UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental"

Transcrição

1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental i PROJETO DO SISTEMA COLETOR E DO TRATAMENTO DOS ESGOTOS SANITÁRIOS DE UM LOTEAMENTO RESIDENCIAL Ac: Pâmella Ruany Gonçalves Motter Orientador: Janete Feijó, MSc. Itajaí, junho/2013

2 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental ii TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PROJETO DO SISTEMA COLETOR E DO TRATAMENTO DOS ESGOTOS SANITÁRIOS DE UM LOTEAMENTO RESIDENCIAL Pâmella Ruany Gonçalves Motter Monografia apresentada à banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Ambiental como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental. Itajaí, junho/2013

3

4 iv DEDICATÓRIA Aos meus pais Cirlei e Jurilda, a meus irmãos Jorge e Renata e ao meu namorado João Victor, pela paciência e amor que me dedicam.

5 v AGRADECIMENTOS Acima de tudo quero agradecer a Deus, por estar sempre ao meu lado. Aos meus Pais Cirlei e Jurilda, que me deram toda a estrutura para que me tornasse a pessoa que sou hoje. Pela confiança e pelo amor que me fortalece todos os dias. Aos meus irmãos Jorge e Renata, por terem me aturando nos momentos de estresse e estarem sempre presentes na minha vida. Ao meu namorado João Victor, pela paciência e por tornar minha vida cada dia mais feliz. Em especial agradeço minha professora Janete, que foi uma orientadora extraordinária, estando sempre presente, esclarecendo as minhas dúvidas, tendo muita paciência, competência, confiança, conhecimentos e principalmente a amizade. Aos meus colegas de turma, que ao longo desses anos, se tornaram grandes amigos. A todos os meus professores que são os maiores responsáveis por eu estar concluindo esta etapa da minha vida, compartilhando a cada dia os seus conhecimentos. Agradeço meus familiares. Obrigada a todos vocês por participarem desta minha etapa, pois direta, ou indiretamente me fizeram crescer, tanto pessoalmente como profissionalmente. Obrigada por tudo!

6 vi RESUMO A poluição dos recursos hídricos é uma das formas de poluição ambiental resultante do lançamento de esgotos domésticos e industriais sem tratamento nos corpos de água e da contaminação destes por produtos químicos, tais como, fertilizantes e agrotóxicos, entre outros. No Brasil, o lançamento indiscriminado de esgoto doméstico não tratado é ainda a principal fonte de poluição dos corpos d água. Neste contexto o objetivo deste trabalho foi propor alternativas de tratamento para o efluente doméstico gerado em um loteamento residencial, de porte médio, localizado no município de São João Batista, Santa Catarina. No presente trabalho foi diagnosticada a situação de saneamento no Brasil, no Estado e no Município, além da definição da carga orgânica, do volume e da vazão de esgotos gerada. Foi realizado o dimensionamento do tratamento individual, constituido de tanque séptico seguido de filtro anaeróbio, o dimensionamento do sistema coletor, além de alternativas de tratamento coletivo, sendo decanto-digestor seguido de filtro biológico, decanto-digestor seguido de Wetlands, uma unidade de lodos ativados por batelada e, ainda, um reator anaeróbio de fluxo ascendente, possibilitando assim a escolha da melhor alternativa de tratamento, comparando área requerida para implantação, investimento e qualidade do efluente, para o empreendimento em estudo. Palavras-chave: Saneamento, Esgotamento Sanitário, Tratamento de Esgotos.

7 vii ABSTRACT The pollution of water resources is one of the forms of environmental pollution resulting from the release of domestic and industrial sewage untreated into bodies of water and contamination by these chemicals, such as fertilizers and pesticides, among others. In Brazil, the indiscriminate firing of untreated domestic sewage is still the main source of pollution of water bodies. In this context, the objective of this work was to propose alternative treatment for the wastewater generated in a residential subdivision, medium size, located in the municipality of São João Batista, Santa Catarina. In this paper we diagnosed the situation of sanitation in Brazil, in the State and the City, and the definition of the organic load, the volume and flow of sewage generated. Was performed sizing of individual treatment, consisting of septic tank followed by anaerobic filter, system sizing catcher, plus treatment alternatives collective being septic tank followed biological filter, septic tank followed Wetlands, a unit of sludge activated by batch and also an anaerobic upflow, allowing the choice of the best alternative treatment, comparing area required for deployment, investment and quality of effluent for the project under study. Keywords: Drainage, Sewerage, Wastewater Treatment.

8 viii Sumário 1 Introdução Justificativa Objetivos Geral Específicos Fundamentação Teórica Saneamento Saneamento no Mundo Saneamento no Brasil Saneamento em Santa Catarina Saneamento em São João Batista Programas de Incentivo ao Saneamento Básico Esgoto Sanitário Poluição Quantificação das Cargas Poluidoras Tratamento de Esgoto Processos de Tratamento dos Esgotos Níveis de Tratamento Unidades ou Operações Unitárias Sistema de Tratamento de Esgoto Sistemas Individuais Sistemas Coletivos... 29

9 2.6 Sistema Coletor de Esgoto ix Órgãos Acessórios da Rede Coletora Dimensionamento da Rede Coletora Características Gerais do Município Metodologia Procedimento e Instrumentos de Coleta e Análise de Informações Estimativa de População Atendida, Volume e Carga Orgânica do Esgoto Escolha e Dimensionamento dos Sistemas Individuais de Tratamento de Esgotos Dimensionamento dos Sistemas Coletivos de Tratamento de Esgoto Dimensionamento da Rede Coletora de Esgoto Resultados e Discussão População Atendida, Volume e Carga Orgânica do Esgoto Dimensionamento dos Sistemas Individuais de Tratamento de Esgoto Dimensionamento dos Sistemas Coletivos de Tratamento de Esgoto Decanto Digestor Filtro Biológico Dimensionamento Wetlands Dimensionamento Lodos Ativados Dimensionamento UASB Dimensionamento da Rede Coletora de Esgotos Considerações Finais Recomendações Bibliografia... 72

