UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM JORNALISMO ESPORTIVO FILIPE PEREIRA GAMBA

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1 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM JORNALISMO ESPORTIVO FILIPE PEREIRA GAMBA A RELAÇÃO ENTRE JORNALISTAS ESPORTIVOS E CLUBES DE FUTEBOL Artigo acadêmico apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Jornalismo Esportivo, pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, durante o semestre de 2013/2. Orientador: Prof. Dr. Elio Carravetta. PORTO ALEGRE 2013

2 2 A relação entre jornalistas esportivos e clubes de futebol 1 Filipe Pereira Gamba 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS RESUMO: A proposta deste artigo é ampliar o debate em torno da relação entre jornalistas esportivos e clubes de futebol - dirigentes, jogadores, médicos, fisiologistas e fisioterapeutas. Além de refletir sobre o trajeto da notícia - que transita de um vestiário até os torcedores -, analisar-se-á a dependência da imprensa em relação aos clubes, a postura dos dirigentes de futebol, os conflitos éticos, as relações comerciais e o real interesse do consumidor. PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo esportivo; Clubes de futebol; Imprensa. 1. Introdução A editoria de esporte é, inegavelmente, a melhor e mais completa escola para um jornalista! Lidar com dirigentes de clubes, esportistas, jogadores de futebol e torcedores não é tarefa das mais fáceis. O jornalista que vivencia essas rotinas confronta-se,cotidianamente, com diversas questões de cunho ético e moral. Trata-se de um relacionamento estreito e, por vezes, complicado. Há uma necessidade premente de se detectar - e de se distinguir a notícia do fato plantado. Em se tratando de Jornalismo Esportivo, o fator paixão costuma embaçar um olhar mais objetivo e, infelizmente, preceitos da profissão - de neutralidade, de coerência, de ética, de objetividade, de isenção -, nem sempre são respeitados. Os bastidores de uma cobertura esportiva que abarca tudo o que não é noticiado pela mídia, tais como: as dificuldades do jornalista em busca da notícia, o lado sensacionalista, a relação comercial, os interesses obscuros de alguns dirigentes e a necessidade de informar, em tempo real -, 1 Artigo acadêmico apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Jornalismo Esportivo, pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, durante o semestre de 2013/2. Orientador: Prof. Dr. Elio Carravetta. 2 Jornalista formado pela Unisinos. Trabalhou nas rádios Osório, Guaíba e Bandeirantes. Atualmente, atua como repórter esportivo na Rádio Gaúcha.

3 3 são alguns dos fatores que contribuem para tensionar a tênue relação entre clubes de futebol, imprensa e público-consumidor. 2. Relação clube e imprensa A relação entre um clube de futebol e a imprensa é composta da seguinte forma: De um lado, o clube - com seus princípios, seus valores, seus interesses e suas blindagens. De outro, a imprensa - com a necessidade de desempenhar o seu papel primordial: informar. Entretanto, o que é notícia para a imprensa, muitas vezes, não é notícia para o clube, e, em contrapartida, o que o clube quer que seja divulgado, às vezes, não interessa à mídia, haja vista que a informação que os jornalistas almejam é preservada no vestiário reduto considerado sagrado pelos times de futebol. D Alessandro "Já disse ano passado, o vestiário tem que ser blindado, tem que ser nosso. Nem vocês (imprensa) tem que saber o que acontece no vestiário, tem que ser assim. Um grupo campeão se faz com honestidade, falando olho no olho e não falando para fora. Nosso grupo tem que ser blindado. E não pode sair nada". (UOL ESPORTE, 2013) Não há uma simultaneidade entre o tempo da imprensa e o tempo do clube. A iminente necessidade do jornalista na apuração da notícia, algumas vezes, não está sincronizada à necessidade dos clubes. Em muitos desses casos, o tempo, para os clubes, atua como um aliado; para o jornalista, como um adversário. Sendo assim, torna-se difícil para o repórter esportivo realizar seu trabalho com a mesma velocidade com que os fatos acontecem. Além disso, o excesso de veículos e o aumento da concorrência, na cobertura diária de um clube de futebol, acabam por despejar na mídia muitas informações incoerentes e, até mesmo, obsoletas, por já estarem ultrapassadas, em virtude da velocidade com que os fatos ocorrem. 