PARA UMA REGULAMENTAÇÃO DOS CONCEITOS DE CONTABILISTA, CONTADOR E TÉCNICO EM CONTABILIDADE

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1 Página 1 de 9 Registro Fiscalização Administração Resoluções/CFC Serviços Onde Estamos PARA UMA REGULAMENTAÇÃO DOS CONCEITOS DE CONTABILISTA, CONTADOR E TÉCNICO EM CONTABILIDADE Página Inicial Exame de Suficiência Exame de Qualificação Técnica Contabilizando o Sucesso Cadastro Nacional de Auditores Independentes - CNAI Notícias Artigos Calendário de Eventos Resoluções do CRCRO Decore/DHP Símbolos da Profissão Contábil Regimento Interno do CRCRO Alteração do Decreto-Lei 9.295/46 Relatório Administrativo do Exercício de 2006 Legislação Convênios Licitações Pós-Graduação em Perícia Contábil PARA UMA REGULAMENTAÇÃO DOS CONCEITOS DE CONTABILISTA, CONTADOR E TÉCNICO EM CONTABILIDADE Salézio Dagostim RESUMO Levando em consideração a falta de consenso quanto à definição das categorias profissionais da área contábil, o autor enumera casos que ilustram a verdadeira confusão criada pela falta de uniformidade dos conceitos, os quais envolvem entidades e profissionais da área, para refletir acerca dos prejuízos sociais que isso acarreta para a profissão contábil. Constatada a necessidade de uniformização dos conceitos, o autor apresenta definições de contabilista, contador e técnico em contabilidade a serem adotadas pelo Conselho Federal de Contabilidade através de Resolução. PALAVRAS-CHAVE: contabilidade, contador, técnico contábil, contabilista. ABSTRACT Taking into consideration the lack of consensus as to the appropriate definition for each of the different professional categories related to accountancy, the author lists a number of cases that shows all the confusion resultant of this lack of uniformization in the concepts, which involves both accountants and accountant organizations, in order to promote some reflection upon its social drawbacks to the accounting profession. Once the need of an uniformization in accounting categories is established, the author proceeds to propose new definitions for the terms contabilista (which is a general term employed in Brazil for accountants and technician accountants alike), accountants, and technician accountants, to be adopted by the Federal Accounting Council by means of resolution. KEYWORDS: accounting, accountant, accounting technician, contabilista. INTRODUÇÃO A alínea f do art. 10 do Decreto-Lei nº 9.295/46 diz que é atribuição dos Conselhos Regionais de Contabilidade representar o Conselho

2 Página 2 de 9 Federal acerca de novas medidas necessárias, para a regularidade dos serviços e fiscalização do exercício das profissões previstas na alínea b daquele artigo. Por sua vez, a referida alínea b diz que, também, é atribuição dos Conselhos Regionais examinar reclamações e representações escritas acerca dos serviços de registro e das infrações dos dispositivos legais vigentes, relativos ao exercício da profissão de contabilista, decidindo a respeito. Ainda, o parágrafo único do artigo 20 do mesmo Decreto-Lei 9.295/46 estabelece que, para fins de fiscalização, ficam os profissionais obrigados a declarar, em todo e qualquer trabalho realizado e nos elementos previstos neste artigo, a sua categoria profissional de contador ou técnico em contabilidade, bem como o número de seu registro no Conselho Regional. (grifo nosso). Assim, a própria legislação parte do princípio de que, para cumprir tais dispositivos, não se tem dúvida quanto aos conceitos de contabilista, contador e técnico em contabilidade. Tal assertiva não é verdadeira, tanto que, como veremos, reina a mais completa confusão no uso dos termos, até mesmo pelos profissionais e entidades da área contábil. Tudo isso porque não existe um instrumento legal uniformizando os conceitos, o que nos revela o vazio que está por trás da legislação citada acima, pois regulamenta o que não está definido. A uniformização das definições levará à sociedade usuária dos serviços contábeis estabilidade e segurança e, com isso, como contrapartida, quem sairá ganhando serão os próprios profissionais da contabilidade. Afirmamos isso por que temos observado a confusão gerada no uso dos conceitos, e os contadores não podem pretender alcançar o respeito para com as atividades contábeis se os próprios profissionais têm dúvidas quanto àquilo que são ou deixam de ser. OBJETIVO DA PROPOSTA Sugerir ao Conselho Federal de Contabilidade que, por meio de Resolução,

