ADAIL MARCOS LIMA DA SILVA (UFCG) JULIANA ENEAS PORTO (UFCG)

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1 MENSURAÇÃO DO RISCO DE CONTRATAÇÃO DO DESCONTO DE DUPLICATAS NOS BANCOS COMERCIAIS BRASILEIROS SEGUNDO O MODELO FLEURIET DE ANÁLISE FINANCEIRA - ABORDAGENS DETERMINÍSTICA E ESTOCÁSTICA ADAIL MARCOS LIMA DA SILVA (UFCG) marcos.adail@gmail.com JULIANA ENEAS PORTO (UFCG) juliana.e.porto@gmail.com A contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros reserva às empresas duas repercussões nocivas à folga financeira: o deságio aplicado sobre o valor nominal de um borderô de desconto compromete a capacidade de recruddescimento do capital de giro através do autofinanciamento; o não encerramento da responsabilidade sobre o risco de inadimplemento de cada duplicata contida no borderô de desconto, mesmo após a contratação de uma operação, recrudesce a participação do passivo circulante errático no financiamento do ativo circulante. Destarte, este trabalho tem por objetivo geral explicar um procedimento capaz de mensurar o risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros segundo o modelo Fleuriet de análise financeira. Sobre a metodologia: esta pesquisa pode ser simultaneamente classificada como explicativa e exploratória, pois almeja tornar inteligível o processo de mensuração do risco de contratação do desconto de duplicas, assunto pouco explorado na literatura contemporânea; a apuração dos resultados teve como orientação dados secundários contidos em manuais e artigos científicos, caracterizando a técnica de pesquisa como bibliográfica. Os resultados apregoam: a mensuração do risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros deve ser quantitativamente abordada segundo as perspectivas determinística e estocástica; a versão determinística mensura o risco a partir da variação negativa imposta ao saldo de tesouraria; sob a hipótese de a variação do saldo de tesouraria ser tratada como uma variável de interesse incerta, a abordagem estocástica tem seu emprego justificado na necessidade de serem compreendidas as intensidades das interferências exercidas pelas variáveis de decisão estocásticas. Por ser uma modalidade de crédito capaz agravar mais intensamente a possibilidade de manifestação da patologia da administração do saldo de tesouraria conhecida por

2 Efeito Tesoura, o desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros impõe ao gestor a obrigação de saber analisar o risco de sua contratação. Palavras-chaves: Bancos Comerciais, Desconto de Duplicatas, Risco de Contratação. 2

3 Introdução As principais linhas de crédito de curto prazo disponibilizadas às empresas pelos bancos comerciais brasileiros são (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2011): capital de giro, conta garantida, vendor, hot money, desconto de promissórias e desconto de duplicatas. Em relação ao desconto de duplicatas: os bancos comerciais recebem das empresas borderôs de desconto, formados por duplicatas a receber; os bancos deduzem do valor nominal do borderô o desconto (juros) e os encargos operacional (tarifas) e fiscal (impostos); a diferença entre o valor nominal do borderô e o deságio total divulga o valor efetivamente disponibilizado às empresas; mesmo após a contratação de uma operação, o contratante não tem encerrada sua responsabilidade sobre o risco de inadimplência de cada duplicata contida no borderô de desconto. Ao contratar o desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros uma empresa passa a ter sua folga financeira imediatamente atacada de duas formas: o deságio total corrobora com a redução da principal fonte de abastecimento do capital de giro, exatamente o autofinanciamento (extraído do lucro líquido); a não transferência do risco de inadimplência aos bancos comerciais obriga o contratante a considerar o valor nominal do borderô como um passivo circulante financeiro, reduzindo a relevância do capital de giro no financiamento do ativo circulante. A contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros promove a formulação da seguinte questão de pesquisa: como pode ser efetivamente aferido o impacto procedido da dupla investida contrária à folga financeira das empresas? Com base no exposto, este trabalho tem por objetivo geral este trabalho tem por objetivo geral explicar um procedimento capaz de mensurar o risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros segundo o modelo Fleuriet de análise financeira. Fundamentada na integração entre o modelo Fleuriet de análise financeira e a Simulação de Monte Carlo, a consecução do objetivo mencionado exigiu o cumprimento de três etapas: desenvolvimento de um modelo determinístico, onde a mensuração do risco teve como orientação as mutações imputadas ao indicador conhecido por saldo de tesouraria; adaptação do modelo determinístico à abordagem estocástica, justificada na necessidade de compreensão da evolução do risco em relação ao conjunto das variáveis independentes; aplicação prática do modelo estocástico. Saber analisar o risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais se impõe como uma exigência crucial à gestão financeira de curto prazo das empresas brasileiras, pois, segundo dados do Banco Central do Brasil (2011): o volume de negócios envolvendo desconto de duplicatas apresentou crescimento nominal de 765%, de 1999 a 2010; no ano de 2011, o valor médio anual da taxa de juros da operação considerada o custo efetivo do crédito classifica o desconto de duplicatas entre as três linhas de financiamento de curto prazo mais onerosas do país. 3

