INTRODUÇÃO ESTUDO DAS PROPRIEDADES REOLÓGICAS DO XAROPE DE CANA BRUTO E FLOTADO DE ACORDO COM O TEOR DE SÓLIDOS SOLÚVEIS (⁰BRIX)
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1 1 ESTUDO DAS PROPRIEDADES REOLÓGICAS DO XAROPE DE CANA BRUTO E FLOTADO DE ACORDO COM O TEOR DE SÓLIDOS SOLÚVEIS (⁰BRIX) INTRODUÇÃO Mário Augusto VERGANI Discente do curso de Engenharia de Alimentos da UNILAGO Kelly Tafari CATELAM Doutoranda em Engenharia e Ciência de Alimentos Docente do curso de Engenharia de Alimentos da UNILAGO, São José do Rio Preto RESUMO> O xarope de cana é o produto resultante da evaporação do caldo de cana clarificado, e, ao final desta concentração, é chamado de xarope bruto. O xarope bruto segue para o tratamento de flotação que visa a remoção das substâncias que dão cor ao açúcar, bem como dos materiais insolúveis em suspensão e das macromoléculas (dextrana) responsáveis pelo aumento da viscosidade do xarope e consequentes problemas nas etapas seguintes de fabricação. O trabalho teve por objetivo avaliar os parâmetros reológicos dos xaropes de cana bruto, e flotado de forma a observar o comportamento destes em diferentes teores de sólidos solúveis. Determinaram-se o teor de sólidos solúveis ( Brix) das amostras em refratômetro digital e os parâmetros reológicos em viscosímetro de Brookfield com geometria de cilindros concêntricos a 25 C. Traçaram-se curvas de escoamento que ajustaram-se ao modelo de Newton, obtendo-se valores de viscosidade variando de 0,04192 a 0,22032 Pa.s. Observou-se um aumento da viscosidade com o aumento do teor de sólidos solúveis dos xaropes. Nos últimos anos, as unidades produtoras de açúcar iniciaram um esforço para minimizar as perdas e maximizar a qualidade dos produtos fabricados. Diante desses fatos, os esforços da indústria e da pesquisa devem ser canalizados no sentido de mensurar, isolar, combater e caracterizar os pontos críticos que afetam a eficiência do processo e da perda de qualidade dos produtos fabricados (CALIARI et al.,2004). A qualidade do açúcar é influenciada por várias das operações unitárias que constituem o seu processamento, em especial, a clarificação do caldo de cana, visto que o desempenho da clarificação também implica nas etapas subseqüentes do processo como: filtração do caldo, coeficiente de transferência de calor no evaporador, cristalização da sacarose e a qualidade e quantidade de açúcar produzido. Além disso, afeta ainda a cor, a morfologia dos cristais, o teor de cinzas e o conteúdo de polissacarídeos no produto final (DOHERTY & RACKEMANN, 2008). O xarope de cana é o produto resultante da evaporação do caldo de cana clarificado ao final desta concentração é chamado de xarope bruto. O xarope bruto segue para o tratamento de flotação. A flotação tem como objetivo a remoção das substâncias que dão cor ao açúcar, bem como dos materiais insolúveis em suspensão (que aparecem como insolúveis no produto final) e das macromoléculas (dextrana) responsáveis pelo aumento da viscosidade do xarope e consequentes problemas nas etapas seguintes de fabricação (MAGALHÃES, 2007).
2 2 A reologia, é definida como a ciência do escoamento e da deformação dos materiais, é uma ciência fundamental e interdisciplinar que tem ganhado importância na área de alimentos. A relação específica que se desenvolve entre a tensão aplicada e a deformação resultante para um determinado material pode ser expressa em termos de suas propriedades reológicas. Assim, esses dois parâmetros mecânicos (a tensão e a deformação) formam a base para a classificação dos materiais sob o ponto de vista reológico em três grupos principais: elásticos, plásticos e viscosos (VÉLEZ-RUIZ, 2002). A reometria é o ramo da reologia que se ocupa com a medição experimental das características reológicas dos materiais como, por exemplo, a viscosidade e as diferenças de tensões normais. Os ensaios reológicos permitem aferir a variação no tempo na tensão e da deformação de um material. Enquanto as propriedades reológicas de um fluido newtoniano são completamente caracterizadas através de uma só medição, no estudo de fluidos não newtonianos é preciso identificar a dependência entre a tensão e a taxa de deformação e, no caso de materiais viscoelásticos, que exibem efeitos de memória é, também, necessário observar o comportamento ao longo de certo período de tempo (CASTRO, 2001). Em um gráfico da tensão de cisalhamento em relação à taxa de cisalhamento, a maioria dos líquidos e dos gases mostra uma relação linear, sendo denominados fluidos Newtonianos. Quando esta relação não é linear os fluidos são denominados não-newtonianos (FELLOWS, 2006). A Figura 1 ilustra a classificação dos fluidos de acordo com suas respectivas curvas de fluxo. Figura 1 - Curvas de escoamento para vários tipos de fluidos. Os modelos reológicos podem relacionar propriedades reológicas de um fluido com grandezas práticas como concentração, temperatura, ph, índice de maturação e etc. Este conhecimento é indispensável no dimensionamento de equipamentos, processos, controle de qualidade e controle de processo. Dessa forma, é de extrema importância a disponibilidade de equações matemáticas que possam relacionar estas grandezas para a realização destas atividades. A equação 1 mostra o modelo de Newton. onde: τ = tensão de cisalhamento; μ = viscosidade; γ = taxa de deformação. (1)
