Vistos, relatados e discutidos estes autos de. APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n /9-00, da Comarca de

Transcrição

1 PODER JUDICIÁRIO DE ACÓRDÃO DE ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N * * Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n /9-00, da Comarca de BRAGANÇA PAULISTA, em que é apelante GUILHERME FRAGUAS NOBRE sendo apelada PREFEITURA MUNICIPAL DE PEDRA BELA: ACORDAM, em do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores AGUILAR CORTEZ e SAMUEL JÚNIOR. São Paulo, 27 de novembro de REGINA CAPISTRANO Presidente e Relatora

2 PODER JUDICIÁRIO Voto n Apelaçãocom Revisão rt / Bragança Paulista. Apelante: Guilherme Fraguas Nobre. Apelada: Prefeitura Municipal de Pedra Bela. ) Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - INTERVENÇÃO ANTRÓPÍCA EM ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTE INADMISSIBILIDÁDE, ANTE A FALTA DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇAS DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS - JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE - CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRENTE. O julgamento antecipado da lide não caracteriza cerceamento de defesa, porquanto a prova destina-se ao Juiz, a quem compete indeferir a produção daquelas" reputadas inúteis, desnecessárias e protelatórias. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - INTERVENÇÃO ANTRÓPÍCA EM ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTE INADMISSIBILIDÁDE, ANTE A FALTA DE AUTORIZAÇÃO E LICENÇAS DOS ÓRGÃOS AMBIENTAIS. Correta a determinação de demolição de obras inseridas em APP e APA, em local de interesse paisagístico e turístico denominado Pedra Bela, eis que, além da inviabilidade em vista da topografia peculiar, a edificação poderia.obstruir a visão do locar assim conhecido e que deu nome à cidade localizada nas imediações, dificultando a»\ \X- "" i " 1 ' \\ K^ ' RZCS ', kpa/sswev n /9-00

3 ^ PODER JUDICIÁRIO vista do Santuário lá estabelecido. Não é só o meio ambiente,natural que é protegido, mas também os acidentes geográficos de especial valor paisagístico e turístico. RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. r Trata-se de recurso de apelação, interposto contra a r. decisão de fls. 406/418, cujo relatório ora é, adotado, pela qual foi julgada procedente a ação para determinar ao réu a recomposição da área degradada mediante a realização de todos ós serviços declinados no laudo pericial, no prazo máximo de 90 dias, sob pena.de multa diária, a ser calculada na forma discriminada às fls. 417, observadas as determinações da decisão que julgou os embargos de declaração às fls ' Diz o apelante (fls. 428/435) que.houve cerceamento de defesa pela falta de audiência para oitiva de I s testemunhas, havendo controvérsia quanto à cota em que se localiza sua construção. Alega que sua casa não está em APP ou APA (topo de morro) porque a área de preservação é aquela situada acima da cota 1.233,34 metros, sendo" certo que seu perito particular afirmou que o centro geométrico das fundações da obra está localizado, na., Ç^ RZCS ' ' Apel c/rev n /9-00 j

4 PODER JUDICIÁRIO cota 1.229,80 metros, e portanto fora da APP (fls. 197) posição seguida por seu outro assistente, que afirmou estar a construção na cota 1.230,913 metros~(fls. 198), fato afirmado pelo perito do DEPRN (fls. 254), ao afirmar que a construção de sua residência está na cota 1.228,09 metros. Alega que, segupdo o perito judicial (fls. 339) apenas \ uma parte..do baldrame está acima, da cota, fato que hão autoriza a demolição de toda a edificação. Aduz ainda que somente iniciou sua edificação após obter licença ambiental do DEPRN, depois revogada -.. ante insistências da Municipalidade. Discorda igualmente da forma. como imposto o custeio das despesas, após o julgamento dos embargos de declaração, manifestando-se às fls.,440/441 'e pedindo. que suas. novas ponderações sejam aderidas às razões de apelação porque julgados os embargos após,a intetposição do recurso principal. Apelo recebido às fls. 444, merecendo as contra-razões de fls. 446/449,,deduzindo'argumentos em defesa da r. decisão combatida. O doutor Procurador de Justiça oficiante às fls /461 propugnou pelo desprovifnento do recurso interposto. É o sucinto relatório. deve ser rejeitada. A preliminar de cerceamento de defesa 3 V- RZCS / ' -N Apel c/rev n /9-00

