I ENCONTRO NACIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHADORES DOMÉSTICOS

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1 1 I ENCONTRO NACIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHADORES DOMÉSTICOS Programação Dia: 07/09/2003 Período da tarde até 19:00 horas Chegada Credenciamento Montagem dos Stands Reunião de Coordenação ONGs parcerias e Oficineiros: Alinhamento pedagógico. Responsáveis: Circo, OIT, SAVE, UNICEF Dia: 08/09/2003 7:00 às 8:00 horas Café da Manhã 8:00 às 8:30 horas Abertura 01 menino(a) representante de cada Projeto - Agência Internacional 8:00 às 9:30 horas Apresentação Artística do Circo de Todo Mundo - Dinâmica de Integração Bagulhadores de Mio (PE), puxando o tour pelos stands 9:30 às 10:00 horas Café 10:00 às 12:00 horas 1ª Etapa das Oficinas (Participação e Estruturas de Poder, Infância e Direitos, Comunicação, Saúde e Sexualidade) 12:00 às 13:30 horas Almoço 13:30 às 15:30 horas 2ª Etapa das Oficinas (Participação e Estruturas de Poder, Infância e Direitos, Comunicação, Saúde e Sexualidade) 15:30 às 16:00 horas Café 16:00 às 18:00 horas 3ª Etapa das Oficinas (Participação e Estruturas de Poder, Infância e Direitos, Comunicação, Saúde e Sexualidade) 19:00 às 20:00 horas Jantar / 1

2 2 20:00h - Apresentação Teatral Ceafro. Dia: 09/ :00 às 8:00 horas Café da Manhã 8:00 às 10:00 horas 4ª Etapa de Oficina (Participação e Estruturas de Poder, Infância e Direitos, Comunicação, Saúde e Sexualidade) 10:00 às 11:00 horas Elaboração de Documento Comissão de Meninos (as) e Consultor Restante dos Meninos (as) Avaliação/ Oficina de Arte Construção 11:00 horas Plenária de Ratificação do Documento 11:30 às 13:00 horas Almoço 13:00 horas Saída para o Congresso 13:30 horas Congresso Nacional / CONANDA (Cortejo pelo gramado, com instalação de catavento gigante 14:00 às 16:00 horas Recepção no Congresso (entrada na plenária da Câmara, entrega do documento, fala do grupo de relatores). 16:00 às 18:00 horas Passeio turístico BSB 18:00 Dinâmica de Encerramento Bagulhadores do Mio (PE) A partir de 18:00 horas Jantar e retorno para casa. 2

3 3 I ENCONTRO NACIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHADORES DOMÉSTICOS Trabalho Infantil Doméstico O problema do trabalho infantil doméstico, uma prática disseminada e culturalmente arraigada em nosso país, foi escolhido por organizações como OIT, Unicef, Save the Children UK, ANDI, Fundação Abrinq entre outras, por apresentar sérias dificuldades de ação das políticas públicas, seja pela "invisibilidade" das crianças envolvidas neste tipo de trabalho, seja pela não percepção deste tema como um problema social. Aproximadamente uma em cada 10 crianças entre 10 e 14 anos trabalha no Brasil (CEPAL, 1999). Esta taxa está entre as três maiores da América Latina, com o agravante de que o Brasil tem, pelo menos, o dobro da renda per capita dos outros países que apresentam taxas similares (Honduras e Guatemala). Das crianças e adolescentes que trabalham em casa de terceiros (dados PNAD 2001): 93% são do sexo feminino 61% são afro-descendentes 45% têm menos de 16 anos (idade mínima permitida por lei para o trabalho doméstico) O trabalho infantil doméstico, além das críticas usuais aplicáveis a todo tipo de trabalho infantil, gera também preocupações específicas devido a duas peculiaridades: por ocorrer fora do sistema econômico (não visa lucro), tem um impacto diferente sobre a socialização para o trabalho em relação ao exercido em estabelecimentos empresariais. Ou seja, o trabalho infantil doméstico contribui menos para a experiência do trabalhador do que as outras formas de inserção no mercado de trabalho. Por ser realizado no âmbito residencial, onde não é possível uma fiscalização sistemática, ele expõe o(a) trabalhador(a) a uma série de injustiças, desde a baixa remuneração e longas jornadas de trabalho até as mais críticas, que envolvem abusos sexuais e atos de violência. Um problema de gênero Outra característica deste problema é com relação ao gênero: as meninas somam mais de 90% dos casos, já que culturalmente tarefas domésticas são "naturalmente" realizadas pela mulher. As conseqüências deste tipo de trabalho têm impacto sobre a saúde (por exemplo, muitas meninas sofrem de doenças nervosas, tais como problemas estomacais e dores de cabeça), desenvolvimento psicológico (amadurecimento acelerado, reduzindo o período da infância) e desenvolvimento social (privadas da convivência com suas famílias, não se sentem parte de um grupo social). Dados Unicef, Jornada de trabalho ampliada 3

