APRESENTAÇÃO DA CARTA APOSTÓLICA PORTA FIDEI Introdução

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1 1. Introdução APRESENTAÇÃO DA CARTA APOSTÓLICA PORTA FIDEI 1 É antigo o costume de se ter anos temáticos na Igreja. Os Jubileus, Anos Santos, Anos Marianos e Anos Eucarísticos são os mais comuns. O Beato João Paulo II ampliou tal costume nos anos que antecederam a Celebração do Grande Jubileu do ano 2000, com uma sequência de anos temáticos. Os benefícios disso são muitos. O reavivamento da consciência eclesial a respeito da importância de um aspecto da vida cristã, de uma dimensão da fé, ou de um tema; a animação da ação evangelizadora das Igrejas locais; a solidificação do sentido da comunhão universal dos fiéis; e outros muitos. Ano da Fé já houve um, em 1967, proclamado por Paulo VI. A ele Bento XVI se refere na Carta Apostólica Porta Fidei (PF), com a qual faz a indicção de um AF que irá de outubro de 2012 a novembro de Nessa carta, o papa assume a intenção fundamental do anterior. Naquela ocasião, no contexto do décimo nono centenário do martírio de São Pedro e São Paulo, o objetivo era retomar a exata consciência da fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar 2. E, afirma Bento XVI, a Profissão Solene de Fé, no encerramento daquele Ano, atestou como os conteúdos essenciais [...] necessitam ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado (PF, 4). Com relação ao contexto de então, o papa Bento recorda que, na mente de Paulo VI, aquele ano respondia a uma exigência pós-conciliar: a profissão da verdadeira fé e sua reta interpretação (PF, 5). O primeiro anúncio da intenção de proclamar um Ano da Fé se deu na homilia da missa celebrada com os participantes da Congregação Plenária, dia 16 outubro de 2011, do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. Precisamente para dar um renovado impulso à missão de toda a Igreja, de conduzir os homens para fora do deserto em que muitas vezes se encontram, rumo ao lugar da vida, 1 Texto apresentado na reunião da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé com o GIP (02/02/2012) e na reunião do GRESCAT (04/02/2012), pelo assessor Pe. Antonio Luiz Catelan Ferreira. 2 Paulo VI, Exort. AP. Petrum et Paulum Apostolos (22/02/1967), AAS 59 (1967),

2 da amizade com Cristo que nos dá a vida em plenitude, gostaria de anunciar nesta Celebração eucarística que decidi proclamar um «Ano da Fé», que poderei explicar mediante uma especial Carta apostólica. [...] Será um momento de graça e de compromisso para uma conversão a Deus cada vez mais completa, para fortalecer a nossa fé n Ele e para O anunciar com alegria ao homem do nosso tempo 3. No dia seguinte foi publicado o documento, que fora assinado dia 11 de outubro. Voltando ao tema, na sessão plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, ele retoma o objetivo do Ano da Fé, desta vez explicitando como, em sua intenção, essa iniciativa corresponde ao desafio atual que ele considera central, a crise de fé. Como sabemos, em vastas regiões da terra, a fé corre o perigo de se apagar como uma chama que não encontra mais alimento. Estamos diante de uma profunda crise de fé, de uma perda do sentido religioso, que constitui o maior desafio para a Igreja de hoje. A renovação da fé deve ser, portanto, a prioridade no compromisso de toda a Igreja nos nossos dias. Desejo que o Ano da Fé possa contribuir, com a colaboração cordial de todos os componentes do Povo de Deus, para tornar Deus novamente presente neste mundo e para abrir aos homens o acesso à fé, ao confiar-se àquele Deus que nos amou até o fim (cf. Jo 13,1), em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado 4. No presente estudo, faremos, primeiramente, uma exposição do conteúdo da PF, em seguida faremos referência à Nota, elaborada pela Congregação para a Doutrina da Fé com a colaboração de outros organismos da Santa Sé, especialmente, como é sabido, do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização. Depois, indicaremos alguns pontos mais salientes do documento e tentaremos apresentar, de modo bem sucinto, a articulação do objetivo e dos meios indicados pelo Papa para o Ano da Fé. 3 Texto disponível em: (acesso 24/01/2012). 4 Texto disponível, por hora apenas em italiano, em: (acesso 29/01/2012). 2

