OBRIGAÇÕES E DIREITOS DOS SÓCIOS
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- Herman Santarém Esteves
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1 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL OBRIGAÇÕES E DIREITOS DOS SÓCIOS Rua Eça de Queiroz, 2, R/C, Faro Tel , Fax , jose.teixeira-47e@advogados.oa.pt
2 BIBLIOGRAFIA ALBUQUERQUE, Pedro de Direito de Preferência dos Sócios em Aumentos de Capital nas Sociedades Anónimas e por Quotas. Coimbra: Almedina, ALMEIDA, António Pereira de Sociedades Comerciais. 3ª Edição. Coimbra: Coimbra Editora, ALMEIDA, Moitinho de Anulação e Suspensão de Deliberações Sociais. 4ª Edição. Coimbra: Coimbra Editora, ASCENSÃO, José de Oliveira Invalidades das Deliberações dos Sócios, Problemas do Direito das Sociedades. Coimbra: Almedina, CORDEIRO, António Menezes - Manual de Direito das Sociedades I, Das Sociedades em Geral. Coimbra: Almedina, CORDEIRO, António Menezes - Manual de Direito das Sociedades II, Das Sociedades em Especial. Coimbra: Almedina, CORREIA, Miguel J. A. Pupo - Direito Comercial Direito da Empresa. Lisboa: Ediforum, VASCONCELOS, Pedro Pais de A Participação Social nas Sociedades Comerciais, 2º Edição, Coimbra: Almedina, VEIGA, Alexandre Brandão da - Transmissão de Valores Mobiliários. Coimbra: Almedina, XAVIER, Vasco Lobo Anulação de Deliberação Social e Deliberações Conexas. Coimbra: Atlântida,
3 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL ÍNDICE OBRIGAÇÕES E DIREITOS DOS SÓCIOS... 1 BIBLIOGRAFIA... 2 ÍNDICE...3 OBRIGAÇÕES E DIREITOS DOS SÓCIOS... 5 A - OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS... 5 I - OBRIGAÇÃO DE ENTRADA E SUAS MODALIDADES... 5 Entradas em Dinheiro... 5 Entradas em Espécie... 6 Entradas em Trabalho... 7 Prestações Acessórias e Suplementares... 7 II - OBRIGAÇÃO DE QUINHOAR NAS PERDAS... 7 III - OBRIGAÇÃO DE LEALDADE... 7 DIREITOS DOS SÓCIOS... 8 I DIREITO À CONSERVAÇÃO DA QUALIDADE DE SÓCIO, DE PREFERÊNCIA NA SUBSCRIÇÃO DE AUMENTOS DE CAPITAL E DE PARTE SOCIAL, DE EXONERAÇÃO E DE DISPOSIÇÃO DA SUA PARTE SOCIAL... 8 Conservação da Qualidade de Sócio... 8 Possibilidade de Exclusão de Sócio Sociedade em Nome Colectivo e em Comandita Simples Sociedades por Quotas Amortizações de Acções com redução do capital social nas sociedades anónimas e nas sociedades em comandita por acções... 8 Aquisições tendentes ao Domínio Total e Alienações Potestativas... 8 Direito de Preferência na Subscrição de Aumentos de Capital... 9 Direito de Preferência na Alienação de Parte Social Direito de Exoneração a) Art. 3º nº 5 e 6 do CSC b) Art. 45º do CSC c) Art. 105º nº 1 CSC d) Art. 120º CSC e) Art. 137º nº 1 CSC f) Art. 161º nº 5 CSC Sociedades em Nome Colectivo e Sociedade em Comandita Simples Sociedades por Quotas Sociedades Anónimas e Sociedades em Comandita por Acções Alienação Potestativa de Acções OPA Obrigatória Contrapartida Paga ao Sócio Exonerado Direito de Dispor da sua Participação Social II DIREITO A QUINHOAR NOS LUCROS III PARTICIPAR NAS DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS E IMPUGNAR DELIBERAÇÕES SOCIAIS
4 Excepções ao direito a participar nas deliberações de sócios Mínimo de Participação, Voto Agrupado Acções Preferenciais sem voto Impedimentos baseados em Conflito de Interesses Deliberações Abusivas Unidade de Voto Direito de Impugnar as deliberações sociais Impugnação das Deliberações da Assembleia-geral Deliberações Ineficazes Deliberações Nulas Deliberações Anuláveis Acções de Impugnação de Deliberações Sociais Disposições Comuns Suspensão de Deliberações Sociais (arts 396º a 398º do CPC) Acções de Declaração de Nulidade Acções de Anulação Eficácia da Decisão Judicial Renovação de Deliberação (62º CSC) IV DIREITO À INFORMAÇÃO Sociedades em Nome Colectivo e em comandita simples (artº 181º e 474º CSC).. 23 Sociedades por quotas Sociedades anónimas e em comandita por acções (arts 288º a 292º e 478º CSC) Direito Mínimo à Informação Direito à Informação Preparatória de Assembleia-geral Direito à Informação em Assembleia-geral Direito Colectivo à Informação Inquérito Judicial V - DIREITO A SER DESIGNADO PARA OS ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO, NOS TERMOS DA LEI Sociedades em nome colectivo Sociedades por quotas Sociedades anónimas Sociedades em comandita NOTAS
5 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL OBRIGAÇÕES E DIREITOS DOS SÓCIOS A - OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS I - OBRIGAÇÃO DE ENTRADA E SUAS MODALIDADES Resulta do artº 983º nº 1 do Código Civil que o sócio é obrigado a efectuar as entradas estabelecidas no contrato 1, o nº 2 desse artigo dispõe que quando o pacto não estabeleça outra disciplina se presumem iguais em valor as prestações de todos os sócios e o artº 20º do CSC diz que todos os sócios estão obrigados a entrar para a sociedade com bens susceptíveis de penhora ou, nos tipos de sociedade em que tal seja permitido, com indústria. O valor da parte de cada um dos sócios não pode ser superior ao valor da sua entrada (art. 25º nº 1 do CSC), mas pode ser inferior a esse valor, nomeadamente pelo pagamento de um ágio 2 ou prémio de emissão que proporciona à sociedade um ganho, relativamente ao valor nominal da participação do sócio. A participação do sócio toma o nome de parte na sociedade em nome colectivo, quota nas sociedades por quotas, acção nas sociedades anónimas, parte na sociedade em comandita simples e parte e acção nas sociedades em comandita por acções. São as seguintes as modalidades da Obrigação de Entrada: Entradas em Dinheiro São admitidas pelos artigos 9º, nº 1 g) e h), 20º a), 25º, nº 1 e 3, 202º, nº 2,3,4 e 5, 277º, nº 2, 3, 4 e 5 e 478º do CSC. Nas sociedades por quotas só podem ser diferidas metade das entradas em dinheiro 3, mas a soma dos pagamentos feitos por conta delas com o valor nominal das quotas correspondentes às entradas em espécie tem de perfazer o capital mínimo fixado na lei de euros, sendo a quota mínima no valor de 100 euros (artigos 201º e 202º CSC). 5
