DOCUMENTOS DE GESTÃO FINANCEIRA Realizado por GESTLUZ - Consultores de Gestão
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- Manuela Sabala Vilalobos
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1 DOCUMENTOS DE GESTÃO FINANCEIRA Realizado por GESTLUZ - Consultores de Gestão A Análise das Demonstrações Financeiras Este artigo pretende apoiar o jovem empreendedor, informando-o de como utilizar os documentos contabilísticos em proveito de uma melhor gestão económica e financeira da empresa. A gestão financeira é o processo de obtenção de recursos financeiros que possibilitem à empresa atingir e manter o seu nível de actividade desejada. Essa obtenção de recursos financeiros deve ser ponderada com base em indicadores relativos à empresa mas que vão muito para além dela, abrangendo toda a sua envolvente desde o mercado em que actua até à conjuntura económica em que ela tem de actuar. As opções de financiamento que as empresas têm ao seu dispor são: Capital próprio - conjunto de recursos financeiros que os sócios ou accionistas (proprietários da empresa) colocam à disposição da empresa para que esta os utilize livremente a fim de financiar as suas actividades. Os capitais próprios da empresa são apenas exigíveis pelos sócios em circunstâncias especiais e de acordo com a imposição legal de que apenas poderão ser entregues quando isso não afectar a estabilidade da empresa. A remuneração é função dos resultados e não separável destes. Capital alheio - recursos financeiros postos à disposição da empresa (emprestados) por terceiros, sócios ou credores em geral, e que a empresa tem a obrigação de vir a devolver, com ou sem prazo certo. Neste contexto compete ao Director Financeiro definir de que maneira deverá ser feita a repartição dos recursos por estas duas componentes de maneira a maximizar o valor da empresa para os seus accionistas. Temos assim duas vertentes ao nível do papel do Gestor Financeiro: A curto prazo, a função do gestor financeiro traduz-se na gestão de tesouraria da empresa. Esta, consiste no processo de regulação dos pagamentos e recebimentos da empresa de forma que esta possa fazer face, sem falhas, às responsabilidades que assumiu, e obter os meios financeiros adicionais nos casos em que há déficit de tesouraria, ao menor custo possível, ou de aplicar os excedentes criados de forma a obter a melhor remuneração possível. A médio e longo prazo, o gestor financeiro é responsável por definir e implementar a estratégia de financiamento da empresa com vista a precaver a sua estabilidade e ao mesmo tempo maximizar os resultados líquidos da empresa (relação Retorno / Risco) Pág. 1 / 9
2 É com base nestes princípios de actuação que a Gestão Financeira consegue responder através da sua actuação aos desafios e objectivos da Função Financeira que são: Determinar as necessidades de recursos financeiros na empresa: - Planeamento das necessidades financeiras; - Inventariação dos recursos disponíveis; - Cálculo do montante de recursos a obter fora da empresa. Obter recursos da forma mais vantajosa possível tendo em vista: - Custo dos capitais e prazos de pagamento; - Condições fiscais e contratuais. Aplicar racionalmente os recursos obtidos por forma a: - Conseguir-se uma estrutura financeira equilibrada; - Alcançar níveis aceitáveis de rentabilidade. Controlar as aplicações dos lucros obtidos. Analisar, recorrendo a instrumentos adequados, a situação económica e financeira da empresa. Objectivos da Gestão Financeira Toda esta envolvente está congregada em resumo na resposta a dois objectivos fundamentais da actividade empresarial e da Gestão Financeira em particular: Estabilidade e Rendibilidade. São estes os objectivos últimos da gestão financeira. Estabilidade, no sentido da não afectação do ciclo produtivo, (os inputs necessários) por falta de pagamento e ser assegurada a capacidade de desenvolvimento da empresa concretizada no seu esforço de investimento, sem que o risco de falência ou insolvência seja demasiado elevado. Rendibilidade, no sentido de minimização dos custos assumidos perante terceiros a fim de obter os meios financeiros indispensáveis ao seu financiamento, o que implica obter nas melhores condições de prazo e taxa para esses mesmos fundos, e maximização dos proveitos a receber de terceiros resultantes da aplicação nas melhores condições de prazo e taxa de meios financeiros que liberta. Em termos de análise da área financeira de uma empresa, a base de trabalho é necessariamente constituída pelos dados fornecidos pelo Departamento Contabilístico, quer como consequência das exigências legais (fiscais e/ou outras) quer decorrente das necessidades de informação dos gestores como ponto de partida e base da tomada das principais decisões estratégicas. As demonstrações financeiras procuram fornecer informação sobre o património e riqueza das empresas Pág. 2 / 9
