CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
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- Isaac Lencastre Gama
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1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 IMPORTÂNCIA DAS PESCAS A importância das pescas num País não se pode medir apenas pela sua contribuição para o PIB (cerca de 1.5%), mas deve atender ao facto de serem os recursos e os produtos pesqueiros componentes fundamentais da alimentação e do emprego. Um outro aspecto que torna os recursos pesqueiros importantes é o seu carácter autorenovável. Isto significa que se um recurso pesqueiro, ou qualquer outro recurso biológico auto-renovável, for bem gerido a sua duração é praticamente ilimitada, ao contrário do que sucede com os recursos minerais. Uma conclusão importante é que as características biológicas devem constituir a base fundamental para a conservação e gestão dos recursos pesqueiros. (Tal não significa que se menosprezem os efeitos sociais ou económicos, ou quaisquer outros, na gestão pesqueira). Em particular, no caso de Portugal pode afirmar-se que a contribuição da pesca para o PIB é inferior 1.5%. No entanto, no âmbito da alimentação, por exemplo, o valor anual de 60 kg por habitante, de consumo de pescado, é um valor elevado, só ultrapassado pelas capitações de pescado da Islândia, do Japão e de algumas pequenas nações insulares. Considere-se ainda que 40% das proteinas necessárias provêm da pesca, o que corresponde a 15% das despesas com a alimentação da população portuguesa. Do ponto de vista social, estima-se que existam actualmente pescadores em Portugal. Sabendo-se que cada posto de trabalho no mar gera 4 a 5 postos de trabalho em terra (na indústria de conservas, congelados e farinhas, na comercialização, na administração, na investigação e formação, etc) pode dizer-se que trabalham nos vários sectores a montante e a juzante da pesca em Portugal, cerca de portugueses. Donde não ser exagerado afirmar que cerca de meio milhão de portugueses dependem das actividades da pesca, considerando a unidade familiar com um mínimo de 3 pessoas. 1.2 GESTÃO DOS RECURSOS PESQUEIROS Sætersdal (1984) definiu o princípio geral da gestão pesqueira como: "Obter a MELHOR utilização POSSÍVEL do recurso em proveito da COMUNIDADE" Em cada caso concreto será necessário determinar o que se entende por melhor, possível e comunidade. Com efeito, melhor pode significar: Maior quantidade capturada Maior valor da captura 1
2 Maior lucro (diferença entre valor da captura e custos da exploração) Mais divisas Mais emprego, etc. Comunidade também pode significar: A população do mundo A Comunidade Europeia (CE) Um país Uma região Grupos de interesses (pescadores, armadores, consumidores,...) Possível Lembra que não se deve esquecer o carácter auto-renovável dos recursos pesqueiros e, portanto, que é indispensável garantir a conservação do recurso pesqueiro de modo a que o princípio geral se possa aplicar durante um longo período de anos. Esta afirmação significa que conservar só por conservar os vários elementos de um ecosistema dando igual importância a todos esses elementos não é uma atitude racional. 2
3 INVESTIGAÇÃO DAS PESCAS Artes Transf ormação Legislação Aspect os ec onómicos et c INVESTIGAÇÃO DOS RECURSOS PESQUEIROS Apoio à GESTÃO Fontes de dados : Apoio directo à EXPLORAÇÃO Pesca comercial (es tatí sticas comerciais de captura, rendimento e esforço de pesca) Amostragem biológica dos desembarques (e/ou capturas) Bases de Dados Análise de dados e estimaç ão de parâmetros Modelos de Avaliação Amostragem biológica dos mananciais Dados ambientais Conclusões Outros Figura 1.1 Os vários sectores da actividade da pesca 1.3 INVESTIGAÇÃO DOS RECURSOS PESQUEIROS O esquema (Figura 1.1) mostra que a investigação sobre os recursos pesqueiros abrange vários sectores da actividade da pesca. Neste curso a preocupação será fundamentalmente com os modelos de avaliação destinados a apoiar a gestão pesqueira. Dos vários trabalhos sobre avaliação dos recursos pesqueiros são referências históricas obrigatórias os livros e/ou manuais de Beverton & Holt (1956), Ricker (1958, 1975) e Gulland (1964, 1983). 1.4 AVALIAÇÃO DOS RECURSOS PESQUEIROS Para avaliar um recurso pesqueiro é necessário: Ter disponíveis as bases de dados apropriadas Preparar análises mais importantes. Realizar projecções a Curto e a Longo Prazo das capturas e dos mananciais Determinar pontos de referência biológicos a Longo Prazo 3
4 Estimar efeitos a Curto a a Longo Prazo nas capturas e nos mananciais de diferentes estratégias de exploração pesqueira. Podemos resumir as etapas de uma avaliação do seguinte modo: a) Definir os objectivos concretos da avaliação de acordo com a fase do desenvolvimento da pesca e da informação disponível. b) Promover a recolha da informação: Estatísticas comerciais da pesca: captura (total e por recurso), rendimentos, esforço de pesca (número de viagens, dias, lances, tempo de pesca, etc.), artes usadas. Regimes de operação das frotas e suas artes de pesca, etc. Amostragem biológica nos portos de desembarque Amostragem biológica (e informação sobre a pesca) a bordo dos navios comerciais Amostragem biológica a bordo dos navios de investigação. c) Realizar as análises O estado de conhecimento sobre o recurso e os dados base disponíveis determinam o tipo de modelos a utilizar e consequentemente o tipo de análises que se podem realizar. Como exemplo ilustrativo vejamos algumas situações gerais: 4
5 Recurso com pouca informação Análises usando métodos especiais ou particulares para estimar, por exemplo, biomassas e capturas potenciais. Recurso com dados de capturas e rendimentos (CPUE) ou índices de abundância dos mananciais durante vários anos Análises usando modelos de produção para projectar rendimentos e capturas Recurso com informação durante vários anos: Biológica (distribuição por comprimentos e por espécies, idades, etc, das capturas) Capturas comerciais Esforço ou CPUE Cruzeiros de investigação (distribuição por comprimentos e por espécies, idades, etc, do manancial) Comentários Análise histórica do manancial (VPA) Projecções das capturas a Longo e Curto Prazo com diferentes cenários 1. A ausência de informação pode impedir certas projecções mas não impede outros tipos de análises. 2. O princípio de precaução obriga a realizar estimações (ainda que grosseiras) como será referido adiante. 5
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