6 Nas sociedades anónimas o capital mínimo é de euros e só podem diferidas 70% das entradas em dinheiro, não sendo admissível o diferimento do ágio Artº 277º CSC. Em ambos os tipos de sociedades não são admitidas contribuições de indústria e as entradas em dinheiro têm de ser depositadas, antes do contrato, em conta bancária da sociedade, da qual só se podem fazer levantamentos após o registo definitivo ou com autorização dos sócios para fins certos e determinados ou para liquidação provocada pela inexistência ou nulidade do contrato de sociedade por falta de registo, seguindo as sociedades em comandita por acções a regra das anónimas. Arts 202º nº 3, 277nº 3 e 478º CSC. As entradas podem ser, sempre, exigidas pela sociedade ao cabo de cinco anos, pelo que a cláusula do diferimento das entradas por tempo superior a esse prazo não limita o direito da sociedade à sua exigência após o seu decurso. Artº 203º e 285º CSC. O sócio só entra em mora (mesmo que haja prazo fixado no contrato) após a interpelação para pagar as entradas em prazo que lhe deve ser fixado entre 30 e 60 dias (sociedades por quotas), devendo, depois ser avisado, por carta registada, que o não pagamento em 30 dias (90 dias sociedades anónimas) o faz incorrer em exclusão e perda total ou parcial da quota, podendo seguir-se depois o processo de aplicação das sanções legais e estatutárias que poderão chegar à exclusão do sócio, com perda das suas participações. (artº 27, nº 3, 203º nº 3, 204º e 285º CSC), Verificando-se a exclusão de um sócio de sociedade por quotas por falta de pagamento das entradas, os restantes sócios são obrigados a pagar a parte que estiver em dívida, valendo nas relações internas, a regra da proporcionalidade em relação às suas quotas (artº 207º nº 1 CSC) Nas sociedades por quotas, anónimas e em comandita por acções não são admitidas contribuições de indústria (a actividade do sócio) Arts 202º, nº 1 e 277º, nº 1 CSC. Entradas em Espécie Têm de ser claramente descritas e avaliados, por um Revisor Oficial de Contas, no contrato de sociedade e podem consistir na transmissão de propriedade de coisas móveis ou imóveis, universalidades como um estabelecimento comercial, direitos da propriedade industrial ou quaisquer outros direitos de crédito, têm de ser bens susceptíveis de penhora 4 Arts 9º, nº 1 h), 20º a) 25º, 27º e 28º CSC. 6
7 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL Entradas em Trabalho Nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples são admitidas contribuições de indústria (trabalho ou actividade do sócio) Arts 178º e 468º CSC. Ver o quadro sobre essa matéria. Prestações Acessórias e Suplementares II - OBRIGAÇÃO DE QUINHOAR NAS PERDAS O artº 994º do Código Civil e o artº 22º nº 2 CSC consideram nula a cláusula do pacto social que exclua um sócio da comunhão nos lucros ou que o isente de participar nas perdas da sociedade, salvo quanto aos sócios de indústria 5 e o artº 20º CSC diz que todo o sócio é obrigado a quinhoar nas perdas, salvo o estabelecido quanto a sócios de indústria. A única excepção à participação nas perdas é o artº 178º nº 2 CSC, onde se diz que os sócios de indústria não respondem, nas relações internas, pelas perdas sociais, salvo cláusula, em contrário, do pacto social. Se o contrato de sociedade apenas estabelecer a participação de cada sócio nos lucros, presume-se que é igual a sua participação nas perdas artº 992º, nº 4 do Código Civil e 22º, nº 2 CSC. III - OBRIGAÇÃO DE LEALDADE A participação dum sócio numa sociedade implica, para ele, um dever de lealdade e de colaboração que lhe impõe a necessidade de, no âmbito das relações societárias, se comportar com respeito e de agir de acordo com os ditames da boa fé 6. Manifestação desse dever é o disposto no artigo 180º CSC, que impõe ao sócio de uma sociedade em nome colectivo a obrigação de não concorrência e não participação noutras sociedades e o constante do artº 242º do mesmo Código que permite, por decisão judicial, a exclusão de um sócio de uma sociedade por quotas, que com o seu comportamento desleal ou gravemente perturbador do funcionamento da sociedade, tenha causado ou possa vir a causar prejuízos relevantes para esta. 7
8 DIREITOS DOS SÓCIOS I DIREITO À CONSERVAÇÃO DA QUALIDADE DE SÓCIO, DE PREFERÊNCIA NA SUBSCRIÇÃO DE AUMENTOS DE CAPITAL E DE PARTE SOCIAL, DE EXONERAÇÃO E DE DISPOSIÇÃO DA SUA PARTE SOCIAL Conservação da Qualidade de Sócio O primeiro direito do sócio é o de manter essa qualidade e de não ser arbitrariamente excluído sociedade pelos restantes sócios. Os princípios da Conservação da Sociedade, da Boa Fé e da Proibição do Abuso do Direito, porém, justificam alguns casos de excepção à regra da manutenção da qualidade de sócio, por este, embora, sempre, mediante deliberação dos sócios e, em alguns casos, através de acção judicial Possibilidade de Exclusão de Sócio 1. Sociedade em Nome Colectivo e em Comandita Simples Artº 186º e 474º CSC a) Violação grave das obrigações do sócio para com a sociedade b) Interdição, inabilitação, declaração de falência c) Impossibilidade de o sócio de indústria prestar a actividade a que se obrigou. 2. Sociedades por Quotas Ver Sociedades por Quotas, Amortização, Exoneração e Exclusão de Sócios. 3. Amortizações de Acções com redução do capital social nas sociedades anónimas e nas sociedades em comandita por acções Artº 347º e 478º CSC. O pacto social pode permitir ou impor a amortização de acções, com redução do capital social, com extinção das acções amortizadas, nos casos nele previstos. Aquisições tendentes ao Domínio Total e Alienações Potestativas Artº 490º CSC Uma sociedade que, sozinha ou com outras sociedades ou pessoas que dela estejam dependentes directa ou indirectamente ou com quem esteja em relação de grupo, disponha de quotas ou acções (incluem-se as detidas por conta de qualquer das referidas entidades) correspondentes, pelo menos, 90% do capital social de outra sociedade deve comunicar tal 8
