: MIN. GILMAR MENDES. Em revisão CONSUMIDOR : ANDRÉA LAZZARINI SALAZAR E OUTRO(A/S) :MARCUS ALEXANDRE SIQUEIRA MELO

Transcrição

1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO SÃO PAULO RELATOR : MIN. GILMAR MENDES RECTE.(S) :BANCO DO BRASIL S/A RECDO.(A/S) INTDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) INTDO.(A/S) :JORGE ELIAS NEHME :CÉLIA NATALINA DE LEÃO BENSADON : EDUARDO VOLPONI E OUTRO(A/S) :BANCO CENTRAL DO BRASIL :PROCURADOR-GERAL DO BANCO CENTRAL :IDEC - INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR : ANDRÉA LAZZARINI SALAZAR E OUTRO(A/S) INTDO.(A/S) :ABRACON - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO CONSUMIDOR :MARCUS ALEXANDRE SIQUEIRA MELO AM. CURIAE. :ASSOCIAÇÃO CIVIL SOS CONSUMIDORES : ALEXANDRE BERTHE PINTO E OUTRO(A/S) AM. CURIAE. :ABRAPP - ASSOCIACAO BRASILEIRA DAS ENTIDADES FECHADAS DE PREVIDENCIA COMPLEMENTAR : ADACIR REIS E OUTRO(A/S) R E L A T Ó R I O O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (RELATOR): O Banco Nossa Caixa S.A. interpôs o Agravo de Instrumento contra despacho denegatório de recurso extraordinário. No apelo extremo, o recorrente se insurge contra decisão do Primeiro Colégio Recursal do Sistema de Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Estado de São Paulo que negou provimento ao recurso inominado, confirmando a sentença de primeiro grau que condenou o banco recorrente ao pagamento da diferença de rendimentos de aplicação financeira oriunda de conta de caderneta de poupança. A recorrente sustenta que apenas cumpriu as determinações legais, razão por que deve incidir o princípio da legalidade, e que o índice aplicado é suficiente e legítimo para remunerar a caderneta de poupança. Consta do requerimento final da petição de recurso extraordinário:

2 Do exposto, confiante, pede o ora RECTE. pela admissibilidade do apelo extremo, presentes os requisitos necessários, e seu provimento com a reforma do v. Acórdão recorrido, no que tange ao Plano Collor II. Não obstante, verifiquei que a petição do recurso extraordinário também se insurge contra a condenação no pagamento de valores relacionados ao Plano Collor I. A recorrente, preliminarmente, sustenta sua ilegitimidade para figurar no pólo passivo da demanda, e, no mérito, alega que cumpriu fielmente as determinações legais. A questão em debate, portanto, diz respeito à correta aplicação, pelas instituições financeiras, de índices oficiais na correção monetária de contas-poupanças, em virtude dos impactos causados pelo Plano Collor I, em relação aos valores que permaneceram à disposição das instituições financeiras, e também pelo Plano Collor II nos contratos de poupança. Ocorre que há processos-paradigmas nesta Corte nos quais já foi reconhecida a repercussão geral da questão relativa aos valores não bloqueados do Plano Collor I e também de outras discussões relacionadas aos diversos planos econômicos adotados no período entre 1986 e 1991, na tentativa de realinhar preços e coordenar expectativas inflacionárias. No Recurso Extraordinário , Rel. Min. Dias Toffoli, discute-se o direito a diferenças de correção monetária de depósitos em caderneta de poupança por alegados expurgos inflacionários decorrentes dos planos Bresser e Verão. No Recurso Extraordinário , Rel. Min. Dias Toffoli, debate-se direito semelhante, entretanto no contexto do Plano Collor I, em relação aos valores não bloqueados. Por fim, no Recurso Extraordinário , de minha relatoria, a controvérsia resume-se ao questionamento do direito à correção monetária dos valores bloqueados pelo Banco Central do Brasil, por determinação do Plano Collor I. Assim, em , submeti o presente caso à análise de repercussão geral, por meio do Plenário Virtual, unicamente com a finalidade de atribuir os efeitos da repercussão geral à controvérsia relacionada ao Plano Collor II, uma vez que esse tema ainda não havia 2