10 7 Anexos x

11 xi LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Municípios com serviço de rede coletora de esgoto - Brasil Figura 2 Índice de atendimento total de esgoto Figura 3 - Número de pessoas sem acesso à rede coletora de esgoto, separado por Grandes Regiões Figura 4 Índice de atendimento total de esgoto referido aos municípios atendidos com água Figura 5 - Esquema de um sistema tanque séptico seguido por filtro anaeróbio Figura 6 - Esquema de uma ETE por meio de zona de raízes Figura 7 - Esquema sistema de lodos ativados Figura 8 - Ciclos do processo operacional intermitente Figura 9 - Esquema de um reator UASB Figura 10 - Localização do município de São João Batista e de seus vizinhos

12 xii LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Indicadores de saneamento básico no município de São João Batista, Estado de Santa Catarina Tabela 2 - Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de prédio e de ocupantes Tabela 3 - Período de detenção de despejos, por faixa de contribuição diária Tabela 4 - Taxa de acumulação total de lodo (K), em dias, por intervalo entre limpezas e temperatura do mês mais frio Tabela 5 - Contribuição diária de despejos e de carga orgânica por tipo de prédio e de ocupantes Tabela 6 - Tempo de detenção hidráulica (T), por faixa de vazão e temperatura do esgoto. 28 Tabela 7 - Sistema individual de tratamento de esgoto unidades prismáticas Tabela 8 - Sistema individual de tratamento de esgoto unidades cilíndricas Tabela 9 Decanto Digestor Tabela 10 - Filtro Biológico Tabela 11 Dados para o dimensionamento do Wetlands Tabela 12 Dimensões do Wetlands Tabela 13 Dados de entrada para o dimensionamento de lodos ativados por batelada Tabela 14 Dados de entrada para o dimensionamento de lodos ativados por batelada Tabela 15 Dados de entrada para o dimensionamento de lodos ativados por batelada Tabela 16 Dados de entrada para o dimensionamento de lodos ativados por batelada Tabela 17 Duração de cada etapa do ciclo Tabela 18 Resultado dos cálculos do dimensionamento do reator para o sistema de lodos ativados por batelada Tabela 19 Dados iniciais para dimensionamento do Reator UASB Tabela 20 Resultado dos cálculos para dimensionamento do reator UASB Tabela 21 Resumo das variáveis

13 1 1 INTRODUÇÃO A Política Nacional do Meio Ambiente, pela Lei nº 6938 de 31 de agosto de 1981, em seu art. 3, parágrafo III, define poluição como: (...) degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a biota; b) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; c) lancem matérias ou energia em desacordo com padrões ambientais estabelecidos. (...) A poluição dos recursos hídricos é uma das formas de poluição ambiental que pode ser resultante do lançamento de esgotos domésticos e industriais sem tratamento nos corpos de água, e da contaminação destes por produtos químicos tais como fertilizantes e agrotóxicos, entre outros. A poluição causada pelo esgoto provoca a degradação dos corpos d água, recurso esse, importante para sobrevivência das pessoas e dos seres vivos. Sabe-se que inúmeras doenças graves estão relacionadas à poluição dos recursos hídricos, o que justifica a implantação de sistemas de tratamento de efluente, visando à diminuição das fontes geradoras de poluição, não só por razões ambientais mas também por razões de saúde pública. O tratamento de esgoto é uma das medidas para diminuir a poluição; ele tem como principal finalidade remover impurezas presentes na água de forma que, quando lançado no corpo de água receptor, esteja dentro dos padrões de qualidade necessários para não prejudicar o meio ambiente, fauna e flora. Von Sperling (1996) cita que os aspectos importantes na seleção de sistemas de tratamento de esgoto são: eficiência, confiabilidade, disposição do lodo, requisitos de área, impactos ambientais, custo de operação, custo de implantação, sustentabilidade e simplicidade. Cada

14 2 sistema deve ser analisado individualmente, adotando-se a melhor alternativa técnica e econômica. O Brasil passou no último século por um acelerado processo de urbanização. Nas primeiras décadas do século XX, a maioria da população brasileira vivia na zona rural e, em poucas décadas, com o processo de industrialização e a migração para os centros urbanos, o Brasil chegou ao final do século XX como um país predominantemente urbano. Em 2000, a população urbana chegou a 81,3% da população total. Essa rápida inversão provocou um enorme déficit no setor de saneamento, tornando-se um dos principais problemas ambientais brasileiros (MMA, 2009). O Saneamento Básico é o conjunto de medidas, que visam preservar ou modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde; engloba o abastecimento de água, esgototamento sanitário, drenagem urbana e residuos sólidos. O objeto de estudo deste trabalho é um loteamento implantado em São João Batista, no Estado de Santa Catarina, localizado a 70 km da capital do estado, Florianópolis. Sua altitude é 30 m acima do nível do mar, o clima é temperado com temperaturas médias variando entre 15 C e 25 C e sua área territorial é 220,2 km² (SEBRAE, 2010). Sua população, segundo levantamento do CENSO-IBGE (2010), é de habitantes. 1.1 JUSTIFICATIVA Segundo o SEBRAE (2010), a maioria das residências, condomínios e indústrias na cidade não possui tratamento adequado do esgoto e algumas casas possuem fossa e sumidouro, o esgoto das demais residências segue por tubulações diretamente para os cursos de água. Esse grande problema, enfrentando em todo o Brasil pode ser solucionado mediante a conscientização dos governantes e das pessoas que são diretamente afetadas, e a implantação dos sistemas de tratamento de efluentes. Sendo assim, estudos que busquem alternativas para o tratamento e destinação final de efluentes se apresenta como de extrema importância para o atual quadro de saneamento apresentado pelo município de São João Batista, bem como a implantação desses sistemas de tratamento visando diminuir a poluição dos recursos hidricos.

