Relatório de Estabilidade Financeira
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- Giovanna Brás Canela
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2 Relatório de Estabilidade Financeira Setembro Volume 9 Número 2 ISSN CNPJ /1-5 Relatório de Estabilidade Brasília v. 9 n 2 set. p Financeira
3 Relatório de Estabilidade Financeira Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, Volume 9, nº 2. Controle Geral de Publicações Banco Central do Brasil Secre/Surel/Cogiv SBS Quadra 3 Bloco B Edifício-Sede 1º andar Caixa Postal Brasília DF Telefones: (61) e Fax: (61) editor@bcb.gov.br Convenções Estatísticas... dados desconhecidos. - dados nulos ou indicação de que a rubrica assinalada é inexistente. ou, menor que a metade do último algarismo, à direita, assinalado. * dados preliminares. O hífen (-) entre anos (197-75) indica o total de anos, inclusive o primeiro e o último. A barra (/) utilizada entre anos (197/75) indica a média anual dos anos assinalados, inclusive o primeiro e o último, ou ainda, se especificado no texto, ano-safra, ou ano-convênio. Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos. Não são citadas as fontes dos quadros e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil. Central de Atendimento ao Público Banco Central do Brasil Secre/Surel/Diate SBS Quadra 3 Bloco B Edifício-Sede 2º subsolo Brasília DF DDG: Fax: (61) Internet:
4 Sumário Apresentação 5 Sumário executivo 7 1 Evolução dos mercados financeiros Introdução Mercado financeiro internacional Mercado financeiro nacional Cenário macroeconômico Mercado de ativos 15 2 Sistema bancário Introdução Liquidez Crédito Rentabilidade Solvência Testes de estresse de capital Testes de estresse para risco de mercado Análise de sensibilidade Análise de cenário Testes de estresse para risco de crédito Análise de sensibilidade Análise de cenário ad hoc Análise de cenário por estresse em variáveis macroeconômicas 32 3 Sistema de Pagamento Brasileiro Introdução Desempenho dos sistemas de transferência de fundos Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos, valores mobiliários, derivativos e câmbio 42
5 4 Organização do Sistema Financeiro Nacional Introdução Instituições bancárias Instituições não bancárias Participação estrangeira no Sistema Financeiro Nacional 51 Boxes Regulação do Sistema Financeiro Nacional 33 Reversão das Medidas Anticrise 36 Backtesting de Risco de Crédito Câmaras de compensação e de liquidação de ativos 45 Cooperativas de Crédito e Contas de Liquidação 5 Novos Bancos e Participação Estrangeira Evolução recente 52 Anexo 54 Conceitos e Metodologias 54 Conceitos e Metodologias Estresse de capital 57 Apêndice 59 Administração do Banco Central 6 Siglas 61
6 Apresentação O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) que descreve a dinâmica recente do Sistema Financeiro Nacional (SFN), apresenta resultados de análises da sua resiliência a eventuais choques, bem como revela perspectivas para sua evolução. Esta edição tem como referência os dados do primeiro semestre de 1. No primeiro capítulo Evolução dos mercados financeiros é realizada análise do comportamento dos principais mercados internacionais e seu reflexo sobre o mercado financeiro nacional. O segundo capítulo Sistema bancário apresenta um panorama da exposição a riscos, da rentabilidade e da solvência das instituições e dos conglomerados que constituem o sistema bancário brasileiro. Destacam-se os testes de estresse, que avaliam a capacidade de cada instituição ou conglomerado financeiro de suportar situações adversas, especialmente com respeito à solvência e à liquidez. Ressalta-se ainda que as principais normas publicadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB para regular o funcionamento do SFN, comentadas no quinto capítulo da edição anterior do REF, foram tratadas no segundo capítulo desta edição. No terceiro capítulo Sistema de Pagamentos Brasileiro é descrita a avaliação do BCB acerca da adequação do funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do desempenho dos sistemas de liquidação, os principais desenvolvimentos no período, os resultados da liquidez intradia e dos testes de estresse dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, derivativos e câmbio interbancário. 1/ Neste relatório, foi utilizada a data-base de 3 de junho de. Eventuais divergências em relação à edição anterior e a outras publicações do BCB são decorrentes de retificações de informações prestadas pelas instituições financeiras. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 5
7 O quarto capítulo Organização do Sistema Financeiro Nacional analisa as alterações no controle acionário das instituições financeiras. Este documento está disponível em formato PDF no endereço < Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 6