5 PODER JUDICIÁRIO SÃO'PAULO Com efeito, salta evidente aos olhos que. não ocorreu o alardeado cerceamento de defesa, porquanto nenhuma outra prova era mesmo necessária para o conhecimento da questão debatida, já que a documentação acostada aos autos é conclusiva a respeito dos fatos que ensejaram as medidas administrativas e judiciais, culminando com a decisão proferida, sendo certo que a prova testemunhai nenhuma valia teria para' infirmar a consistente prova técnica produzida. Insta notar que os esclarecimentos prestados pelo perito judicial foram tempestiva e amplamente.respondidos, tendo as partes, e principalmente o apelante, acesso a todos os documentos, inexistindo qualquer- outra, ponderação que pudesse ser feita verbalmente em audiência, com força probante suficiente a infirmar todos os demais elementos carreados aos autos. - - f Nunca será. demais lembrar que ao Magistrado compete avaliar as provas requeridas, sopesando sua efetiva necessidade e utilidade, podendo rejeitar a produção daquelas reputadas desnecessárias, inúteis ou meramente protelatórias, sem que com tal atitude venha a incidir em cerceamento de defesa. i Ora, "a prova se destina a produzir a certeza ou convicção do julgador a respeito dos fatos litigiosos" (Humberto 1 Theodoro Júnior, in "Curso de Direito Processual Civil", td. Forense, 26 a 'ed., 1999, Rio de. Janeiro, pág. 419), de modo que o R2CS, Apel d Rei

6 PODER JUDICIÁRIO, juiz, "trabalhando o espírito com esses elementos de prova, chegará à certeza quanto,à verdade dos fatos. Um ou mais exames dos mesmos 'elementos, confrontados os motivos convergentes e divergentes que o levaram àquela certeza, permitirão a -formação do convencimento. Certeza é a crença da verdade; convicção, por sua vez, é a opinião da certeza' como legítima" (Malatesta)" (Moacyr Amaral Santos, in "Primeiras Linhas de Direito Processual Civil", 2 vol., Ed. Saraiva,^ 10 a, ed:, 1985, pág. 380), de forma que o legislador pátrio, atento.a tais aspectos, permitiu- ao julgador a livre apreciação das provas, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos,, determinando a produção das provas que ( reputar necessárias à instrução do processo (artigos 130 e 131 "do Código de Processo Civil). * E, uma vez convencido em adotar determinada solução, desde que observado o conteúdo material já trazido aos autos ("persuasão racional" segundo Vicente Grecco Filho in "Direito Processual Civil Brasileiro", 1 o vol., Ed. Saraiva, 15 a ed., 2000, pág. 228), pode perfeitamente indeferir as diligências que entender desnecessárias ao julgamento da lide. Carlos Maximiliano, já de há muito ponderou, com inteira propriedade, que "tanto 0 a doutrina como a jurisprudência modernas, em nenhuma hipótese,' absolutamente nenhuma, prescindem do discernimento pessoal, do critério técnico, da consciência, formada pela educação e pelo estudo, de um verdadeiro 5 RZCS., Apel c/rev

7 / / - \ - - ' J PODER JUDICIÁRIO " magistrado. Ele é o soberano apreciador da prova; neste particular se lhe atribui autoridade discricionária, tomado este vocábulo no sentido adotado no Direito Público. Deixa-se ao prudente arbítrio' do juiz aquilatar o valor intrínseco dos depoimentos, pesá-los, e decidir afinal - de acordo com o seu convencimento consciencioso, formado pelo exame dò processo, em conjunto" (apud in "Hermenêutica e Aplicação do Direito", Ed. Forense, 19 a ed., 2001, Rio de Janeiro, pág. 20). i, Destarte, pode,o Juiz, não Convencido da necessidade de esclarecimento sobre qualquer aspecto atinente àjide discutida, indeferir requerimento, relativo à produção de qualquer prova, observando, por óbvio, "critérios de oportunidade, necessidade ou conveniência-das mesmas em face das circunstâncias ocqrrentês" (Moacyr Amaral dos Santos, opus c/y., pág. 277). O contraditório e a ampla defesa, dogmas constitucionais que devem ser sempre prestigiados, não devem ser levados ao extrerjio de impor ao Juiz da causa a colheita de provas totalmente imprestáveis a alterar o destino da lide, "se outras existem à saciedade, aptas a incutir no espírito do julgador a certeza q'uanto aos ' fatos debatidos. - ^ ' Afasto, pois, a alegação de cerceamento de defesa, porquanto quaisquer outras medidas seriam de todpn L RZCS ' ' " Apel c/rev n 6/ /9-00

