FERNANDA GELBKE DOS SANTOS NºUSP:

Transcrição

1 FERNANDA GELBKE DOS SANTOS NºUSP: Projeto de Meta-autoria para a disciplina Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico Digital Disciplina ministrada pelo Professor Artur Matuck UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES SÃO PAULO 2012

2 Projeto: Vida de Interior... Para o projeto de meta-autoria, escolhi uma experiência de memória remota que relembra minha infância. Usarei como base a narrativa abaixo TEMA: Infância Minha família é do interior de São Paulo, atualmente eles moram em Jaboticabal, mas são naturais de Taiuva, cidade com pouco mais de habitantes. Na verdade, somente a parte do meu pai que mora lá, já que minha família por parte de mãe consiste em: mãe e vó, e ambas moram comigo em São Paulo. Mas voltando a falar sobre a minha família interiorana, queria deixar claro que eles são responsáveis por um grande feito na minha vida, uma infância normal. Não normal para os padrões de hoje em dia, de quem mora em cidade grande, na verdade hoje, minha infância é considerada anormal, até para o pessoal da minha idade. Pra falar a verdade mesmo, minha infância foi normal em partes, e essas partes que ficaram marcadas de verdade. Minha mãe nasceu, cresceu e sempre morou em São Paulo com a minha avó, conheceu meu pai num carnaval, por intermédio de amigos, em Jaboticabal. Meu pai só veio pra São Paulo quando já tinha quase 30 anos. Acho que por isso ele nunca gostou muito daqui, lembro de sempre ouvi-lo dizer: Mal posso esperar minha aposentadoria pra voltar pra minha casa, pro meu sossego. Todos os feriados e férias, sem exceção, íamos todos para Jaboticabal, pai, mãe, irmã, vó e eu na Kombi escolar que meu pai tinha. Era ótimo, uma em cada banco dormindo nas cinco horas de viagem de ida. Sendo o caipira que é, meu pai gostava de acordar com o canto do galo, e dia de ir pra Jabuca ele acordava todo mundo junto com ele. As cinco da manhã estávamos pegando a Rodovia dos Bandeirantes, chegávamos antes das dez da manhã, ainda em tempo de pegar o café da manhã. Também pudera, o que não faltava na casa dos meus avós era comida. Sabe aquela casa de interior, com o muro e o portão bem baixinhos, uma varanda grande com um jardim maior ainda, cheio de roseiras, que sempre tinha a cozinha no meio? Assim era a casa da Vó Nega. Cheguei a conclusão de que a cozinha era estrategicamente no meio para que a minha avó tivesse certeza de que todo mundo estava comendo, e bem. O café da manhã ficava na mesa até ás onze, pães, queijos, muitos queijos, manteiga, geléia, presunto, bolo, chocolate para as crianças e café para os adultos. Mesmo sendo criança e não gostando de café, aquele cheiro era muito característico, e até hoje é dos cheiros que mais gosto. A impressão que dava é que minha tia passava o café de hora em hora, porque ele sempre estava quentinho, e de acordo com os adultos, sempre delicioso. Quando a mesa do café era tirada, imediatamente colocava-se a do almoço, mas os queijos continuavam lá, caso alguém ainda sentisse uma pontinha de fome. O cheiro do café era substituído por aquele cheirinho de cebola com alho e azeite na panela, aquele refogado que