9 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL facto a esta, no prazo de 30 dias a contar do momento da sua verificação e nos seis meses subsequentes a essa comunicação pode fazer uma oferta de aquisição das participações dos restantes sócios dessa sociedade, mediante uma contrapartida em dinheiro ou nas suas próprias (do ofertante) quotas, acções ou obrigações, justificada por relatório elaborado por um Revisor Oficial de Contas independente das sociedades interessadas, que será depositado no registo e patenteado aos interessados, nas sedes das duas sociedades, podendo a sociedade dominante tornar-se titular das acções ou quotas pertencentes aos sócios livres da sociedade dependente, se assim o declarar na proposta, estando a aquisição sujeita a registo por depósito e publicação, o qual não poderá ser feito se a sociedade adquirente não tiver consignado em depósito a contrapartida em dinheiro, acções ou obrigações, das participações adquiridas, calculada de acordo com os valores mais altos, constantes do relatório do Revisor Oficial de Contas. No caso de a sociedade dominante não efectuar, oportunamente, a oferta acima referida, cada sócio livre da sociedade dominada, pode, em qualquer momento, exigir, por escrito, em prazo não inferior a 30 dias, que a sociedade dominante lhe faça tal oferta e se ela a não fizer ou o efectuar, de forma insatisfatória, no prazo concedido, o sócio livre da sociedade dominada pode, nos trinta dias subsequentes ao termo desse prazo ou à recepção da oferta insatisfatória (consoante o caso), intentar uma acção judicial pedindo ao tribunal que declare as suas acções ou quotas como adquiridas pela sociedade dominante, desde a proposição da acção, fixe o seu valor em dinheiro e condene a sociedade dominante a pagar-lho. Se se tratar de aquisição tendente ao domínio total de sociedade com capital aberto ao investimento do público, o regime é o do Código dos Valores Mobiliários. 7 Direito de Preferência na Subscrição de Aumentos de Capital Quer o quotista, quer o accionista gozam, em regra, 8 do direito de preferência na subscrição de aumentos de capital a realizar em dinheiro, deliberados pela sociedade, nos termos dos arts 266º e 458º CSC, respectivamente, com o qual se pretende defender o sócio contra a entrada de novas pessoas na sociedade e contra a perda de poder da sua posição pela diminuição da sua proporção relativamente ao capital social total. 9 Este direito tem natureza de direito potestativo com o contorno legal geral do direito de preferência previsto nos artigos 414º e seguintes do Código Civil e a sua violação poderá ser objecto da acção de preferência. 9
10 O direito de preferência pode ser objecto de renúncia tácita ou expressa e pode-lhe ser atribuída eficácia real. Direito de Preferência na Alienação de Parte Social Os sócios das sociedades, em certos casos, gozam do direito de preferência na transmissão de partes sociais da sociedade de que são sócios. Os sócios das sociedades em nome colectivo gozam do direito de preferência em caso de venda ou adjudicação judicial do direito aos lucros ou à quota de liquidação em execução judicial movida contra o sócio (art. 183º nº 5 do CSC) 10. No que respeita às sociedades por quotas a regra do nº 4 do art. 231º do CSC atribui, em caso de a sociedade deliberar a aquisição de quota para que lhe foi pedido o consentimento de alienação, o direito à sua aquisição aos sócios na proporção do valor das quotas que possuírem. O pacto social das sociedades anónimas pode atribuir um direito de preferência aos accionistas na alienação de acções nominativas, que ficará inscrito nas próprias acções sob pena de inoponibilidade aos terceiros de boa fé e deve ser registada, se se tratar de acções escriturais (arts 328º nº 2 b) do CSC e 68º nº 1 g) do CVM) Direito de Exoneração Nas sociedades comerciais o sócio não goza do direito de exoneração com a latitude de que goza o sócio de uma associação 11 (ou mesmo numa sociedade civil 12 ) por não se verificarem as exigências constitucionais que obrigam à quase livre exoneração nesta pessoa colectiva, existindo, no entanto, um leque de situações em que a lei atribui ao sócio o direito a apartar-se da sociedade. Alguns casos de exoneração previstos para todos os tipos de sociedade a) Art. 3º nº 5 e 6 do CSC. A deliberação da transferência da sede da sociedade para o estrangeiro deve obedecer aos requisitos para a alteração de pacto social, não podendo ser tomada por menos de de 75% dos votos correspondentes ao capital social e os sócios que não tenham votado a favor podem exonerar-se da sociedade, devendo notificá-la da sua decisão dentro de 60 dias, a contar de tal deliberação. 10
11 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL b) Art. 45º do CSC. Nas sociedades por quotas, anónimas e em comandita por acções, o erro, o dolo, a coação e a usura podem ser invocados como justa causa de exoneração pelo sócio atingido ou prejudicado, desde que se verifiquem as circunstâncias, incluindo o tempo, de que segundo a lei civil resultaria a sua relevância para efeitos de anulação do negócio jurídico. c) Art. 105º nº 1 CSC. Se a lei ou o contrato atribuir ao sócio que tenha votado contra o projecto de fusão o direito de se exonerar, pode o sócio, no prazo de um mês, a contar da data da deliberação, que a sociedade adquira ou faça adquirir a sua participação. d) Art. 120º CSC. Aplica-se à cisão de sociedades a disciplina da fusão, no que respeita à exoneração dos sócios que tenham votado contra tal deliberação. e) Art. 137º nº 1 CSC. Os sócios que não tenha votado favoravelmente a deliberação de transformação da sociedade podem exonerar-se dela, declarando-o, por escrito, nos trinta dias seguintes à publicação da deliberação. f) Art. 161º nº 5 CSC Se a deliberação de regresso à actividade de sociedade dissolvida for tomada depois da partilha, pode exonerar-se da sociedade o sócio cuja participação fique, relativamente reduzida em relação à que, no conjunto, anteriormente detinha, recebendo a parte que pela partilha lhe caberia. Sociedades em Nome Colectivo e Sociedade em Comandita Simples Todo o sócio tem direito a se exonerar da sociedade nos casos previstos na lei, no contrato social e ainda (art. 185º do CSC): Se não estiver fixada, no contrato, a duração da sociedade ou se esta tiver sido constituída por toda a vida de um sócio ou por período superior a 30 anos, desde que aquele que se exonera seja sócio há, pelo menos, dez anos. Quando ocorra justa causa 13. A sociedade em comandita simples segue a regra da sociedade em nome colectivo (art. 474º do CSC). 11
