Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Adilson Lamounier Des.(a) Adilson Lamounier 07/07/ /07/2015 EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO. RECURSO MINISTERIAL. SUBSTITUIÇÃO DE PENA POR MEDIDA DE INTERNAÇÃO PARA TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM ESTABELECIMENTO PRIVADO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. CÔMPUTO DO PERÍODO DE INTERNAÇÃO TERAPÊUTICA COMO TEMPO DE PENA EFETIVAMENTE CUMPRIDA. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. - A substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança de internação ou tratamento ambulatorial somente é autorizada nas hipóteses em que restar comprovada a inimputabilidade ou semi-inimputabilidade do apenado, o que não é o caso dos autos. - Por ausência de permissivo legal, não é possível computar o período de internação terapêutica em estabelecimento privado para tratamento de dependência química como tempo de pena efetivamente cumprida. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL Nº /001 - COMARCA DE ARAXÁ - AGRAVANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - AGRAVADO(A)(S): FÁBIO GABRIEL ALVES DE PAULA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO, COM DETERMINAÇÃO. 1

2 DES. ADILSON LAMOUNIER RELATOR. DES. ADILSON LAMOUNIER (RELATOR) V O T O Trata-se de AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS em face da decisão de f. 62/TJ, datada de 03 de dezembro de 2013, por meio da qual o MM. Juiz de Direito da Vara de Execução Penal da comarca de Araxá autorizou o cômputo do período de internação do agravado em clínica privada para tratamento de dependência química como tempo de pena efetivamente cumprida. Nas razões, requer o agravante a reforma do decisium vergastado de modo que o período de internação não seja contabilizado como pena cumprida, bem como seja determinada a suspensão da execução até a desinternação do agravado. (f. 68v./70v.-TJ). Nas contrarrazões, pugna a Defensoria Pública pelo desprovimento do recurso (f. 72v.-74v./TJ). Em juízo de retratação, a decisão foi mantida (f. 71/TJ). Instada a se manifestar, a Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo não provimento do agravo ministerial (f /TJ). É o relatório. 2

3 Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de admissibilidade e processamento. Da análise dos autos, verifico que o agravado foi condenado à pena privativa de liberdade de 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses pela prática do crime previsto no art. 157, 2º, inciso II, c/c art. 329 e art. 69, todos do Código Penal, a ser cumprida no regime semiaberto. Durante a execução da pena, foi concedido ao reeducando o benefício da progressão do regime prisional para o aberto c/c prisão domiciliar mediante condições elencadas pelo juízo a quo. Contudo, no dia 17 de outubro de 2012, sobreveio a informação de que o sentenciado encontrava-se internado em uma clínica terapêutica particular, localizada em outro estado da federação, na comarca de Ituverava/SP, para tratamento de dependência química desde o dia 12 de outubro de 2012, segundo informações constantes no termo de assentada de f. 46/TJ e declaração de f. 47/TJ. Importante ressaltar que essa internação não foi previamente autorizada pelo juízo responsável pela execução, pois o magistrado primevo foi apenas avisado de que referido tratamento teria se iniciado em 12/10/2012 e que perduraria em torno de seis a nove meses. Ciente dessa situação, o Parquet requereu a liquidação da pena do agravado e a suspensão da execução até o dia 12 de abril de 2013 (f. 49v./TJ), pedido este que foi deferido pelo magistrado a quo (f. 50/TJ). Somente no dia 05 de junho de 2013, a secretaria do juízo competente pela execução da pena do agravado obteve a notícia, por meio de contato telefônico, de que o tratamento a que o mesmo estava submetido findou-se no dia 21 de março de 2013 (f. 51/TJ). Diante disso, o MM. Juiz ordenou a intimação do agravado para reiniciar o cumprimento da sua pena (f. 52/TJ), contudo, o mesmo não 3

4 foi localizado, conforme se depreende da certidão acostada à f v./TJ. Nesse contexto, no dia 15 de julho de 2013, foi determinada a regressão cautelar do regime prisional do reeducando para o fechado e a conclusão dos autos para designação de audiência de justificação (f. 54 TJ). Posteriormente, por meio de petição cuja cópia encontra-se encartada às f /TJ, protocolada em 02 de setembro de 2013, a Defesa do agravado manifestou-se nos autos, informando que o mesmo estava novamente internado para tratamento de toxicomania/alcoolismo desde o dia 02 de maio de 2013 em outra instituição terapêutica privada, localizada em Ribeirão Preto/SP, juntando a declaração de f. 58/TJ. Naquela oportunidade, o douto defensor público relatou que o assistido escreveu uma carta de próprio punho cientificando que o tratamento iniciado no dia 12/10/2013 finalizou-se em 12/04/2013, mas que, como ainda não se sentia apto ao retorno social, teria se internado em uma comunidade terapêutica denominada Atalaias de Cristo, desde o dia 02/05/2013. Ante o exposto, requereu a regularização da situação do reeducando no processo de execução penal e a atualização dos cálculos para contabilizar como tempo de pena cumprida todo o período de internação (f /TJ). Sobre esse pedido, o douto promotor de justiça pronunciou-se nos seguintes termos: (...) sobredita suposta internação deu-se unicamente através de providências envidadas pelo penitente, ocorrendo em instituição privada localizada em outra comarca. Logo, inexiste, no meu juízo, permissivo legal que autorize seja computado como tempo de pena cumprida o tempo de internação. Registre-se que a hipótese correta seria, eventualmente, após instauração do pertinente incidente de 4