3. A cobertura da mídia As coberturas realizadas através das mídias eletrônicas - site, rádio e tevê monitoram os fatos em tempo real e atualizam as informações no decorrer do dia. Já, os veículos impressos, passam, atualmente, por um período de adaptação observa-se que o furo, veiculado nos jornais, tornou-se raro. Além disso, a regra geral nas editorias e linhas editoriais é o aprofundamento dos fatos, a análise da notícia, e, não mais, o factual por si só. A venda de um craque não é mais o foco da notícia, e sim os pormenores que envolveram essa negociação como, por exemplo, a tristeza de uma torcida pela venda do ídolo, as expectativas desse jogador, como será sua adaptação ao novo clube, as possíveis contratações para o seu lugar e

4 a análise tática da equipe. Abaixo uma mesma notícia tratada com enfoques diferentes. Inter oficializa venda de Sandro para o Tottenham. A diretoria do Internacional confirmou oficialmente a venda do volante Sandro ao Tottenham, da Inglaterra. O clube gaúcho, que não revelou o valor da transação, explicou que o meio-campista permanecerá defendendo a equipe até o encerramento da Libertadores.Sandro viajou para Londres no final da noite de segunda-feira para realização de exames médicos e assinatura do contrato com o Tottenham. (ESTADO DE SÃO PAULO, 2010) Venda de Sandro ao Tottenham inicia parceria A venda do volante, que renderá ao cofres colorados mais de R$ 18 milhões, mais o embarque de juvenis e juniores para Londres, compõem o pacote inicial para a sociedade. Entenda a parceria entre Inter e Tottenham - As bases foram definidas em agosto. A assinatura do acordo deverá ocorrer ainda neste mês; A ideia é que os dois clubes façam intercâmbio nas áreas de treinamentos e formação de jovens, no marketing e em oportunidades comerciais; Além da venda de Sandro, o Inter acertou com o Tottenham a transferência de atletas da base que não estejam nos planos para o time principal. Caso aprovem em Londres, eles poderão ser negociados ao Tottenham ou revendidos na Europa. (ZERO HORA, 2010) 4 O trajeto de uma notícia - de um vestiário de futebol até o público receptor é sinuoso. O clube é regido por um sistema presidencialista, uma hierarquia que precisa ser respeitada. As decisões não são individuais - todas elas passam por uma espécie de colegiado, em que se debate aquilo que pode e o que não pode ser informado. Exige-se, de jornalistas e profissionais dos clubes, a maior transparência possível. Uma relação de confiança é construída, dessa forma. Todavia, nem sempre a lisura no processo pode ser aplicada de forma efetiva. Existem alguns aspectos que impedem que o clube revele exatamente aquilo que possa estar acontecendo no interior de um vestiário e o principal motivo, nesses casos, é a preservação da Instituição - omite-se uma notícia, mas preserva-se o clube. O primeiro representante na hierarquia técnica do departamento de futebol é o treinador. Esse é um cargo que necessita de apoio integral do presidente, da vice-presidência de futebol e do diretor técnico, já que é a autoridade máxima das comissões técnicas e dos jogadores. Futebol a Formação de times competitivos. (CARRAVETA, 2012, p. 71) 4. O OFF 3 O ponto nevrálgico de um clube é o seu Departamento de Futebol - o setor em que são tomadas as principais decisões que envolvem um clube. De lá, saem informações que interessam à mídia - contratações de jogadores, de treinadores, formação de um grupo... A relação entre as partes é cercada de tensão. Os veículos, em busca de uma informação privilegiada, e, os clubes, 3 Declaração dada ao jornalista sob compromisso de não revelar a fonte

