A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DO ESTADO DO PARÁ

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1 1 A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO E DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL DO ESTADO DO PARÁ João Paulo do Valle Mendes 1 Este número especial da Revista SABER, do Centro de Ensino Superior do Pará (Cesupa), resulta de convite da Confederação Nacional da Indústria, por meio do Instituto Euvaldo Lodi, e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para editar um conjunto de artigos encomendados a especialistas em desenvolvimento industrial e mudança tecnológica, particularmente relacionados ao Estado do Pará. A decisão representa oportunidade ímpar de refletir sobre as perspectivas da indústria paraense, neste início do século XXI. A escolha dos temas levou em conta a necessidade de apresentar à comunidade e ao poder público a contribuição do conhecimento como fator essencial à melhoria da produção, respeitadas as exigências ambientais, de modo a colaborar na conquista do propalado desenvolvimento sustentável, em nosso meio. O Pará, nos últimos anos, tem adotado iniciativas para articular seu processo de desenvolvimento com transformações da economia mundial. Em manifestação do titular da Secretaria Especial da Produção, economista Simão Jatene, publicada em março deste ano Pará: um novo modelo de desenvolvimento, estão definidos, na página 13, os pressupostos básicos de um projeto de médio e longo prazo. O primeiro deles, a eficiência econômica, ou seja, a necessidade de produzir mais com menos. O segundo, a eqüidade social, uma vez que não basta apenas crescer: é preciso enfrentar a questão social e, como tal, crescer redistribuindo. Finalmente, o terceiro pressuposto é a sustentabilidade. Consoante está assinalado na publicação referida, o grande desafio é dinamizar o setor produtivo e reduzir as desigualdades. Para tanto, o Governo Estadual elegeu quatro grandes estratégias: 1 Professor Honoris Causa do Cesupa, Titular da Academia Brasileira de Educação, Presidente do Conselho Editorial da Revista SABER

2 2 expandir e diversificar a base econômica, estimulando a formação de cadeias produtivas de elevado poder multiplicador, retirando o Pará da condição de mero exportador de matérias-primas, industrializando os recursos materiais no próprio Estado; consolidar a fronteira aberta, isto é, as áreas já alteradas, ao todo 18 milhões de hectares sem florestas, a fim de aumentar sua produtividade e garantir sustentabilidade ambiental, econômica, política, cultural e social; reformar o Estado, a fim de viabilizar o papel de regulador da iniciativa privada e de catalisador das políticas públicas ; estimular a geração de emprego e renda, mediante o fortalecimento das duas formas de organização da produção, a patronal e a familiar. Com base nessas quatro estratégias, o Governo Estadual estabeleceu sua matriz econômica básica, fundada na agroindústria, no turismo e na verticalização mineral. Nesse ambiente de busca de um novo rumo econômico diante do contexto mundial, a coordenação editorial do SABER selecionou os artigos que integram esta edição especial. O primeiro artigo, escrito por Rodrigo Peixoto, destaca o rápido avanço da urbanização na Amazônia, agravada, no caso do Pará, pela indigência que atinge a periferia das cidades, pelas diversas culturas e formas de produção material. Para o autor, um dos pressupostos do desenvolvimento é assegurar essa diversidade, considerando não apenas o aspecto econômico mas também as dimensões ética, democrática e humana. Isto significa abordagens multidisciplinares fundamentadas em processos de negociação envolvendo grupos sociais, particularmente associações de moradores presentes em todas as localidades, a fim de alcançar soluções pactuadas, componentes de políticas públicas. Reconhece a importância de um tratamento diferenciado aos mais pobres e ressalta a necessidade de maior auxílio à pequena produção. O autor sublinha a importância do aprofundamento das novas racionalidades de gestão e destaca a necessidade de ampla participação dos municípios e dos chamados conjuntos institucionais, que incluam as entidades de ensino superior e de pesquisa, capazes de proporcionar apoio na elaboração de planos e projetos de desenvolvimento local, afirmando identidades sociais.

