TIC e Soberania Tecnológica

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1 TIC e Soberania Tecnológica 2012-Info IntEmpres 2012 XII Congresso Internacional de Información Havana Abril Av. 4 de Fevereiro, Rua das Alfândegas, nº 10, LUANDA ANGOLA P.O. Box: 1323 Telefones : Fax : dntim@mtti.gov.ao

2 Índice Introdução Inovação Social / Soberania Tecnológica Computação na Nuvem / Soberania Tecnológica Governação da Internet / Soberania Tecnológica Capital Humano / Soberania Tecnológica Software livre e Código Aberto / Soberania Tecnológica Conclusões Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 2 de 10

3 Introdução É com especial agrado que venho, hoje, aqui no âmbito do XII Congresso Internacional de Informação falar sobre o papel das Tecnologias de Informação e Comunicação ( TIC ) no alcance da soberania tecnológica. O inicio do seculo XXI trouxe novos desafios para os países em vias de desenvolvimento no âmbito da luta para o alcance da soberania tecnológica. A globalização das actividades, a necessidade de aumentar a competividade, a eficiência das economias, a questão da governação da Internet, a computação na nuvem, a inovação social etc são apenas alguns exemplos dos desafios dos nossos países na luta pela soberania tecnológica, que precisam de soluções adaptáveis a cada uma das realidades dos nossos países e povos. É universalmente reconhecido hoje que o mundo esta caminhando já na Sociedade de Informação rumo à Sociedade do Conhecimento. Vivendo nesta sociedade o Estado não a pode ignorar, porque querendo ou não, tarde ou cedo esta nova sociedade vai penetrando em todos sectores da sociedade e da sua organização. Para fazer face a esta nova dinâmica os governos tem de se modernizar e flexibilizar, tem de desenvolver competências no domínio da soberania digital que habilitem os sectores públicos a melhorar os procedimentos, de forma a tornarem-se mais produtivos, mais eficientes e mais próximos aos cidadãos. O caminho para responder a estes desafios, passa sem duvida na aposta nas tecnologias de Informação assentes na soberania tecnologia, baseados nas soluções do software livre e código aberto, capaz de fomentar uma Sociedade de Informação inclusiva e reduzindo o fosso digital. Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 3 de 10

4 Inovação Social/ Soberania Tecnológica Na situação actual de crise a nível mundial, os países sentem a necessidade de encontrar soluções inovadoras para serem mais competitivos e eficientes. Alguns países conseguem taxas muito altas de inovação enquanto outros não atingem este objectivo. Tendo em conta estas diferenças a pergunta que se faz é se os nossos países estão preparados para inovação na busca da soberania tecnológica? Existem condições sociais necessárias para que a sociedade inove? Os modelos actuais de inovação são adequados às expectativas dos países? Muitos dos nossos países continuam a investir no modelo de investigação para produzir inovação de acordo com o manual de Oslo. A verdade indiscutível é que os nossos países serão mais competitivos, e possivelmente alcançaram mais facilmente a soberania tecnológica se inovarem, através das empresas utilizando os resultados da investigação. Ao longo dos anos a inovação tem evoluído desde a inovação de processos e produtos, para a inovação de serviços, inovação organizacional, inovação de marketing até a inovação do sistema educativo permitindo desta forma criar mentalidades empreendedoras. A pergunta que deixo para que os especialistas se debrucem é se a soberania tecnológica não deve evoluir também percorrendo o mesmo percurso evolutivo da inovação? Um estudo de caso por exemplo realizado na Inglaterra por uma conceituada empresa a NESTA, demonstrou que só 6% da inovação da economia britânica provem dos resultados da investigação cientifica tradicional, a pergunta que se faz donde veio a outra parte da inovação? surgindo assim a noção de inovação oculta. Não queremos dizer que a investigação cientifica não seja relevante, pelo contrário ela é muito relevante para a inovação, mas é insuficiente para explicar a inovação no seu conjunto. Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 4 de 10