15 3 1.2 OBJETIVOS Geral Este trabalho tem como Objetivo Geral projetar o sistema coletor e o tratamento de esgoto sanitário, individual e coletivo, de um loteamento residencial de padrão médio localizado no município de São João Batista - Santa Catarina Específicos a) Estimar a população atendida, o volume e a carga orgânica do esgoto sanitário gerado no loteamento; b) Indicar e dimensionar unidades de tratamento individual para os esgotos sanitários gerados nas edificações do loteamento; c) Dimensionar o sistema coletor de esgotos sanitários do loteamento; d) Indicar e dimensionar alternativas para o tratamento coletivo dos esgotos sanitários gerados no loteamento.

16 4 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 SANEAMENTO A Organização Mundial da Saúde considera saneamento como o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeito deletério sobre o seu bem-estar físico, mental ou social. Outra definição clássica de saneamento, segundo Mota (2006), é o conjunto de medidas visando a preservar ou a modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de previnir doenças e promover a saúde. Proporcionar ao homem um ambiente que lhe garanta condições apropriadas para promover sua saúde é um dos principais objetivos do Saneamento (MOTA, 2006). As atividades de saneamento são bem amplas, e vem crescendo à medida que aumentam os problemas ambientais; seguem abaixo algumas das ações citadas por Mota (2006): abastecimento de água às populações, com a qualidade compatível com a proteção de sua saúde e em quantidade suficiente para a garantia de condições básicas de conforto; coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sanitariamente segura de águas residuárias (esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais e agrícolas); acondicionamento, coleta, transporte e/ou destino final dos resíduos sólidos (incluindo os rejeitos provenientes das atividades doméstica, comercial e de serviços, industrial e pública); drenagem de águas pluviais; controle da poluição ambiental (solo, água, ar, sonora, entre outras.); controle de vetores de doenças transmissíveis (insetos, roedores, moluscos, etc.); saneamento dos alimentos; saneamento e planejamento territorial; saneamento da habitação, dos locais de trabalho, de educação e de recreação e dos hospitais; estudos de impactos ambientais. A Lei nº , de 2007, estabelece as Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico e para a Política Federal de Saneamento Básico; e define Saneamento Básico, em seu artigo 3º, como o conjunto de serviços de abastecimento de água potável, de limpeza

17 urbana e manejos de resíduos, de esgotamento sanitário e de drenagem e manejo de águas pluviais. 5 O saneamento é entendido, segundo Rezende & Heller (2002) (apud MONTEIRO JUNIOR et al, 2011), sobretudo como ação de saúde pública, de dever do Estado e direito do cidadão, pugnado pela universalização do atendimento, pelo direito ao serviço de qualidade, com participação e controle social. No Brasil, o desenvolvimento das ações de saneamento, historicamente, esteve vinculado aos aspectos econômicos, interesses dominantes, os quais foram os principais determinantes do caráter das ações coletivas; ou seja, não considerando de fato a superação das carências sociais do país. Isto determinou a exclusão de diversos segmentos da sociedade das políticas de saneamento, as quais predominaram nas áreas de interesse econômico. Assim, os investimentos prioritários no setor foram em abastecimento de água, em detrimento das ações menos lucrativas, o que fragmentou a visão do saneamento, se manifestando também institucionalmente em uma precária interação entre governos estaduais e os municípios (MONTEIRO JUNIOR et al, 2011). Segundo Pereira (2003), o número expressivo de municípios que não dispõem de coleta e tratamento de esgotos ocorre em razão de o saneamento não ser encarado como prioridade e, portanto, faltar política eficaz para direcionar as ações nesse setor. Isso faz com que os programas de saneamento acabem tendo caráter individual e localizado em municípios específicos, sendo que algumas questões político-partidário-administrativas dificultam a formulação de política única de implantação de infra-estrutura sanitária nos municípios brasileiros, o que naturalmente, prejudica a obtenção de recursos para esse tipo de investimento Saneamento no Mundo A Organização Mundial da Saúde - OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICEF, têm acompanhado a evolução dos índices de cobertura previsto nas Metas do Milênio, no que se refere ao acesso a serviços de água e esgoto no mundo. No período de , 1,8 bilhão de pessoas ganharam acesso aos serviços de esgotamento sanitário. O número indica que a meta prevista para 2015, não será alcançada. Os dados mostram que, mantido o ritmo atual, se alcançará em 2015, 63% da população, em vez dos 75% previstos, que só seriam alcançados em Em 2012 existiam cerca de 2,5 bilhões de pessoas sem serviços adequados (ALONSO, 2012).

18 6 A situação é diferente quando os mesmos números são analisados considerando-se as diferentes regiões do planeta. Em 2010, enquanto nos países desenvolvidos 95% da população tinha acesso a serviços de esgotamento sanitário, o índice caía para 56% nos países em desenvolvimento (ALONSO, 2012) Saneamento no Brasil A situação de saneamento no Brasil é crítica. Uma pesquisa de saneamento básico no País, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2008), indica que apenas 44% de domicílios tinham acesso à rede geral de esgoto naquele ano. O contingente populacional sem a cobertura de esgoto, considerando-se apenas os municípios sem rede coletora, era de aproximadamente 34,8 milhões de pessoas; ou seja, em 2008, cerca de 18% da população brasileira estava exposta ao risco de contrair doenças em decorrência da inexistência de rede coletora de esgoto. Segundo a pesquisa, a abrangência dos serviços de saneamento básico no país é caracterizada por desigualdades regionais. A pesquisa mostrou ainda, que apenas 28,5% dos municípios brasileiros fizeram tratamento de seu esgoto (IBGE, 2008). Figura 1 - Municípios com serviço de rede coletora de esgoto - Brasil Fonte: IBGE, 2008.

19 7 De acordo com a Figura 1, o Nordeste é a região onde a falta de rede coletora de esgotamento sanitário é mais grave, atingindo algo próximo a 15,3 milhões de habitantes, com a escassez do serviço sendo maior nos Estados da Bahia, Maranhão e Piauí. Em segundo lugar, a Região Norte do País, com cerca de 8,8 milhões de pessoas sem rede de coleta de esgoto, das quais 60% no Estado do Pará. O Sul, com 6,3 milhões de pessoas, ocupou a terceira posição, sendo o serviço ofertado em menor escala nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na Região Centro-Oeste foram observados 3,2 milhões de habitantes sem acesso ao serviço; no Sudeste, não contavam com rede coletora de esgoto cerca de 1,2 milhão de pessoas. O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento SNIS, apresenta o índice de atendimento total de esgoto, conforme pode ser observado na figura 2. Figura 2 Índice de atendimento total de esgoto. Fonte: SNIS (2010).