4 2. Fundamentação teórica 2.1. Modelo dinâmico de análise da gestão do capital de giro modelo Fleuriet O modelo Fleuriet de análise financeira, também conhecido como modelo dinâmico de análise da gestão do capital de giro, pode ter sua descrição sintetizada da seguinte maneira: por meio do autofinanciamento, parcela do resultado líquido do exercício apta a ser empregada no recrudescimento da participação do capital próprio da formação dos ativos, uma empresa deve buscar manter seu capital de giro (CDG) em um patamar suficiente ao financiamento integral da necessidade de capital de giro (NCG), diretamente proporcional à extensão do ciclo financeiro, e, inda, à promoção de um nível de folga financeira, expresso no saldo de tesouraria (T), capaz de inibir intervenções imperativas do passivo circulante errático (PCE) na composição dos recursos direcionados à própria NCG. O PCE, representado principalmente por empréstimos e financiamentos de curto prazo, figura na composição dos recursos destinados ao sustento do ciclo financeiro somente nos casos onde o valor observado ao CDG mostra-se insuficiente ao financiamento integral da NCG. Além do inconveniente de o PCE ser tratado como opção ao financiamento da NCG, a escassez de CDG gera, ao invés de folga financeira, aperto financeiro, culminando na intensificação da propensão ao inadimplemento. Como o T deriva do resíduo do CDG apurado após a cobertura integral da NCG, tem-se esclarecida a causa de o mesmo assumir valores negativos em situações de aperto financeiro, afinal, a NCG mostra-se superior ao CDG. Quando a frequência da ingerência do PCE no financiamento da NCG passa a ser tratada como recorrente, é porque o aperto financeiro vigente transitou de circunstancial a sistemático, originando a patologia da gestão do T conhecida por Efeito Tesoura (ARAÚJO; COSTA; CAMARGOS, 2010; BRASIL; BRASIL, 2005; FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003; SANTOS; SANTOS, 2008; SATO, 2007). Quanto mais hábil o processo de reversão do Efeito Tesoura, menor a exposição ao risco de insolvência. Uma das principais causas do Efeito Tesoura reside em circunstâncias de forte aceleração da economia (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003): as atividades fins de uma empresa apresentam crescimento abrupto; o volume de CDG mostra-se incompatível ao novo nível conferido à NCG; o recrudescimento do CDG com aporte de capital próprio, empréstimos e financiamentos não circulantes e venda de itens do ativo permanente é tido como inviável; portanto, passa a ser considerado forçoso o uso do PCE como alternativa à complementação do investimento previsto ao ciclo financeiro. Como pode ser constatado, o cálculo periódico do T representa o procedimento mais simples ao monitoramento do Efeito Tesoura. Para tanto, são sugeridos dois procedimentos: CDG menos NCG; ativo circulante errático (ACE) menos PCE Desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros Sobre as operações de desconto de duplicatas ofertas pelos bancos comerciais brasileiros (ASSAF NETO, 2010; BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2011; SILVA, 2009): as empresas encaminham aos bancos borderôs de desconto, ou conjuntos de duplicatas a serem descontadas, visando a obtenção de um crédito em conta corrente correspondente ao valor da diferença entre o valor nominal do borderô (VNB) e o deságio total (DT); 4