12 Sociedades por Quotas O sócio pode exonerar-se nos casos previstos na lei ou no contrato (que não pode prever a exoneração por vontade arbitrária do sócio) e ainda nos seguintes (art. 240º CSC): - A sociedade delibere, contra seu voto expresso, um aumento de capital a subscrever total ou parcialmente por terceiros, mudança de objecto social, prorrogação da sociedade, transferência da sede para o estrangeiro ou o regresso à actividade de sociedade dissolvida - Haja justa causa da sua exclusão e a sociedade não delibere a sua exclusão ou não promova a sua exclusão judicial 14. Sociedades Anónimas e Sociedades em Comandita por Acções O regime das sociedades anónimas não prevê a exoneração do sócio, certamente por a parte do sócio estar representada pelo título de crédito que são as acções, o que, face à sua alta circulabilidade, permite que o sócio saia da sociedade alienando o seu título, existindo, porém, duas situações que merecerão alguma atenção Alienação Potestativa de Acções. Ver acima o referido a propósito das aquisições tendentes ao domínio total. O preço deverá ser fixado, crê-se, em termos idênticos aos do artigo 105º CSC e 1021º do Código Civil, por serem as mesmas as razões da lei. No caso das sociedades abertas o artigo 194º do CVM indica que a contrapartida a pagar pelas acções remanescentes é a correspondente ao preço da OPA. OPA Obrigatória O artigo 187º nº 1 do CVM impõe que aquele cuja participação em sociedade aberta ultrapasse, directamente ou nos termos do n.º 1 do seu artigo 20.º, um terço ou metade dos direitos de voto correspondentes ao capital social tem o dever de lançar oferta pública de aquisição sobre a totalidade das acções e de outros valores mobiliários emitidos por essa sociedade que confiram direito à sua subscrição ou aquisição. O valor da contrapartida é fixado no artigo 188º nº 1 do mesmo Código em termos de não poder ser inferior ao mais elevado dos seguintes montantes: a) O maior preço pago pelo oferente ou por qualquer das pessoas que, em relação a ele, estejam em alguma das situações previstas no n.º 1 do artigo 20.º pela aquisição de valores mobiliários da mesma categoria, nos seis meses imediatamente anteriores à data da publicação do anúncio preliminar da oferta; 12
13 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL b) O preço médio ponderado desses valores mobiliários apurado em mercado regulamentado 15 durante o mesmo período A sociedade em comandita por acções segue a regra das sociedades anónimas (art. 478º do CSC) Contrapartida Paga ao Sócio Exonerado. Na sociedade em nome colectivo, o sócio exonerado tem direito a receber o valor de liquidação, calculado nos termos do art. 105º nº 2 do CSC e 1021º do Código Civil. A contrapartida a pagar ao sócio exonerado, nas sociedades por quotas, não pode ser inferior (nos casos de exoneração previstos na lei) ao valor de liquidação, com referência ao momento da comunicação da intenção de exoneração, nos termos dos artigos 105º nº 2 do CSC e 1021º do Código Civil, sendo o pagamento da contrapartida feito em duas prestações, com vencimento a seis e a doze meses da data da fixação definitiva do seu valor e se o valor não lhe for pago pelo terceiro adquirente (ou pela sociedade em sua substituição) ou não puder ser feito, por causa da ressalva do capital (a situação líquida 16 não pode ficar, após o pagamento da contrapartida, inferior à soma do capital e reserva legal), o sócio pode requerer a dissolução, por via administrativa, da sociedade, se não optar pela espera do pagamento Artº 240 CSC. Direito de Dispor da sua Participação Social O sócio goza, em regra, da possibilidade de dispor da sua participação, quer por negócio entre vivos, quer mortis causa, podendo ainda onerá-la ou abandoná-la 17. Nas sociedades em nome colectivo, os sócios podem alienar ou onerar a participação, gratuita ou onerosamente, inter vivos, mediante autorização expressa de todos os restantes sócios, tornando-se eficaz em relação à sociedade, quando lhe for comunicada ou por ela reconhecida expressa ou tacitamente, devendo o acto contar de documento escrito (art. 182º CSC). Nas sociedades em nome colectivo, o herdeiro ou legatário do sócio não entra para a sociedade, a menos que o pacto estipule coisa diversa 18, podendo os sócios escolher entre satisfazer ao sucessor o respectivo valor ou dissolver a sociedade, extinguindo-se, assim, o direito à participação social do de cujus (art. 184º do CSC) 19. No que respeita à execução sobre a parte do sócio de sociedade em nome colectivo, estipula o art. 183º do CSC que o credor do sócio não pode penhorar a sua participação, mas apenas o seu direito aos lucros e à sua quota de liquidação. 13
14 No que concerne às sociedades por quotas a cessão inter vivos pode ser livre, vedada ou depender de consentimento. Em regra a cessão de quotas depende de consentimento da sociedade e só com ele se torna eficaz, excepto entre cônjuges, ascendentes, descendentes ou sócios, sem prejuízo de o pacto poder estabelecer a obrigatoriedade de consentimento para estas últimas cessões (art. 228º nº 2 e 3 e 229º nº 3 do CSC). O pacto social pode proibir todas ou parte das cessões de quota e pode dispensar o consentimento social para elas, mas quando as proibir, o respectivo sócio pode exonerar-se decorridos 10 anos sobre o seu ingresso na sociedade (art. 229º do CSC). Quando necessário, o consentimento deve ser pedido por escrito, com identificação do cessionário e de todas as condições da cessão e concedido, expressamente, por deliberação dos sócios, que o não poderão condicionar (art. 230º nº 1 e 2) 20. Quando a sociedade recusar o consentimento e a quota esteja na titularidade do sócio há mais de três anos a comunicação da recusa do consentimento 21 deve ser acompanhada de uma proposta de amortização ou aquisição da quota ou quotas para que seja pedido o consentimento, a qual caduca se não aceite no prazo de quinze dias, mantendo-se a recusa do consentimento. A cessão fica livre se for omitida a proposta, se o negócio proposto não se efectivar nos sessenta dias seguintes à aceitação, se a proposta não abranger todas as quotas para que tenha sido pedido o consentimento ou se não oferecer uma contrapartida em dinheiro igual ao valor projectado para a cessão encarada 22. Sendo deliberada a aquisição da quota, o direito a adquiri-la é atribuído aos sócios que declararem pretendê-la, no momento da respectiva deliberação, proporcionalmente às quotas que então possuírem e se os sócios não exercerem esse direito, pertencerá ele à sociedade (art. 231º nº 4 do CSC). No que respeita às sociedades anónimas, a circulação das acções 23 tem vários regimes, em função de serem tituladas, desmaterializadas, ao portador, nominativas ou de se tratar de situações especiais, podendo, em síntese, apontar-se os seguintes 24 : 1. Crédito em Conta Valores Integrados no Sistema Centralizado (arts 80º nº 1, 99º nº 5 e 105º do CVM) Entrega do Título ao seu Adquirente Valores Titulados, Não Depositados, ao Portador, Fora do Sistema Centralizado (art. 101º nº 1 do CVM) 3. Registo em Conta Valores Titulados Depositados, ao Portador, Fora do Sistema Centralizado. (arts 99º nº 1 a) e 101º nº 2 CVM). 14