4 4 As empregadas domésticas na faixa de cinco a nove anos trabalham até 21 horas por semana, o que pode ser considerado muito, tendo em vista que as demais crianças ocupadas em outros tipos de trabalho infantil nessa faixa etária trabalham, em média, 14 horas semanais. Na faixa dos 10 aos 14 anos, as crianças trabalham 36 horas por semana nos serviços domésticos, contra as 26 horas das crianças que trabalham em outras atividades. No caso das adolescentes de 15 a 17 anos que são trabalhadoras domésticas, a jornada média é superior a 43 horas semanais, cinco horas a mais do que no conjunto de atividades exercidas por adolescentes da mesma faixa etária. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada indicam que o trabalho feminino no Brasil para mulheres adultas, com idade entre 24 e 65 anos, é em média de 36 horas semanais. Salário reduzido O trabalho infanto-juvenil no país apresenta rendimentos médios inferiores ao salário mínimo. Com relação ao trabalho infantil doméstico, a renda média de uma criança de 5 a 9 anos é de apenas R$ 13, enquanto que na faixa de 10 a 14 anos é de R$ 56 (menos da metade do salário mínimo!), sendo que parte das crianças nesta faixa etária trabalham sem rendimentos. As trabalhadoras domésticas, na faixa dos 5 a 14 anos, ganham mais que os outros trabalhadores da mesma faixa etária de outras ocupações, porém trabalham muitas horas a mais. Entre as adolescentes de 15 e 17 anos o salário médio é de R$ 97. No entanto, os salários das adolescentes são inferiores quando comparados às outras ocupações. Família Metade das quase 500 mil trabalhadoras infanto-juvenis domésticas nasceu em famílias com renda inferior a meio salário mínimo. Segundo dados do IBGE de 1999, cerca de 30% são de famílias cujos pais não possuem nenhum ano de escolaridade. Ou seja, a educação e a renda dos pais é fator relevante na decisão da criança/adolescente iniciar, prematuramente, sua inserção no mercado de trabalho. A proporção de trabalhadores infantis cai conforme aumenta o nível de renda dos domicílios e o aumento da escolaridade da mãe. 4