3 desperta fome mesmo em quem acabou de devorar um pãozinho. Esse, junto com o cheiro do café, são os campeões nas minhas lembranças. Almoço servido, sempre com 3 opções de mistura, arroz, o feijão da Vó Nega (que não é como o feijão comum, o dela tinha algum toque que eu ainda vou descobrir), uma massa, 2 tipos de salada. Suco e Guaraná Jaboti para beber. Devo lembrar que, sendo criança, não reparava que os adultos já estavam bebendo cerveja a muito tempo, e não pretendiam parar tão cedo. Achava que o mundo se resumia a beber suco ou Guaraná Jaboti. Água só quando eu estava cansada de correr ou brincar. Enfim, sai a mesa do almoço, entra a do café da tarde, cheiro de café, bolo quentinho. Sai a do café da tarde, entra a do jantar. Sai a do jantar, entra a da ceia, isso mesmo, depois do jantar sempre tinha uma sopa quentinha pra tomar antes de dormir. Não me lembro de ter visto aquela mesa sem comida uma vez sequer na minha vida. Nos intervalos das refeições a casa fervilhava. Os grupos divididos por faixa etária se separavam pela casa, fazendo suas coisas prediletas. Os mais velhos, ou o grupo sessenta mais, ficavam na sala. Televisão desligada, só papeando, e apostando quem iria morrer primeiro. Sempre achei isso meio mórbido, mas é um costume de interior. Sempre que se passava pela sala a frase era: olha, acho que não vou mais estar aqui no Natal que vem.... Triste mesmo era quando a profecia se realizava. Vi isso acontecer algumas vezes. O pessoal de quarenta a sessenta ficava na cozinha, as mulheres cozinhando, e papeando, entre uma louça e outra, os homens sentados na mesa, comendo e conversando, entre uma cerveja e outra. Ambos falando (mal) dos conhecidos de outros tempos, do fulano que foi pego traindo a mulher, da ciclana que foi abandonada pelo marido com 4 crianças para criar, da beltrana que engordou, parece uma baleia agora, uma peninha, era tão bonita quando menina. O pessoal de vinte a quarenta ficava na varanda, no quintal, sempre com as cervejinhas, vendo as crianças brincarem, fazendo planos para o futuro, para o sítio da família, pensando em como vai ser quando não tivermos mais os velhinhos prevendo sua morte, e as tias cozinhando para toda aquela gente. Falando mal do primo que nunca apresentou uma namorada e da prima que já apresentou cinco namorados. E aí vinham as crianças, sim, até vinte anos nessa família é considerado criança, e espera-se que comportem-se como tal. Que brinquem, comam besteira, corram, e curtam essa fase, mesmo que seja cuidando dos mais novos. E é aí que eu me encaixo. Fui criança de brincar na rua. Jogar vôlei sem rede e futebol sem gol. Descer a ladeira da rua da minha tia de skate e me estrupiar toda na hora de parar. Brincar de alerta, esconde-esconde, polícia e ladrão, pegapega, valendo o bairro todo. Já vendi geladinho de casa em casa e desci a ladeira da praça escorregando no papelão e escondi as peças do dominó dos velhinhos que jogavam todos os dias por ali. Roubei manga do vizinho e atirei bexigas cheias de água pelo muro na casa dele. Brigava com meus primos, pegava a bola e saia correndo, pela casa, no meio de todo mundo. Tropeçava no pé do meu avô quando passava pela sala, e levava uma bengalada toda vez. Tomava muita bronca, e só parava de fazer bagunça quando minha mãe começava a contar até três pra eu entrar em casa. Não gostava de tomar banho, vivia cheia de roxos e arranhões,

4 e na hora da novela, estava tão cansada que dormia. Ainda bem, porque não tinha mesmo espaço na sala. E a minha infância foi assim, diferente da grande maioria das pessoas que mora na cidade grande, que cresceu brincando dentro de casa. Eu ficava doente na hora de voltar, não queria saber de São Paulo, da minha casa com muros altos e grades. Eu queria comprar biju do moço que passava apitando na rua, eu queria ser livre. OBJETIVO Esse projeto tem como objetivo remontar a vida no interior de hoje em dia. A idéia é pegar opiniões diversas, de moradores de metrópoles e de moradores do interior (serão amigos e familiares que participaram dessa época) sobre como eles visualizam a minha infância no interior. Criar uma nuvem de palavras e a partir dessa nuvem escrever um poema (meta-texto) com as principais palavras que aparecerem na nuvem. Desse poema, tirar 3 ou mais fotos e incluí-las no álbum do facebook intitulado Vida de Interior... INTRUMENTOS DE PRODUÇÃO Para captar as opiniões diversas, usarei o facebook, s e relatos transcritos de telefonemas. Para a criação da nuvem de palavras usarei o programa: Wordalizer. O poema será escrito no computador e as fotos serão clicadas pelo iphone com o aplicativo Camera+ que permite inclusão de efeitos e mudanças de cor PROCESSO DE PRODUÇÃO 1. Captação de opiniões e depoimentos via facebook, e telefonemas. Transcrição dos depoimentos para figurarem como anexos no trabalho final 2. Inclusão de todos os depoimentos e opiniões no mesmo documento e transferência para o Wordalizer para criação da nuvem de palavras. Inclusão como anexo no trabalho final Exemplo de nuvem de palavras:

5 3. Criação de um poema com as 10 palavras que se destacam na nuvem. Inclusão como anexo no trabalho final 4. Produção de 3 ou mais fotografias que retratem o poema com o aplicativo Camera+ do iphone. Inclusão das fotoscomo anexo no trabalho final 5. Criação de álbum no perfil do facebook com o nome Vida de interior... e inclusão das fotos. Print screen da tela e inclusão como anexo no trabalho final CONCLUSÃO Serão criadas fotos representativas da infância de interior como meta-textos da minha própria infância que consigam retratar os principais momentos dela.

6