15 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL 4. Declaração de Transmissão e Registo no Emitente ou seu Intermediário Financeiro Valores Titulados, Nominativos, Fora do Sistema Centralizado (art. 102º nº 1 CVM). 5. Registo na Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários e sua Publicação Aquisição Potestativa, legalmente admissível, de Valores Mobiliários representativos do Capital Social de Sociedade Aberta, com Lei Pessoal Portuguesa (art. 195º nº 1 do CVM) 6. Declaração à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários e sua Notificação, por esta, ao Sócio Dominante Alienação Potestativa, admissível legalmente, de Valores Mobiliários representativos do Capital Social de Sociedade Aberta, com Lei Pessoal Portuguesa (art. 196º nº 2 e 3 do CVM). 7. Inscrição por Depósito no Registo Comercial e sua Publicação - Aquisição Potestativa, legalmente admissível, de Valores Mobiliários representativos do Capital Social de Sociedade Fechada, com Lei Pessoal Portuguesa (art. 490º nº 3 do Código das Sociedades Comerciais). 8. Decisão Judicial - Alienação Potestativa, legalmente admissível, de Valores Mobiliários representativos do Capital Social de Sociedade Fechada, com Lei Pessoal Portuguesa (art. 490º nº 6 do Código das Sociedades Comerciais). Nas sociedades em comandita a transmissão de partes sociais dos sócios comanditados só é eficaz se for consentida por deliberação dos sócios, sendo aplicável à transmissão por morte o regime das sociedades em nome colectivo (art. 469º do CSC). Nas sociedades em comandita simples, a transmissão da parte do sócio comanditário obedece ao regime da transmissão de quotas nas sociedades por quotas, ao possa que nas sociedades em comandita por acções a transmissão da parte dos sócios comanditários segue as regras das sociedades anónimas (art. 475º e 478º do CSC). Como regra, o registo transmissão ocasiona que ela possa ser oponível à sociedade, assim sucedendo nas sociedades em nome colectivo, nas sociedades por quotas, na transmissão de partes sociais dos sócios comanditados, dos sócios comanditários em comandita simples, na transmissão de acções escriturais, de acções tituladas nominativas e ao portador depositadas ou registados das sociedades anónimas e em comandita por acções, mas já não acontece na transmissão de acções tituladas ao portador não registadas, fazendo com que a sociedade possa não saber quem são os seus sócios. 15
16 II DIREITO A QUINHOAR NOS LUCROS Este direito dos sócios estabelecido na a) do nº 1 do artº 20º CSC é a contrapartida da obrigação de quinhoar nas perdas. Antes de mais, o sócio tem direito a que a sociedade tenha a sua gestão orientada para o lucro, 26 mas convirá notar que nem todas as sociedades comerciais têm como fim principal a obtenção de lucros 27 e sua distribuição pelos seus sócios, nomeadamente as Sociedades Subordinadas, as Sociedades Gestoras de Participações Sociais ou as Sociedades Instrumentais existentes nos grupos de sociedades, em regra, para prestarem serviços às sociedades neles integradas em que o seu lucro não o objectivo perseguido, antes o sendo os lucros das restantes sociedades do grupo. 28 O contrato de sociedade pode fixar qual a proporção da repartição dos lucros entre os sócios e se não o fizer os lucros repartem-se na proporção das entradas de cada um, como determinam o artº 992º, nº 1 do Código Civil e o artº 22º, nº 1 do CSC (nesta última disposição clarifica-se que na falta de disposição do pacto é na proporção do valor nominal das suas quotas), sendo, porém, proibido o pacto leonino ou seja privar um sócio da comunhão nos lucros ou participação nas perdas, exceptuada a situação dos sócios de indústria (art. 22º nº 3 do CSC) A sociedade poder constituir reservas para a prossecução dos seus fins, como refere o artº 991º do Código Civil e existe, mesmo, a obrigação de constituir e manter uma reserva chamada legal, nos termos do art. 218º (sociedades por quotas) e do art. 295º (sociedades anónimas) CSC 29 Para garantir o direito do sócio aos lucros, a lei proíbe a estipulação pela qual algum sócio deva receber juros ou quota certa em retribuição do seu capital ou indústria (artº 21 nº 2 CSC) e estabelece que, pelo menos, metade do lucro distribuível 30, 31 do exercício tenha de ser distribuído aos sócios, salvo cláusula em contrário do pacto social ou deliberação da Assembleia Geral, para o efeito convocada, tomada por maioria de ¾ dos votos correspondentes ao capital social (artº 217º, nº 1 para as sociedades por quotas e 294º, nº 1, para as sociedades anónimas, ambos CSC) 32. A distribuição de lucros exige deliberação dos sócios 33, deve ser precedida de prévia elaboração e aprovação de contas e apuramento dos resultados do exercício 34, não pode ser deixada ao critério de terceiro, nenhum sócio pode ser excluído da comunhão nos lucros, há regras claras sobre o momento do vencimento do direito aos lucros e sobre a 16
17 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL obrigatoriedade de os lucros dos sócios saírem antes de outros intervenientes que tenham direito a uma participação neles. (artº 31º, nº 1, 3 e 4 e 66º nº 5 f) CSC). 