3 3 De acordo com Schramm (2006), os equipamentos que medem as propriedades viscoelásticas de sólidos, semi-sólidos e líquidos são chamados reômetros. O reômetro de cilindros concêntricos é um instrumento muito disponível comercialmente e amplamente utilizado no estudo dos alimentos, como também na indústria de alimentos. Este instrumento se caracteriza por conter a amostra em um cilindro copo e um segundo cilindro imerso no primeiro, de diâmetro menor e coaxial, como mostra a Figura 2. MATERIAL E MÉTODOS As amostras de xarope de cana-de-açúcar foram obtidas em usina situada em Catanduva (SP). O teor de sólidos solúveis ( Brix) das amostras foi medido através de refratômetro digital e a determinação dos parâmetros reológicos efetuada em viscosímetro de Brookfield com geometria de cilindros concêntricos (modelo LVT, Braseq), disponível em empresa do setor de saneantes de Catanduva (SP). No reômetro, utilizou-se o spindle n⁰ 1 (raio = 0,9 cm e altura = 6,5 cm) e as leituras foram feitas a 25⁰C em seis velocidade de rotações. Foram obtidos valores do torque necessário para essas rotações perante a amostra e através deste, obtiveram-se os valores de tensão de cisalhamento e taxa de deformação, traçando-se então, as curvas de escoamento. Testaram-se os modelos reológicos da literatura (Modelo de Newton, Lei de Potência, Herschel Bulkley e Bingham) a fim de determinar à qual modelo o xarope bruto (xarope de entrada) e o xarope flotado (xarope de saída) de cana-de-açúcar melhor se ajustavam. Figura 2 - Esquema de um reômetro de cilindros concêntricos (STEFFE, 1996). Os produtos analisados neste projeto foram os xaropes de cana-de-açúcar bruto que trata-se de um material resultante da evaporação parcial do caldo de cana clarificado (COPERSUCAR, 2001) e o xarope flotado, com teor de sólidos solúveis variando de 56 a 68 Brix. RESULTADOS E DISCUSSÃO As Figuras 3 e 4 mostram os gráficos de tensão de cisalhamento versus taxa de deformação para os xaropes bruto com o menor e maior Brix analisado. Todas as amostras ajustaram-se à equação de Newton, classificando os fluidos analisados, portanto, como fluidos newtonianos.
4 4 Os valores de viscosidade das demais amostras de xarope bruto são apresentados na Tabela 1. 1,6 Tensão de Cisalhamento (N/m 2 ) 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 Xarope E 56,1 brix Modelo de Newton u = ( ± ) Pa.s R 2 = Tensão de Cisalhamento (N/m 2 ) 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 Xarope E 67,6 brix Modelo de Newton u = ( ± ) Pa.s R^2 = Taxa de deformação (1/s -1 ) Taxa de deformação (1/s -1 ) Figura 3 - Gráfico da tensão de cisalhamento versus taxa de deformação para o xarope de cana de açúcar bruto a 56,1 Brix e 25 C com o valor da viscosidade (u) do xarope. Figura 4 - Gráfico da tensão de cisalhamento versus taxa de deformação para o xarope de cana de açúcar bruto a 67,6 Brix e 25 C com o valor da viscosidade (u) do xarope. Os valores de u nos gráficos referem-se às viscosidades (μ) das amostras de xarope bruto a 25 C as quais são apresentadas na Tabela 1, juntamente com a viscosidade da água pura a 25 C, obtida de Foust et al. (2008).
5 5 Brix Viscosidade (Pa.s) Água pura (25 C)* - 0, 001 Xarope de cana 56,1 0, (25 C) 60,7 0, ,1 0, ,4 0, ,6 0, ,6 0, * Fonte: Foust et al., Tabela 1: Viscosidades das amostras de xarope de cana de açúcar bruto a 25 C e diferentes Brix. Tensão de Cisalhamento (N/m 2 ) 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 Xarope S 58,2 brix Modelo de Newton u = ( ± ) Pa.s R 2 = Taxa de deformação (1/s -1 ) As Figuras 5 e 6 mostram os gráficos de tensão de cisalhamento versus taxa de deformação para o xarope flotado com o menor e maior Brix analisado. Os resultados de viscosidade das demais amostras de xarope flotado são apresentados na Tabela 2. Figura 5 - Gráfico da tensão de cisalhamento versus taxa de deformação para o xarope de cana de açúcar flotado a 58,2 Brix e 25 C com o valor da viscosidade (u) do xarope.
