, analisando um outro pólo, de outro setor e situado em outra região do país. A proximidade facilita a manutenção de relações de cooperação entre as empresas, especialmente nas chamadas áreas pré-competitivas, como treinamento da mão-de-obra, prestação de serviços especializados, geração de informações, entre outras. Dessa forma, a concentração geográfica e setorial dos produtores permite que eles tenham acesso a alguns serviços (e compartilhem os custos a eles associados) que seriam inacessíveis à pequena escala de produção.(amato NETO, 2000, p. 129, grifo dele) As mudanças tecnológicas que vêm sendo implementadas têm reflexos diretos no processo produtivo, o que tem levado os empresários do setor a procurar investir em modernização de maquinário, fator que estes consideram relevantes para a competitividade. Exceto os pequenos, com pouca capacidade de investimento, que têm sofrido com esse problema e passam a ser coadjuvantes do processo, exercendo prioritariamente a atividade de facção, embora haja exceções. Outro aspecto relevante citado foi a falta de serviços técnicos especializados junto ao pólo, um complicador também perante essas mudanças de cunho tecnológico. De um modo geral, pode-se dizer que o pólo se configura como uma rede de empresas com vínculos bastante incipientes. As relações entre empresas são bastante informais. Além disso, nem mesmo pôde-se identificar a proximidade com organismos, que fossem agentes de políticas de desenvolvimento voltadas para melhoria das ações e da competitividade do APL em Colatina. Referências AMATO NETO, J. (2000) Redes de Cooperação Produtiva e Clusters Regionais. São Paulo: Atlas. CASAROTTO FILHO, N.; PIRES, L.H. (2001) Redes de Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local. 2. ed. São Paulo: Atlas. CASSIOLATO, J.E.; SZAPIRO, M. (2003) Uma caracterização de arranjos produtivos locais de micro e pequenas empresas. In LASTRES H. M. M.; CASSSIOLATO, J. E.; MACIEL, M. L. (2003) Pequena Empresa: cooperação e desenvolvimento local. 1. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará. DADALTO, M.C. (2001) O Relacionamento Social-Econômico-Gerencial interfirmas: o caso do aglomerado da indústria do vestuário de Colatina. Dissertação de Mestrado. FACE-UFMG. FLICK, U. (2004) Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa. Porto Alegre: Bookman. Revista 150 Maiores Empresas Espírito Santo (2004). FINDES. Edição. ENEGEP 2005 ABEPRO 3917
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