5 o DT é composto por desconto (D) ou juros da operação, encargo operacional (EO) ou tarifas de crédito e encargo fiscal (EF) ou impostos sobre operações financeiras; os contratantes das operações de desconto de duplicatas exercem a função de fiador natural de cada duplicata contida no borderô de desconto, portanto, mesmo após a efetivação de uma operação, o risco de inadimplemento continua sob a responsabilidade do emitente, tornando possível caracterizar o desconto de duplicatas como um tipo de empréstimo de curto prazo com garantia. As fórmulas 01 a 06 esclarecem as opções disponíveis à apuração de valores às variáveis VNB, D, EO, EF e DT, onde (SILVA, 2009): VN t, valor nominal de uma duplicata; PR t, prazo de recebimento de uma duplicata; PMR, prazo médio de recebimento do borderô de desconto; IOF F, alíquota fixa do imposto sobre operações financeiras (0,38%); IOF V, alíquota variável do imposto sobre operações financeiras (0,0041% ao dia); TCT, tarifa de contratação de uma operação; TCB, tarifa de cobrança (paga por cada duplicata); n, número de duplicatas contidas em um borderô de desconto. n VNB VN t (01) t1 n VN t PR t t1 PMR VNB (02) VNB d PMR D (03) 30 d PMR EF VNB 1 IOF F IOFV PMR (04) 30 EO TCT TCB n (05) d PMR d PMR DT VNB IOF IOF PMR TCT TCB n A aplicação da fórmula 07 consegue esclarecer o valor efetivamente creditado na conta corrente da empresa contratante, onde: VLB, valor líquido do borderô. d PMR VLB VNB 1 30 d PMR 1 30 F V IOF IOF PMR TCT TCB n Algumas orientações básicas pertinentes ao modelo Fleuriet colaboram com a compreensão do impacto das operações de desconto de duplicatas sobre a folga financeira das empresas: o autofinanciamento, oriundo do lucro líquido, representa o principal meio ao recrudescimento do CDG (ARAÚJO; COSTA; CAMARGOS, 2010; BRASIL; BRASIL, 2005; FLEURIET; KEHD; BLANC, 2005; GIMENES; GIMENES, 2005); F V (06) (07) 5

6 contabilmente, o valor correspondente ao total das duplicatas descontadas é tratado como conta retificadora do ativo circulante, entretanto, em termos gerenciais, deve ser computado do PCE (CRUZ; BRESSAN, 2011; NEIVA, 2008; SILVA, 2010). De acordo com as orientações acima, a contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros consegue agravar a folga financeira dos contratantes de duas maneiras: o DT reduz o lucro líquido no exato momento da contratação de uma operação, prejudicando, imediatamente, a capacidade de uma empresa recrudescer o nível do CDG através do autofinanciamento; devido ao fato de não ser desvinculado da responsabilidade sobre o risco de inadimplência das duplicatas contidas nos borderôs de desconto, a empresa contratante deve abordar o VNB como um componente do PCE, reduzindo a relevância do CDG no financiamento do ativo circulante. Em relação ao risco de exposição ao Efeito Tesoura: a incidência antecipada do DT sobre o VNB e a manutenção da responsabilidade sobre o risco de inadimplência tornam a contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros uma alternativa de financiamento de curto prazo capaz de recrudescer mais intensamente o risco de exposição ao Efeito Tesoura Simulação de Monte Carlo Modelar uma variável dependente incerta segundo uma distribuição de probabilidade exige o aproveitamento do tradicional método de Simulação de Monte Carlo (SMC), para o qual se espera o cumprimento da sequência de etapas listadas e detalhadas no Quadro 1. 6

