INTERVENÇÕES EM PSICOLOGIA ESCOLAR: Ressignificando as relações institucionais
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- Mario Quintão Fonseca
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1 445 INTERVENÇÕES EM PSICOLOGIA ESCOLAR: Ressignificando as relações institucionais Mayara Espagnolo Sampaio (Uni-FACEF) Suzi Mara Freitas (Uni-FACEF) Fabiana Fernandes Teixeira (Uni-FACEF) Orientadora: Profª. Ms. Adriana Aparecida Silvestre Gera (Uni-FACEF) 1. INTRODUÇÃO Durante a realização do Estágio Básico III em Psicologia Escolar, foi possível adentrar na realidade desta instituição, onde observou-se que as relações existentes em seu cotidiano são complexas e precisavam ser cuidadas. Para isso, foi escolhido o ponto de maior necessidade de intervenção da escola: o contexto da sala de aula. Dessa forma, o presente trabalho, que foi desenvolvido durante o Estágio Básico IV em Psicologia Escolar, teve como objetivo principal trabalhar o professor e estabelecer uma parceria com o mesmo, objetivando a instrumentalização dos mesmos, e levando em consideração os pontos de maiores dificuldades. 2. REFERENCIAL TEÓRICO De acordo com Andrade (2005), no interior dos grupos, das organizações e das instituições, a escola se estrutura, constitui e toma forma em sua dialética instituído-instituinte, fazendo com que seja possível observar a importância de conhecer a escola como um todo, de maneira a analisar o ponto de vista dos vários agentes escolares para obter uma profunda compreensão sobre seu cotidiano e suas relações. Curonici e McCulloch (1999) apontam que a escola se caracteriza por sua complexidade que não é definida apenas pelo grande número de pessoas reunidas, mas também pelo elevado número de interações. Nesta perspectiva, o
2 446 trabalho do psicólogo escolar é ajudar o professor a perceber as relações entre os comportamentos, e como eles se mantêm. Segundo Martins (2003), a atuação do psicólogo deve estar focada nas relações que se estabelecem no contexto escolar, levando em consideração o meio social em que elas acontecem. O psicólogo pode ainda ajudar a aumentar a qualidade e eficiência do processo educacional através do uso dos conhecimentos psicológicos, de maneira a assumir o papel de agente de mudanças e atuando como centralizador de reflexões e conscientizador dos papéis representados pelos vários grupos que compõem a instituição. Em adição, Andrada (2005) afirma que o psicólogo educacional precisa de um espaço para escutar as demandas da escola e pensar maneiras de lidar com situações que são cotidianas, criando formas de reflexão dentro da escola. Para intervir no cotidiano escolar, o psicólogo deve propiciar situações onde as práticas sociais sejam ressignificadas, favorecendo a participação de todos que vivenciam o cotidiano escolar. Machado (2003) descreve que no contexto escolar, o psicólogo é um depositário de expectativas capaz de classificar e comparar indivíduos, tomandoos isoladamente (...) educadores querem saber o que as crianças têm, psicólogos querem descobrir porque elas agem da forma como agem (p. 64). Para Martins (2003) a realidade da demanda escolar aponta que os educadores esperam que as dificuldades sejam tratadas fora deste contexto, e após a cura, elas são novamente inseridas nas salas de aula, revelando a dificuldade do psicólogo quanto a uma forma de atuação que fuja do modelo clínico. Os professores reduzem o ensino-aprendizagem a atos mecanicamente repetidos no dia-a-dia, projetando as dificuldades externamente, sem refletir um pouco mais sobre as origens e formas de manifestação destes entraves (...) (MANSUR, 1984, p.09). As dificuldades são projetadas nos alunos, nos pais destes alunos, na instituição e estas professoras se esquecem que não são apenas observadoras de um processo, e sim uma dos principais agentes.