35, 36 É obrigatória a constituição de uma reserva legal com 20% dos lucros até que seja atingida a quantia correspondente à quinta parte do valor do capital social (2.500 euros nas sociedades por quotas), a qual deve ser reintegrada, quando necessário, podendo o pacto elevar o seu montante, a qual só pode ser usada para cobrir prejuízos evidenciados pelo balanço do exercício que não possam ser cobertos por reservas livres, para cobrir prejuízos acumulados que não possam ser cobertos pelo lucro do exercício nem por reservas livres ou para incorporação no capital (arts 218º e 295º CSC, respectivamente para as sociedades por quotas e anónimas. Poderá haver lugar à distribuição antecipada de metade do lucro distribuível, na segunda parte do exercício, observado que sejam os requisitos do artigo 297º CSC. 37 A distribuição ilícita de bens sociais pode constituir os gerentes em responsabilidade civil e criminal (514º CSC e 483º do Código Civil) III PARTICIPAR NAS DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS E IMPUGNAR DELIBERAÇÕES SOCIAIS Todos os sócios têm direito a participar nas deliberações dos sócios 38, podendo ser inválidas as deliberações com violação desse direito, sem prejuízo das restrições previstas na lei, como impõe o artº 21º nº 1 b) CSC. 39 O sócio tem direito a requerer a convocatória da Assembleia-geral e a fazer incluir assuntos na ordem de trabalhos de Assembleia-geral já convocada (arts 189º nº 1 (sociedades em nome colectivo, por remissão para o regime das sociedades por quotas), 248 nº 2 (Sociedades por quotas, directamente e por remissão para o regime das sociedades anónimas), 375º (sociedades anónimas, neste caso só os sócios que, sós ou em conjunto, perfaçam 5% do capital social), 474º (sociedades em comandita simples, por remissão para o regime das sociedades em nome colectivo) e 478º (sociedades em comandita por acções, por remissão para o regime das sociedades anónimas) do CSC). 17
18 Excepções ao direito a participar nas deliberações de sócios Mínimo de Participação, Voto Agrupado 1. Nas sociedades anónimas, têm o direito de estar presentes na Assembleia-geral accionistas que tenham direito a, pelo menos, um voto e, na falta de diferente disposição do pacto social 40, a cada acção corresponde um voto, mas permite-se que o pacto faça corresponder um só voto a um certo número de acções, contanto que sejam abrangidas todas as acções emitidas pela sociedade e que fique cabendo um voto a, pelo menos, cada euros de capital, acontecendo que quando o contrato exigir a posse de um certo número de acções para conferir um voto, podem os accionistas agrupar-se de forma a completarem o número de acções para obterem o número necessário ou superior e fazer-se representar por um dos accionistas agrupados (arts 379º nº 1 e 5 e 384º nº 1 e 2 a) CSC). 41. Acções Preferenciais sem voto 2. Nas sociedades anónimas existem acções, chamadas acções preferenciais sem voto, que não conferem direito de voto, atribuindo, em contrapartida um dividendo prioritário, em relação aos restantes accionistas (artº 341º CSC), mas, mesmo neste caso, se o dividendo prioritário não for pago a estes accionistas, durante dois anos, eles passarão a gozar de direito de voto (artº 342º, nº 3 CSC) e se o pacto social não permitir que participem (sem voto) nos trabalhos da Assembleia Geral, serão os accionistas de uma mesma emissão, todos, nela representados por um deles (artº 343º nº 1 CSC) 42. Impedimentos baseados em Conflito de Interesses 3. No interesse da sociedade, existem alguns casos de conflito de interesses entre a sociedade e o sócio em que se verifica o impedimento do direito de voto deste, nomeadamente nas liberações de obrigações do sócio, litígios entre o sócio e a sociedade, relações entre o sócio e a sociedade estranhas ao contrato social, exclusão do sócio, consentimento para o sócio administrador exercer actividades concorrentes com a sociedade, destituição com justa causa do sócio titular de órgão social (arts 251º (sociedades por quotas) e 384º, nº 6 (sociedades anónimas), ambos do CSC 43. Deliberações Abusivas 4.O artº 58º nº 1 b) do CSC inclui entre as deliberações anuláveis aquelas que sejam apropriadas para satisfazer o propósito de um dos sócios de conseguir, pelo exercício do direito de voto, vantagens especiais para si próprio ou para terceiro, em prejuízo da 18
19 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL sociedade ou de outros sócios ou, simplesmente de prejudicar aquela ou estes, a menos que se prove que tais deliberações teriam sido tomadas, mesmo sem os votos abusivos. 44 Haverá que distinguir entre o vício do voto abusivo e o vício da deliberação tomada com voto abusivo. A deliberação abusiva (na designação comum da doutrina) só o será se ela só foi tomada por causa dos votos abusivos, não havendo tal figura quando a deliberação é adoptada, por ter a necessária maioria, mesmo descontando os votos abusivos 45. A existência de votos abusivos 46, por si só não torna inválida a deliberação, esta terá que ter sido tomada por causa deles, não sendo possível só com os votos inocentes. Unidade de Voto 5. Existem, ainda, as limitações emergentes do princípio da unidade do voto (art. 385º do CSC). A participação de cada sócio dá-lhe direito, em regra, a um peso próprio nas deliberações dos sócios, que pode ser diferente do dos outros sócios, consoante o seu valor, peso diferente esse traduzido no número de votos de que dispõe (os votos aqui são entendidos como unidades contabilísticas para se apurar o peso do voto do sócio), mas o sócio não pode distribuir essa diferente ponderação do seu voto (o número de votos que a sua participação social lhe atribui) em diversos sentidos na votação, ele tem que usar todos os votos que lhe são proporcionados pela sua participação para votar num único sentido. 47 O sócio que represente outro pode votar em sentido diverso com as suas acções do sentido com que votas com as acções dos seus representados, o mesmo acontecendo quando vota com acções próprias e com acções de que é usufrutuário, credor pignoratício ou representante de contitulares de acções e, ainda, quando represente associação ou sociedade cujos sócios tenham votado em sentidos diversos, segundo determinado critério (art. 385º nº 2 e 3 do CSC, aplicável às sociedades por quotas por força do art. 248º nº 1 e às sociedades em nome colectivo por remissão dos arts 189º nº 1 e 248º nº 1 do mesmo Código) Mantêm-se em vigor os direitos de voto plural constituídos antes da entrada em vigor do CSC, mas, apesar de se tratar de um direito especial, cuja eliminação exigiria o consentimento do seu titular, pode ser extinto ou limitado por simples deliberação maioritária da Assembleia Geral, mesmo sem o consentimento do sócio beneficiário, mas se a constituição desse direito tiver tido uma contrapartida para a sociedade, além da entrada, o sócio terá direito a uma indemnização equitativa, que deve ser judicialmente pedida no prazo de sessenta dias a contar do conhecimento da deliberação ou, se ela tiver sido impugnada, do trânsito em julgado da decisão que a mantiver (artº 531º CSC). 19