3 sobre diferentes perspectivas. O Balanço permite-nos obter uma fotografia do património das empresas sob duas ópticas: coisas (temos o activo constituído pelo imobilizado, existências, débitos de clientes e dinheiro e o passivo empréstimos bancários, dívidas a fornecedores) e em valor (situação líquida capital inicial, aumentos sequentes e resultados gerados). Para obtermos uma evolução no tempo da riqueza da empresa podemos também fazê-lo sob as mesmas ópticas: se o objectivo for medir a evolução ao nível das coisas utilizamos a demonstração de fluxos de caixa ou de tesouraria, ao passo que para medir a evolução em termos de valor temos a demonstração de resultados. coisas activo passivo fluxos um momento Património no tempo situação líquida encargos proveitos valores Património é o conjunto dos bens, dos direitos e das obrigações expressos em unidades monetárias, que uma determinada pessoa, singular ou colectiva, detém em determinado momento Pág. 3 / 9
4 Análise do Balanço Um dos documentos mais importantes para a análise financeira de uma empresa é o Balanço, pois apresenta-nos a situação patrimonial da empresa no período a que respeita. A comparação de consequentes balanços constitui um elemento essencial para avaliar a saúde da empresa. O Balanço é um documento que reflecte a situação económica e financeira num dado momento de tempo. É desta forma uma documento estático e somente pela comparação da sua evolução se poderá obter uma ideia dinâmica. Cada Balanço, em termos formais, é constituído por duas partes: Activo (consiste nas aplicações de fundos) e Passivo (fundos alheios) e capital próprio (fundos próprios), consistindo ambos em origem de fundos. O Activo representa os bens essenciais para o funcionamento da empresa: terrenos, edifícios, equipamentos, despesas de instalação, propriedade industrial, matérias-primas, mercadorias, dívidas de clientes e disponibilidades. No Passivo encontramos as dívidas a fornecedores, os empréstimos bancários, os suprimentos de sócios e as dívidas ao Estado. O capital próprio representa os valores do capital social, isto é, entradas dos sócios e a acumulação dos resultados gerados ao longo dos anos e que não foram distribuídos. Representa o que os sócios têm após o pagamento de todos os encargos e recebimentos de todos os créditos, vendendo todos os activos. Face às características descritas no Balanço, verifica-se que determinada empresa está em equilíbrio se o valor do Activo circulante for superior ao do Exigível de curto prazo. Esta diferença é denominada de Fundo de Maneio, sendo que se este for positivo, significa que a empresa pode satisfazer os seus pagamentos. Exemplo: vamos considerar a criação de uma nova empresa. Os sócios constituem-se na forma de pessoa colectiva entrando com determinado montante para capital social. Supondo que o capital social inicial é de contos, consideremos as seguintes origens e aplicações: - a empresa adquiriu equipamento administrativo (mobiliário e informática) no valor de euros. - adquiriu ainda mercadorias no valor de euros, ficando a dever ao fornecedor sobraram-lhe euros em depósitos à ordem. Como se pode verificar no Balanço, abaixo apresentado, na coluna inicial, a empresa não teve de suportar grandes custos fixos para iniciar a sua actividade, uma vez que 80% do capital social foi afectado em mercadorias. Dos euros disponíveis em fundos, verificamos uma aplicação em imobilizado e existências, ficando o remanescente em disponibilidades Pág. 4 / 9
5 A empresa começa então a desempenhar a sua actividade verificando-se as seguintes operações: - Pagamento da renda do estabelecimento, 200 euros - Venda a crédito por euros de mercadorias que custaram euros - Compra de mercadorias, sendo 300 euros a crédito e 200 euros por cheque - Compra a crédito de uma secretária, 100 euros - Liquidação de um débito de euros ao fornecedor: pagou euros por cheque e foi-lhe feito um desconto pelo restante - Venda por euros de mercadorias que tinham custado euros, sendo euros a crédito e euros a pronto - Juros de depósitos, 150 euros - Pagamento por cheque de despesas de Publicidade, no valor de 200 euros Estas operações vão dar lugar às modificações apresentadas no Balanço final. Balanço da Empresa Designação Inicial Final Activo Imobilizado Existências Dívidas de terceiros médio/longo prazo Dívidas de terceiros curto prazo Depósitos Bancários/Títulos negociáveis/caixa Acréscimos e deferimentos Total do activo Capital próprio Capital Prémios de Emissão Reservas Legais e Outras Reservas de Reavaliação Resultados Transitados Resultado líquido do exercício Dividendos antecipados Total do capital próprio PASSIVO Provisões para outros riscos e encargos Dívidas a terceiros médio /longo prazo Dívidas a terceiros a curto prazo Acréscimos e deferimentos Total do passivo Total do passivo + capital próprio Da análise da evolução verificamos que apesar de se ter adquirido novo equipamento, o imobilizado diminui devido ao uso que dele foi feito ao longo do ano (amortização ver conceito mais à frente). A variação nas existências reflecte o facto de parte ter sido vendida. Parte da venda de mercadorias foi a pronto e o restante a crédito (daí o aumento das dívidas de terceiros e das disponibilidades) Pág. 5 / 9