3 Página 3 de 9 conceitue contabilista, contador e técnico em contabilidade. E, a seguir, requeira correções nos dicionários e demais publicações, sempre que neles se encontrem definições desses termos em desacordo com aquelas estabelecidas pelo próprio Conselho Federal de Contabilidade. AS RAZÕES DA PROPOSTA Não há nada mais desestimulante do que ver alguém que deveria exigir o cumprimento da Lei em benefício dos profissionais contábeis usar a indefinição da norma legal para beneficiar quem não é contador. O Sindicato dos Contadores do Estado do Rio Grande do Sul SINDICONTA/RS ingressou na Justiça Federal requerendo o cumprimento do art. 18 do Decreto-Lei nº 9.295/46, que estabelece: Art. 18 A carteira profissional substituirá o diploma ou o título de provisionamento para os efeitos legais; servirá de carteira de identidade e terá fé pública. A proposta do SINDICONTA, em síntese, seria a obrigatoriedade do Conselho Federal de Contabilidade de emitir carteiras de identidade profissional diferentes para contadores e para técnicos em contabilidade, como eram anteriormente emitidas. As carteiras de identidade profissional, até 1958, eram expedidas de forma distinta para o contador e para o guarda-livros. Uma vez que a Lei afirma que as carteiras devem substituir o diploma, como não existe diploma de contabilista, portanto, não se poderia falar numa única carteira de contabilista, mas sim, correspondendo aos dois diplomas existentes, em carteira de bacharel (contador) e carteira de técnico em contabilidade. na verdade. Seria uma proposta justa, pois se apóia O que surpreendeu o Sindicato dos Contadores, no entanto, foram os argumentos que o Conselho Federal de Contabilidade usou para defender a proposta segundo a qual a carteira deveria ser de contabilista.

4 Página 4 de 9 O Conselho Federal, para o nosso espanto, trouxe como defesa, entre outros, os conceitos de contabilista e contador contidos no Dicionário da Língua portuguesa de Caldas Aulete, que assim define: contabilista s.m. e f. pessoa versada em contabilidade. Perito em contabilidade; guarda-livros; perito. contador adj. o que conta. s.m. funcionário da repartição de contabilidade que verifica as contas. Empregado do Juízo que conta nos processos os salários e as custas... (Bras.) indivíduo formado em contabilidade; guarda-livros. Tal conceito foi referendado pelo judiciário, em primeiro grau, mantendo como verdadeiros aqueles verbetes, e o SINDICONTA não deu prosseguimento ao processo. Ora, em primeiro lugar, não é preciso ser conhecedor da meritória tarefa do dicionarista para saber que essa não se trata, de forma alguma, de uma definição técnica. Os dicionários não são o repositório sagrado da língua; o que dizem, ao contrário do que a Lei diz, não é a verdade última das coisas. Tanto é assim que, ainda diferentemente do texto legal, não existe um dicionário único nas bibliotecas ou livrarias, sendo que, freqüentemente, discordam os seus autores quanto ao conteúdo semântico ou ao uso de um vocábulo. Os dicionários são obras de vulgarização da língua, sua função é a de apresentar termos específicos a pessoas que desconheçam o seu emprego e significado. Jamais poderia um profissional da contabilidade recorrer ao dicionário para explicar o que é a contabilidade, por exemplo; o mais lógico e produtivo seria o caminho inverso: o profissional da contabilidade é que pode e deve ensinar ao dicionarista (que é um profissional da língua, não da contabilidade), e, por seu intermédio, à sociedade como um todo, o que é a contabilidade. Em segundo lugar, o texto de Aulete e não pretendemos aqui desmerecer este grande conhecedor da língua está completamente afastado da realidade que vivemos hoje. A língua é um sistema que, para prover o entendimento entre