20 8 Observa-se que o Estado de São Paulo e o Distrito Federal apresentam o maior índice de atendimento total de esgoto, superior a 70%. Os Estados com o pior índice de atendimento são Rondônia, Pará, Amapá e Piauí, com ate 10% de atendimento. Na segunda melhor faixa, entre 40,1 a 70,0%, ficaram os Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Os demais Estados distribuíram-se nas outras duas faixas, sendo nove Estados entre 20,1% e 40%, e nove Estados na faixa de 10,1 a 20%. Os resultados obtidos pela pesquisa do SNIS difere um pouco dos resultados do IBGE, tendo em vista que o IBGE, além de obter seu dados através de uma pesquisa, o que muitas vezes pode estar gerando dados que não são reais, leva em consideração que as valas de drenagem também são consideradas rede de esgoto, por receberem esgoto tratado pelas unidades de tratamento individual. Na figura 3 é possivel ver o montade de pessoas sem acesso à rede coletora de esgoto. Figura 3 - Número de pessoas sem acesso à rede coletora de esgoto, separado por Grandes Regiões Fonte: IBGE, A principal solução adotada para suprir a falta desse serviço foi a implantação de tanques sépticos, popularmente chamados de fossas sépticas, que apresentou aumento em relação ao levantamento realizado em Esse tipo de solução, ainda que longe do desejável, implicou na diminuição do lançamento dos esgotos em valas a céu aberto, fossas secas e em corpos de água, o que suaviza os impactos ambientais decorrentes da falta de rede coletora de esgoto (IBGE, 2008).

21 Saneamento em Santa Catarina Segundo pesquisa realizada em 2008 pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, Santa Catarina é o segundo colocado no ranking de pior Estado brasileiro em matéria de saneamento básico com implantação de sistema urbano de coleta e tratamento de esgoto. Apenas 12% da população urbana dispõe de saneamento adequado, e somente 30 municípios do Estado têm rede coletora e tratamento de esgoto. Já no que diz respeito à forma de tratamento, Santa Catarina ocupa a 11º posição por dispor de tanques sépticos, segundo o IBGE (2008). Das 293 cidades, apenas 16% têm tratamento adequado de esgoto. A Figura 4 mostra o índice de atendimento total de esgoto referido aos municípios atendidos com abastecimento de água na região Sul do Brasil. Figura 4 Índice de atendimento total de esgoto referido aos municípios atendidos com água. Fonte: IBGE, 2008.

22 Saneamento em São João Batista São João Batista, assim como a maioria das cidades brasileiras, não é atendida com sistema de coleta e tratamento de esgotos. A maioria das residências utiliza o sistema de tanque séptico seguido de sumidouro. A Tabela 1 é um comparativo de indicadores de saneamento básico entre São João Batista e Santa Catarina, a qual indica que a maioria das residências na cidade (58,8%) utiliza o sistema de tanque séptico, sendo que em segundo lugar vêm as fossas rudimentares, com 16,6% das residências. As valas apresentam um índice grande: 11,3%. Tabela 1 - Indicadores de saneamento básico no município de São João Batista, Estado de Santa Catarina. Fonte: (SEBRAE, 2010 apud IBGE Censo 2000). A falta de saneamento básico é atualmente a causa de um dos maiores problemas ambientais e de contaminação dos recursos hídricos. Segundo Kresse (apud VAN KAICK, 2002), o esgoto doméstico é responsável por 90% dos lançamentos que contaminam os cursos d água. Adotando-se as medidas de saneamento básico é possível garantir a população melhores condições de saúde bem como a preservação do meio ambiente Programas de Incentivo ao Saneamento Básico Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas O Programa de Despoluição de Bacias Hidrográficas PRODES, foi criado pela Agência Nacional de Águas - ANA, em março de 2001, e é uma iniciativa que não financia obras ou equipamentos, e sim, paga pelos resultados alcançados, ou seja, pelo esgoto efetivamento tratado.

23 11 Também conhecido como programa de compra de esgoto tratado, o PRODES consiste na concessão de estímulo financeiro pela União, na forma de pagamento pelo esgoto tratado, à prestadores de serviço de saneamento que investirem na implantação e operação de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), desde que cumpridas as condições previstas em contrato. No período de 2001 até 2011 foram contratadas 55 ETEs, envolvendo um valor total dos contratos de R$ 200,18 milhões, mas que tiveram investimentos para implantação por parte dos prestadores de serviços de 720 milhões (ANA, 2011) Programa de Aceleração do Crescimento O Programa de Aceleração do Crescimento PAC, é um programa do Governo Federal, criado em 2007, que visa promover a retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, contribuindo assim para o desenvolvimento acelerado e sustentável do Brasil. Em 2011, o PAC entrou na sua segunda fase, com o mesmo pensamento estratégico, aprimorado pelos anos de experiência da fase anterior, proporcionando mais recursos e mais parcerias com estados e municípios para a execução de obras estruturantes visando melhorar a qualidade de vida nas cidades brasileiras (PAC, 2013). Dentre os eixos do PAC, as obras de saneamento estão inseridas no eixo Cidade Melhor. Elas visam contribuir para melhoria da qualidade de vida e redução da morbi-mortalidade por doenças de veiculação hídrica, mediante a construção, a ampliação e a estruturação de serviços de coleta e tratamento de esgoto. São financiáveis as ações de implantação e ligação domiciliar, rede coletora, interceptor, coletor tronco, poços de visita, estação elevatória, emissário, Estação de Tratamento de Esgoto bem como o lançamento ao corpo receptor (FUNASA, 2013). O Ministério da Saúde, por meio da Fundação Nacional de Saúde FUNASA, financia obras que contemplem uma etapa útil por convênio como forma de beneficiar a população em curto espaço de tempo. Quanto aos aspectos técnicos os projetos deverão atender ao Manual de Apresentação de Projetos de Sistemas de Esgotamento Sanitário, da Funasa e atender as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2013). 2.2 ESGOTO SANITÁRIO A Resolução CONAMA nº 430/11 define esgotos sanitários como uma denominação genérica para despejos líquidos residenciais, comerciais, águas de infiltração na rede coletora, os quais podem conter parcela de efluentes industriais e efluentes não domésticos.