3 447 Aguiar e Galdini (2003) acreditam que pensar intervenções junto a professores significa pensar na totalidade institucional, pois realizar proposta de trabalho junto aos mesmos torna claro as concepções que nem sempre são explicitadas. As múltiplas possibilidades de trabalho com professores possibilitam a reflexão, re-significação e produção de novos sentidos acerca da vivencia de ser professor. Para estes autores, os novos sentidos se constituem por meio de um esforço que rompa o cotidiano, de modo a desmistificar velhas concepções e ao mesmo tempo se aprofundando em concepções rasteiras. Estas produções causam estranheza à prática docente uma vez que os professores não estão acostumados a se apropriarem de suas experiências, valorizar suas nuances, além dos desafios e questionamentos colocados pelos alunos, e pela própria realidade. Conforme pontua Silva (2005), acreditar no professor, valorizar seus aspectos pessoais e profissionais, mostrando que o conhecimento pode ser construído por meio do pensamento reflexivo sobre sua prática, também podem ser tarefas realizadas pelo psicólogo escolar. Todo professor, tem de forma consciente ou inconsciente, idéias de como é ser professor, ser aluno e ensinar, sendo ideal que isto se torne consciente. 3. METODOLOGIA Os participantes do presente estudo foram três professoras da 2ª à 4ª série do Ensino Fundamental; 24 alunos da 2ª série do Ensino Fundamental; 29 alunos da 3ª série do Ensino Fundamental; e 18 alunos da 4ª série do Ensino Fundamental. O trabalho de intervenção foi desenvolvido com três professoras que mostraram maior interesse e necessidade de apoio. Assim, cada estagiária ficou responsável por uma sala, sendo que ao mesmo tempo em que eram observados a dinâmica desses locais, a sociometria do grupo, suas crenças, valores e formas de relacionamento, atuava-se como um sujeito ativo naquele contexto, auxiliando
4 448 as professoras em suas tarefas cotidianas e ainda instrumentalizando as mesmas através de propostas de atividades que visavam ajudá-las quanto às dificuldades enfrentadas no cotidiano, levando sempre em consideração a realidade e limitações dos atores sociais. Para isto foi utilizada a observação participante, que de acordo com Minayo (1996), consiste na relação e participação do observador com o indivíduo ou grupo observado, uma vez que o pesquisador deve colocar-se no universo desse grupo, interagindo ativamente no campo, buscando entender os princípios gerais da cultura, para assim compreender as atitudes e comportamentos das pessoas pertencentes ao ambiente de trabalho. Dessa forma, Gil (1994) acrescenta que a observação participante consiste no tipo de observação no qual existe a real participação do observador na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada, sendo que o observador assume o papel de um membro do grupo. Foi utilizada ainda a abordagem etnográfica, que provém da antropologia, cuja principal característica, como André (2001) afirma, é desvendar os significados expressos pela linguagem, ações e eventos que os sujeitos ou grupos pesquisados usam para organizar seus comportamentos. Estes são originários da cultura, a qual deve ser descrita para que se possa compreender a realidade do grupo estudado, de maneira a entender os significados que são revelados gradativamente através do senso comum. 4. RESULTADOS Entrando em contato com a realidade de cada sala de aula, foram desenvolvidas propostas de intervenções de acordo com a necessidade emergente das turmas e professoras. As tarefas realizadas com os alunos ocorreram em sala de aula, no período vespertino, que são ministradas entre as 12hs e 40 min., e 17hs e 15 min. Com as observações participantes, e a realização de conversas informais em sala de aula, foi possível estabelecer vínculos, o que resultou na abertura para adentrar no mundo dos sujeitos
5 449 pesquisados, sendo que estes partilharam seus valores, culturas e ideologias propiciando a compreensão de suas práticas cotidianas. Desta forma, surgiram inúmeras situações em que as estagiárias, à medida que entravam em contato com o mundo das crianças, em sala de aula, colhia informações que surgiam acompanhadas de significados, sendo possível trabalhar com as professoras, as informações obtidas, que retratavam muitas vezes as causas das dificuldades, salientadas inúmeras vezes por elas. 2ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL A-) O cotidiano Diariamente, a professora Maria Helena 1 passa atividades na lousa, e enquanto os alunos realizam as tarefas, ela corrige os exercícios que foram feitos em casa. Conforme os alunos realizam as atividades propostas em sala, vão à mesa da professora para que ela diga se estão realizando os exercícios corretamente, e quando a maioria termina, ela corrige a atividade na lousa. O reforço