5 5 Histórico do problema O trabalho infantil sempre foi amplamente utilizado. Na época da escravidão, se considerava, equivocadamente, que as crianças escravas recrutadas ao trabalho desde cedo estavam, aos 12 anos, devidamente preparadas para a lida. Com a abolição, meninos eram levados por fazendeiros para as áreas rurais ou por artesãos para trabalho em suas oficinas. As meninas eram destinadas aos afazeres domésticos, muitas vezes sem qualquer remuneração. O trabalho infantil doméstico sempre foi considerado como algo natural e que as crianças, principalmente as oriundas das classes menos abastadas, deveriam ajudar nos afazeres domésticos sejam estes dentro da casa ou na agricultura doméstica. No pensamento da época, havia a expectativa de uma contrapartida ou ajuda econômica, desde muito cedo, por parte dos filhos e essa mentalidade perpetua-se ainda nos dias de hoje. Adicionado a isso, há um aspecto cultural que até hoje valoriza o trabalho infantil como forma de educar a criança para a vida profissional adulta e afastá-la da ociosidade e da criminalidade. Políticas Públicas Apesar de não existirem campanhas ou programas específicos para o Trabalho Infantil Doméstico, os programas governamentais destinados ao combate ao trabalho infantil, entre eles o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Bolsa Escola, estão atendendo com sucesso os casos provenientes do trabalho infantil doméstico. O PETI repassa uma bolsa de R$ 25,00 por criança na área rural e R$ 40,00 na área urbana às famílias que comprovarem a manutenção de seus filhos na escola. As famílias devem ter ainda uma renda de até meio salário mínimo e crianças entre 7 a 14 anos trabalhando em atividades consideradas perigosas, insalubres, penosas ou degradantes. Além disso, o PETI propicia uma série de atividades socioeducativas no horário alternado ao da escola e atende, atualmente, cerca de 800 mil crianças em todo o país. O Bolsa Escola é um outro programa que ajuda na prevenção do trabalho infantil. Foi implantado, pela primeira vez, em 1995, pelo então governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque. Desde 2001, o Bolsa Escola é um programa federal e concede ajuda de R$ 15,00 por criança matriculada na escola. O programa conta com formação de conselhos municipais responsáveis pelo seu controle, como fiscalização da freqüência escolar e realização de atividades socioeducativas fora do período de aula para se evitar o trabalho infantil. O Bolsa Escola atualmente atende 10,7 milhões de crianças em municípios. Esses programas colaboram de forma positiva para que se evite que crianças e adolescentes tenham que trabalhar como empregados domésticos. Ações não governamentais 5

6 6 Outras ações merecem destaques pela seriedade e eficiência de seus projetos no combate ao trabalho infantil doméstico. Uma delas é desenvolvida pela ONG Circo de Todo Mundo, de Belo Horizonte (MG) através do projeto Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Adolescente Trabalhador Doméstico. O projeto é focado no circo e envolvem tanto a criança quanto a sua família. As crianças e adolescentes trabalhadores domésticos aprendem artes, fazem dança, teatro e capoeira; os pais participam de grupos de discussão e as mães são orientadas para buscarem formas alternativas de geração de renda. Em Belém, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús (Cedeca- Emaús) coordena um projeto que tem como um dos princípios centrais desenvolver e fortalecer uma rede de parceiros - governo, empresários e sociedade - que assuma a responsabilidade de garantir os direitos das meninas trabalhadoras domésticas. Em parceria com a prefeitura, as meninas de Belém participam de oficinas sobre direitos, sexualidade, relacionamento, além de cursos que estimulam a autoestima (expressão corporal, estética, confecção de bijuterias). O Centro Dom Helder Câmara (Cendhec), em Recife, realiza um trabalho de identificação e acompanhamento de meninas e adolescentes trabalhadoras domésticas. Lá, as meninas também participam de oficinas socioeducativas que visam conscientizá-las sobre seus direitos humanos e legais. A pesquisa sobre trabalho infantil doméstico realizada pelo Cendhec resultou no livro "Onde está Kelly?", que, além dos números, revela o dia-a-dia, os sentimentos e os conflitos das meninas e adolescentes trabalhadoras domésticas de Recife. Outra ação parte do CEAFRO - Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que desenvolve o projeto Ampliando Direitos e Horizontes, em parceria com o Unicef e outras agências humanitárias européias e com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia (Sindoméstico). Além de campanhas de conscientização para o problema, o projeto desenvolve o Curso para Jovens Trabalhadoras Domésticas Negras, que já profissionalizou cerca de 250 jovens. O curso dura 6 meses e tenta se adequar à disponibilidade das alunas. As participantes têm aulas de cidadania, direitos trabalhistas, novas tecnologias domésticas, puericultura e higiene, confecção de alimentos, informática, recepção, limpeza e conservação e desenvolvimento das linguagens oral e escrita. Projeto Regional para Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil Doméstico O Projeto Regional para Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil Doméstico é promovido pela OIT Organização Internacional do Trabalho e suas ações abrangem o Brasil, Peru, Colômbia e Paraguai e mais 7 países da América Central. Desenvolvido em parceria com o Unicef e Save the Children UK, no Brasil, o projeto conta ainda com o apoio da ANDI Agência de Notícias dos Direitos da Infância e da Fundação Abrinq, do Ministério Público do Trabalho, Ministério da 6