7 A modelagem das variáveis de decisão estocásticas sem amparo em dados históricos explica um importante obstáculo, quiçá o maior, à aplicação da SMC. Para os casos onde a inexistência de dados históricos ameaça o não cumprimento da SMC, alguns autores consideram suficiente modelar todas variáveis como distribuições de probabilidade uniforme e triangular (CLEMEN; REILLY, 2001; SAVAGE, 1996). Entretanto, visando obter resultados mais consistentes aos outputs, Damodaran (2009) sugere a observação de alguns critérios úteis ao processo de modelagem dos inputs sem dados históricos, conforme divulga o Quadro 2. 7

8 3. Metodologia Quanto ao objetivo geral, este trabalho pode ser classificado simultaneamente como explicativo e exploratório: a discussão pretendida tem por intento estabelecer padrões, ideias ou hipóteses voltadas à mensuração do risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros; a explicação de um procedimento a ser empregado na mensuração do risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais segundo o modelo Fleuriet de análise financeira, e, ainda, adotando abordagens determinística e estocástica, exprime o ponto de partir à formulação de padrões, ideias ou hipóteses. Sobre a técnica de pesquisa empregada: a concretização desta pesquisa exigiu a manipulação de dados secundários, livremente disponibilizados em artigos científicos e manuais especializados, explicando o emprego da técnica tida como bibliográfica. O tópico correspondente à apresentação e análise dos resultados, classificado como mensuração do risco de contratação do desconto de duplicatas, encontra-se desmembrado em três partes: modelo determinístico: os esforços despendidos concentraram atenção na elaboração de equações voltadas ao esclarecimento das variações absoluta e relativa sofridas pelo medidor T, após a contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros; modelo estocástico: com as fórmulas do modelo determinístico desenvolvidas, devidamente adaptadas aos cálculos das variáveis de interesse, o modelo estocástico resultou de procedimentos empregados na identificação das variáveis de decisão avaliadas como aleatórias; aplicação prática: os detalhes sobre o exemplo hipotético utilizado como parâmetro ao cumprimento da demonstração prática figuram na Tabela 1; com base nas explicações do Quadro 2, foram contemplados todos os 8

9 esclarecimentos concernentes aos tipos de distribuições de probabilidade utilizadas na modelagem das variáveis de decisão do exemplo hipotético; as demais etapas da simulação foram executadas da forma como sugere o conteúdo do Quadro 1; todas as aplicações pertinentes à execução da simulação foram viabilizadas através da versão acadêmica do utilizado como um suplemento do Microsoft EXCEL, de propriedade da Palisade Corporation ( Variáveis de Decisão T ,00 VNB ,00 PMR 50 d 2,50% TCT 200,00 TCB 5,00 IR 25,00% CS 9,00% IOF F 0,38% IOF V 0,0014% n 25 Fonte: formulação própria. Tabela 1: dados referentes ao caso hipotético 4. Mensuração do risco de contratação do desconto de duplicatas 4.1. Modelo Determinístico As duas implicações da contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros podem ser matematicamente descritas como segue: redução do autofinanciamento, fórmula 09 a capacidade de fomentar o CDG a partir do lucro líquido é prejudicada em um patamar equivalente ao valor do DT, líquido da economia com imposto de renda e contribuição social (EIRCS), fórmula 08, onde IR e CS indicam as alíquotas do imposto de renda (25%) e da contribuição social (9%), respectivamente; EIRCS DT IR CS (08) Re dução do Autofinanciamento DT EIRCS (09) aumento do PCE, fórmula 10 devido ao fato de o risco de inadimplência do borderô ser intransferível, o PCE tem seu saldo elevado em um patamar equivalente ao VNB. Aumento do PCE VNB (10) 9