6 As origens de fundos são inferiores às iniciais, o que se traduz também em menores aplicações. Para melhor entendermos as diferenças do balanço inicial para o final, analisaremos mais adiante a demonstração de fluxos de tesouraria. Análise da Demonstração de Resultados Enquanto a análise do Balanço permite avaliar a situação patrimonial da empresa, num determinado momento do tempo e como resultado das operações realizadas, a Demonstração de Resultados regista e apresenta a informação financeira referente exactamente a esse conjunto de operações. Enquanto que ao Balanço está associada uma análise estática da realidade da empresa, a Demonstração de Resultados pretende oferecer uma visão mais dinâmica, evidenciando de que modo as operações financeiras decorrentes da actividade regular se transformam em efectivos ganhos para os accionistas. A lógica de apresentação da Demonstração de Resultados resulta da relação entre dois conceitos: Custos e Proveitos. É através da comparação entre os dois que se pode concluir algo acerca da capacidade de criação de lucro por parte da empresa, lucro esse medido pela diferença entre os Proveitos auferidos e os Custos suportados ao longo de um determinado período de tempo. O ponto mais relevante a notar em relação a estes dois conceitos é a diferença que existe entre as noções de Custo e Despesa, por um lado, e entre Proveito e Receita, por outro. Enquanto as noções de Receita e Despesa estão directamente ligadas ao momento em que a empresa procede aos recebimentos e pagamentos decorrentes da sua actividade corrente, o conceito de Custo e Proveito deixa para segundo plano esse momento dando antes relevância ao momento do tempo em que a empresa assume o compromisso de determinado encargo, no caso dos Custos, ou adquire o direito a um bem ou activo, no caso dos Proveitos. Exemplificando, uma Factura enviada a um cliente no dia 28 de Dezembro de um determinado ano será considerada Proveito desse ano (Venda ou Prestação de Serviços, por exemplo), apesar de o seu recebimento apenas ocorrer em Janeiro do ano seguinte. No momento do recebimento já não se dá relevância a esse facto na Demonstração de Resultados na medida em que o respectivo proveito já foi considerado nas contas da empresa. O apuramento final do Resultado Líquido pretende assim fornecer uma visão dinâmica da actividade da empresa mas onde os factores monetários são secundários dando-se especial relevância, como já se disse, ao momento temporal do Custo ou Proveito associado com cada operação e não ao momento da transformação de cada uma das operações em activos monetários Pág. 6 / 9
7 Com base no mesmo conjunto de operações atrás apresentado vamos agora mostrar a evolução da Demonstração de Resultados da empresa analisada de maneira a complementar a análise já feita ao nível da Situação Patrimonial através do Balanço. É importante notar que dado o caracter dinâmico assumido pela Demonstração de Resultados ela só assume significado quando elaborada para um período de tempo definido. Neste caso apresenta-se aqui a Demonstração de Resultados desta empresa para o período considerado entre a sua constituição (momento do primeiro balanço considerado) e a concretização das operações acima listadas. Demonstração de Resultados da Empresa Designação Custos Custo das Mercadorias Vendidas ou Matérias Consumidas Fornecimentos e Serviços Externos 400 Impostos Custos com o Pessoal Amortizações 750 Provisões Custos Financeiros Custos Extraordinários Custos Totais Proveitos Vendas Prestação de Serviços Outros Proveitos Operacionais Proveitos Financeiros 350 Proveitos Extraordinários Proveitos Totais Resultado antes de Impostos Imposto sobre Lucros 700 Resultado Líquido do Exercicio Fica assim demonstrada a existência de um Lucro Bruto de euros que diminuído de 700 referentes a Impostos colocaria à disposição dos accionistas euros. Merece referência especial a consideração das Amortizações ou seja a incorporação nos Custos de um valor relativo à depreciação do equipamento ocorrido no decurso da actividade da empresa. Mais uma vez se nota a diferença entre o conceito de Despesa e Custo. A compra do imobilizado é considerada Despesa mas não um Custo. O Custo referente a esse imobilizado apenas é considerado pela empresa através da contabilização desta depreciação decorrente do período de vida útil económica do bem, que se prolonga por vários anos. Isto leva a que os Custos suportados com esse equipamento tal como os Proveitos que da sua utilização advêm deve ser repartido por esses mesmos anos Pág. 7 / 9