5 Página 5 de 9 as pessoas, estabelece uma relação de signos com os dados materiais da realidade. É por isso, por que a realidade se transforma e a linguagem acompanha essas transformações, que as línguas evoluem e nós falamos o português e não mais o latim. Os verbetes de Aulete foram cunhados em Portugal, reproduzem a vertente lusitana do português e, além disso, datam do início do século (não há referência à edição empregada no texto do Conselho, mas a 2ª edição do dicionário de Aulete é de 1925 e, levandose em conta o fato de que é comum a prática da adoção, por parte de dicionaristas, de definições de autores mais antigos, as definições podem datar de muito antes), anteriormente, portanto, à legislação vigente hoje no Brasil. Tanto é assim que a definição de contador apresentada o concebe como sinônimo de guarda-livros, quando todos sabemos que a legislação que criou o técnico em contabilidade equipara o guarda-livros não ao contador, mas ao técnico. Além disso, supondo que se tome um dicionário como paradigma para a conceituação das categorias profissionais da área contábil, em que dicionário, senão nos dicionários técnicos da área, encontraríamos uma definição para técnico em contabilidade? Como a resposta a esta questão aponta para a negativa, deveríamos supor que este profissional inexiste? O próprio Conselho Regional de Contabilidade (RS), por sua vez, num gesto à primeira vista honroso, publicou em seu informativo a decisão judicial contendo aqueles verbetes como verdadeiros. Na verdade, o que agrava a atitude do Conselho Federal em valer-se de uma definição de dicionário para referendar uma demanda jurídica é o fato de que ele o faz em benefício de outras profissões que, por serem técnicos em contabilidade, querem se fazer passar por contadores, dizendo-se contabilistas, quando o dever do Conselho deveria ser exatamente o de detectar e corrigir aqueles conceitos mal formulados. Contudo, vão ainda mais longe os absurdos decorrentes da falta de uniformidade das definições e dos conceitos na área profissional da contabilidade. A Federação dos Contabilistas do Rio Grande do Sul editou, no ano de 1996, O livro branco dos contabilistas, tendo impresso na capa o lema: Contabilista: um especialista em CONTABILIDADE ; e seu editorial, na palavra de

6 Página 6 de 9 seu Presidente, é encerrado da seguinte forma: Lembre-se: CONTABILISTA É UM ESPECIALISTA EM CONTABILIDADE. A força retórica é um instrumento que, mexendo com nossas paixões, desde a velha Grécia tem sido usado para encobrir intenções que não coincidem com a verdade e a boa-fé. O lema empregado pela Federação dos Contabilistas é um flagrante paradoxo. Se, como diz o Conselho Federal em outro trecho do texto comentado acima, a Lei que criou os Conselhos e inseriu o termo contabilista na legislação brasileira fotografou (p.11) as profissões então existentes no vocábulo gênero (como todo gênero, generoso) CONTABILISTA, ressaltando assim a sua abrangência, como pode esse ser genérico ser um especialista em Contabilidade? Afirmações dessa natureza demonstram o desconhecimento, de parte de seus autores, da amplitude e da riqueza de áreas e domínios específicos da Ciência Contábil, pois a contabilidade, seja enquanto ciência ou técnica, é também um gênero generoso, para empregar os termos jocosos do Conselho. Um outro caso tão grave quanto o do uso de parte do Conselho Federal de Contabilidade do que, no Rio Grande do Sul, espirituosamente chamamos de amansa-burros, foi o ocorrido na sessão da Câmara dos Deputados de 28 de maio de 1996, quando o Deputado Roberto Soares Pessoa diga-se de passagem, técnico em contabilidade registrado pelo Conselho Regional de Contabilidade (CE), conforme informações colhidas junto àquele Conselho, fez uma homenagem à passagem dos 50 anos do Decreto-Lei n 9.295/46, e em seu discurso afirmou que o contabilista é um profissional de nível superior, tendo finalizado sem deixar por menos: como contador, venho saudar a categoria profissional dos contadores e contabilistas. SUGESTÕES OFERECIDAS A reflexão que gostaria de compartilhar com vocês, e que, em última instância, avalia o que está por trás de todos esses absurdos, é esta: se os profissionais da área contábil, representados inclusive pela figura do Conselho de Fiscalização, têm dificuldades em conceber e expressar as diferenças que existem entre contador, técnico em contabilidade e contabilista, o que se pode esperar