3 2. Apresentação do Texto 2.1. Esquema geral O texto da PF está distribuído em 15 parágrafos. Nossa apresentação procura identificar o esquema redacional, agrupando os parágrafos em seções temáticas. 1-3 Introdução: a fé e a necessidade de que seja proposta explicitamente 4-5 I - Proclamação do Ano da Fé e sua motivação 6-7 II - Objetivos do Ano da Fé: renovação da Igreja e nova evangelização 8-9 III - Ações fundamentais: refletir, confessar, celebrar e testemunhar a fé 10 IV Percurso [dimensões da fé]: ato e conteúdos, pessoal e comunitário V - Instrumentos/Meios: Catecismo da Igreja Católica; história da Fé ; testemunho da caridade; 15 Conclusão: procurar a fé; fortalecer a relação com o Senhor; Confiar em meio às provações; entrega à Mãe de Deus Exposição do conteúdo Na introdução (1-3), o Santo Padre começa apresentando alguns pontos fundamentais da teologia da fé. O número 1 é uma teologia da fé em síntese. Aí comparecem os elementos pessoal e comuntário-eclesial, existencial e objetivo, sacramental e escatológico. Por primeiro, a fé é apresentada como princípio da comunhão teologal e eclesial. Para indicar isto, faz uma citação dos Atos dos Apóstolos, que é um sumário do 3

4 relatório das atividades missionárias de S. Paulo e de Barnabé à comunidade de Antioquia, de onde haviam sido enviados, da qual o título da carta é tomado. Contaram tudo o que Deus fizera por meio deles e como ele havia aberto a porta da fé para os pagãos (At 14,27). Este início já explicita a finalidade evangelizadora fundamental do Ano da Fé que na carta é proclamado. A seguir encontra-se uma apresentação de elementos indispensáveis para a compreensão da fé. Primeiro vem a descrição sumária do ato de fé, na qual se pode identificar um eco de DV 5: a fé é a resposta à Palavra ouvida e acolhida. Depois, a fé apresentada como um caminho, que inclui a vida sacramental e que se conclui na comunhão eterna com Deus. Por fim, o texto destaca a estrutura trinitária da fé. No número 2, situando a proclamação do Ano da Fé no seu ministério, o Papa mostra como a fé deve ocupar o centro da missão eclesial e contextualiza essa missão, deixando claro que a fé não pode ser dada por pressuposta no cuidado pastoral com as consequências sociais, culturais e políticas da fé 5. Isto se torna particularmente urgente no contexto atual, que, desse ponto de vista, pode ser caracterizado por uma ampla crise de fé. O número 3 toca no fundamento antropológico da fé, a necessidade humana do absoluto, que evidencia sua perpétua atualidade. E no aspecto teológico da antropologia: só Deus pode satisfazer plenamente essa necessidade, e em sua Palavra nos orienta para isso. A proclamação do Ano da Fé e a apresentação de suas motivações [I] se encontra nos números 4 e 5. A abertura do Ano da Fé na coincidência do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, do vigésimo aniversário do Catecismo da Igreja Católica e da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema é A nova evangelização para a 5 Aqui, não se pode deixar de lembrar uma recordação narrada pelo teólogo em 1995: Durante aqueles dias [refere-se ao imediato pós-concílio], havia enviado a Has Urs Von Balthasar um breve trabalho e ele, com sempre, me agradeceu em seguida com uma carta. No agradecimento incluía uma frase cheia de conteúdo que se tornou inesquecível para mim: expor a fé, não dá-la por pré-suposta. Era um imperativo que me impressionou. A inclusão de novos campos era algo bom e necessário, mas com a condição de que surgissem a partir da luz centra da própria fé e de que fossem mantidos por essa luz ( Evangelho, catequese, catecismo. Valencia: Edicep, 1996, [original: Evangelium, Katechese, Katechismus. Streiflichter auf den Katechismus der katholischen Kirche, Verlag Neue Stadt 1995]). 4