8 Análise dos Fluxos de tesouraria Numa óptica mais financeira, a análise dos Fluxos de Tesouraria pretende ultrapassar alguns dos problemas originados pela concepção de resultado líquido e fornecer uma visão mais adequada de aquilo que são os interesses dos accionistas de uma empresa: as entradas e saídas de dinheiro numa perspectiva de análise da actividade da empresa. Demonstração dos Fluxos de Tesouraria da Empresa Fluxos de Tesouraria 200X Origens Resultados Económicos (+) Amortizações do Exercício 750 (-) Variação de Créditos de curto prazo (-) Variação de Existências (+) Variação do Débitos de Exploração de curto prazo Fluxo Operacional de Tesouraria (+) Resultados Extraordinários Líquidos 0 (-) Impostos sobre Lucros 700 Fluxo Corrente de Tesouraria (-) Encargos Financeiros Líquidos Fluxo Gerado de Tesouraria Actividades de financiamento (+) Variação de Empréstimos de curto prazo 500 (+) Variação de Empréstimos de médio e longo prazo 0 (+) Aumentos de Capital por entradas de dinheiro 0 FE - Financiamento Externo 500 Fluxo Líquido de Tesouraria Aplicações Investimento em Activos Fixos 100 Distribuição de Resultados 0 Aumento de Reservas Financeiras de Segurança Aplicações Totais (=FLT) Este ponto de vista da análise baseia-se na determinação das entradas de dinheiro na empresa ao longo de um determinado período e nas aplicações que são feitas desse mesmo dinheiro ao longo do período considerado. Como se pode ver no quadro acima apresentado, o conceito fundamental desta análise é a noção de Fluxo Líquido de Tesouraria, que corresponde ao total dos fluxos financeiros de entrada de dinheiro na empresa. Na primeira parte temos o cálculo do Fluxo Operacional de Tesouraria, que mede o fluxo financeiro gerado directamente pela actividade operacional da empresa. Para isso partimos do Resultado Operacional e somamos tudo aquilo que resulta da actividade corrente da empresa e representa entradas de dinheiro. As Amortizações, enquanto custo que não origina qualquer pagamento, as variações dos saldos de Balanço das contas de Débitos e Créditos de Exploração e de Existências Pág. 8 / 9
9 No nosso exemplo, verificamos que a empresa consegue libertar no período em análise e da sua actividade operacional cerca de euros (aumentos das dívidas de clientes e de stocks contribuem para uma menor geração de fundos, ao passo que aumentos nas dívidas a fornecedores têm o efeito contrário). De seguida, no cálculo do Fluxo Gerado de Tesouraria, são considerados outros proveitos e custos que, não sendo relativos à actividade operacional, correspondem a entradas e saídas de dinheiro. Como resultado temos então a definição do valor de dinheiro que foi originado por toda a actividade quotidiana da empresa ao longo do período (1 550 euros). Temos assim as entradas de fundos de financiamento, com origem interna que adicionados aos origem externa, dão lugar ao Fluxo Líquido de Tesouraria, de maneira a poder obter-se o valor global de todas as entradas de fundos financeiros na empresa ao longo de um período de tempo (2 050 euros). Estas entradas de fundos, ou seja, o Fluxo Líquido de Tesouraria, é o montante que existe na empresa e que está disponível, para que os accionistas decidam qual a melhor utilização que podem fazer desse dinheiro, de entre as aplicações mais relevantes que existem à sua disposição. Assim, esses fundos podem ser aplicados de 3 formas diferentes: Investimentos em Activos Fixos - investimento em imobilizado é essencial para que a empresa assegure não só a sua sobrevivência, mas também níveis de competitividade e produtividade elevadas, sustentando assim o seu crescimento e rentabilidade. Distribuição de Resultados distribuição de fundos pelos accionistas de maneira a recompensálos pelo investimento feito na empresa. Assim, sempre que uma empresa atinja o nível desejado de investimentos e tenha ainda fundos por utilizar, pode aplicar esses fundos na remuneração dos capitais nela investidos pelos seus accionistas. Reservas Financeiras de Segurança esta deve ser tratada como residual. Só após se ter aplicado o dinheiro nos investimentos e na distribuição de resultados aos accionistas é que deve ser considerada a hipótese de reforçar essas reservas financeiras Pág. 9 / 9
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