8 \ PODER JUDICIÁRIO Câmara Especial do.meio Ambiente inócuas com relação a alterar-a solução dada ao feito, suficientemente ' servido de provas técnicas e documentais. As demais questões, estão intimamente ligadas com mérito dalide e com este serão analisadas. y / v E quanto ao,mérito, melhor sorte não socorre ào apelante. Còm feito, o local escolhido para implantar a edificação de sua residência está inserido em APA criada pelo Decreto. Estadual n /87 e pela Lei Estadual n 7.438/91, constituindo-se a Pedra Bela, local que deu nome à cidade, «um patrimônio cultural de" valor paisagístico e turístico, além de estar a área inserida em Área de < Proteção Permanente nos termos do Código Florestal, face à - topografia peculiar constituída por rocha, aflorada e vegetação específica em encosta e topo de morro. i Tais fatores, analisados conjuntamente,, permitem concluir que'qualquer intervenção no local, tanto para edificação de construção, quanto para retirada de cobertura vegetal, nivelamento de declives para abertura de picadas, estradas, depósitos de materiais e platôs de manobras, necessitam de autorização dos órgão ambientais e da Municipalidade. Ocorre que no caso vertente, segundo se apurou, o apelante apresentou projeto de obra ao DEPRN obtendo autprização para intervenção no local, tendo a obra sido embargada f 0^ RZCS., ~" Apel c/rev'n /9-00

9 PODER JUDICIÁRIO' - SÃQ PAULO TRIBUNAL.DE JUSTIÇA " pela Municipalidade, e sendo em seguida cassada a autorização anterior do DEPRN porque o projeto apresentado e então aprovado era incompleto em características e detalhes, não evidenciando aspectos de peculiar importância para a_ aprovação ou rejeição das intervenções a serem realizadas nolocal. O documento oferecido pelo DEPRN de fls. 254/255 é claro a respeito é não deixa margens a dúvidas. ) Por outro iado, o laudo de fls^ 295 e - seguintes é contundente ao demonstrar o dano ambiental decorrente da edificação irregular em local impróprio,, eis que estabelecidas fundações e baldrames sobre a pedra, com nivelamento.de terreno originalmente dotado de forte aclive e retirada de cobertura vegetal. "As fotos que acompanham o laudo, igualmente, permitem antever a impossibilidade de convalidação da obra, inclusive no que pertine ao esgoto gerado pela habitação humana no local, consoante se verifica defls.,329. " ^ : Finalmente, o laudo pericial, entre outras considerações igualmente importantes, terminou por revelar que da ' construção advirá forte fator degradante, ao potencial paisagístico, além dos danos,ao ambiente natural já mencionados, porquê obstruí a visão da Pedra Bela (elemento geográfico natural que dá nome à cidade) e do Santuário existente no local//' \, I \ ê A,/ 8. / ^ RZCS ' ' Apel d/rev n /9-00, JU

10 / ( _ PODER JUDICIÁRIO, ^ Ademais, o dano foi perfeitamente indicado às fls. 343, e minuciósamentequantificado, em conversão do julgamento em diligência em primeira instância, consoante laudo complementar de fls. 381/386. /,. 0 pedido de, proteção aos bens paisagísticos, por outro lado, encontra arrimo de forma ampla no artigo 225 cumulado com o artigo "23, caput e inciso III, ambos da Constituição Federal, este últimogarantindó ao Município competência para zelar pela conservação e proteção de paisagens notáveis,- bem como no artigo 24, incisos VII e VIII da Carta Magna, proteção esta * igualmente reproduzida no artigo 180, inciso IV da Constituição' Bandeirante, pbservado o amparo processual que a medida encontra no artigo 1 o, inciso III, da Lei n 7.347/85.» Mostra-se imperioso afirmar que não é só o meio ambiente natural que é protegido pelo arcabouço constitucional ' e infraconstitucional, mas também os acidentes geográficos de especial valor paisagístico e turístico. \ ' Isto posto, nego provimento ao recurso, - mantida integralmente a muito bem lançada sentença prólatada pelo digno Juiz Juan Paulo Haye Biazevic, inclusive no que pertine aos R2CS / - ' Ape]/c/'Rev n /9-00

11 PODER JUDICIÁRIO, ônus da sucumbencia e salários periciais, integralmente carreados ao vencido., '. - _ \ A Para ^ fins de acesso, aos Egrégios Tribunais Superiores, ficam expressamente pré-questionados todos os artigos legais e constitucionais mencionados pelos litigantes. ^ É o meu voto. - -, Regjna Zaqtiía Capistrano da Silva. Relatora. ' 1 0 ' RZCS '. Apel c/rev n '9-0_0