24 Segundo Von Sperling (1996), o esgoto sanitário é formado por esgoto doméstico, águas de infiltração e despejos industriais, sendo que: 12 O esgoto doméstico é proveniente das residências, do comércio e das repartições públicas. A taxa de retorno é de 80% da vazão da água distribuída; As águas de infiltração são as que penetram na rede coletora de esgoto através de juntas defeituosas das tubulações, paredes de poços de visita, etc. A taxa de infiltração depende muito das juntas das tubulações, do tipo de elementos de inspeção, do tipo de solo e da posição do lençol freático. Os valores médios são de 0,3 a 0,5 L/s.km; Os despejos industriais são efluentes de indústrias que, devido às características favoráveis, são admitidos na rede de esgoto. Os esgotos industriais ocorrem em pontos específicos da rede coletora e suas características dependem da indústria. Os esgotos sanitários provém principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas, ou qualquer dispositivo de utilização de água para fins domésticos. Compõem-se essencialmente de água de banho, urina, fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem (JORDÃO & PESSOA, 2009). O esgoto sanitário contém, aproximadamente, 99,9% de água. O restante, 0,1%, é a fração que inclui sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, bem como os microorganismos (VON SPERLING, 2005). De acordo com a FUNASA, as principais características físicas dos esgotos sanitários são (FUNASA, 2004): Temperatura: em geral, é pouco superior à das águas de abastecimento. A velocidade de decomposição do esgoto é proporcional ao aumento da temperatura; Odores: são causados pelos gases formados no processo de decomposição; assim, o odor de mofo, típico de esgoto fresco, é razoavelmente suportável, e o odor de ovo podre, insuportável, é típico do esgoto velho ou séptico, em virtude da presença de gás sulfídrico; Cor e turbidez: indicam de imediato o estado de decomposição do esgoto. A tonalidade acinzentada acompanhada de alguma turbidez é típica do esgoto fresco e a cor preta é típica do esgoto velho;

25 13 Variação de vazão: depende dos costumes dos habitantes. A vazão doméstica do esgoto é calculada em função do consumo médio diário de água de um indivíduo. Estima-se que para cada 100 litros de água consumida, são lançados aproximadamente 80 litros de esgoto na rede coletora, ou seja, 80%. As principais características químicas dos esgotos, de acordo com a FUNASA (2004), são: Matéria orgânica: cerca de 70% dos sólidos no esgoto são de origem orgânica, geralmente esses compostos orgânicos são uma combinação de carbono, hidrogênio e oxigênio, e algumas vezes com nitrogênio; Matéria inorgânica: é formada principalmente pela presença de areia e de substâncias minerais dissolvidas. Segundo a FUNASA (2004), as principais características biológicas do esgoto são: Microorganismos: os principais são as bactérias, os fungos, os protozoários, os vírus e as algas; Indicadores de poluição: são vários organismos cuja presença num corpo de água indica uma forma qualquer de poluição. Para indicar a poluição de origem humana adotam-se os organismos do grupo coliformes como indicadores. As bactérias coliformes são típicas do intestino humano e de outros animais de sangue quente. Estão presentes nas fezes humanas (100 a 400 bilhões de coliformes/hab.dia) e são de simples determinação. 2.3 POLUIÇÃO Poluição, do latim polluere, significa estragar, sujar, corromper (SOUZA, 2001). Segundo a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo SABESP (2004), poluição é tudo aquilo que altera negativamente qualquer meio, criando condições adversas e prejudicando a saúde, a segurança e o bem estar das pessoas. A poluição é um dos grandes problemas do mundo; refere-se à degradação do ambiente por um ou mais fatores prejudiciais à saúde deste. Ela pode ser causada pela liberação de matéria e também de energia (luz, calor, som): os chamados poluentes (FELLENBERG, 1980).

26 14 A poluição das águas e a falta de saneamento são as principais causas das doenças de veiculação hídrica, que provocam milhares de mortes anualmente no mundo (SABESP, 2004). São várias as fontes de poluição da água: fontes naturais, águas de áreas agrícolas, águas servidas ou esgotos e outras fontes diversas. As fontes de poluição ditas naturais não têm nenhuma ou quase nenhuma ligação com as atividades antropogênicas. Elas estão relacionadas aos fenômenos naturais existentes na cadeia do ciclo de vida. São provenientes da poluição atmosférica, através da chuva; dos minerais dissolvidos, através dos minerais presentes no solo, onde estão as águas subterrâneas; da dissolução da vegetação, floração aquática e escoamento superficial (JORDÃO & PESSOA, 2009). Um dos objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos pela Lei n 9433/97, é assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos. É direito, mas também dever de todos nós que utilizamos água que a utilizemos de forma adequada, pois este é um dos recursos mais importantes para a sobrevivência do ser humano. A resolução CONAMA nº 357/2005 estabelece que os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados direta ou indiretamente nos corpos de água após devido tratamento. As estações de tratamento de esgoto desempenham o papel de transformar o esgoto em água que possa voltar para o curso de água sem prejuízos para o meio Quantificação das Cargas Poluidoras Von Sperling (2005), destaca que para avaliar o impacto da poluição e da eficácia das medidas de controle, é necessária a quantificação das carga poluidoras afluentes ao corpo d água. Para tanto são necessarios levantamentos de campo na área em estudo, amostragem dos poluentes, análises de laboratório, medição de vazão entre outros dados. Se esses dados não existirem ou não estiverem disponíveis, devem ser utilizados dados de literatura. A carga é expressa em termos de massa por unidade de tempo. Para o cálculo da carga de esgoto gerada no loteamento foi utilizada a fórmula descrita por Von Sperling (2005): Carga ( Kg ) = População (pes)x Carga per capita ( dia 1000 (g/kg) g pes.dia) (1)