5 transmissão da fé cristã, configuram-no como uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé. Dito isto, o Santo Padre recorda o Ano da Fé proclamado pelo Servo de Deus Paulo VI em SS. Bento XVI faz saber, no número 5, que a proclamação do Ano da Fé no cinquentenário do início do Concílio responde a sua convicção de que os textos conciliares, lidos a partir de uma justa hermenêutica, podem se tornar cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja 6. Os números 6 e 7 aprofundam explicitamente os dois objetivos do Ano da Fé [II] que são, na realidade, conectadas entre si: renovação da Igreja e nova evangelização. Por esta razão, parece-nos, podem ser compreendidos como o coração do documento. O testemunho da vida dos Cristãos, começa o número 6, faz brilhar no mundo a Palavra de Deus. Aqui Bento XVI cita LG 8, o texto que fala da Igreja simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, que exercita continuamente a penitência e a renovação 7. Nessa perspectiva eclesial e em vista da renovação da Igreja, com o Ano da Fé, o pontífice convida, primeiramente, a uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. Continuando, apresenta a fé como resposta ao amor de Deus anunciado pela Palavra de salvação, de modo que envolve toda a vida de quem a ele se abre, tornando-se critério de ação, que purifica e molda a vida segundo a novidade da ressurreição 8. 6 Bento XVI, Discurso à Cúria Romana (22/12/2005): AAS 98 (2006), Enquanto Cristo santo, inocente, imaculado (Hb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2Cor 5, 21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Hb 2, 17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz (LG 8). 8 Em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afetos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. A fé, que atua pelo amor (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de entendimento e de ação, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10;Ef 4, 20-29; 2 Cor 5, 17) (PF, 6). Aqui também se 5

6 Apresentando a finalidade relacionada com a nova evangelização, no número 7, Bento XVI afirma, citando 2Cor 5,14 (Caritas Christi urget nos), que o mesmo amor de Cristo que move à fé e à conversão, impele também à evangelização. Como o mandato evangelizador de Cristo à Igreja tem a finalidade de servir à atração de seu amor sobre todas as pessoas, em todos os tempos e lugares. Por isso, prossegue o papa, também hoje é necessário um emprenho eclesial mais convicto a favor de uma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária de seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. A partir daí, trabalha o tema da fé como perfeição antropológica que se manifesta na alegria. Este tema é característico de sua reflexão, voltou a ele vezes, desde o início de seu anterior ministério como prefeito da Congregação para a Doutrina da fé, e foi tratado com mais detalhe em seu primeiro discurso à plenária dessa Congregação. Encontramos aí uma bela síntese de seu pensamento a respeito: a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar [...]. Só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus (PF, 7). Com relação ao núcleo da experiência que o Ano da Fé quer revigorar, os números 8 e 9 indicam as ações fundamentais [III] a serem intensificadas: a reflexão sobre a fé, a confissão da fé, a celebração da fé e o testemunho da fé. Com a reflexão sobre a fé intensificada, se pretende ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem sua adesão ao Evangelho (8). A confissão da fé, em variadas formas e lugares, pretende suscitar a exigência de conhecer melhor e transmitir às futuras gerações a fé de sempre (8), o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada encontra um conjunto de temas muito caros à teologia de J. Ratzinger, que remontam às preocupações do início da sua produção teológica, e que são como que um fio condutor dela. 6