20 A violação da regra da unidade de voto ocasiona a nulidade de todos os votos emitidos pelo sócio (art. 385º nº 4 do CSC) Direito de Impugnar as deliberações sociais O sócio goza do direito de impugnar as deliberações sociais, quer elas sejam tomas pelos sócios, quer sejam tomadas pela administração ou pelo órgão de fiscalização. Impugnação das Deliberações da Assembleia-geral 48 Deliberações Ineficazes 49 As deliberações tomadas sobre assuntos para os quais a lei exija o consentimento de certo sócio são ineficazes em relação a todos, enquanto o interessado não der o seu acordo expresso ou tácito, salvo disposição da lei em contrário (55º CSC) Deliberações Nulas 50 São nulas as deliberações (56º nº 1 CSC): a) Tomadas em Assembleia-geral não convocada 51, salvo se tiverem estado presentes ou representados todos os sócios 52. b) Tomadas mediante voto escrito sem que todos os sócios com direito de voto tenham sido convidados a exercerem esse direito, a não ser que todos eles tenham dado, por escrito, o seu voto. 53 c) As cujo conteúdo não esteja, por natureza, sujeito a deliberação dos sócios. 54 d) Cujo conteúdo, directamente, ou por actos de outros órgãos, que determine ou permita, sejam ofensivas dos bons costumes 55 ou de preceitos legais que não possam ser derrogados, nem sequer por vontade unânime dos sócios. 56 e) As deliberações com violação dos preceitos legais referentes à constituição, reforço, ou utilização da reserva legal, bem como das disposições legais, cuja finalidade exclusiva ou principal seja a protecção dos credores ou de interesse público, que são feridas de nulidade. (art. 69º CSC) Deliberações Anuláveis (58º nº 1 CSC) 57 São anuláveis as seguintes deliberações dos sócios a) As que violem disposições, quer da lei (que não ocasionem nulidade), quer do contrato de sociedade (deliberações ilegais) 58 20
21 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL b) As que sejam apropriadas a conseguir, através do exercício do direito de voto, vantagens especiais, para si ou para terceiros, em prejuízo da sociedade ou de outros sócios ou simplesmente de prejudicar aquela ou estes, a menos que se prove que as deliberações teriam sido tomadas mesmo sem os votos abusivos (deliberações abusivas) 59 c) Não tenham sido precedidas do fornecimento ao sócio dos elementos mínimos de informação 60. d) As deliberações que violem disposições legais referentes à feitura dos documentos de prestação de contas e a irregularidade das próprias contas originam o vício da anulabilidade (art. 69º CSC) Acções de Impugnação de Deliberações Sociais Uma deliberação inválida pode ser impugnada judicialmente, mediante Acção de Declaração de Nulidade 61 ou de Anulação 62, consoante o caso e pode, cautelarmente, na dependência da respectiva acção principal ser pedida a Suspensão de uma Deliberação Social até à decisão definitiva da impugnação da deliberação tomada. Disposições Comuns São propostas contra a sociedade, as que se referirem à mesma deliberação são todas apensadas num só processo e a sociedade suportará os encargos das que forem propostas pelo órgão de Fiscalização ou, na sua falta, pelo Gerente, ainda que sejam julgadas improcedentes (60º CSC). A sentença que declarar nula ou anular deliberação social tem eficácia de caso julgado 63 a favor e contra todos os sócios e órgãos da sociedade, mesmo que não tenham sido parte na respectiva acção, mas não prejudica os direitos adquiridos, de boa fé, por terceiros, com fundamento em actos praticados em execução da deliberação, embora o conhecimento da nulidade ou anulabilidade exclua a boa fé (61º CSC) Suspensão de Deliberações Sociais (arts 396º a 398º do CPC) Objectivo Obter a suspensão da execução da deliberação até à decisão final da sua acção de impugnação (nulidade ou anulação, consoante o caso). É um procedimento cautelar, com carácter de urgência, que é tramitado na dependência da respectiva acção principal, que tem de ser instaurada, sob pena de caducidade da suspensão da deliberação que seja ordenada. 21
22 Legitimidade A que for aplicável para a acção principal, excepto Sociedades Abertas, em que há limitações. 64 Prazo 10 dias a contar da data da Assembleia em que a deliberação a suspender foi tomada ou, se o requerente não tiver sido regularmente convocado para a assembleia, da data em que ele teve conhecimento da deliberação. 65 Efeitos da Interposição - A partir da citação, e enquanto não for julgado em 1ª instância o pedido de suspensão, não é lícito à associação ou sociedade executar a deliberação impugnada., 66 Fundamentos - Justificação da qualidade de sócio e demonstração de que a execução da deliberação anulanda pode causar dano apreciável 67 Acções de Declaração de Nulidade Legitimidade Activa Qualquer sócio 68, o órgão de fiscalização e na sua falta qualquer gerente 69 (57º CSC) e qualquer interessado. Legitimidade passiva Sociedade (60º nº 1 CSC). Prazo A todo o tempo. Acções de Anulação Legitimidade Activa Órgão de Fiscalização ou qualquer sócio que não tenha votado no sentido que fez vencimento nem, posteriormente, tenha aprovado a deliberação, expressa ou tacitamente. (59º CSC) Legitimidade passiva Sociedade (60º nº 1 CSC). Se for com fundamento em Deliberação Abusiva, pode ser proposta contra os sócios que emitiram os votos abusivos que contribuíram para a formação maioria que determinou a Deliberação Abusiva 70 anulanda, podendo-lhes ser pedida uma indemnização pelos danos ocasionados com o seu acto ilícito (art. 483º do Código Civil e artº 59º nº 3 CSC) 71. Prazo 30 dias, a contar de: (59º nº 2 CSC) 72 a) Data em que foi encerrada a Assembleia-geral. 73 b) Do 3º dia subsequente à data do envio da acta da deliberação por voto escrito. c) Da data em que o sócio teve conhecimento da deliberação, se esta incidir sobre assunto que não constava da ordem do dia. 22