7 7 Promoção e Assistência Social, Ministério da Educação, Ministério do Trabalho e do Emprego, e um grupo de mais de 127 instituições e organizações. Inicialmente, as ações começaram a ser desenvolvidas nas cidades de Belém (pelo Cedeca-Emaús), Belo Horizonte (pelo Circo de Todo Mundo) e Recife (pelo Cendhec), através de três projetos pilotos. O trabalho implica em um estudo qualitativo sobre o trabalho infantil doméstico, sensibilização da sociedade para o problema; mobilização de ONGs e de Conselhos Tutelares, realização de campanhas nos meios de comunicação, criação de grupos de ajuda e oficinas educativas; entre outras. O projeto prevê ainda pesquisas, formação de comissões para estudo da legislação e elaboração de um plano nacional de combate ao problema. A última etapa do programa prevê a identificação dessas crianças e a inclusão em programas de geração de renda. Depoimentos de meninas trabalhadoras domésticas Com 7 anos eu comecei a trabalhar. A mulher tinha duas filhas que não faziam nada em casa. Eu fazia tudo. E ainda apanhava. Além disso, tinha um bebezinho e eu tinha que cuidar dele e fazer as coisas sem reclamar. Quando eu fazia uma coisa mal feita, ela começava a me esculhambar. Dizia que eu não prestava para trabalhar na casa dela Menina de 16 anos trabalhadora doméstica em Belém (PA) Se eu pudesse escolher, eu não trabalharia, só estudaria, porque é muito cansativo... eu falto às aulas, às vezes não dá para fazer o dever de casa... Esse trabalho prejudica minha infância porque eu quase não brinco. Prejudica a minha saúde porque dói a minha coluna Menina de 12 anos trabalhadora doméstica em Belo Horizonte (MG) Na minha opinião, um bom patrão ou patroa deveria reconhecer os meus direitos, os direitos que eu tenho, o direito de receber um salário... e deveria saber a hora de eu ir para a Escola - Menina trabalhadora doméstica de Belém (PA) Informações Agenda O que: I Encontro Nacional de Crianças e Adolescentes Trabalhadores Domésticos Quando: 8 a 9 de setembro Onde: Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Endereço: Setor de Mansões Park Way (SMPW) Quadra 01 Conjunto 02 Lote 02 Núcleo Bandeirante, tel. (61) Informações Brasília ANDI tel. (61) PAUTA Rilton Pimentel ramal 242 Daniela Rocha ramal 224 (daniela.rocha@andi.org.br) Marco Túlio ramal 222 (mt@andi.org.br) OIT Organização Internacional do Trabalho 7

8 8 Renato Mendes tel. (61) Neri Accioly tel. (61) Gabinete Deputada Maria do Rosário Márcia Santana Gabinete do Secretário Nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda tel. (61) / Gabinete da Ministra Benedita da Silva tel. (61) / / Gabinete da Secretária de Inspeção do Trabalho Ministério do Trabalho Ruth Vilela - tel. (61) Secretaria de Inclusão Escolar do Ministério da Educação Marcelo Aguiar tel. (61) / 6294 UNICEF América Ungaretti tel. (61) (maungaretti@unicef.org) Rachel Mello tel. (61) (rmello@unicef.org) Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua Cristina Silva tel. (61) (eventos@mnmmr.org.br) Fátima Guedes tel. (61) (imprensa@mnmmr.org.br) Belo Horizonte Circo de Todo Mundo Christiane Sampaio tel (31) (chris.sampaio@uol.com.br) Recife Save the Children UK - Marcia Pregnolatto tel. (81) (marcisf@truenet.com.br) Adriana Franco tel (81) (adrianascf@truenet.com.br) Cendhec - Ana Veloso tel. (81) (anaveloso@terra.com.br) Belém Cedeca Emaus Celina Hamoi tel. (91) (cdmbelem@interconect.com.br) Campo Grande Girasolidario - Patricia Nascimento tel. (67) (girassolidario@terra.com.br) Salvador Ceafro Vanda Sá tel. (71) (ceafro@ufba.br) 8

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