27 TRATAMENTO DE ESGOTO O tratamento de esgotos e efluentes, de acordo com Pimenta et al. (2002), consiste na estabilização da matéria orgânica presente nos mesmos. Assim, o tratamento busca transformar a matéria orgânica em inorgânica (mineralização e consequente redução de DBO) e a remoção de microorganismos patogênicos. Muitas opções de tratamento se baseiam em processos que ocorrem normalmente na natureza, denominados autodepuração ou estabilização. A autodepuração de um corpo aquático consiste na capacidade de receber e depurar, através de mecanismos naturais, certa quantidade de matéria orgânica. Este processo inclui toda assimilação, decantação e digestão de compostos estranhos, inclusive os metais. Atualmente, existem inúmeros processos para o tratamento de esgoto, sendo individuais ou combinados. Vários fatores irão influenciar na escolha das opções de tratamento, a decisão pelo processo a ser empregado deve levar em consideração, principalmente, as condições do curso de água receptor (estudo de autodepuração e os limites definidos pela legislação ambiental) e a característica do esgoto bruto gerado. É necessário certificar-se da eficiência de cada processo unitário e de seu custo, além da disponibilidade de área (IMHOFF & IMHOFF, 1998) Processos de Tratamento dos Esgotos Processos Físicos Segundo Bassoi (2007), o tratamento por processos físicos é assim chamado pelos eventos físicos que ocorrem na remoção ou transformação de poluentes nos esgotos. Os processos físicos são utilizados basicamente para separar sólidos grosseiros em suspensão, sólidos sedimentáveis, sólidos flutuantes e areia, mas também podem ser utilizados para equalizar e homogeneizar um efluente. Os sólidos grosseiros que podem ser removidos por processos físicos são considerados de fácil retenção e remoção; eles devem ser removidos para a proteção dos dispositivos de transporte e tratamento dos esgotos, visto que podem entupir e danificar esses dispositivos (JORDÃO & PESSOA, 2009). Os esgotos contêm uma grande quantidade de óleos, gorduras, ceras, provenientes de restos de comida como margarina, óleos vegetais, gordura de carne, entre outros. É importante a remoção desses poluentes para evitar a obstrução dos coletores, aderência nas peças e acúmulo nas unidades de tratamento, provocando odores e, ainda aspectos desagradáveis nos corpos receptores (JORDÃO & PESSOA, 2009).

28 16 A areia contida nos esgotos é na maioria das vezes constituída de material mineral. Deve ser removida para evitar a abrasão nos equipamentos e tubulações, reduzir a possibilidade de obstrução nos dispositivos da estação de tratamento e facilitar o manuseio e transporte das fases líquidas e sólidas (JORDÃO & PESSOA, 2009). De acordo com Imhoff & Imhoff (1998), a remoção de sólidos grosseiros em suspensão pode ser feita com crivos, grades, peneiras e desintegradores; a remoção de sólidos sedimentáveis com caixas de areia, centrifugadores e decantadores; e a remoção de óleos, graxas e sólidos flutuantes com tanque de retenção de gordura. Gradeamento, sedimentação e filtração são exemplos de tratamento por processos físicos Processos Químicos Segundo Jordão & Pessoa (2009), os processos químicos são aqueles onde a utilização de produtos químicos é necessária para aumentar a eficiência de remoção de um elemento ou substância, modificar seu estado ou estrutura, ou simplesmente alterar suas características químicas. Quase sempre são utilizados conjugados a processos físicos e algumas vezes a processos biológicos. De acordo com Guimarães & Nour (2001) os processos químicos mais utilizados no tratamento de esgoto são: coagulação, floculação, precipitação química e oxidação química Processos Biológicos Segundo Jordão & Pessoa (2009), os principais processos biológicos de tratamento são oxidação biológica anaeróbia e aeróbia e digestão do lodo. O tratamento de esgoto por processos biológicos depende da ação de microorganismos presentes no esgoto, como as bactérias, os fungos, os protozoários, os vírus, as algas e os grupos de animais e plantas. As bactérias representam o grupo de organismos mais importante no processo de tratamento do esgoto; elas são responsáveis pela decomposição e estabilização da matéria orgânica presente (JORDÃO & PESSOA, 2009). De acordo com Jordão & Pessoa (2009), no processo de oxidação biológica, os microorganismos decompõem a matéria orgânica contida no esgoto ou no lodo e transformam substâncias complexas em produtos finais simples. Nos processos aeróbios de tratamento são empregados microorganismos que utilizam o oxigênio molecular, O2, para a sua alimentação e, consequentemente, a decomposição da matéria orgânica presente no esgoto. Normalmente há um consórcio de microorganismos

29 17 atuando conjuntamente nos processos de estabilização da matéria orgânica. A microfauna é composta por protozoários, fungos, leveduras, micrometazoários e bactérias (GUIMARÃES & NOUR, 2001). Há uma grande variedade de sistemas aeróbios de tratamento de águas residuais; as mais empregadas são lagoas facultativas, lagoas aeradas, filtros biológicos aeróbios, valos de oxidação, disposição controlada no solo e lodo ativado enfatiza Guimarães & Nour (2001). Nos processos anaeróbios de tratamento são empregados microorganismos que degradam a matéria orgânica presente no efluente, na ausência de oxigênio molecular. Nesse tipo de processo, a grande maioria de microorganismos que compõem a microfauna também é de bactérias, basicamente as acidogênicas e as metanogênicas. Como sistemas convencionais anaeróbios, os mais utilizados são os digestores de lodo, tanques sépticos e lagoas anaeróbias. Entre os sistemas de alta taxa, ou seja, aqueles que operam com alta carga orgânica, destacam-se os filtros anaeróbios, reatores de manta de lodo, reatores compartimentados e reatores de leito expandido ou fluidificado (GUIMARÃES & NOUR, 2001). Assim, os processos biológicos de tratamento buscam reproduzir, em dispositivos projetados, os fenômenos biológicos que estão presentes na natureza, condicionando-os em área e tempo economicamente viáveis, consideram Jordão & Pessoa (2009) Níveis de Tratamento Jordão & Pessoa (2009) classificam as instalações de tratamento de esgoto em função do grau de redução dos sólidos em suspensão e da demanda bioquímica ou química de oxigênio proveniente da eficiência de uma ou mais unidades de tratamento. Com isto as unidades de tratamento podem ser em nível preliminar, primário, secundário e terciário Tratamento Prelimiar O tratamento preliminar, ou pré-tratamento, é a primeira etapa no processo de remoção das impurezas da água; ele visa à remoção, por ação física, do material grosseiro, das partículas em suspensão e da gordura presente no esgoto, com a finalidade de proteção dos dispositivos de transporte dos esgotos, unidades de tratamento subsequentes e proteção dos corpos receptores (VON SPERLING, 2005) Tratamento Primário O tratamento primário deve remover a matéria orgânica em suspensão; e a DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio é removida parcialmente. Os processos de tratamento