23 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL Eficácia da Decisão Judicial A sentença que declarar nula (ou inexistente) ou anular uma deliberação social é eficaz contra e favor de todos os sócios e órgãos da sociedade, mesmo que não tenham intervindo na respectiva acção, mas não prejudica os direitos adquiridos, de boa fé, por terceiros, com fundamento em actos praticados em execução da deliberação, excluindo o conhecimento da nulidade ou anulabilidade, a boa fé. (61 CSC) Renovação de Deliberação (62º CSC) As deliberações nulas por terem sido tomadas em Assembleia-geral não convocada ou por voto escrito em que não foi dada oportunidade de participação a todos os sócios podem ser renovadas por outra deliberação e a esta pode ser atribuída eficácia retroactiva, com ressalva dos direitos de terceiro. A anulabilidade cessa quando os sócios renovem a deliberação anulável, mediante outra deliberação, desde que esta não enferme do vício da precedente, mas o sócio que tiver um interesse atendível pode obter a anulação da primeira deliberação, relativamente ao período anterior à deliberação renovatória. O tribunal em que tenha sido impugnada uma deliberação anulável pode dar um prazo à sociedade, a pedido desta, para a renovar IV DIREITO À INFORMAÇÃO O direito à informação (artº 21º, nº 1 c) CSC) tem um desenho diferente, consoante o tipo de sociedade e a sua violação injustificada ocasiona a anulação de deliberações sociais (58º nº 1 CSC) A recusa do direito à informação 74 pode dar ao sócio o direito a Inquérito Judicial e além disso, a violação deste direito, em certos casos, pode ocasionar responsabilidade civil e criminal (prisão que pode ir até 180 dias e ou multa) para os gerentes e administradores (artº 518º e 519º CSC) 75 Sociedades em Nome Colectivo e em comandita simples (artº 181º e 474º CSC) O direito à informação é ilimitado 76 sobre assuntos sociais, incluindo os actos passados e os futuros que sejam esperados, quando estes sejam susceptíveis de fazerem incorrer o seu autor em responsabilidade. 23
24 A consulta de escrituração, livros e documentos deve ser feita pessoalmente pelo sócio que se pode fazer acompanhar de Revisor Oficial de Contas ou outro perito. A sociedade não goza do direito de recusar informação, mesmo que haja risco ou certeza de vir a ser utilizada para o seu prejuízo ou de outros sócios, mas o abuso efectivo de informação com dano para a sociedade pode ocasionar a exclusão do sócio e responsabilidade civil deste. Sociedades por quotas (arts 214º a 216º CSC) Todos os sócios têm direito à informação em duas vertentes: a) Os sócios 77 têm direito a informação, escrita se o pedirem, verdadeira, completa e elucidativa sobre a gestão da sociedade b) Os gerentes têm de lhes facultar, na sede social, a consulta da escrituração, livros e documentos. O direito à informação pode ser regulamentado no pacto social, desde que não seja impedido o seu exercício efectivo ou injustificadamente limitado o seu âmbito, nomeadamente quando para o seu exercício for invocada suspeita de práticas susceptíveis de fazer incorrer o seu autor em responsabilidade e quando a consulta tiver por fim apreciar da exactidão dos documentos de prestação de contas ou habilitar o sócio a votar em Assembleia-geral. Podem ser pedidas informações sobre actos já praticados ou sobre actos cuja prática seja esperada, quando estes sejam susceptíveis de fazerem incorrer o seu autor em responsabilidade e podem ser inspeccionados os bens sociais. A consulta de escrituração, livros e documentos deve ser feita pessoalmente pelo sócio, que se pode fazer acompanhar de ROC ou outro perito, podendo ser extraídas fotocópias ou fotografias. O sócio que use a informação de modo a prejudicar, injustificadamente, a sociedade responde pelos prejuízos que causar e fica sujeito à exclusão. Em regra, a informação, consulta ou a inspecção só podem ser recusadas, pelos gerentes, quando for de recear que o sócio as utilize para fins estranhos à sociedade e com prejuízo desta e ainda quando a prestação da informação ocasionar violação de segredo imposto por lei no interesse de terceiros e bem assim nos termos estabelecidos licitamente pelo pacto social ou quando o gerente não disponha dela
25 José Teixeira, M. Fernandes Barros & Associados Sociedade de Advogados, RL A recusa, injustificada, de informação ou a prestação de informação presumivelmente falsa, incompleta ou não elucidativa dá lugar a que o sócio possa pedir uma deliberação dos sócios sobre o assunto, bem como pedir Inquérito Judicial, para além de servir de fundamento a anulação de deliberações sociais (artº 58º nº 1 CSC), poder constituir o gerente em responsabilidade civil e criminal (518º e 519º CSC e 483º Código Civil) Sociedades anónimas e em comandita por acções (arts 288º a 292º e 478º CSC) Além dos sócios, têm direito à informação, o representante comum dos obrigacionistas e ainda o usufrutuário e o credor pignoratício das acções, quando por lei ou convenção lhes caiba o direito de voto (293º CSC). São as seguintes as modalidades do direito à informação nas sociedades anónimas: Direito Mínimo à Informação 288º CSC. Accionista ou accionistas que possuam, pelo menos um por cento do capital social, que aleguem motivo justificado têm direito à consulta, por si, por pessoa pela qual se possa fazer representar na Assembleia-geral ou por um ROC ou outro perito, na sede social, dos relatórios de contas, das convocatórias, das actas, das listas de presenças em Assembleias Gerais dos últimos três anos e, ainda, do livro de registo de acções e a saber dos montantes pagos aos órgãos de administração e fiscalização e aos 10 ou 5 empregados que recebam remunerações mais elevadas, em cada um dos últimos três anos, consoante a sociedade exceda ou não os 200 trabalhadores e ainda o documento de registo das acções. O accionista pode extrair cópias ou fotografias (por analogia com as sociedades por quotas) e exigir que a exactidão dos documentos lhe seja certificada por um Revisor Oficial de Contas. Pode, ainda o accionista pedir que certos elementos (relatórios de gestão ou fiscalização e remunerações pagas pela sociedade a empregados) lhe sejam enviados pelo correio ou divulgados no sítio da sociedade na Internet. Direito à Informação Preparatória de Assembleia-geral 289º CSC. Este direito é integrado por um conjunto de elementos que devem ser facultados a todos os accionistas no período entre a convocatória da Assembleia-geral e a sua realização, para que eles possam tomar posição consciente sobre os assuntos em discussão, devendo alguns desses elementos ser enviados, no prazo de 8 dias, por carta aos titulares de acções correspondentes a, pelo menos, 1% do capital social, que o requeiram ou através de correio 25
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