6 6 Tensão de Cisalhamento (N/m 2 ) 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 Xarope S 65,4 brix Modelo de Newton u = ( ± ) Pa.s R 2 = Taxa de deformação (1/s -1 ) 65,4 0, Tabela 2: Viscosidades das amostras de xarope de cana de açúcar flotado a 25 C e diferentes Brix. Nota-se que o valor da viscosidade aumenta com o aumento do teor de sólidos solúveis ( Brix) o que já era esperado, pois, de acordo com Rao, 1999, Adorno, 1997 e Cabral, 2000, a viscosidade aumenta com o aumento da concentração de sólidos solúveis ou insolúveis para um determinado fluido, e isto se deve a diversos aspectos, como o aumento do atrito entre as moléculas devido ao aumento da interação molecular, formato das partículas, efeitos eletroviscosos, entre outros, sem existir uma teoria para predizer estes comportamentos devido à complexidade destes sistemas. A Figura 7 mostra a influência do Brix no aumento da viscosidade das amostras. Figura 6 - Gráfico da tensão de cisalhamento versus taxa de deformação para o xarope de cana de açúcar flotado a 65,4 Brix e 25 C com o valor da viscosidade (u) do xarope. Brix Viscosidade (Pa.s) Água pura (25 C) - 0, 001 Xarope de cana (25 C) 58,2 0, ,3 0, ,1 0, ,4 0, ,1 0, ,6 0, 07779
7 7 CONCLUSÕES Através da análise reológico dos xaropes de cana-de-açúcar bruto e flotado, obteve-se que estes tratam-se de fluidos newtonianos, com valores de viscosidade variando de 0,04192 a 0,22032 Pa.s. Tanto o xarope bruto quanto o xarope flotado apresentaram um aumento da viscosidade com um aumento na concentração de sólidos solúveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 7 Curva de Brix versus viscosidade em amostras de xarope de cana bruto e flotado. ADORNO, R.A.C. Reologia de Sucos de Frutas Tropicais: Manga, Maracujá, Mamão e Goiaba. Tese de Mestrado. Faculdade de Engenharia de Alimentos, UNICAMP, Devido a isto, tem-se que o xarope a 25 C também apresentou viscosidade maior que a da água pura a 25 C, a qual se apresenta em torno de 0,001 Pa.s (FOUST et al., 2008). CABRAL, R.A.F. Influência da temperatura e fração de água nos parâmetros reológicos do extrato de café. Tese de Mestrado. Faculdade de Engenharia e Ciência de Alimentos, UNESP, CALIARI, M. JUNIOR, M.S.S. GOMES, R.J.C. Efeito de ondas ultrasônicas sobre a população de Leuconostoc mesenteroides em caldo de cana-de-açúcar. Pesquisa agropecuária tropical, 34 (3): ,
8 8 CASTRO, A. G.; COVAS, J. A. e DIOGO, A. C. Reologia e suas Aplicações Industriais. Ed. Ciência e Técnica Instituto Piaget, Lisboa, 2001, 462 p. COPERSUCAR. Manual de Controle Químico da Fábrica de Açúcar-Cap. 1- Piracicaba Mai/2001. VÉLEZ-RUIZ, J. Relevance of rheological properties in food process engineering. In: WELTI-CHANES, J., BARBOSA-CÁNOVAS, G.V.; AGUILERA, J.M. (ed.), Engineering and Food for the 21st Century, CRC Press, Boca Raton, p DOHERTY, W. O. S.; RACKEMANN, D. W. Stability of sugarcane juice a preliminary assessment of the colorimetric method used for phosphate analysis. Zuckerindustrie, v. 133, n. 1, p , FELLOWS,P.J. Tecnologia do processamento de alimentos: princípios e prática 2. Ed - Porto Alegre: Artmed, 2006, 608 p. FOUST, A.S.; WENZEL, L.A.; CLUMP, C.W.; MAUS, L.; ANDERSEN, L.B. Princípios das Operações Unitárias. 2ª edição, Rio de Janeiro: LTC, MAGALHÃES, A.C.M. Fabricação do Açúcar,2007.Disponível em: < Acesso em: 12 set RAO, M.A., Rheology of fluid and semisolid foods: principles and applications Food Engineering Series, 1a ed., Aspen Publishers, Inc., SCHRAMM, G. Reologia e Reometria,:fundamentos teóricos e práticos. Editora Artliber- São Paulo, 2006, 240 p. STEFFE, J.F. Rheological Methods in Food Process Engineering, 2a ed., Freeman Press, 418p., 1996.
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