Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Intrafamiliar em Situação de Abrigo: possibilidades interventivas de retorno às famílias de origem
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- Ana Beatriz Neiva de Santarém
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1 Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Intrafamiliar em Situação de Abrigo: possibilidades interventivas de retorno às famílias de origem Um Estudo realizado junto ao Serviço Sentinela de Florianópolis/SC Thaiz B. Martins Assistente Social Renata Nunes Assistente Social
2 SERVIÇO SENTINELA Florianópolis/SC No âmbito do Município de Florianópolis, o Serviço Sentinela atende crianças e adolescentes em situação de violência (física, sexual), propiciando atendimento psicossocial através de um conjunto de ações articuladas.
3 Estrutura e Funcionamento Serviço Sentinela Coordenação Diagnóstico Acompanhamento Prevenção
4 FLUXO DE ATENDIMENTO ACOLHIMENTO DA DENÚNCIA (Conselho Tutelar, Disque-Denúncia) SERVIÇO SENTINELA COORDENAÇÃO E ADMINISTRATIVO DIAGNÓSTICO C.T, JUIZADO, PROMOTORIA E DELEGACIAS ACOMPANHAMENTO
5 Acompanhamento Familiar O Acompanhamento Familiar ocorre através de um conjunto de ações voltadas à modificação do padrão da dinâmica familiar abusiva e da resignificação das violências, de forma que a família consiga superá-las.
6 Acompanhamento Familiar Proteção das Vítimas; Democratização das relações familiares; Empoderamento de vítimas(protagonismo/autonomia); Estabelecimento de vínculos saudáveis; Ampliação da rede social, parental e institucional de proteção; Responsabilização dos autores das violências; Prevenção primária, secundária e terciária; Busca da resiliência.
7 Direito a Convivência Familiar e Comunitária Estatuto da Criança e do Adolescente Art.4 o - É dever da família, da comunidade, da sociedadeemgeraledopoderpúblicoassegura,com absoluta prioridade a efetivação dos direitos referentesàvida,àsaúde,àalimentação,àeducação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 16 o - Do direito à liberdade V Participar da vida familiar e comunitária sem discriminação.
8 Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 19 º - Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da família, e excepcionalmente em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Art. 5 º - Nenhuma criança e adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punindo da forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais. Art. 87 º - Linhas de ação da política de atendimento: III Serviços especiais de prevenção e atendimento médico psicossocial às vítimas de negligência, exploração, abuso e crueldade.
9 Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 98 º As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados: I Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis; III Em razão de sua conduta.
10 Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 25 º - Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Art. 28 º A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos dessa lei. Art. 100 º - Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas preferindo-se aquelas que visem o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários;
11 Art. 101 º - Verificada qualquer hipótese prevista no art. 98 º a autoridade competente poderá determinar: I Encaminhamento aos pais ou responsável mediante termo de comunicação; II Orientação, apoio e acompanhamento temporário; IV Inclusão em Programa Comunitário ou oficial de auxílio à família, á criança e ao adolescente; V Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico em regime hospitalar ou ambulatorial; VI Inclusão em Programa Oficial de auxílio, orientação e tratamento a alcoolistas e toxicômanos; VII Abrigo em entidade; VIII Colocação em Família Substituta. Parágrafo único o Abrigamento é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para colocação em família substituta, não implicando na privação de liberdade.
12 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária Afamíliapode ser pensada como um grupo de pessoas que são unidas por laços de consangüinidade, de aliança e de afinidade. Diversas outra relações de parentesco compõem uma família extensa, isto é,uma família que se estende para além das unidade pais/filhos e /ou da unidade do casal, estando ou não dentro do mesmo domicílio: irmãos, meio-irmãos, avós, tios e primos de diversos graus.
13 O cotidiano da família é constituído por outros tipos de vínculos que pressupõem obrigações mútuas, mas não de caráter legal e sim de caráter simbólico e afetivo. São relações de apadrinhamento, amizade, vizinhança e outra correlatas. Rede Social de Apoio são os diversos arranjos constituídos no cotidiano para dar conta da sobrevivência, do cuidado e da socialização de crianças e adolescentes. A família está em constante transformação a partir da relação recíproca de influências e trocas que estabelece com o contexto. Segundo Bruschini (1981), a família conjuga individual e coletivo, história familiar, transgeracional e pessoal. É referência de afeto, proteção e cuidado.
14 Este ponto é de fundamental importância para se compreender o investimento no fortalecimento e no resgate dos vínculos familiares em situação de vulnerabilidade, pois, cada família, dentro de sua singularidade, é potencialmente capaz de se reorganizar diante de suas dificuldades e desafios, de maximizar suas capacidades e de transformar suas crenças e práticas para consolidar novas formas de relações. De acordo com Winnicott (2005), a família é o melhor lugar para o desenvolvimento da criança e do adolescente, quando a convivência familiar é saudável. Pois na família, lugar de proteção e cuidado também é lugar de conflito e pode ser um espaço de violação de direitos.
15 Conforme Vicente (2004) os vínculos familiares e comunitários possuem uma dimensão política, na medida em que tanto a construção quanto o fortalecimento dos mesmos dependem também, dentre outros fatores, de investimento do Estado em Políticas Públicas voltadas à família, à comunidade e ao espaço coletivo. Objetivos do Plano
16 Ameaça e Violação dos Direitos da Criança e do Adolescente no Contexto Familiar É importante refletir sobre as situações caracterizadas como violação de direitos da criança e do adolescente no contexto familiar a fim de subsidiar as formas de atendimento devidas em cada caso. Situação de Risco à Criança e ao Adolescente; Responsabilidade do Poder Público (art. 4 º ).