escolar é feito no horário de aula, fazendo com que os alunos que apresentam dificuldades, fiquem constantemente atrasados em relação ao restante da sala. As aulas de educação física acontecem duas vezes por semana, sendo que em algumas dessas aulas, a professora pede que alguns alunos permaneçam na sala de aula, para que ela possa ensinar novamente a matéria e tirar possíveis dúvidas. Três vezes por semana, os alunos sentam em duplas, denominadas como duplas positivas, onde um aluno que não possui dificuldades com relação à matéria ajude um aluno com dificuldades, entretanto, esse método não é eficaz, devido às brigas que acontecem entre as duplas. B-) A professora Maria Helena leciona na presente escola há nove anos. Já se aposentou pelo estado, e agora está tentando fazer o mesmo pela prefeitura. Ela fez magistério com especialização em coordenação e direção, e se graduou em
6 450 pedagogia e matemática, no entanto, relata não gostar de dar aulas para o colegial. No período da manhã, Maria Helena trabalha como inspetora de alunos em uma escola de Ensino Médio e Colegial. A maior dificuldade que a professora relata encontrar em sua sala de aula é trabalhar com todas as crianças ao mesmo tempo, já que as crianças estão em níveis diferentes de aprendizagem. Segundo Maria Helena, alguns alunos sabem realizar todas as atividades propostas por ela, sem nenhuma dificuldade, enquanto outros não conseguem sequer copiar as tarefas da lousa. C-) Os alunos A sala de aula é composta por 24 alunos, e o clima entre os alunos pode ser descrito como de competitividade, superioridade, agressividade, e falta de companheirismo. Os alunos comumente se levantam de suas carteiras para darem tapas na cabeça dos companheiros de sala, pegam objetos e deixam cair de propósito no chão, e se negam a explicar algum exercício para um aluno com maior dificuldade, de forma a esconder o caderno para que o outro aprenda sozinho. Eles sentem constante necessidade em mostrar quem lê melhor e quem sabe a matéria, e devido a isso, alguns acabam classificados como os melhores. D-) Professora alunos A relação entre professor e aluno pode ser caracterizada como de medo por parte de alguns alunos, devido às ameaças da professora em mandá-los para a direção. Geralmente, Maria Helena permite que eles conversem desde que não tumultuem a aula, e quando ela começa explicar a matéria exige que todos fiquem quietos, gritando com toda a turma de estudantes caso isso não aconteça. A professora também critica os pais por não ajudarem seus filhos com o dever de casa, culpa-os pela má qualidade do material escolar que compram, e julga que as famílias são desestruturas.
7 451 Após a compreensão do cotidiano dessa sala de aula, chegou-se a um consenso de que o melhor a ser feito seria trabalhar a cooperação entre eles, sendo esta, uma necessidade observada como comum à sala de aula. 3ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL A-) O cotidiano As disciplinas das 3ª séries são dividias em quatro. A professora Paula fica responsável pelas aulas de português, história e geografia e a professora Simone, fica com as aulas de matemática. Cada professora possui sua própria sala, e os alunos se dirigem até o local no qual terá aula naquele horário, seguindo o esquema de salas ambiente. A rotina da sala de aula de Paula começava 15 minutos após o recreio, já que era preciso esperar que os alunos trocassem de sala. Geralmente, a professora escrevia um texto na lousa para que os alunos pudessem copiar a lápis em seus cadernos e, em seguida, colocava na lousa questões referentes ao texto para serem respondidas até o final da aula. Durante a realização dessa tarefa, a professora passava nas carteiras olhando como estava o andamento da atividade, e aquele que possuía dúvida, Paula se propunha a ajudar. Nos 15 minutos finais da aula, os alunos formavam uma fila para que seus cadernos fossem corrigidos, e aqueles cujos exercícios estavam errados deveriam refazê-los. B-) A professora Paula, 32 anos, está formada há dois anos em pedagogia, e este é seu primeiro ano como docente da escola em estudo. Ela é casada, seu marido também é professor e eles têm uma filha. Paula pretende fazer especializações e pós-graduação relacionada à área da educação, e em seu relato ela acrescenta que sempre foi seu desejo atuar em sala de aula. C-) Os alunos