5 5 aguardando o momento certo para anúncios. Aqui nos deparamos com a diferença entre oficialização e especulação. O jornalista esportivo tem, na base de seu trabalho, a especulação que consiste na informação extra-oficial -, porém, essa especulação existe em função da falta de transparência dos clubes ao lidar com a imprensa, com o objetivo de preservar a Instituição. Em virtude desse silêncio das fontes oficiais, as notícias passam a ter um caráter especulativo, que, na maioria das vezes, acaba se tornando oficial. Entretanto, uma informação apenas é oficial quando o clube noticia. Além disso, os bastidores dessa relação entre clube/imprensa mostram algumas peculiaridades: a omissão de determinados fatos é inerente à rotina do jornalista. Além disso, convive-se com um dilema: o que se pode e o que não se pode divulgar. É importante salientar que, por falta de provas ou por falta de testemunhas, fatos são omitidos. As pessoas envolvidas buscam a omissão, e, cabe ao jornalista, ter a responsabilidade, o respaldo e a credibilidade para noticiar e averiguar um fato, o qual poucos querem confirmar. Sabe-se que a vida real não é diferente de uma relação entre clubes de futebol e imprensa. A notícia em off, a informação privilegiada, é um benefício, mas, paradoxalmente, pode ser nociva ao jornalista esportivo. O off beneficia o repórter com informações privilegiadas, mas, em contrapartida, traz o ônus da cobrança e da possível perda de credibilidade - quando esse off acaba sendo usado com segundas intenções, ou seja, a fonte usa o jornalista para atingir o seu objetivo: divulgar notícias plantadas para que alguém seja prejudicado ou beneficiado. Uma fonte ligada à direção do clube gaúcho confirmou que Roth não irá renovar seu contrato com o Grêmio. O principal motivo pela não renovação é a grande rejeição da torcida tricolor com o nome do treinador. (TERRA, 2011). As relações com os departamentos médicos e físicos dos clubes não são muito diferentes, uma vez que, sendo eles uma extensão de um vestiário profissional, nem tudo aquilo que acontece pode ser veiculado. Além disso, estabelece-se um conflito ético entre duas profissões: os médicos, preservando seus pacientes e, os jornalistas, em busca da notícia, necessitando dar publicidade aos fatos - está estabelecido um conflito de interesses. O que interessa a um não interessa ao outro. A preservação é a omissão da verdade e a omissão da verdade não condiz com a ética. As duas partes estão cientes do que ocorre. Portanto, estão sendo, de alguma forma, coniventes com a falta de transparência. É evidente que os médicos e os fisiologistas não podem revelar tudo o que de fato ocorre, e o jornalista, por sua vez, sabe que nem toda a verdade é divulgada estamos diante de um dilema ético. Dois segmentos profissionais em conflito. O jornalista, que busca descobrir o outro lado da notícia, além da divulgada pelo clube, torna-se parte da omissão, e o profissional do vestiário que noticia aquilo que expõe seu paciente fere sua norma de conduta. O desafio consiste

6 6 em encontrar uma forma equilibrada de convivência, em que a perda, mesmo sendo inevitável, seja inócua. O importante é perceber que esse ponto de equilíbrio, talvez, seja o maior desafio do jornalista esportivo. Ronaldo diz que pode voltar aos campos antes do previsto pelos médicos. Com 31 anos, Ronaldo afirma que pode voltar aos gramados antes da previsão de nove meses estipulada pelos médicos do Milan. (GLOBOESPORTE.COM, 2008) 5. Jornalismo de entretenimento No jornalismo esportivo, existe uma expressão típica para noticiar excessos cometidos por jogadores de futebol fora das quatro linhas - os famosos problemas extra campo. Consiste naqueles momentos em que os atletas cometem alguns excessos que expõe, de forma nociva, a imagem do clube e comprometem a carreira do jogador. Na maioria dos casos, o clube em questão busca encobrir os acontecimentos, a fim de preservar a Instituição e de evitar, consequentemente, o vazamento das informações à imprensa. Muitos casos passam despercebidos e sequer chegam à mídia, acabam ficando, exclusivamente, dentro do clube. Entretanto, até que ponto a conduta indevida de um atleta profissional, fora do exercício da sua