ARTRITE REUMATOIDE CANINA RELATO DE CASO
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1 1 ARTRITE REUMATOIDE CANINA RELATO DE CASO REBECA BACCHI-VILLANOVA 1, GUILHERME FERNANDO DE CAMPOS 2 ; POLIANA FREITAS 2 ; SABRINA MARIN RODIGHERI 3 ; PATRÍCIA MOSKO 1 ; ALYNE ARIELA 2 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal PUCPR 2 Médico Veterinário Autônomo 3 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Veterinária FCAV-UNESP/Jaboticabal RESUMO A artrite reumatoide é uma artropatia erosiva imunomediada de etiologia desconhecida, rara em cães. Foi atendido um paciente da espécie canina com histórico de deformidade nas articulações rádioulnar-carpianas com evolução de 3 anos. Apresentava apatia, perde de peso, rigidez após repouso, edema articular e claudicação de apoio. O diagnóstico foi de artrite reumatoide, sendo tratado com prednisolona, tramadol e amitriptilina. Cerca de 90 dias após o diagnóstico, a paciente permaneceu estável e parcialmente ativa, porém com progressão das alterações morfológicas da doença nas articulações referidas. Palavras-Chave: cães, doença imunomediada, artropatia erosiva. CANINE RHEUMATOID ARTHRITIS CASE REPORT ABSTRACT Rheumatoid arthritis is an imune-mediated erosive arthropathy with unknown etiology and it s unusual in dogs. A female dog with deformity in radioulnar carpal joint with 3 years of evolution, presenting lethargy, hyporexia, progressive weight loss, stiffness after resting, edema articular and such a difficulty in walking. Through exams the patient was diagnosed with rheumatoid arthritis and treated with prednisolone, tramadol and amitriptyline. About 90 days after diagnosis, the patient remained stable and partially active. There was progression of morphological changes in the joints. Keywords: dogs, imune-mediated disease, erosive arthropathy. 2214
2 2 Introdução Artrites são afecções articulares inflamatórias separadas em diferentes classificações, sendo infecciosas e não infecciosas, que por sua vez são divididas em erosivas e não erosivas (Brenol et al., 2007). A artrite reumatoide é um artropatia autoimune, não-infecciosa, caracterizada pela destruição crônica, bilateralmente e erosiva das articulações (Brenol et al., 2007). Os antígenos são imunoglobulinas alteradas do hospedeiro (IgG e IgM), conhecidas como fatores reumatoides. É uma condição incomum, que ocorre em cerca de 2 para cada cães (Bennet, 2004), causando lesões irreversíveis e muito dolorosas, afetando drasticamente a qualidade de vida dos pacientes acometidos. Poucos pesquisadores dedicam-se a este tema, o que distancia da cura desta doença (Goeldner et al., 2011). Este trabalho tem como propósito apresentar um caso de artrite reumatoide canina discutindo seus principais aspectos. Relato de caso Um cão, sem raça definida, fêmea, de 5 anos de idade, foi atendido em um hospital veterinário com um histórico de deformidade no carpo com evolução de 3 anos. Há um mês apresentava apatia, hiporexia, emagrecimento progressivo, rigidez após repouso das articulações referidas e grande dificuldade de locomoção. Alopecia em face medial de região társica esquerda também foi relatada pelo responsável, devido a lambedura constante deste local. No exame ortopédico foi observado edema, efusão articular, crepitação e instabilidade em região de carpo bilateralmente com severa deformidade valga. A radiografia da articulação rádio-ulnar-carpiana revelou edema e espessamento de tecidos periarticulares bilateralmente, subluxação dos ossos do carpo, áreas de erosão subcondral de rádio, ulna e metacarpos com discreta reação periosteal. Já na articulação társica 2215
3 3 esquerda, foi detectado edema e dor à manipulação, sem alterações radiográficas significativas. O exame ultrassonográfico abdominal, hemograma, exames bioquímicos (alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), creatinina e uréia) e urinálise não revelaram alterações. Foi realizada artrocentese da articulação cárpica direita, na qual o líquido sinovial apresentou-se turvo com valores de proteína e neutrófilos acima do valor de referência, e coloração eosinofílica ao fundo indicando presença de mucina. Foi prescrito prednisolona (3 mg/kg/sid/30 dias), cloridrato de tramadol (3 mg/kg/tid/15 dias) e amitriptilina (2,14 mg/kg/bid por tempo indeterminado). Após 30 dias de tratamento, o paciente apresentava-se mais ativo e com redução do edema articular. Foi recomendada a redução gradual da dose diária de prednisolona para 1,4 mg/kg. Após nove dias, o paciente manteve-se estável e a dose da prednisolona foi mantida, passando o intervalo de administração para 48 horas. Três meses após o diagnóstico e início do tratamento, o paciente permaneceu estável e ativo, com discreta progressão das alterações morfológicas da doença. Discussão A artrite reumatoide pode acometer cães de qualquer raça, sendo mais observada em adultos (Goeldner et al., 2011), conforme observado no caso referido. A maioria dos cães afetados apresenta histórico de rigidez após períodos de repouso, apatia, anorexia, febre, claudicação ou dificuldade de locomoção (Goeldner et al., 2011). Normalmente a destruição crônica e erosiva é bilateralmente simétrica (Renberg, 2005). O paciente do presente relato apesentou todos os sinais clínicos descritos, com exceção da febre. Conforme a doença progride, o exame clínico revela crepitação, frouxidão, luxação e deformidade nas articulações (Goeldner et al., 2011), assim como observado nas articulações de membros torácicos do paciente, nas quais a doença se 2216