8 452 A relação entre os alunos é caracterizada através de laços de amizades e também desavenças, o que comumente é esperado em uma sala de aula. São poucos os casos de alunos agressivos, desta forma a professora consegue contêlos de maneira a manter um bom clima de estudo. A competitividade é um quesito claramente observável, entretanto, há inúmeras tentativas por parte da professora em tirar um proveito positivo em relação a este aspecto, levando para o âmbito educacional. D-) Professora alunos A professora Paula sempre se dirige a seus alunos chamando-os pelos próprios nomes. Durante as aulas, os alunos ficam a maior parte do tempo em silêncio, executando aquilo que lhes foi proposto, e sempre que surgem dúvidas, elas são expostas à professora. Uma das maiores queixas de Paula está relacionada à dificuldade de concentração dos alunos, principalmente após o recreio, dessa forma, nos momentos de explicação e de necessária atenção para a execução de uma atividade, ela cobra constante silêncio e a permanência das crianças em suas carteiras, chamando a atenção da sala sempre que foge a essa regra, no entanto isso acontece sem a ridicularização, e se necessário, conversa em particular com o devido aluno. Para atender a queixa da professora foram sugeridas técnicas de relaxamento para serem aplicadas após o recreio, contribuindo para a instrumentalização da professora quanto as dificuldades em sala de aula, além de contribuir para a realização de trabalhos diferentes dos modelos de sala de aula, proporcionando um novo tipo de aprendizado. 4ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL A-) O cotidiano As disciplinas das quartas séries foram divididas entre três professoras: a professora Marisa, que fica responsável pela aula de matemática; a professora
9 453 Jaqueline que fica com as aulas de português; e a professora Graziela, com as aulas de história e geografia. Dessa forma, cada professora possui sua própria sala, e as turmas se dirigem até a sala da professora na qual terá aula naquele horário, não havendo uma sala fixa para cada turma. Assim, as observações participantes foram realizadas durante o horário em que a professora Marisa se encontrava com a sala em estudo. De modo geral, as aulas da professora de matemática se caracterizam por seguir uma rotina, ou seja, ela chega do recreio com uma turma da quarta série, espera mais ou menos quinze minutos e troca de turma. Os alunos entram, sentam, e a professora chama todos os alunos seguindo a ordem das fileiras, para que mostrem as tarefas feitas em casa. Ao terminar de dar visto nos cadernos, ela começa a corrigir na lousa, os exercícios feitos em casa, e em seguida pede para que eles copiem a tarefa da aula. Quando os alunos terminam de copiar e responder tais tarefas, ela os chama novamente em sua mesa, corrige individualmente os cadernos, se houver algum exercício errado, ela pede para que o aluno faça novamente, e quando todos terminam, ela pede para que eles novamente copiem da lousa a tarefa que será feita em casa e tragam os exercícios respondidos para a próxima aula. Três dias por semana, a professora Marisa leciona nesta turma da quarta série, e cada aula tem a duração de um período, ou seja, em torno de duas horas e quinze minutos, uma vez que o dia de aula é dividido entre dois períodos: o primeiro período, antes do recreio; e o segundo período, após o recreio. Duas vezes por semana, as aulas desta professora são interrompidas devido ao horário da educação física, que dura em torno de quarenta minutos. B-) A professora Marisa se casou com dezoito anos, teve seu primeiro filho, e logo entrou na faculdade. Fez o curso de pedagogia durante três anos, e neste tempo, ela lecionava de manhã, à tarde, e fazia faculdade à noite. Assim que terminou a faculdade, ela descobriu que estava grávida de quatro meses de seu segundo filho, então abriu mão de fazer a especialização em Deficiência Mental, a qual
10 454 pretendia, atuando desta forma apenas em escolas públicas, durante toda sua carreira profissional. Atualmente, Marisa está com 39 anos e tem três filhos, sendo dois rapazes e uma moça. Faz sete anos que leciona na escola em estudo, uma vez que entrou na mesma através de concurso público. A professora descreve ainda que no percurso de sua profissão, fez algumas escolhas nas quais se arrependeu, como ter prestado um concurso para ser professora substituta, relatando assim o sofrimento pelo qual passou nesta época, e principalmente por ter saído da prefeitura de Franca, já que ela também trabalhou lá como professora. C-) Os alunos A relação entre os alunos é de constante agressividade e falta de companheirismo. Eles estão sempre brigando, dedurando os outros alunos e se maltratando verbalmente, usando inclusive palavrões, o que dificultou a visualização de laços de amizades, que não são inexistentes, mas também não são profundos, já que muitas vezes predomina-se no ambiente da sala de aula, um clima muito mais competitivo do que de aprendizagem. Além do contraste das realidades sociais, outra característica predominante da sala é a variação das idades, havendo crianças de nove até treze anos. D-) Professora - alunos De modo geral, a professora Marisa, em sala de aula, classifica os alunos como o que tem HIV positivo; o problema de comportamento; o problema de aprendizagem; o problema de concentração; o capeta, entre outros adjetivos atribuídos, entretanto, ela não fala sobre tais características diretamente para seus alunos. Ela cobra constantemente o silêncio das crianças, e em várias ocasiões a professora ridiculariza algum aluno na frente de toda a sala, principalmente quando o mesmo comete erros de português ou de matemática. Em aula, Marisa não admite que os alunos se levantem de suas carteiras ou conversem com os colegas do lado, por isso as crianças estão sempre muito quietas, o que não é uma característica da sala. Assim, a professora considera