3 sido submetido à tal sistemática. A votação finalizou-se em e esta Corte concluiu pela existência de repercussão geral do tema. Em , o Banco do Brasil S/A. protocolou a Petição /2010, na qual requereu a suspensão de todos os processos em tramitação que versam sobre o mesmo tema deste processo-paradigma. Em decisão publicada no dia , deferi parcialmente o pedido, para determinar a suspensão de qualquer julgamento de mérito nos processos que se refiram à correção monetária de cadernetas de poupança em decorrência do Plano Collor II, excluindo-se desta determinação as ações em sede de execução. Afirmei, ademais, que impõe-se a resolução célere desta controvérsia, para evitar tumulto processual decorrente da paralisação temporalmente indeterminada de julgamento dos processos sobrestados, razão por que, em analogia ao prazo do artigo 21, parágrafo único, da Lei 9.868/1999, fixei em 180 dias o prazo de eficácia da decisão de caráter suspensivo. Em decisão publicada em , dei provimento ao agravo de instrumento e determinei sua conversão em recurso extraordinário eletrônico. O processo foi reautuado como Recurso Extraordinário e a mim distribuído, por prevenção. Em , deferi o ingresso, na qualidade de amici curiae, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), da Associação Brasileira do Consumidor (ABRACON) e do Banco Central do Brasil (BACEN), nos termos do artigo 323, 2º, do Regimento Interno do STF. O IDEC manifestou-se por meio das Petições /2010 e /2010, nas quais apresenta argumentos favoráveis aos poupadores. Determinei a oitiva da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria- Geral da República, em regime de urgência, no prazo concorrente de quinze dias, tendo em vista a proximidade do fim do prazo fixado na decisão de efeitos suspensivos, publicada em A Advocacia Geral da União manifestou-se pelo provimento do recurso extraordinário, com base nos seguintes argumentos: I) Era um elemento ínsito e indispensável à lógica 3

4 heterodoxa dos planos econômicos que a poupança se desvinculasse dos índices de correção anteriormente previstos, para que fosse rompida a inflação inercial; II) Como leis de ordem pública, as normas instituidoras dos planos tiveram incidência imediata, descabendo a alegação de direito adquirido aos efeitos futuros de relação contratual; III) Eventual aplicação aos depósitos de poupança, após a implantação do novo plano econômico, de índices de correção preteritamente previstos, seria responsável por distorção na relação contratual, pois não refletiria a inflação efetiva pósplano, mas uma projeção das expectativas inflacionárias concernentes ao período pré-plano; IV) Os planos de estabilização econômica não acarretaram prejuízo ao ato jurídico perfeito, pois mantiveram e realizaram a causa concreta dos contratos de depósito em poupança (proteção contra a inflação); V) Eventual concessão dos alegados 'expurgos' desequilibrará a relação contratual, levando ao enriquecimento injustificado do poupador, que receberá remuneração muito acima da inflação real; VI) A incidência imediata das regras de ordem pública dos Planos Collor I e Collor II não resultou em ofensa ao ato jurídico perfeito. O parecer da Procuradoria-Geral da República, por outro lado, foi pelo conhecimento apenas parcial do recurso e, na parte conhecida, pelo seu desprovimento. Sustenta-se que a questão da ilegitimidade da instituição financeira para figurar no pólo passivo da demanda é matéria infraconstitucional. No mérito, invocaram-se os fundamentos do parecer emitido na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 165, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, cuja ementa dispõe, no que interessa: [...] Está assentado, no âmbito do STF, que 'as normas infraconstitucionais que modificaram os rendimentos da caderneta de poupança não podem atingir contratos de adesão, 4

5 firmados entre poupador e estabelecimento bancário, durante a fluência do prazo estipulado para correção monetária (mensal)'. A arguente segue uma linha de argumentação que busca escapar desse quadro. Assim é que trata dos planos econômicos em sua totalidade quando não tem legitimidade para tanto e faz uso de outra jurisprudência, de que não há direito adquirido a padrão monetário. Ocorre que não foi a alteração da moeda que provocou o impacto econômico nas instituições financeiras, mote da presente ação. A questão real aqui é a correção monetária das cadernetas de poupança. É o relatório, do qual a Secretaria distribuirá cópia aos demais ministros. 5