7 convicção, com confiança e esperança (9). A celebração da fé ajudará a redescobrir a importância da liturgia e, principalmente, a centralidade da Eucaristia (9). Espera-se que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Apresenta-se então, a partir do significado do Credo para a experiência da fé, o tema da indissociabilidade entre o ato de fé e os conteúdos da fé. Descobrir novamente os conteúdos da fé [...] e refletir sobre o próprio ato com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano (9) 9. No número 10, SS. Bento XVI apresenta os traços gerais do percurso de aprofundamento [IV] da compreensão tanto dos conteúdos da fé quando do ato de fé. Esse é o parágrafo mais longo do documento. Primeiro vem a reflexão sobre a unidade entre ato e conteúdo. Em seguida, entre os aspectos pessoal e comunitário. Partindo de Rm 10,10 10, Bento XVI toma o coração e a boca como símbolos dos dois aspectos. O coração indica o ato pessoal e livre. A boca indica os conteúdos professados. O coração indica a dimensão pessoal, a boca a dimensão comunitária. O ato pessoal e livre é possibilidade pela graça que age e transforma a pessoa até o íntimo dela mesma (10) 11. A profissão com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos (Ibid.). A fé é um decidir estar com o Senhor, para viver com Ele (Ibid.). Enquanto decisão, é ato pessoal. E, enquanto tal, leva a buscar a compreensão das razões pelas quais se acredita e exige assumir a responsabilidade social daquilo em que se acredita. O primeiro sujeito da fé é a Igreja (Ibid.). A profissão pessoal da fé se fundamenta na fé recebida. Eu creio. Nós cremos : eu creio a fé da Igreja. Assim ressalta o pontífice que o conhecimento dos conteúdos da fé é essencial para se dar o próprio assentimento [adesão plena com a inteligência e a vontade] [...] 9 Talvez seja bom aqui nos recordar do clássico tema da diferença e da correlação entre fides qua e fides quae, sem dúvida subjacente. São dois aspectos incindíveis da única virtude da fé. Por meio de S. Agostinho essa distinção se tornou clássica. Certamente afirmamos com plena verdade que a fé impressa no coração de cada um dos que crêem [...] procede de uma única doutrina, mas uma coisa é o quê se crê [ea quae creduntur], outra coisa a fé com que se crê [fides qua creduntur] (De Trinitate, XIII, 2, 5). 10 Acredita-se com o coração e, com a boca, faz-se a profissão de fé. A Bíblia da CNBB traduz: é crendo no coração que se alcança a justiça, e é confessando com a boca que se consegue a salvação. 11 Bento XVI cita Lídia como exemplo eloquente: O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia (At 16,14). 7

8 Por isso, o assentimento prestado implica que, quando se acredita, se aceita livremente todo o mistério da fé (Ibid.). Concluindo esse parágrafo, o papa toca o tema da relação entre fé e razão a partir da experiência dos que, não reconhecendo em si o dom da fé, vivem em busca do sentido da vida e do mundo. Tal busca é considerada como um preâmbulo da fé e convite permanente para caminhar ao encontro de Deus. É a esse encontro que a fé convida e a ele nos abre. Os números 11 a 14 tratam dos meios [V] para se atingirem os objetivos do Ano da Fé: o estudo sistemático dos conteúdos da fé, a história da fé e o testemunho da caridade. Na linha do aprofundamento do conhecimento sistemático dos conteúdos da fé, indica-se, nos números 11 e 12, o estudo do Catecismo da Igreja Católica subsídio precioso e indispensável. [...] Síntese sistemática e orgânica da fé. [...] Oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé. [...] O que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja (11). A seguir (13), o papa convida a repassar a história da fé, que evidencia a santidade entrelaçada com o pecado. A primeira incentiva para o progresso na fé, o segundo aponta para a necessidade de uma sincera e contínua conversão. Partindo de Jesus Cristo, repassar os exemplos de fé que marcaram este dois mil anos da nossa história de salvação. Fazendo uma paráfrase de Hb 11, que é como uma continuação desse célebre texto sobre a fé, o papa recorda sucintamente o testemunho dos que viveram pela fé nesses dois mil anos: Maria, José, os Apóstolos, as primeiras comunidades, os mártires, os consagrados, e todas as testemunhas nos mais diferentes contextos e situações. Em conclusão, afirma Bento XVI: Pela fé, vivemos também nós. Reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história (13). O testemunho da caridade deve no Ano da Fé ser intensificado (14). Ele resplandece da dedicação amorosa da vida de tantos cristãos a seus semelhantes nas mais diversas necessidades, reconhecendo neles o rosto do Senhor, impelidos pelo seu amor. Esse testemunho tem também uma dimensão escatológica. 8

