REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES N.º DE 2005

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1 REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES N.º DE 2005 Solicita Informações ao Senhor Presidente do Banco Central do Brasil referentes a possíveis irregularidades verificadas no âmbito do Banco Rural. Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal Nos termos do art. 50, 2, da Constituição Federal, e de acordo com os arts. 216 e 217 do Regimento Interno do Senado Federal, requeiro sejam fornecidas, pelo Presidente do Banco Central do Brasil, as seguintes informações: 1. O Banco Central tem como identificar, em parceria com instituições de supervisão bancária de outros países ou com organismos internacionais, a vinculação, direta ou indireta, entre uma empresa off shore com um banco brasileiro ou com seus controladores e dirigentes? 2. Quais os convênios de supervisão internacional feitos pelo Banco Central do Brasil? O Banco Rural Europa S.A. e o Rural International Bank Limited, situado nas Bahamas, foram supervisionados? Em quais datas? Foram detectadas irregularidades? 1

2 3. O Banco Central do Brasil percebe indícios de ligação entre o Banco Rural ou seus controladores e dirigentes com a Trade Link Bank, off shore situada nas Ilhas Cayman? 4. O Banco Central do Brasil tem indícios de operação estruturada, conhecida também como operação triangulada, em que empréstimos, sem a devida garantia ou em condições desfavoráveis ao Banco Rural, tiverem sido feitos pela instituição financeira a empresas no Brasil em troca de transferência de recursos ou até mesmo com garantias ao Banco Rural fornecidas no exterior, a suas subsidiárias ou a empresas off shore de sua propriedade ou de domínio de seus controladores ou dirigentes? 5. O Banco Central do Brasil considera que o Banco Rural infringiu por reiteradas vezes, ao menos nos últimos 15 anos, como indicado por diversas Comissões Parlamentares de Inquérito e amplamente noticiado pela imprensa, a legislação bancária, sendo passível, portanto, de intervenção ou liquidação extrajudicial como determinam os artigos 2º e 15 da Lei 6.024/74, bem como de administração temporária como prevê o Decreto-Lei nº 2.321, de , em seu art. 1º, alínea d? 6. Quais apontamentos de irregularidades constantes nos Relatório de Supervisão do Banco Central do Brasil sobre o Banco Rural nos últimos anos? 7. Quais as razões para não ter havido, até o momento, a decretação de regime especial no Banco Rural? 8. O Banco Central do Brasil não considera que há risco de corrida bancária a um banco que é alvo de tantas denúncias na imprensa, como é o caso do Banco Rural, ainda que o mesmo esteja com patrimônio líquido positivo? 2

3 9. O Banco Central do Brasil considerou de boa técnica bancária, em seus relatórios de supervisão, os empréstimos feitos ao Partido dos Trabalhadores e às empresas das quais era sócio o Sr. Marcos Valério Fernandes de Souza pelos bancos BMG e Banco Rural? Que sanções administrativas o Banco Central lhes imputou? 10. O Banco Central do Brasil considera da boa técnica bancária os contratos de leasing feitos pelo Banco do Brasil com o Partido dos Trabalhadores? JUSTIFICAÇÃO Conforme amplamente noticiado, a empresa off shore Dusseldorf, confessadamente pertencente ao publicitário Duda Mendonça, recebeu por intermédio da Trade Link Bank, Banco Rural Europa S.A. e Rural International Bank, cerca de US$3,2 milhões. Como o Banco Rural supostamente fez empréstimos, repassados a diversos políticos e comitês de campanha, a empresas do Sr. Marcos Valério Fernandes de Souza, sem as devidas garantias, inclusive com renovação de empréstimo sem juros, conforme noticiado, deduz-se, logicamente, que pode haver operação estruturada pelo Banco Rural. A Lei nº 6.024/74 atribui ao Banco Central do Brasil a tarefa de intervir e processar a liquidação extrajudicial quando a instituição financeira sofrer prejuízo, decorrente da má administração, que sujeite a riscos os seus credores; infringir reiteradas infrações a dispositivos da legislação bancária não regularizadas após as determinações do Banco Central do Brasil, no uso das suas 3

4 atribuições de fiscalização; ou violar gravemente as normas legais e estatutárias que disciplinam a atividade da instituição bem como as determinações do Conselho Monetário Nacional ou do Banco Central do Brasil, no uso de suas atribuições legais. O Decreto-Lei nº 2.321, de , prevê em seu art. 1º, alínea d, a decretação de administração temporária quando a instituição financeira incorrer em gestão temerária ou fraudulenta. A despeito do amparo legal e apesar de diversas denúncias de irregularidades, desde o início dos anos 90, o Banco Central do Brasil não tomou nenhuma providência em relação ao Banco Rural, seja no sentido de coibir seu envolvimento com contas fantasmas, evasão de divisas, sonegação fiscal, crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, por meio de maior controle, ou mesmo de impedir que seus controladores e dirigentes ponham em risco a poupança popular, afastando-os da atividade bancária. Sabe-se que mesmo um banco sólido, ou seja, com patrimônio líquido positivo, pode sofrer corrida bancária. Qualquer banco guarda um percentual de seus depósitos em ativos de curto prazo, mas não tem como liquidar seus empréstimos de um momento para outro no caso de uma corrida bancária. Em circunstâncias normais, o percentual de ativos de curto prazo é mais do que suficiente para satisfazer depositantes que precisam sacar seus recursos. O depositante típico, no entanto, embora não precise sacar seus depósitos, não tem informação segura de que o Banco tem patrimônio positivo. Forma sua opinião sobre a solidez do banco observando o comportamento dos demais depositantes. O comportamento de um depositante influencia assim o comportamento de outro. Se o banco tem credibilidade, todos os depositantes continuam confiando no banco e todos terminam recebendo o valor integral de seus depósitos. Na corrida bancária, nenhum depositante confia no banco. O banco quebra e se torna incapaz de coletar o valor pleno de seus ativos. Seu patrimônio fica negativo e os depositantes entram no rateio do prejuízo. 4

5 Também pensamos ser importante o Banco Central fornecer seus parâmetros regulamentares de supervisão, sobre os contratos de leasing e empréstimos feitos diretamente pelo Banco do Brasil, BMG e Banco Rural ao Partido dos Trabalhadores. Por isso, consideramos importante que o Banco Central forneça as informações aqui requeridas, para que possamos cumprir a nossa missão fiscalizadora. Sala das Sessões, 24 de agosto de Antonio Carlos Magalhães Senador 5