profissão, é do interesse da imprensa esportiva? Além de invadir a privacidade alheia, qual abordagem jornalística seria suficientemente adequada para justificar a exposição da imagem de um atleta, embora se tratando de uma pessoa pública? O que há de tão relevante para que mereça ser notícia na editoria de esportes? Trabalha-se com os dois lados: o interesse de quem publica e o interesse de quem consome. O receptor não quer entender o futebol, não quer aprofundar os saberes sobre o futebol. Ele quer apenas uma divulgação de factóides referentes aos jogadores, às equipes, aos técnicos e aos dirigentes do seu time. Só quer ficar a par dos resultados dos jogos e também ler a notícia - como quem lê matérias de fofocas de revistas de tevê, que expõem, de forma bastante invasiva, a vida de seus ídolos, para, quem sabe, poder acompanhar as coberturas que priorizem picuinhas, conflitos na vida privada, escândalos. O que se tem construído, na verdade, é uma cadeia de mitificações cíclicas, viciadas, que todos nós, jornalistas e leitores, acatamos e passamos a considerar como sendo Jornalismo Esportivo. É importante ressaltar que informação sobre esporte alimenta a paixão do torcedor e, em decorrência disso, cativa o público, causando empatia. Informações sobre fofocas e fatos que fogem desse âmbito, denigrem o papel do Jornalismo Esportivo e, em consequência, do jornalista. Não compete ao jornalista esportivo noticiar atos cometidos por uma pessoa pública, na sua vida privada. O jornalista esportivo deve tornar público o que se refere estritamente ao atleta, ao profissional, ao jogador de futebol no exercício da sua profissão - o que ele faz fora dela, não lhe diz respeito - a menos que aquilo tenha uma interferência direta e esteja comprometendo a sua vida

7 7 profissional. O que destoa disso, é desinformação, a qual alimenta uma rede de fofocas - que se faz cada vez mais presente no jornalismo em geral, em detrimento da informação genuína. Se existe no jornalismo uma editoria em que os assuntos se bastam, sem a necessidade desses factóides, essa editoria é a de esportes, uma vez que os assuntos são fartos e o apelo perante o público é permanente. Afinal, trata-se de um tema relacionado à paixão. Desvirtuar, mudar o foco, em busca de um suposto interesse do leitor, é fugir da essência do jornalista esportivo e pensar o jornalismo meramente como uma questão comercial. O zagueiro Índio, do Inter, afirmou, em entrevista para a Rádio Farroupilha, que cortou o braço direito em um acidente doméstico. Na madrugada desta segunda-feira, o jogador passou por cirurgia de correção em uma artéria no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, consequência de um ferimento no local. O defensor afirmou que o incidente aconteceu em meio a um churrasco com amigos e familiares. - As pessoas estão dizendo que eu estava em balada, em noitada, em boate. Eu estava em um churrasco com meus amigos, minha esposa, meus filhos, e sofri um acidente doméstico. Não é porque jogo futebol que não vai acontecer comigo. Estava com minha família, meus amigos e meus filhos. (GLOBOESPORTE.COM, 2010) 6. O jornalismo comercial Informação não se compra nem se vende, para o jornalista esportivo não é necessário mentir, basta omitir. (FERNANDEZ, 2009) 4. A relação comercial compromete a entrega do produto. Além do conflito de ideias, convivemos com o jogo de interesses, aquele que transpõe o idealismo que aprendemos quando ingressamos na Faculdade de Jornalismo. O idealismo de que se deve falar a verdade, custe o que custar. A prática nos tem ensinado que esse idealismo termina quando saímos da faculdade. A partir daí, prepondera a relação comercial. Queiram ou não, o jornalista esportivo trabalha com entretenimento e esse show precisa ser valorizado, por mais que existam problemas, sempre existe alguém que pagou para poder transmitir esse espetáculo e, quem investiu, não quer ver seu capital desvalorizado. 4 Ezequiel Fernandez, jornalista argentino do jonal Lá Nación de Buenos Aires. Frase proferida em um Seminário em Medelín na Colômbia, em 2009.