5 Penso que nossos países muitas vezes com poucos recursos financeiros para aplicar na investigação cientifica devem aprofundar os aspectos da inovação oculta, analisar porque determinados territórios são propensos para inovação em relação aos outros, analisar o fenómeno inovador do Vale do Silício ( Silicon Valley ) nos Estados Unidos e adaptar às nossas realidades. Computação na Nuvem/ Soberania Tecnológica A computação na nuvem representa hoje uma das maiores conquistas tecnológicas dos últimos tempos, desde os main frame, os cliente- server, os computadores pessoais vulgo PC, a Internet, a mobilidade etc. A expressão Cloud Computing ou computação na nuvem foi lançado pela primeira vez pelo RAM CHALLAPPA em Existem varias definições sobre este conceito. Mais academicamente falando, a nuvem é uma rede em que vários actores podem oferecer recursos e serviços através da Internet. Neste contexto é preciso que nossos países e nossos especialistas no domínio da ciência da informação se debrucem sobre os aspectos relacionados com a soberania tecnológica no contexto da computação na nuvem. A computação na nuvem não é mais do que fornecer serviços através da Internet. No âmbito da computação na nuvem a Internet ocupa um lugar de destaque, mais não deve ser considerada como sendo a única via de criar a nuvem. A nuvem também pode trazer vantagens aos nossos países com poucos recursos financeiros através da partilha de recursos computacionais e da rede. A computação na nuvem tem grandes implicações nos serviços em rede, na arquitectura da rede e interfaces. Este novo paradigma da evolução tecnológica fundamentalmente em termos de largura de banda, apresenta aos nossos países novos desafios tais como a questão da Independência e segurança dos dados. Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 5 de 10

6 A importância da computação na nuvem depende em grande medida das necessidades e especificações de cada um dos nossos países ou organizações, não podendo ser generalizado as questões de soberania tecnológica neste domínio. Cada pais e cada organização é um caso com soluções especificas. Contudo permitam-me chamar a atenção de alguns perigos e desafios que os nossos países poderão enfrentar ao adoptarem as soluções da computação na nuvem. Não pretendo mencionar todos mais mencionarei alguns que considero serem os mais críticos: Segurança - A segurança das comunicações nem sempre é segura como se espera que seja, esta situação deve merecer uma atenção especial dos provedores de serviços, atendendo que os dados podem ficar mais vulneráveis por exemplo pelos hackers, pelo que o desenvolvimento de algoritmos de encriptação proprietárias com algoritmos específicos pode ser uma das abordagens para a soberania tecnológica neste domínio. A questão conhecida como lock in - A dificuldade de mover de um operador/fornecedor para outro fornecedor/operador. A questão financeira - Qual é o custo em relação a manutenção do seu centro de dados. Como fica a questão do pessoal, quais os perfis e qualificações necessárias. Será necessário maior largura de banda. Como se pode enquadrar tudo isto no âmbito da soberania tecnológica, deixo este conjunto de perguntas para que os senhores delegados se debrucem sobre esta matéria. Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 6 de 10

7 Governação da Internet/ Soberania tecnológica Com o surgimento da Internet e da Web, foi possível dar acesso fácil e praticamente ilimitado a todas as pessoas, e com uma variedade de recursos que anteriormente eram difíceis de alcançar ou com uma serie de controles e barreiras. Como exemplo podemos citar os sítios web das organizações, dos meios de comunicação e dos governos etc, Transmissão de eventos on-line, videoconferências, chats, redes socias etc. Podemos também constatar a possibilidade de actualização permanente da informação, a possibilidade de perguntar directamente as fontes primárias de informação e a possibilidade de confrontar os que tem pontos de vista diferentes. Mas nem tudo que está na Internet é verdadeiro, nem sempre é possível confirmar a validade das fontes de informação, pelo que se recomenda ensinar aos cidadãos competências para manejar a informação. A Internet tornou-se, num período relativamente curto, um dos instrumentos essenciais da sociedade de hoje. No final de 2010, por exemplo, a Internet tinha mais 1,8 bilhões de utilizadores, sendo um dos instrumentos com maior impacto na educação, na saúde, na governação e noutras áreas de actividade, sem esquecer, por exemplo, a cibercriminalidade, os abusos, os vírus, os spams etc. O impacto da Internet no âmbito social, económico e politico levantou a necessidade da governação da Internet, de forma a prevenir a fragmentação da Internet, manter a compatibilidade e interoperabilidade, salvaguardar os direitos e definir as responsabilidades dos vários actores, proteger os usuários finais em relação aos abusos e maus usos, proteger o interesse publico a nível nacional e Internacional, estimular novos desenvolvimentos. Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 7 de 10