9 Na conclusão (15) o papa convida a que sintamos dirigida a nós a exortação feita por Paulo a Timóteo que procure a fé (2Tm 2,22) com a mesma constância de quando era novo (2Tm 3,15). Aí são abordados temas como a resposta aos sinais dos tempos, o fortalecimento da relação pessoal com Cristo e as provas da vida. Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele. Palavra final, o papa confia à Mãe de Deus, feliz porque acreditou (Lc 1,45), o Ano da Fé como um tempo de graça. 3. Nota Indicada no número 12 da PF com a finalidade de se oferecer indicações para viver o Ano da Fé nos moldes mais eficazes e apropriados [...], ao serviço do crer e do evangelizar, a Nota foi preparada pela Congregação para a Doutrina da Fé com a contribuição do Comitê para a preparação do Ano da Fé 12, e publicada dia 06 de janeiro de O texto é dividido em duas grandes partes: uma introdução e as indicações pastorais. A introdução retoma as características gerais do Ano da Fé já indicadas na carta apostólica PF, ressaltando que o Ano da Fé quer contribuir para uma conversão renovada ao Senhor Jesus e à redescoberta da fé, para que todos os membros da Igreja sejam testemunhas credíveis e alegres do Senhor ressuscitado no mundo de hoje, capazes de indicar a porta da fé a tantas pessoas que estão em busca (Nota, Introdução). No início das segunda parte, apresenta os objetivos das indicações pastorais afirmando que desejam favorecer tanto o encontro com Cristo por meio de autênticas testemunhas da fé, quanto o conhecimento sempre maior dos seus conteúdos, e que elas visam solicitar, de maneira exemplificativa, a pronta responsabilidade eclesial diante do convite do Santo Padre a viver em plenitude este Ano como um especial tempo de graça (Indicações). 12 Membros do Comitê: os Cardeais William Levada, Francis Arinze, Angelo Bagnasco, Ivan Dias, Francis E. George, Zenon Grocholewski, Marc Ouellet, Mauro Piacenza, Jean-Pierre Ricard, Stanislaw Rylko e Christoph Schönborn; os Arcebispos Salvatore Fisichella eluís F. Ladaria; e os Bispos Mario Del Valle Moronta Rodríguez, Gerhard Ludwig Müller e Raffaello Martinelli. 9

10 As indicações são agrupadas eníveis: Igreja universal; Conferências Episcopais; Diocesano; Paróquias, comunidades, associações e movimentos. A última das indicações, é bastante ilustrativa do objetivo principal do Ano da Fé: Todos os fiéis, chamados a reavivar o dom da fé, procurarão comunicar a própria experiência de fé e de caridade dialogando com os seus irmãos e irmãs, também com os das outras confissões cristãs, com os seguidores de outras religiões e com aqueles que não crêem ou são indiferentes. Deste modo se deseja que todo o povo cristão comece uma espécie de missão endereçada aqueles com os quais vive e trabalha, com consciência de ter recebido a mensagem da salvação para a comunicar a todos (Indicações, IV, 10). 4. Temas recorrentes: 1 A necessidade de propor explicitamente a fé: tema central na teologia de J. Ratzinger, em sua atividade com Prefeito, e em seu Magistério pontifício. Sua teologia da fé mereceria um particular estudo no contexto do Ano da Fé, e em perspectiva de nova evangelização, para colher seu específico modo de tratar este tema: no conjunto do humanismo integral do personalismo cristão. A ocorrência das expressões alegria de crer e beleza da fé são como que palavras-ícone, que dão acesso à peculiaridade de sua compreensão da fé. 2 A crise da fé. Tema contextual, mas também central. A ele Bento XVI tem voltado diversas vezes. Já como Prefeito e como teólogo o fizera. 3 A questão da renovação da Igreja. Sua interpretação do Concílio está profundamente ligada a isto. O tema do Concílio, para o Papa, é Deus. A Igreja é tema enquanto está a serviço de Deus. A intenção do Concílio é a reforma da Igreja e esta não é, primeiramente, questão de mudanças nas estruturas, mas de conversão e santidade. Isto se concentra em sua peculiar discussão sobre a correta hermenêutica dos textos do Concílio e em sua leitura da LG e da GS. 10

11 4 O Catecismo da Igreja Católica está relacionado com o Concílio Vaticano II e com sua correta hermenêutica. Encontra-se aí uma particular ênfase na importância de não dissociar as dimensões da fé, sobretudo a pessoal e a comunitária, e a ligação entre ato de fé e conteúdos da fé (o que remete à relação entre DV 5 e 6). 5 A articulação dos temas Conversão Fé Testemunho e a peculiar proposta pastoral da PF merecem também uma atenção. 11