8 8 Dona dos direitos de transmissão da Copa das Confederações, a Globo está dando tratamento de luxo para o evento. Mais de 500 profissionais do grupo estão credenciados para a competição. O investimento em tecnologia é enorme. O assunto está presente não apenas em todos os programas jornalísticos como também nas atrações da área de entretenimento. O investimento é justificável. A Copa das Confederações é um grande ensaio para a Copa do Mundo de 2014, o evento esportivo mais importante que o Brasil já abrigou (a Copa de 1950 não tinha o tamanho nem o impacto que a competição tem hoje). O que é difícil de entender neste esforço de cobertura da Globo é o ufanismo exagerado. Assim como o técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari, a emissora está adotando um tom patriótico, que destoa totalmente da realidade com que o evento está sendo visto no país. (STYCER, 2013). Na outra ponta, existem os que não pagaram e, consequentemente, não podem transmitir o show e, como forma de compensação ou de revanchismo -, passam a noticiar exclusivamente o que está errado no espetáculo - o que não é mostrado pelas grandes redes detentoras dos direitos - ESPN. Portanto, temos duas relações extremamente comprometidas e influenciadas por questões comerciais. Estamos diante de um grande jogo, presente no Jornalismo Esportivo atual, no Brasil um jogo, cujos interesses são obscuros, não declarados. Trata-se de um leilão, em que o maior lance outorga o comando do espetáculo, em detrimento do nosso idealismo, daquele bom jornalismo que nos foi ensinado. Tem uma televisão que joga contra o Brasil, critica Felipão em referência à ESPN. Dirigindo-se aos canais da ESPN, o técnico criticou: Tem uma televisão que joga contra o Brasil. Que só induz o árbitro, que o Neymar faz isso. Que nosso time bate, isso e aquilo. É hora de canalizar esforços para o Brasil. E não contra o Brasil, disse com um sorriso. Antes de pedir a palavra outra vez ele afirmou: Não estou voltando a ser ignorante não, viu?. (REVISTA PORTALIMPRENSA, 2013) 8. Conclusão O jornalismo esportivo mudou a sua forma de cobrir os fatos. Há uma dúvida, principalmente entre os mais jovens, sobre o que, de fato, é notícia. Influenciados pelas novas tecnologias e pelas novas maneiras de buscar informação, os jovens partem do princípio de que, se saiu na internet, é verdade. Aproveitando-se desse hiato na indefinição do que realmente é notícia e tentando entender o que o público busca na internet, o jornalismo esportivo passou a dar destaque a notícias não relacionadas diretamente ao esporte como, por exemplo, comportamento do atleta em sua vida particular, o que compra, restaurantes que frequenta, o que bebe, quem está namorando... Assuntos pertencentes às editorias de variedades invadiram as editorias de esporte. Um desserviço ao Jornalismo Esportivo - o que torna a cobertura cada vez mais vazia - em que a notícia é tangenciada. Em meio a tudo isso, há as obscuras relações comerciais que influenciam uma cobertura jornalística e o jogo de interesse que cerca o Jornalismo Esportivo e os clubes de futebol.