10 Portanto, as duas implicações da contratação de uma operação de desconto de duplicatas promovem importantes alterações nas contas erráticas, repercutindo diretamente na configuração do desempenho financeiro das empresas. A variação do ACE (ΔACE) é igual à soma entre o VLB e a EIRCS, conforme indicam as fórmula 11 e 12. A variação do PCE (ΔPCE) reproduz o mesmo resultado da fórmula 10. ACE VLB EIRCS (11) d PMR d PMR ACE VNB VNB IOF F IOFV PMR TCT TCB n IR CS 1 (12) A partir das variações advertidas nas fórmulas 10 a 12, é possível apurar as versões absoluta (ΔT) e relativa (%ΔT) da variação imputada ao T: a ΔT resulta da diferença entre ΔACE e ΔPCE, exatamente como mostram as fórmulas 13 e 14; a fórmulas 15 trata da exibição definitiva da versão matemática a ser empregada no cálculo da %ΔT, onde: T 0, valor do T antes da contração do desconto de duplicatas. T ACE PCE (13) d PMR d PMR T VNB d PMR d PMR IOF F IOFV PMR TCT TCBn IR CS 1 (14) VNB 1 IOF F IOFV PMR TCT TCBnIR CS % T (15) T A partir da observação conjunta das fórmulas 10 e 11, é possível justificar a superioridade da ΔPCE em relação à ΔACE, imputando à ΔT valores negativos. Com base na observação em destaque: a contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros torna os contratantes mais expostos ao risco de manifestação do Efeito Tesoura. Dito de outra forma: as fórmulas 14 e 15 definem exatamente as abordagens quantitativas a serem empregada na aferição determinística do risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros Modelo Estocástico A aplicação do modelo determinístico é suficiente à apuração do risco de reabastecimento do saldo de caixa através da antecipação de recebíveis. Todavia, adotar uma abordagem estocástica no tratamento da variável de interesse, ΔT ou %ΔT, sendo mais indicado fazer uso da %ΔT, contribui de forma significativa à análise das influências individuais exercidas pelas variáveis de decisão tidas como aleatórias ou estocásticas. Apesar de ser mais recomendado utilizar a %ΔT como variável de interesse incerta, em boa parcela das situações reais, dada a agilidade inerente à contratação do desconto de duplicatas, talvez não seja possível calcular com a agilidade necessária o T 0, logo, nestes casos, a condição de variável de interesse deve a ser atribuídas à ΔT. As variáveis de interesse ΔT e %ΔT podem ser tratadas como variáveis aleatórias contínuas, pois reúnem todas as condições necessárias à implementação da SMC: possuem procedimentos determinísticos de aferição; a maioria das variáveis de decisão converge à classificação estocástica; os prováveis inputs podem ser modelados a partir do procedimento lógico sugerido por Damodaran (2009). 0 10

11 O modelo estocástico à mensuração do risco de contratação do desconto de duplicas nos bancos comerciais brasileiros tem sua versão descrita no Quadro Demonstração prática O processo de modelagem das variáveis de decisão estocásticas, definidas no Quadro 3, teve como inspiração as orientações contidas no Quadro 2, resultando nas constatações minuciosamente descritas no Quadro 4. O conjunto das orientações contidas no Quadro 2 fornece importantes esclarecimentos à modelagem dos inputs de uma simulação, mas não elimina a subjetividade do processo de definição das distribuições de probabilidade, assim sendo, as atribuições contidas no Quadro 4 podem assumir outros desdobramentos. Apesar da subjetividade associada, aplicar as orientações descritas no Quadro 2 torna os outputs de uma simulação mais confiáveis, se comparados aos resultados auferidos a partir da simples atribuição de distribuições de probabilidade uniforme e triangular a todos os inputs. 11

12 No Quadro 5 constam esclarecimentos concernentes às etapas de execução da simulação e de preparação dos resultados da simulação para análise. 12