11 455 que não possui problemas em relação às crianças, já que elas estão sempre em seu controle, e de acordo com seu ponto de vista, a dificuldade na sala de aula, são das crianças em relação à matéria, pois elas não retêm o conteúdo por muito tempo. Assim, foram propostas atividades que visavam estabelecer a integração entre as professoras e as crianças, e na medida do possível, fazendo uma ponte entre as atividades desenvolvidas e a matéria que estudavam naquele momento. 5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Andrada (2005) afirma que o psicólogo educacional precisa de um espaço para escutar as demandas da escola e pensar maneiras de lidar com situações que são cotidianas, criando espaços para reflexão. Para intervir no cotidiano escolar, o psicólogo deve propiciar situações onde as práticas sociais sejam ressignificadas, favorecendo a participação de todos que vivenciam o cotidiano escolar. Assim, no caso da 3ª série, uma das principais formas de intervenção utilizada pela estagiária foi a construção de maquetes, que teve como objetivo orientar a professora a fazer uma ponte entre os conteúdos didáticos vistos em sala de aula, e a realidade vivenciada pelas crianças, já que muitas delas residiam em fazendas, e outras na cidade, o que fez com que a teoria estudada ficasse mais próxima da prática vivenciada, além de propiciar a interação e troca de experiências. Na 2ª e 4ª séries também ocorrem situações em que as estagiárias ressaltaram para as professoras a importância de se realizar um trabalho significativo juntamente com os alunos. Na 2ª série, foi sugerido que a professora trabalhasse de forma mais concreta e lúdica, tal como proporcionar às crianças o manuseio de dinheiros de mentira, utilizando a soma e a subtração, durante as aulas de matemática. No caso da 4ª série, através das observações participantes, a estagiária descobriu que muitas crianças que apresentavam problemas de aprendizagem e fraco desempenho escolar realizavam perfeitamente outras tarefas em outras
12 456 áreas, como no caso de Marcos, que sabia tudo sobre colheita, plantio, melhores agrotóxicos, tratores, entre outros assuntos relacionados ao campo, que era o ambiente onde vivia. Diante destas situações, o primeiro ponto a ser discutido com a professora foi a questão de a matéria estar distante da realidade das crianças, e uma vez que, não fazendo sentido para elas, é natural que os alunos percam o interesse em aprender. Assim, a professora, juntamente com a estagiária, pensou em maneiras de intervenções para fazer com que a matemática estivesse mais próxima da realidade das crianças, chegando à conclusão de que poderia ser montada uma feirinha, onde as crianças venderiam objetos, e voltariam o troco, para que a matemática tivesse um sentido mais concreto para elas. Devido ao tempo, não foi possível a execução de tal idéia, entretanto, essa professora afirma que colocará a idéia em prática em um próximo momento. Martins (2003), Andrada (2005) e Aguiar e Galdini (2003) salientam que a intervenção do psicólogo no meio escolar pode propiciar diferentes formas de reflexão e ressignificação da prática profissional das pessoas envolvidas neste contexto, assim, Cintra, Nunes, Lima, Rezende e Souza (2007) complementam a idéia propondo formas de intervenções em sala de aula, juntamente com os professores e alunos, para que seja possível haver compartilhamento de todos os envolvidos no processo. Desta forma, diante das questões apresentadas no parágrafo anterior, observa-se a relevância e significação destas afirmações para o presente estudo. Outro aspecto que merece ser discutido aqui é a questão da agressividade entre as crianças, ainda da 4ª série, em sala de aula, que só foi compreendida após um levantamento de dados, verificando a diferença entre idades, as diferenças sócio-culturais entre os alunos, e também entre eles e a professora. Observa-se que Martins (2003) e Minayo (1996) atentam para a importância em adentrar no cotidiano escolar, para que seja possível compreender e, conseqüentemente, saber trabalhar com variáveis como estas, que estão presentes na rotina da sala de aula e afetam diretamente as relações estabelecidas.