30 18 primário são a decantação primária ou simples, precipitação química com baixa eficiência, flotação e neutralização (NUNES, 2001). Os tanques sépticos são também uma forma de tratamento de nível primário, onde os sólidos sedimentáveis são removidos para o fundo, permanecendo um longo tempo (algumas vezes), suficiente para sua estabilização (VON SPERLING, COSTA, & CASTRO, 1995) Tratamento Secundário Segundo Jordão & Pessoa (2009), nessa etapa ocorre principalmente remoção, por processos biológicos, de sólidos e de matéria orgânica não sedimentável e, eventualmente, nutrientes como nitrogênio e fósforo. Basicamente, são reproduzidos os fenômenos naturais de estabilização da matéria orgânica que ocorrem no corpo receptor, sendo que a diferença está na maior velocidade do processo, na necessidade de utilização de uma área menor e na evolução do tratamento em condições controladas. O tratamento pode ocorrer por meio de reações bioquímicas e os processos podem ser aeróbios ou anaeróbios. Os processos aeróbios simulam o processo natural de decomposição, com eficiência no tratamento de partículas finas em suspensão. O oxigênio é obtido por aeração mecânica (agitação) ou por insuflação de ar. Já os anaeróbios consistem na estabilização de resíduos feita pela ação de microorganismos, na ausência de ar ou oxigênio elementar (SILVA & CARVALHO, 2007). De acordo com Von Sperling (1996), após as fases primária e secundária, a eliminação de DBO deve alcançar 90%, dependendo do processo de tratamento Tratamento Terciário No tratamento terciário ocorre a remoção de organismos patogênicos, remoção de nutrientes, remoção de poluentes tóxicos ou não biodegradáveis ou eliminação adicional de poluentes não degradados na fase secundária. Para a remoção desses poluentes pode-se citar as seguintes etapas: filtração, cloração ou ozonização para a remoção de bactérias, absorção por carvão ativado, e outros processos de absorção química para a remoção de cor, redução de espuma e de sólidos inorgânicos tais como eletrodiálise, osmose reversa e troca iônica (JORDÃO & PESSOA, 2009). Para o lançamento final do esgoto no corpo receptor às vezes é necessário proceder a desinfecção das águas residuais tratadas para a remoção dos organismos patogênicos ou,

31 19 em casos especiais, a remoção de determinados nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo, que podem acentuar, isoladamente ou em conjunto, a eutrofização das águas receptoras (MELLO, 2007) Unidades ou Operações Unitárias As principais unidades ou operações unitárias aplicados ao tratamento dos esgotos sanitários são as seguintes: - Medição da vazão: é determinação da vazão na entrada da ETE com o objetivo de conhecer a vazão de tratamento bem como de dosar os produtos químicos adequadamente. Utiliza-se mais comumente vertedor ou Calha Parshall (ANDRADE NETO, 1997). - Gradeamento: é a operação pela qual o material flutuante e a matéria em suspensão que for maior que as aberturas da grade são retidos e removidos (JORDÃO & PESSOA, 2009). - Desarenação: consiste na remoção da areia por sedimentação. Os grãos de areia, devido às suas maiores dimensões e densidade, vão para o fundo do tanque, enquanto a matéria orgânica, de sedimentação bem mais lenta, permanece em suspensão (SILVA & CARVALHO, 2007). - Homogeneização de Vazão: ocorre nos tanques de equalização e consiste em transformar as vazões variáveis em vazões constantes de modo a melhorar a eficiência dos processos posteriores (AZEVEDO NETTO, 1998). - Floculação: é o processo físico que ocorre logo em seguida à coagulação e se baseia na ocorrência de choques entre as partículas formadas anteriormente, de modo a produzir outras de muito maior volume e densidade, agora chamadas de flocos. Esses flocos, que são as impurezas que se deseja remover, podem ser separados do meio aquoso por meio de sedimentação (VON SPERLING, 1996). - Sedimentação: é operação pela qual a capacidade de carreamento e de erosão da água é diminuída, até que as partículas em suspensão sedimentem pela ação da gravidade e não possam mais ser relevantadas pela ação das correntes (JORDAO & PESSOA, 2009). - Decanto-digestor: é um tanque simples ou compartimentado utilizado para reter, por decantação, sólidos contidos nos esgotos, propiciando a decomposição dos sólidos orgânicos decantados no seu interior, através da digestão anaeróbia, onde ocorre um acúmulo temporário dos resíduos que são, posteriormente, removidos em períodos de meses ou anos (CAMPOS, 1999).