13 A Figura 1 reúne os frutos do tratamento estatístico imputado aos resultados da simulação atribuídos à variável de interesse ΔT, onde: os quartis primeiro e terceiro formam um conjunto com observações, distribuídas em uma amplitude interquartílica de apenas R$647,00; o posicionamento da média à direita da mediana é praticamente imperceptível, atribuindo classificação simetria à distribuição; o coeficiente de variação, com valor módulo de 12,74% (desvio padrão dividido pela média), e a amplitude interquartílica indicam uma distribuição de baixa dispersão; a estimativa pontual, exatamente a média amostral dos resultados da simulação para a variável de interesse, indica um T R$4.183,97 menor, após a contratação do desconto de duplicatas; o intervalo de confiança de 95% para a média indica uma precisão de R$10,65, equivalente a 0,25% do valor da estimativa pontual, conferindo extrema segurança à quantidade de iterações definida ao cumprimento da simulação; os testes Kolmogorov-Smirnov e Anderson-Darling anunciam à distribuição dos resultados do output um ajuste mais convergente à distribuição contínua de probabilidade do tipo logística, ou seja, resumindo as observações anteriores, trata-se de uma distribuição praticamente simétrica, com valores distribuídos em torno da média e com baixa probabilidade de ocorrência de valores atípicos. Na Figura 2 consta a distribuição dos resultados assumidos pelo output %ΔT, devidamente tratada para análise: as mesmas análises levantadas à variável de interesse ΔT, referentes aos temas simetria, coeficiente de variação, dispersão, ocorrência de observações atípicas e melhor ajuste, podem ser reproduzidas à variável %ΔT, pois a única diferença entre as versões 13

14 cálculo de ambas fica por conta da variável de decisão T 0, tratada no modelo estocástico como determinística; a estimativa pontual, justamente a média amostral dos resultados da simulação para a variável de interesse %ΔT, indica um T 13,90% menor, após a contratação do desconto de duplicatas; o intervalo de confiança de 95% para a média indica uma precisão de 0,04%, equivalente a 0,25% do valor da estimativa pontual. Por meio dos coeficientes angulares pertinentes à aplicação da análise regressão linear simples, a Figura 3 subsidia a interpretação do grau de influência dos inputs VNB, d, PMR, TCT e TCB sobre os outputs ΔT e %ΔT. Assim sendo: considerando o modelo de simulação constituído a partir das explicações contempladas nos Quadros 3 e 4, o VNB e a d assumem maior influência; PMR, TCT e TCB praticamente não possuem relevância; uma variação de 1 desvio padrão no VNB imputa reduções estimadas em 0,75 desvio padrão aos outputs ΔT (-0,75 vezes 532,88) e %ΔT (-0,75 vezes 1,78%); uma variação de 1 desvio padrão na d confere decréscimos simultâneos estimados em 0,61 desvio padrão aos outputs ΔT (-0,61 vezes 532,88) e %ΔT (-0,61 vezes 1,78%). 14

15 5. Considerações finais Se comparado aos principais tipos de crédito bancário de curto prazo, capital de giro e vendor, por exemplo, o desconto de duplicatas consegue ser mais severo em termos de repercussão sobre a folga financeira das empresas. Dois motivos podem ser empregados como justificativa: de imediato, o deságio total, composto por juros e encargos operacionais e fiscais, é aplicado sobre o valor nominal dos borderôs de desconto, reduzindo acentuadamente o valor final creditado na conta corrente do contratante (os juros são pagos antecipadamente); o risco de inadimplência, intrínseco aos títulos operacionais contidos nos borderôs de desconto, continua sob a responsabilidade do contratante, mesmo após a contratação de uma operação. A junção dos motivos mencionados acima explica a regra atrelada à contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros: o passivo circulante errático apresenta variação positiva superior ao valor da variação positiva do ativo circulante errático (as fórmulas 10, 11 e 13 explicam as variações). Portanto, de forma imperativa, o saldo de tesouraria tem seu patamar arrefecido pelo desconto de duplicatas nos bacos comerciais, corroborando com a intensificação da possibilidade de manifestação do Efeito Tesoura. Dito de outra forma: a promoção de uma maior exposição ao Efeito Tesoura deve ser interpretada como o risco associado à captação de crédito por meio da modalidade em discussão. Seguindo a linha de raciocínio concatenada nos parágrafos anteriores, o conjunto dos tópicos da apresentação e análise dos resultados consegue cumprir plenamente com o objetivo geral deste trabalho, calcado na iniciativa de explicar um procedimento capaz de mensurar o risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiros segundo o modelo Fleuriet de análise financeira, pois: a versão quantitativa ancorada em uma abordagem determinística prevê a aferição do risco através das variação negativa, absoluta e relativa (fórmulas 14 e 15), imposta ao saldo de tesouraria; 15