3 3 A questão da pertinência da teoria de sistemas na construção de indicadores de desenvolvimento sustentável na Amazônia e a elaboração de Agendas 21 locais é discutida por Adagenor Ribeiro, que analisa a complexidade da relação sociedade e meio ambiente, em sua essência. Para o autor, o debate sobre sustentabilidade necessita sair do plano teórico e se tornar operacional, o que conduz à reflexão sobre a possibilidade de sua mensuração. Esta, por sua vez, requer a definição do modelo de informação adequado à construção de um conjunto de indicadores específicos. A resolução do problema se encontra na escolha do paradigma científico de sistemas, o que exige dados de fontes seguras e confiáveis. A grande dificuldade é que os sistemas de informações locais ainda são frágeis e os Estados da Região não conseguiram organizá-los, uma vez que a maioria dos municípios desconhece sua realidade sócio-econômica, ecológica, educacional, de saúde e saneamento, administrativa, política e empresarial. O trabalho abriga o Anexo A Informação para tomada de decisões, e o Anexo B Proposição dos Indicadores de Sustentabilidade da CSD/ONU. O desenvolvimento da agroindústria no Estado do Pará é introduzido por Alfredo Oyama Homma, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, que apresenta pesquisa integrante do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia Agropecuária para o Brasil (Prodetab). O texto começa com um breve histórico do desenvolvimento agroindustrial no Pará, registrando a cronologia de alguns eventos e os ciclos das atividades agrícolas. Em seguida, o autor se reporta ao estado atual do crescimento da agroindústria, destacando as fruteiras que apresentam diversos níveis de escala, desde pequenas unidades de beneficiamento até grandes empreendimentos pertencentes a grupos multinacionais, como é o caso do abacaxi e da goiaba. Segundo Homma, existem 80 empresas ligadas à indústria de processamento de polpas de frutas, das quais 30 trabalham com exportação. O artigo contempla informações sobre cosméticos e plantas medicinais, a mandioca da qual o Pará é atualmente o maior produtor e cuja importância se amplia por ser altamente intensiva em mão-de-obra, o dendê, a castanha-do-pará e o coco, de grandes possibilidades pelo processamento de sua fibra para produção de encostos de banco e manta de assento de automóveis. O artigo discute as limitações para o desenvolvimento da agroindústria, dentre as quais a falta de maiores investimentos em Ciência e Tecnologia, a despeito da criação do Fundo Estadual de Ciência e Tecnologia (FUNTEC), e a não consolidação dos ciclos econômicos. As possibilidades são, todavia, as melhores para o Estado do Pará, desde que o setor seja apoiado por firme base tecnológica, receba efetivos recursos do setor público integrados aos da classe produtiva e disponha de infra-estrutura consolidada.

4 4 O crescente desenvolvimento da indústria madeireira no Pará é tema desenvolvido por Ana Elizabeth Reymão e Ovídio Gasparetto. Tem como ponto central da argumentação a necessidade de a própria classe empresarial implementar mudanças, consideradas as características da ação que desenvolvem. Os autores destacam o caráter predatório da atividade agravado pelo aumento do volume explorado, a predominância da produção e exportação de madeira serrada, em que pese um incremento no beneficiamento de compensado e de lâminas. Assinalam, também, a elevada participação de empresas estrangeiras no comércio exportador e o baixo grau de participação dos salários na renda gerada pelo empreendimento. As mudanças necessárias incluem o manejo sustentado e a certificação florestal, atos importantes de comprometimento com o conservadorismo racional e inteligente das matas que, adequadamente renovadas, representariam recursos perenes. Um excelente avanço para promover a sustentabilidade é a elevação do nível de formação da classe madeireira e de seus empregados, salientam os autores, que consideram a educação o caminho para ampliar a produtividade, reduzir desperdícios, conseguir melhores preços e aumentar salários e lucratividade. O artigo relaciona, ao final, sugestões para aperfeiçoar a atividade madeireira na Amazônia, com destaque para a articulação das empresas, universidades e instituições de pesquisa. As perspectivas para o desenvolvimento da indústria do Estado do Pará, utilizando o design como elemento catalisador, são analisadas por Antônio Erlindo Braga Júnior, que destaca o investimento em tecnologia como essencial para ampliar a competitividade de uma indústria. O artigo revisita a questão da pesquisa básica e da pesquisa aplicada, sublinhando ser a primeira amplamente divulgada em congressos, revistas científicas e, mais recentemente, na Internet, enquanto a segunda, por representar um item econômico, não é de livre acesso, mas, ao contrário, é protegida por patentes. O texto prossegue analisando alguns conceitos básicos sobre design industrial, mais bem classificado como inovação tecnológica e não como uma das formas de arte, pelo fato de aplicar saberes recolhidos de pesquisas científicas. As áreas de atuação do designer industrial nas etapas de fabricação, de montagem, de movimentação e armazenamento, de modo a assegurar transporte adequado, são consideradas como parte do chamado ciclo de vida do produto, cuja utilização deve satisfazer às necessidades do consumidor. Trata-se, assim, de avaliar o produto de forma global, procurando identificar os diversos atores que com ele interagem. Para alcançar estes objetivos