5 insanidade, converter-se a pena privativa de liberdade em medida de segurança. In caso, tal inocorreu. Logo, em princípio, o apenado é mentalmente íntegro, devendo cumprir normalmente a reprimenda cominada. (f. 59/TJ). Acrescente-se que essa última internação também ocorreu independentemente de autorização judicial e muito embora tenha o órgão ministerial se articulado em sentido contrário ao pedido defensivo e requerido a suspensão da execução enquanto perdurasse a internação do apenado, o magistrado a quo revogou a determinação que regrediu cautelarmente o regime prisional do agravado para o fechado, autorizou a sua permanência na Comunidade Terapêutica Atalaias de Cristo, substituindo o regime prisional pelo tratamento terapêutico, nos seguintes termos, in verbis: Revogo a decisão de f. 298 e determino o recolhimento da ordem prisional. Conforme se verifica dos autos, o sentenciado está internado em clínica para tratamento da dependência química, ou seja, buscando se livrar do vício que o levou para as grades. A pena tem como natureza a ressocialização, humanização do sentenciado, fazendo com que o mesmo retorne à sociedade e deixe de cometer crimes. A internação, principalmente, nos dias de hoje em que tanto se discute o uso de drogas, está inserida nos objetivos da pena, eis que é um dos motivos para que o sentenciado se veja longe da criminalidade. Devo ressaltar que o vício das drogas vem repercutindo desgraçadamente sobre toda a sociedade, notadamente sobre a camada mais jovem da população. São os mais jovens que hoje em dia se tornaram o principal alvo da sanha dos traficantes, tornando-se 5

6 verdadeiros zumbis, a andar com o juízo aturdido, cometendo toda sorte de atrocidades para a obtenção das drogas, principalmente furtos e roubos. Assim, defiro a internação e autorizo que o sentenciado permaneça internado na Comunidade Terapêutica Atalaias de Cristo, na cidade de Ribeirão Preto/SP para tratamento de sua dependência química, substituindo o regime do tratamento. Oficie-se a instituição requisitando relatório mensal do tratamento do sentenciado, bem como para que informe a este Juízo eventual desligamento ou abandono. (f. 62/TJ) É contra essa decisão que se insurge o ora agravante e, ao meu juízo, razão lhe assiste. Concessa venia, entendo que o pleito ministerial deve ser acolhido para reformar parcialmente a decisão supratranscrita no que se refere à substituição do regime prisional pelo tratamento na comunidade terapêutica, de modo que não seja computado como tempo de pena cumprida o período de internação do agravado, determinando-se a suspensão da execução da pena do agravado até a sua desinternação. Isso, porque inexiste qualquer dispositivo legal que autorize a substituição do regime de cumprimento de pena por tratamento de toxicomania ou alcoolismo em organização privada instituída para essa finalidade. É cediço que a substituição da pena privativa de liberdade por medida de segurança de internação ou tratamento ambulatorial somente é autorizada nas hipóteses em que restar comprovada a inimputabilidade ou semiinimputabilidade do apenado, o que não é o caso dos autos. Consequentemente, não há permissão para contabilização do 6

7 período em que o sentenciado estava internado em estabelecimento privado para tratamento da dependência química como tempo de pena efetivamente cumprida, mormente se considerados os limites legais para aplicação do instituto da detração penal prevista no art. 42 do Código Penal. A propósito, já decidiu este egrégio Tribunal de Justiça: (...) A situação do agravante não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas nos artigos 41 e 42 do CPB a possibilitar-lhe a detração da pena pelo período em que esteve internado, sendo que a sua internação foi de forma voluntária e não houve comprovação de que tenha sido acometido de doença mental ou perturbação à saúde mental a ensejar a substituição da pena por medida de segurança, nos moldes dos artigos 108 e 183 da LEP. (...) (TJMG. Agravo em Execução Penal /002, Relator: Des. Antônio Carlos Cruvinel, julgado em: 15/07/2014, súmula publicada em: 22/07/2014). AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL - DETRAÇÃO- INTERNAÇÃO PARA TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM CLÍNICA PARTICULAR - IMPOSSIBIDADE - NEGADO PROVIMENTO. Não verificada a superveniência de doença mental durante a execução penal, como previsto no art. 41 e art. 42 ambos do CP, imperioso negar provimento ao recurso. (TJMG. Agravo em Execução Penal /001, Relator(a): Des.(a) Kárin Emmerich, julgado em: 29/10/2013, súmula publicada em: 08/11/2013). Diante do exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para reformar a decisão de f. 62/TJ (f. 313 dos autos de origem) de modo que não seja computado como tempo de pena cumprida o período de internação do agravado na instituição privada para tratamento de dependência química, determinando a suspensão da execução da pena do agravado até a sua desinternação. Sem custas. 7

8 Oficie-se o juízo a quo acerca do aqui decidido. DES. EDUARDO MACHADO - De acordo com o(a) Relator(a). DES. JÚLIO CÉSAR LORENS - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, COM DETERMINAÇÃO." 8