17 Violência Doméstica contra Criança e Adolescente Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e ou adolescentes que sendo capaz de causar dano físico, sexual e ou psicológico à vítima implica, de um lado, numa transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes tem de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. (Azevedo e Guerra, 1984).
18 Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Intrafamiliar em Situação de Abrigo: possibilidades interventivas de retorno às famílias de origem Levantamento de Dados Estudo Exploratório Construção do Instrumental: Questionário Sujeitos: Profissionais Universo: 26 Famílias Amostra inicial: 11 Famílias Amostra final: 5 Famílias Critérios
19 Identificação F.01 Margarida e Gérbera F.02 Hortência F.03 Begônia F.04 Rosa e Amarílis F.05 Orquídea, Dália e Cravo
20 Família Identificação Agressor Tipo de Violência F.1 Margarida e Gérbera Genitor e Madrasta Violência Física e Psicológica F.2 Hortência Irmã Violência Física e Psicológica F.3 Begônia Genitores Violência Física, Psicológica e Negligência F.4 Rosa e Amarílis Genitora Violência Física, Psicológica e Negligência F.5 Orquídea, Dália e Cravo Genitores Violência Física, Psicológica e Negligência
21 Margarida e Gérbera Polireincidência de denúncias; Violência física com lesões (queimaduras, arranhões); Histórico de violência física/psicológica graves; Abandono materno; Depreciação freqüente da criança e da adolescente; Trabalho infantil(doméstico); Ausência de figura de proteção no núcleo familiar; Manifestação do desejo em ser abrigadas; Não identificação de possíveis cuidadores na família ampliada;
22 Margarida e Gérbera Responsabilização do agressor; Manifestação da genitora quanto a guarda; Continuidade no acompanhamento; Investimento nos vínculos familiares; Auto-proteção; Autonomia; Comunicação; Perspectivas futuras; Ampliação da rede de proteção parental/institucional/comunitária.
23 Fatores que Culminaram no Abrigamento Violência física severa (lesões) e negligência severa; Relação assimétrica de poder ( coisificação); Ausência de figura protetiva; Depreciação da criança/adolescente; Histórico de fugas do lar; Auto-mutilação; Ideação suicida da vítima; Situação de rua e mendicância;
24 Fatores que Culminaram no Abrigamento Ausência de supervisão de adulto; Falta de cuidados básicos (alimentação, saúde, vestuário); Pais/Responsáveis dependentes de substância psicoativas; Quadros de doenças psiquiátricas graves dos Pais/Responsáveis; Trabalho infantil; Manifestação do desejo da criança em ser abrigada.
25 Metodologia Estudo de caso/ Supervisão: estratégias de intervenção e avaliação do processo de acompanhamento; Reunião técnica com a rede de atendimento articulando as ações; Acompanhamento processo criminal; Registro (historicidade); Relatórios Psicossociais.
26 Estratégias de Intervenção Reflexão sobre a dinâmica da violência; Conseqüências físicas comportamentais; Possibilidades - Limites (sem o uso de punição corporal); Referências de cuidado; Encaminhamentos (saúde,educação,assistência social); Ampliação da rede de proteção da criança, institucional/comunitária; Auto-proteção; Fortalecimento de vínculo familiares saudáveis; Estímulo a relações familiares mais democráticas; Preparação da família para depoimento (audiência responsabilização); Fortalecimento da Família para a nova dinâmica familiar.
27 Plano de intervenção conjunto com a família; Modificação da dinâmica familiar (superação do padrão abusivo); Identificação figuras de proteção; Manutenção do vínculo familiar durante o período de abrigamento; Auto-proteção; Autonomia; Fatores Contribuintes para Retorno ao Convívio Familiar Continuidade do processo de acompanhamento; Afastamento do agressor da moradia comum.
28 Fatores que Dificultam o Retorno ao Convívio Familiar Resistência da família em aderir ao acompanhamento; Permanência do padrão abusivo; Fragilidade dos vínculos afetivos; Ausência de figuras de proteção; Permanência do agressor na moradia comum (V. Sexual); Perigo iminente; Resistência da criança/adolescente em retornar à família de origem; A não responsabilização dos agressores.
29 Considerações Finais O atendimento psicossocial tem surtido efeito significativo para as crianças, adolescentes e as famílias atendidas (melhora da auto-estima; inclusão em outras políticas públicas - saúde, educação, trabalho, moradia e programas de complementação de renda, entre outros); Aumento do número de denúncia nos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes; Potencialização/articulação da rede de atendimento às crianças, aos adolescentes e suas famílias; Fortalecimento crescente das parcerias, principalmente em relação aos protocolos assinados pelo Município de Florianópolis;
30 Considerações Finais Necessidadedeinvestimentoemserviçosdeproteçãoede políticas públicas que dêem suporte para as famílias; Necessidade de investimento na Política de Prevenção; Capacitação continuada dos sujeitos envolvidos na rede de atendimento. Rotatividade dos profissionais;
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32 Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes, e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. (Helbert de Souza Betinho)
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