13 457 Concluindo, foi possível trabalhar diferentes técnicas nas salas de aula, levando em consideração a necessidade e os tipos de relações sociais, auxiliando no fortalecimento e ressignificação dos vínculos através da compreensão das limitações e diferenças de cada um. 6. CONCLUSÃO Dessa forma, acredita-se que é fundamental que o psicólogo escolar não leve em consideração apenas uma vertente de pensamento, uma vez que é necessário adaptar-se a cada realidade de sala de aula; como foi observado no presente estágio de intervenção. Estabelecer vínculos iniciais com os professores é de suma importância para que aconteça a parceria entre eles e o psicólogo, e conseqüentemente, a formação de uma relação verdadeira. O trabalho feito em sala de aula colabora para que essa ponte seja construída, sendo que muitas vezes é necessário que isto seja feito via alunos, devido à resistência geralmente apresentada pela maioria dos professores quanto ao trabalho conjunto. Entretanto, as realizações destas propostas devem ser entendidas como atividades que serão desenvolvidas e apresentarão resultados em longo prazo, não oferecendo soluções imediatas e permanentes. Assim, é essencial que as primeiras mudanças ocorram interiormente, para que se possa acreditar no que se propõe a fazer, procurando adequar este trabalho também a sua realização pessoal e profissional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRÉ, Marli Eliza D. A. Etnografia da prática escolar. 6. ed. Campinas: Papirus, ANDRADE, A. S. Sociodrama Educacional uma estratégia de pesquisa-ação em Psicologia Escolar Institucional In: FLEURY, H. J.; MARRA, M. M. (ORGS) Intervenções grupais na educação. São Paulo: Agora, 2005, cap. 2, p
14 458 AGUIAR, Wanda Maria Junqueira; GALDINI, Veruska. Intervenção junto a professores da rede pública: potencializando a produção de novos sentidos. In: In: MEIRA, M. E.; ANTUNES, M. (orgs.). Psicologia Escolar: práticas críticas. 1 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, v. 1, p CINTRA, Silvia Maria; LIMA, Lucianna Ribeiro de; NUNES, Liliane dos Guimarães Alvim; REZENDE, Paula Cristina Medeiros; SOUZA, Cláudia Silva de. Intervenções em sala de aula: O psicólogo escolar criando espaços reflexivos no cotidiano escolar. VIII Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional, UFSJ. 26 a 29 de Abril de Disponível em: CURONICI, Chiara; MCCULLOCH, Patricia. Psicólogos e professores: um ponto de vista sistêmico sobre as dificuldades escolares. São Paulo: EDUSC, GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, MACHADO, Adriana Marcondes. Os psicólogos trabalhando com a escola: Intervenção a serviço do que? In: MEIRA, M. E.; ANTUNES, M. (orgs.). Psicologia Escolar: práticas críticas. 1 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, v. 1, p MANSUR, Luci Helena Baraldo. O psicólogo e o professor. In: KHOURI, Yvonne G. (org). Temas básicos de psicologia: Psicologia escolar. São Paulo: EPU, 1984, p MARTINS, João Batista. A atuação do psicólogo escolar: multirreferencialidade, implicação e escuta clínica. Psicol. estud., jul./dez. 2003, vol.8, no.2, p ISSN
15 459 MINAYO. Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. 4. ed. Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco, SILVA, Silvia Maria Cintra da. Psicologia escolar e arte: uma proposta para a formação e atuação profissional. Campinas: Alínea, Todos os nomes mencionados no presente trabalho são fictícios.
Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.
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