9 9 Fica evidente que o jornalista esportivo está deixando de ter opinião própria - a sua opinião é a opinião que convém para a empresa para a qual trabalha. O jornalismo de opinião independente, com autonomia, está se extinguindo exemplo disso é que uma empresa paga milhões para adquirir os direitos de transmissão de um evento, esse valor precisa ser recuperado em publicidade e, para atrair investidores, é preciso mostrar que aquele evento é impecável e, dessa forma, será tratado nas coberturas que serão feitas pela empresa. Nesse evento perfeito não haverá falhas, erros e nem protestos. Uma cobertura mascarada, distorcida da realidade, mentirosa. Sendo o jornalismo esportivo um meio heterogêneo, adicione a ele a complexidade do futebol e teremos duas vertentes em rota de colisão, mas que dependem uma da outra e que buscam criar suas próprias regras de convivência. Não está em nenhum manual de medicina que o médico ou o fisiologista precisam informar para a imprensa aquilo que ela gostaria de saber sobre previsão de retorno de um jogador aos gramados; assim como não está nos manuais dos jornalistas que eles precisam noticiar uma informação mesmo sabendo que ela está incompleta; entretanto, o próprio meio impõe as condições de convivência para que a relação seja harmoniosa e para que cada um consiga cumprir o seu papel e atingir o seu objetivo. Como as perdas podem ser inevitáveis, o produto final acabará sendo comprometido. É importante salientar também que a relação entre repórteres e dirigentes de futebol é composta por um velado jogo de interesses. O dirigente, ao mesmo tempo em que trabalha para, e pelo clube, deve uma satisfação ao torcedor, que, majoritariamente, é transmitida via imprensa tradicional - e não através dos veículos de comunicação oficiais do clube site, twitter, etc.. Infelizmente, muitos dirigentes e profissionais do futebol não sabem lidar com a exposição e as cobranças que estão atreladas ao cargo. A visibilidade na imprensa é proporcional à cobrança, por parte da torcida - quanto mais se está em evidência, mais se está exposto a críticas e a elogios. Percebe-se que o dirigente não gosta de ser criticado e, quando o é, atribui a responsabilidade à imprensa. Tendo esse pensamento como regra, o dirigente e o profissional do futebol tentam, de alguma forma, usar a mídia - transmitir informações privilegiadas a repórteres é uma prática comum. Entendem que, em troca, o tom da crítica será amenizado. O jornalista, por sua vez, utiliza de expediente semelhante. A empresa de comunicação exige que, se possível, a notícia, preferencialmente, tenha que ser exclusiva. Se uma das possibilidades para obter a informação em primeira mão é prometer ao dirigente que a crítica será amenizada o jornalista, por vezes, o faz. Ao jornalista não é preciso mentir, basta omitir. O debate que se faz necessário é em torno de uma possível ruptura. Está claro que clubes de futebol e imprensa, por vezes, estão do mesmo lado. Uma relação mútua de necessidade. A questão

10 10 que se propõe é se essa relação próxima não pode acabar denegrindo a ética jornalística. O clube usa o veículo para atingir seu objetivo e o jornalista usa o clube, de qualquer forma, para buscar as suas informações. Ao contrário do que se apregoa, não vejo clubes e imprensa em lados tão opostos e sim, em determinados momentos, vejo-os como aliados e percebo que o conteúdo jornalístico, paulatinamente, vem sendo prejudicado - tornou-se influenciável. Os jornalistas estão nas mãos dos clubes e se submetem a isso, muito em função de não ter outra alternativa. É necessária uma ruptura nesse ciclo de dependência, a fim de que o Jornalismo Esportivo tenha autonomia para fazer uso de suas próprias convicções, sem depender do oficialismo e das distorções de um clube de futebol. Referências BORELLI, Viviane; FAUSTO NETO, Antonio. Jornalismo Esportivo como Construção. In: Cadernos de Comunicação, Vol. 7. Santa Maria/RS: Editora da UFSM, br/downloads/messa(esportivo)2005.pdf>. Acesso em: 13 ago BRIGGS, A,; BURKE, P. Uma história social da mídia. Rio de Janeiro: Ed. JZE, CARRAVETTA, Elio. Futebol: a formação de times competitivos. Sulina COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, ESTADO DE SÃO PAULO ( GLOBOESPORTE.COM ( GRISOGONO, Vivian. Lesões no Esporte. São Paulo: Martins Fontes, MESSA, Fabio de Carvalho. Jornalismo esportivo não é só entretenimento. In: Anais do 8º Fórum Nacional de Professores de Jornalismo. Maceió, Disponível em: < MOURIM, Roberta. A formação do jornalista esportivo, diploma ou talento. Revista Contemporânea, número 3, Disponível em: < Acesso em: 13 ago NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto, REVISTA PORTA IMPRENSA ( UOL esporte ( TERRA ( ZERO HORA (