8 Face a todos estes desafios da governação da Internet como nossos países devem enquadrar a problemática da soberania tecnológica? Como abordar a problemática da neutralidade tecnológica da Internet, da neutralidade da rede dos aspectos ligados a democracia e livre expressão na Internet? A questão do multiculturalismo na Internet no âmbito da soberania tecnológica. Como enquadrar a questão da gestão dos domínios, dos treze servidores raiz da Internet, dez dos quais localizados em solo norteamericano, no contexto da soberania tecnológica? Como ficariam nossos países hoje se os treze servidores da Internet fossem desligados? Todos estes aspectos devem merecer um estudo aprofundado ao abordarmos a problemática da soberania tecnológica! Capital Humano / Soberania Tecnologia A problemática do Brain Drain ou fuga de cérebros dos países do Sul para os países do Norte, é um dos problemas que deve merecer nossa especial atenção ao abordamos a problemática da soberania tecnológica. Nossos países devem criar condições e encontrar soluções para que o património intelectual de cada um dos nossos respectivos países seja conservado, criando mecanismos de estabilidade, estimulando a criatividade e premiando a competência. Sem isto os países do Sul nunca atingirão a tão desejada soberania tecnológica. Angola esta prestando uma atenção especial a integração das TIC na educação activa dos cidadãos sendo essencial para o desenvolvimento de um país através da formação de cidadãos mais e melhor preparados para um mundo em constante mudança. O ensino precisa, por isso, de assumir o seu papel fulcral na sociedade, no sentido de preparar os novos cidadãos activos para a vida em sociedade que se movimenta em ambientes tecnológicos cada vez mais sofisticados. Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 8 de 10

9 Integrar as TIC nos sistemas educativos virados aos aspectos da cidadania capacitará Angola de uma maior competitividade ao nível de recursos humanos. Nossos países precisam de um CIDADÃO: Mais crítico; Mais assertivo; Que saiba tomar decisões; Que tenha uma grande flexibilidade de pensamento;... e poder criativo! No fundo, um cidadão que seja capaz de interpretar adequadamente os desafios. É fundamental que se repense a formação dos novos cidadãos activos, que saem das fornadas universitárias. Estes têm de ter, hoje, uma grande flexibilidade de pensamento e poder criativo, capazes de interpretar adequadamente os desafios constantes que se apresentam ao longo da sua vida activa. Software livre e Código Aberto / Soberania Tecnologia O alcance de um status de soberania tecnológica converteu-se nos últimos anos no objectivo dos governos de muitos países em vias de desenvolvimento. Os países produtores de tecnologias utilizam os seus produtos e políticas de actualização para garantir que o fosso tecnológico que existe entre o primeiro mundo e o terceiro seja cada vez maior. No entanto, mediante a utilização de tecnologias de software livre e código aberto ( open-source ) pode-se aliviar ou reverter a situação. Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 9 de 10

10 Face às situações mencionadas mais adiante é fundamental que os países criem politicas e estratégias de âmbito jurídico e organizativo capaz de romper paulatinamente a dependência tecnologia convertendo-se de puros consumidores para produtores e exportadores de software, maximizando os aspectos de segurança e conhecimento endógeno. Conclusões As batalhas para conquista da soberania tecnológica são enormes, mais devemos começar com investimentos sérios no domínio da formação do Capital Humano e neste caso Cuba é um exemplo do qual nos podemos inspirar. Antes de finalizar, gostaría de esclarecer que o simples uso de tecnologias de software livre e código aberto não garante por si só o status de soberania tecnológica. Para se conseguir isto é necessário alcançar um conjunto de objectivos, inseridos numa política estratégica a nível governamental que contempla aspectos organizativos, tecnológicos, legais e comunicacionais que se devem ter em conta para uma evolução satisfatória. Em jeito de conclusão, não posso deixar de agradecer à comissão organizadora do XII Congresso Internacional de Informação por nos ter convidado e honrado para partilharmos convosco a nossa modesta visão em relação aos desafios dos nossos países para o alcance da soberania tecnológica. A todos os presentes o meu muito obrigado. Bem-hajam! Prof. Doutor Engº Pedro Sebastião Teta Página 10 de 10