5 5 é fundamental a incorporação do design na indústria paraense, a partir do intercâmbio do setor produtivo com a universidade. O Programa Paraense de Design, fruto de uma parceria estruturada, visa a dar o suporte necessário dessa inovação tecnológica ao setor industrial, como instrumento que acrescente valor ao produto regional, ampliando o crescimento do sistema produtivo do Estado. O texto descreve seus objetivos básicos, bem como os inerentes aos Programas Moveleiro de Belém e Paraense de Tecnologias Apropriadas. Tema de grande importância para a indústria no Pará é o estudo dos sistemas locais de inovação tecnológica e as incubadoras de empresas. Gonzalo Enriquez e Jair Galdino Cabral Costaanalisa o caso brasileiro e mostram a importância do capital humano empreendedor para enfrentar o grande desafio social e econômico do país de iniciar e fazer crescer empresas que desenvolvam novos processos, produtos e serviços. A evolução das incubadoras de empresas e dos parques tecnológicos tem contribuído para a produção de empregos e, conseqüentemente, para o desenvolvimento regional e local. Além disso, as incubadoras promovem um importante efeito demonstração de que é possível consolidar um novo perfil de produtos chamados não tradicionais. Os autores salientam a importância do apoio do poder público na criação desses organismos e ampliação da política empreendedora, de modo a obter respostas mais rápidas aos processos favorecedores da economia global, ao promover condições adequadas para viabilizar novas empresas e modernizar as existentes. A expansão da indústria no Pará depende da adoção de medidas que evitem a contaminação do meio ambiente e assegurem a qualidade e segurança aos corpos d'água da região. O artigo concernente à geração de resíduos industriais e controle ambiental, de autoria de José Rodrigues Pereira, analisa as principais utilizações dos recursos hídricos no Estado do Pará, de significativa importância para o crescimento do setor industrial. Destaca, de início, as conseqüências da grande diversidade de ações do processo produtivo, que geram resíduos sólidos, líquidos e gasosos, os quais podem contaminar o solo, a água e o ar, se não forem adequadamente caracterizados, quantificados e tratados antes de sua disposição final no meio ambiente. O texto trata de cada uma dessas substâncias, sua classificação e efeitos que produzem, dedicando particular atenção ao controle destes, mediante tratamento biológico ou físico-químico. O licenciamento das atividades industriais e o conteúdo do Relatório de Impacto Ambiental RIMA são objeto de capítulo especial, com ênfase no destino final dos resíduos e no uso racional dos recursos hídricos. O autor sublinha o treinamento de

6 6 funcionários, a importância da conscientização dos usuários e a realização de auditorias ambientais entre as atividades de estruturação e implementação de sistemas de controle, indispensáveis ao avanço do setor industrial no rumo do desenvolvimento sustentável do Estado do Pará. O artigo do professor Eunápio Dutra do Carmo estuda o problema da gestão do trabalho associada ao movimento de mudanças organizacionais, particularmente às alterações na ordenação do trabalho e da produção. O propósito é refletir sobre as transformações ocorridas no processo de reestruturação produtiva a partir de modelos de gestão baseados na flexibilização, na integração, na horizontalização de mercados e na terceirização, e analisar até que nível esses modelos contribuem para imprimir novas relações de trabalho. O texto discute o modelo de gestão japonês de qualidade total empregado nas empresas do Sistema CVRD (ALBRÁS, ALUNORTE e MRN), organizações transnacionais que atuam segundo técnicas gerenciais que adotam padrões considerados avançados pela moderna administração. O documento sublinha que não basta revolucionar o processo do trabalho, sendo fundamental transformar suas relações sociais e humanas. No caso, o progresso baseia-se em metodologia clara e sistemática, submetida ao controle de acontecimentos bem estabelecidos. O estudo levou a perceber que, "apesar das evidências apontarem para um grande envolvimento de pessoas com o TQC", isto não é uma constante e reflete o nível de dificuldade da adesão de algumas pessoas, o que está a exigir a discussão do novo paradigma e sua proposta democrática. A gestão não pode ser infensa à crítica e as relações de trabalho, para serem socialmente viáveis, dependem do estabelecimento de espaços democráticos de negociação legítima e mediações compatíveis com uma sociedade "que se quer mais cidadã". O último artigo deste número especial de SABER abriga pesquisa sobre plantas antimaláricas no Estado do Pará, dentro do programa de produtos naturais para o desenvolvimento sustentável e biotecnológico. O trabalho, de autoria do Professor Mário Jardim e dos alunos Luís Fernando Mendonça e Márcio Dias Ferreira, pertencentes aos corpos docente e discente do CESUPA, busca construir informações sobre novas alternativas farmacêuticas que utilizem fitoterápicos no combate à malária. Foram estudadas 14 espécies sob o olhar da caracterização botânica, fitoquímica e ações farmacológicas dos componentes químicos ativos, a maioria alcalóides. A malária é um problema de saúde pública, sendo sua

7 7 prevalência mundial estimada em mais de 300 milhões de casos clínicos, por ano. No Brasil, o coeficiente de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias é de 24,81 para cada habitantes e, no Pará, alcança 20,98. Em termos de morbidade, em nosso Estado há casos confirmados, o que representa 32,96% dos enfermos no país. Esta realidade expressa claramente a relevância social do estudo, cujos dados são amplamente discutidos no texto quanto à eficácia dos produtos, ao custo reduzido e ao acesso da população. Além disso, constatam a importância da síntese de novos fármacos mediante tecnologia avançada. Os textos indicam a necessidade de aprofundar estudos e debates para bem entender o conjunto de mudanças enfrentado pelo poder público, classe empresarial e o setor acadêmico, empenhados em superar as complexas questões do desenvolvimento industrial do Brasil e, particularmente, do Pará. As dificuldades são muitas, mas o esforço conjugado dos agentes econômicos do progresso científico e tecnológico pode acelerar o processo, na medida em que contribua para a produção, difusão e aplicação de conhecimento inovador. A revista SABER sente-se honrada em contribuir para esse empreendimento. De parabéns os patrocinadores desta edição e os autores convidados.