7 Página 7 de 9 em relação à sociedade? Como podem alcançar a valorização se os profissionais têm dificuldades ainda em saber quem são e não oferecem à sociedade uma definição clara do que sejam os profissionais que atuam na área contábil? Nossa proposta, nesse sentido, é a de que passemos a adotar uma uniformidade na correção dos conceitos errôneos e/ou inverdadeiros que são veiculados a nosso respeito. É preciso que todos contadores, técnicos, Conselhos, sindicatos, associações, etc. encaminhemos, em primeiro lugar, aos responsáveis pela redação de dicionários, solicitação no sentido de que corrijam os conceitos em desacordo, e, fundamentalmente, que nossas entidades passem a se preocupar com a publicação correta dos conceitos, fiscalizando e punindo os usos incorretos ou indevidos feitos por profissionais e/ou entidades cuja obrigação, assim como as demais normas da prática profissional, é conhecer os fundamentos que definem e regulam a profissão. Para tanto, sugerimos que sejam adotados os seguintes verbetes para definir contabilista, contador e técnico em contabilidade : CONTABILISTA É sinônimo de contabilidade, de campo de atuação dos contadores e dos técnicos em contabilidade. É uma palavra formada pelo adjetivo contábil, acrescida do sufixo ista. É o mesmo que engenheiralista, medicinalista, direitista, agronomista. CONTADOR Profissional universitário que exerce funções técnicas e acadêmicas da contabilidade; denominação profissional dada aos detentores do título universitário de bacharel em Ciências Contábeis (instituído pelo Decreto-Lei nº 7.988, de ), registrado no Conselho Regional de Contabilidade ou que, por equiparação, a lei outorgou quando da criação do curso superior de Contabilidade.

8 Página 8 de 9 TÉCNICO EM CONTABILIDADE Profissional que executa a função técnica da contabilidade. É o sucessor do antigo guarda-livros, profissional formado pelos cursos profissionalizantes das Escolas Técnicas do Comércio, curso de nível médio, instituído pelo Decreto-Lei nº , de Através da Lei nº 3.384, de , o antigo guarda-livros foi transformado em técnico em contabilidade. CONCLUSÃO A presente proposta é a de estabelecer uma uniformização de conceitos dos termos contador, técnico em contabilidade e contabilista. A sociedade precisa saber, e esse é um primeiro e fundamental passo na conquista da valorização da profissão contábil, qual a diferença existente entre eles. O reconhecimento social da contabilidade seja de contadores ou técnicos em contabilidade somente será viável se os profissionais se libertarem de seus interesses particulares e passarem a pensar e agir coletivamente. Ninguém pode chegar ao degrau mais elevado sem começar a sua escalada pelo primeiro, pelo conhecimento de si próprio, pela afirmação de sua identidade. Por isso, o Conselho Federal de Contabilidade, enquanto órgão federal fiscalizador da profissão contábil, e porque ninguém mais do que ele, por ser o órgão máximo de controle do exercício profissional, tem a capacidade e a obrigação de definir o que sejam contador, contabilista e técnico em contabilidade, e, assim, informar à sociedade qual a natureza desses conceitos, deve, para tal, aprovar, por resolução, a uniformização de conceitos que melhor correspondam à realidade, a fim de que a profissão contábil comece a sua jornada de conquistas da maneira mais propícia à obtenção de resultados significativos. Porto Alegre, 06 de junho de 2007.

9 Página 9 de 9 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL, Decreto-Lei nº 9295, de 27 de maio de Cria o Conselho Federal de Contabilidade, define as atribuições de contador e técnico em contabilidade, e dá outras providências. DAGOSTIM, Salézio. Contabilista não é profissão. 5. ed. Porto Alegre: EBRACON, DAGOSTIM, Salézio. A preservação do mercado de trabalho do contador e do técnico em contabilidade. Porto Alegre: Ed. do Autor, Salézio Dagostim Contador (CRC-RS nº 23113) Professor do Unilasalle Presidente do Sindicato dos Contadores do Rio Grande do Sul Contador de empresas, com escritório situado em Porto Alegre RS salezio@dagostim.com.br Conselho Regional de Contabilidade de Rondônia Av. Presidente Dutra, Centro CEP Porto Velho - RO Telefone: (69) Fax: Todos os direitos reservados para CRC-RO