4 4 mostrou mais avançada. As articulações do carpo deste paciente apresentavam deformidades angulares óbvias, provocando a claudicação, sendo isso relatado por diversos autores (Pedersen et al., 2005; Renberg, 2005). Os sinais radiográficos concordam com a literatura (Brenol et al., 2007). Na avaliação do líquido sinovial é esperada uma elevada contagem de neutrófilos (Renberg, 2005), presença de precipitado de mucina, aspecto turvo da amostra e ausência de microrganismos (Renberg, 2005), o que indica uma sinovite inflamatória (Pedersen et al., 2005). No hemograma podem ser detectadas alterações relacionadas ao processo inflamatório, como leucocitose por neutrofilia (Pedersen et al., 2005), embora o paciente não apresentasse estes achados hematológicos. Lúpus eritematoso sistêmico (LES) deve ser descartado (Renberg, 2005). O paciente possuía apenas dois sinais que estão presentes no LES: poliartrite e lesões cutâneas, no entanto as lesões cutâneas eram causadas por lambedura, sugerindo dor devido ao comprometimento articular. A urinálise da paciente não possuía alterações, descartando, a glomerulonefrite, uma das complicações mais comuns do LES. Além disso, a artrite por LES se apresenta não erosiva na radiografia (Colopy et al., 2010). No paciente descrito, apesar de não ter sido possível dosar o fator reumatoide, o diagnóstico foi baseado no histórico, sinais clínicos, achados radiográficos, pela presença do precipitado de mucina no líquido sinovial e pela exclusão de outras doenças que causam esse tipo alteração articular. O tratamento da artrite reumatoide canina baseia-se na imunossupressão. (Goeldner et al., 2005). O objetivo principal do tratamento é a remissão dos sinais clínicos e retorno razoável da função dos membros (Goeldner et al., 2005) objetivos alcançados no paciente descrito. Como o uso de corticosteroides pode trazer muitos efeitos colaterais a procura por novas drogas tem sido 2217
5 5 realizada. Dentre estas drogas está a leflunomida, que tem se mostrado eficaz do tratamento desta afecção (Colopy et al., 2010). Campos et al. (2014) demonstraram resultados satisfatórios com o emprego dessa droga. A monoterapia com a prednisolona foi suficiente para recuperar a qualidade de vida da paciente do presente relato, porém não foi possível avaliar seus efeitos colaterais a longo prazo. Conclusão A artrite reumatoide é uma doença incomum na medicina veterinária e de difícil manejo, uma vez que seu tratamento, na maioria das vezes, é baseado no uso de corticoides e estes possuem muitos efeitos colaterais. Embora se consiga um razoável controle da dor e remissão dos sinais clínicos com a imunossupressão, as lesões previamente instaladas possuem caráter irreversível. O diagnóstico é feito pela dosagem do fator reumatoide, porém o histórico, sinais clínicos e radiográficos são fortes sinalizadores da doença. REFERÊNCIAS 1. BRENOL, C.V.; MONTICIELO, O.A.; XAVIER, R. M. et al. Artrite reumatóide e aterosclerose. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 53, n. 5, p , BENNET, D. Immune-mediated and infective arthrits. IN: ETTINGER S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária doenças do cão e do gato. São Paulo, Ed: Guanabara, 2004, p GOELDNER, I.; SKARE, T.L.; REASON, I.T.M. et. al. Artrite reumatoide: uma visão atual. Jornal Brasileiro de Patolologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 47, n. 5, p , RENBERG, W. C. Pathophysiology and Management of Arthritis. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 35, , PEDERSEN, N. C.; MORGAN, J. P.; VASSEUR, P. B. Doenças articulares de cães e gatos. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária: doenças do cão e do gato. 5 ed. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara Koogan S.A., v. 2, p COLOPY, S.A.; BAKER, T.A.; MUIR, P. Efficacy of leflunomide for treatment of immune-mediated polyarthritis in dogs: 14 cases ( ). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 236, p , CAMPOS, G. F.; BEHNE, N.; CASAGRANDE, A. J. et al. Uso da leflunomida na artrite eroerosive um cão relato de caso. Anais do XI Congresso Brasileiro De Cirurgia do CBCAV e I Congresso Internacional de Cirurgia do CBCAV, p ,
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