16 através da aplicação do método de Simulação de Monte Carlo, processo integralmente descrito nos Quadros 3, 4 e 5, a versão quantitativa fundamentada em uma abordagem estocástica contribui com a compreensão das influências exercidas pelas variáveis de decisão estocásticas sobre os resultados apurados às variáveis de interesse (Figuras 1, 2 e 3). Se a maior exposição ao Efeito Tesoura ocorre de maneira imperativa, do gestor financeiro deve ser exigido, também de modo forçoso, o cumprimento análises seguras atinentes ao risco de contratação do desconto de duplicatas nos bancos comerciais brasileiro, sendo esta demanda suficiente à compreensão da relevância deste trabalho. A resposta à questão destacada a seguir expressa a principal recomendação desta pesquisa ao desenvolvimento de novos estudos: qual o procedimento mais adequado à aferição do risco de contratação do desconto de duplicatas em empresas de factoring? Referências ANDRADE, E. L. Introdução à pesquisa operacional: métodos e modelo para análise de decisões. 3 ed. Rio de Janeiro: LTC, ARAÚJO, E. A. T.; COSTA, M. L. O. & CAMARGOS, M. A. Estudo da produção científica sobre o modelo Fleuriet no Brasil entre 1995 e In: SEMEAD, 13, 2010, São Paulo. Anais... São Paulo: FEA-USP, ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços. 9. ed. São Paulo: Atlas, BANCO CENTRAL DO BRASIL. Taxas de juros de operações de crédito. Disponível em: Acessado em: 10 agosto BRASIL, H. V. & BRASIL, H. G. Gestão financeira das empresas: um modelo dinâmico. 4. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, CLEMEN, R. T. & REILLY, T. Making hard decisions with DecisionTools 2nd rev. ed. USA, Duxbury, CRUZ, P. G. & BRESSAN, V. G. F. Análise financeira de empresas: uma aplicação do modelo Fleuriet e análise da demonstração dos fluxos de caixa em empresas de tecnologia da informação. In: Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, 11, 2011, São Paulo. Anais... São Paulo: FEA-USP, DAMODARAN, A. Gestão estratégica do risco uma referência para a tomada de riscos regenciais. Porto Alegre: Bookman, FLEURIET, M.; KEHDY, R. & BLANC, G. O Modelo Fleuriet Dinâmica Financeira das Empresas Brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, GIMENES, R. M. T. & GIMENES, F. M. P. Limitações ao Processo de autofinanciamento do Capital de Giro em Cooperativas Agropecuárias: Aplicações do Modelo Dinâmico de Análise Financeira. UnB Contábil Jan/ Jun MEDEIROS NETO, L. B. & OLIVEIRA, M. R. G. Determinação do Valor de uma Empresa de Utilidade: Uma Abordagem Estocástica Utilizando Simulação de Monte Carlo. XIII Simpósio de Administração da produção, Logística e Operações Internacionais, SIMPOI, NEIVA, J. J. R. Tipificação financeira de empresas inadimplentes: financiamentos de projetos de Investimento concedidos pelo BRDE. Dissertação de Mestrado. UFPR, Curitiba, SANTOS, M. & SANTOS, J. O. Avaliação da liquidez da empresa por métodos alternativos: diminuindo a exposição ao risco de crédito. RIC - Revista de Informação Contábil, Vol. 2, no 2, p , Abr-Jun/2008. SATO, S. S. Análise econômico-financeira empresarial: estudo da relação entre liquidez e rentabilidade sob a ótica do modelo dinâmico. Dissertação de Mestrado. USP, São Carlos,

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