32 20 - Oxidação Biológica: é o mecanismo pelo qual os microorganismos decompõem a matéria orgânica presente nos esgotos, e transformam substâncias complexas em produtos finais simples (JORDÃO & PESSOA, 2009). - Flotação: é a operação responsável pela remoção dos sólidos menos densos que a água, que sobem até a superfície líquida (VON SPERLING, 1996). - Desinfecção: é operação em que os organismos vivos infecciosos são em potencial são inativados (JORDÃO & PESSOA, 2009). - Lodos Ativados: é o processo biológico onde o esgoto afluente, na presença de oxigênio dissolvido, agitação mecânica e pelo crescimento e atuação de microorganismos específicos, forma flocos denominados lodo ativado ou lodo biológico (VON SPERLING, 1997). - Valos de Oxidação: são unidades compactas de tratamento por meio de aeração prolongada, composto pelos seguintes componentes: dispositivo de entrada, tanque de aeração, rotor de aeração e dispositivo de saída. O esgoto submetido ao processo de aeração promove um crescimento do lodo (flocos biológicos) e reduz a DBO (JORDÃO & PESSOA, 2009). - Biodiscos: consiste na disposição de uma série de discos considerados meio-suporte que giram vagarosamente, onde a biomassa cresce aderida; são ligeiramente espaçados e montados num eixo horizontal (KAWANO, M.,& HANDA, R. M, 2008). - Reator anaeróbio de manta de lodo: a biomassa que cresce no meio, pode formar pequenos grânulos que auxiliam no aumento da eficiência do tratamento. O volume requerido é bastante reduzido, o fluxo do líquido é ascendente e os gases (metano e gás carbônico) são coletados na parte superior, de acordo com Chernicharo (1997). - Filtração Biológica: consiste na passagem do esgoto através de um meio filtrante permeável onde os microorganismos são afixados, através do qual o líquido é percolado, sendo o tratamento integralmente biológico (JORDÃO & PESSOA, 2009). - Lagoas Aeradas: a aeração é mecanizada no fornecimento de oxigênio às bactérias, com diferença de que não ocorre a recirculação como nos lodos ativados. A aeração é a máxima possível (JORDÃO & PESSOA, 2009).

33 21 - Lagoas Anaeróbias: o tratamento acontece na ausência de oxigênio. São usadas com grande vantagem para o pré-tratamento de águas residuárias, com grande concentração de carga orgânica e alto teor de sólidos (CAMPOS, 1999). - Lagoas Facultativas: se caracteriza por possuir zonas aeróbias e anaeróbias, sendo aeróbias nas camadas superiores próximas à superfície das águas, enquanto que nas camadas próximas ao fundo da lagoa ocorrem condições anaeróbias (JORDÃO & PESSOA, 2009). - Lagoa de Maturação: é geralmente usada como o último estágio de tratamento após as lagoas facultativas. Sua função principal é a destruição de organismos patogênicos ou a remoção do excesso de nutrientes. As condições são predominantemente aeróbias (VON SPERLING, 2005). 2.5 SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO Sistemas Individuais São sistemas adotados para atendimento unifamiliar. Consistem usualmente no lançamento dos esgotos domésticos gerados em uma unidade habitacional em tanque séptico seguido de dispositivo de infiltração no solo (sumidouro, irrigação sub-superficial) (MONTEIRO JUNIOR et al., 2011) Tanque Séptico Os tanques sépticos são unidades de tratamento primário de esgoto doméstico, destinadas a receber a contribuição de um ou mais domicílios e com capacidade de dar ao esgoto um tratamento de acordo com a sua simplicidade e custo. No tanque séptico ocorre a separação e a transformação físico-química da matéria sólida contida no esgoto, a sedimentação dos sólidos e a retenção do material graxo, transformando-os em substâncias simples e estáveis (JORDÃO & PESSOA, 2009). O esgoto deve ser lançado em um tanque e, uma vez feito isso, bactérias anaeróbias agem sobre a parte sólida do esgoto, decompondo-o. Esta decomposição é importante, pois torna o esgoto residual com menor quantidade de matéria orgânica (ABNT, 1997). Esse tipo de unidade consiste em um tanque enterrado, que recebe os esgotos, retém a parte sólida e inicia o processo biológico de purificação da parte líquida (efluente). Também deve ficar num nível mais baixo do terreno e longe de poços, cisternas ou de qualquer outra

34 22 fonte de captação de água para evitar contaminações, no caso de eventual vazamento. O tamanho do tanque séptico depende do número de usuários. As etapas do tratamento no tanque séptico, de acordo com Mello (2007), são as seguintes: Os sólidos sedimentáveis presentes no esgoto vão ao fundo do tanque, passando a constituir uma camada de lodo; Os óleos e graxas e outros materiais mais leves presentes no esgoto sobem até a superfície do tanque, formando uma camada de escuma; O esgoto, livre dos materiais sedimentáveis e flutuantes, flui entre as camadas de lodo e de escuma, deixando o tanque séptico em sua extremidade oposta, de onde é encaminhado a uma unidade de pós-tratamento ou de disposição final; O material orgânico retido no fundo do tanque sofre uma decomposição facultativa e anaeróbia, sendo convertido em compostos mais estáveis, como gás carbônico, metano e sulfeto. Embora o sulfeto seja produzido nos tanques sépticos, problemas de odor não são usualmente observados, uma vez que este se combina com metais acumulados no lodo, vindo a formar sulfetos metálicos insolúveis; A decomposição anaeróbia proporciona uma redução contínua do volume de lodo depositado no fundo do tanque, mas há sempre uma acumulação ao longo dos meses de operação do tanque séptico. Como consequência, a acumulação de lodo e de escuma leva a uma redução do volume útil do tanque, demandando a remoção periódica desses materiais. A eficiência do tratamento em relação à remoção da DBO pode variar entre 30 a 50%, a remoção de sólidos suspensos entre 20 a 90% e a remoção de óleos e graxas entre 70 a 90%, de acordo com Von Sperling (1996). Os tanques sépticos tem a finalidade de impedir a poluição de mananciais destinados ao abastecimento doméstico, não alterar a vida das populações aquáticas, não prejudicar a balneabilidade de praias e outros locais e não ocasionar a poluição de águas subterrâneas (JORDÃO & PESSOA, 2009) Dimensionamento O dimensionamento do tanque séptico deve atender a disposição da Norma Brasileira NBR 7229:1993. O tanque séptico pode possuir uma única câmara, câmaras em série, ou câmaras sobrepostas. Além disso, sua seção transversal pode ser retangular ou circular. De acordo com a NBR 7229:1993, o tanque séptico deve respeitar as seguintes medidas: No caso de seção circular, o diâmetro mínimo deve ser de 1,10 m;