8 Sumário executivo No primeiro semestre de, a maior incerteza no cenário internacional, deflagrada pela crise da dívida soberana de países da Área do Euro, condicionou o comportamento dos mercados financeiros. Adicionalmente, a lenta recuperação da economia norte-americana e os sinais de desaceleração da economia chinesa, ambos a partir do segundo trimestre do ano, acrescentaram incertezas a respeito da trajetória futura da economia mundial. Os bons fundamentos da economia brasileira permitiram a continuidade do crescimento econômico, com volatilidade relativamente baixa nos mercados de juros e de câmbio, ainda que superior àquela do final do semestre anterior. O ambiente econômico favorável contribuiu para o crescimento de 9% no estoque de crédito do sistema bancário, principalmente em modalidades de menor risco. No caso de pessoas físicas, a expansão teve como fundamento o crescimento da base de clientes, com moderado aumento no comprometimento de renda dos tomadores, mas ainda sem elevação significativa nos riscos da carteira. No crédito a pessoas jurídicas, o crescimento do risco, decorrente do incremento da participação das pequenas e médias empresas, foi acompanhado pelo aumento das taxas de juros. Os ativos líquidos do sistema bancário são suficientes para suportar suas operações, inclusive em situações de estresse. Apesar do crescimento do crédito e da recomposição dos recolhimentos compulsórios, que retornaram aos níveis pré-crise, o sistema bancário obteve fontes de financiamento sem comprometimento da sua liquidez. A solvência das instituições permaneceu em nível confortável. A acumulação de lucros permitiu que o Índice de Basileia (IB) se mantivesse bem acima do mínimo regulamentar, apesar de alteração normativa que restringiu os valores aceitos como capital e do aumento do requerimento de capital em razão do crescimento da carteira. Em todos os cenários de estresse analisados, inclusive em cenários Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 7
9 extremos de deterioração da situação macroeconômica, com a consequente elevação da provisão, o IB permaneceria superior a 11%. A rentabilidade, por sua vez, permaneceu compatível com o histórico do sistema bancário, com forte redução da contribuição do lucro não operacional, o que reforça a percepção de que houve melhora na qualidade do resultado do sistema. Estão atualmente em discussão, no âmbito do Comitê da Basileia, mudanças na regulamentação prudencial que visam estabelecer métricas internacionais de alavancagem e liquidez e melhorar a qualidade do capital. O eventual acolhimento dessas recomendações no Brasil pode gerar pressão sobre a rentabilidade e impactar o índice de solvência das instituições. Contudo, a implementação seria gradual, e, além disso, a boa situação de capitalização e liquidez, a capacidade de adaptação das instituições, bem como a retenção de lucros durante o período de transição para as novas regras, devem minimizar possíveis impactos. O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) funcionou de forma adequada, considerando-se os aspectos de risco e de eficiência. Os backtestings periodicamente realizados para os sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, de derivativos e de câmbio interbancário apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 8
10 Evolução dos mercados financeiros Introdução Os riscos associados aos problemas fiscais de alguns países da Europa condicionaram o comportamento dos mercados financeiros internacionais ao longo do primeiro semestre de, acrescentando dúvidas sobre a recuperação econômica e a resiliência do sistema bancário da Área do Euro a um aprofundamento da crise no mercado de dívida soberana. Adicionalmente, a lenta recuperação da economia norte-americana e os sinais de desaceleração da economia chinesa, ambos a partir do segundo trimestre do ano, geraram incertezas a respeito da trajetória futura da economia mundial. O fortalecimento do nível de atividade econômica no Brasil e o cenário internacional mais conturbado condicionaram a evolução das principais variáveis do mercado financeiro nacional. A preocupação com os efeitos dos expressivos déficits fiscais de economias da Área do Euro gerou um ambiente de aversão a risco que afetou o preço dos ativos no mercado nacional, elevou o risco país e provocou queda no mercado acionário. Pressões inflacionárias no início do ano levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) a iniciar ciclo restritivo de política monetária a partir de abril. Em junho, os preços ao consumidor mantiveram-se estáveis e, em meados de julho, já se observava uma perda expressiva de inclinação na curva de juros. Esse ambiente de continuidade do crescimento econômico e a robustez dos fundamentos macroeconômicos permitiram que a taxa de câmbio não sofresse alterações significativas, apesar do aumento da volatilidade observada em decorrência das incertezas advindas do cenário externo. A despeito desse cenário, teve prosseguimento o alongamento do prazo médio da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi). Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 9
11 1.2 Mercado financeiro internacional Gráfico 1.1 CDS Soberanos (5 anos) Irlanda Espanha Grécia Portugal p.b Nos mercados financeiros, a deterioração ocorrida desde o agravamento dos problemas fiscais ao final de 29 acelerou-se na primeira semana de maio, quando os prêmios dos Credit Default Swaps (CDS) soberanos da Grécia, de Portugal, da Espanha e da Irlanda alcançaram máximos históricos (gráfico 1.1). Esse movimento foi parcialmente estancado após os anúncios do acordo de ajuda à Grécia, patrocinado pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), da criação do Mecanismo de Estabilização Europeu e da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de iniciar compras de títulos soberanos dos países da região. Fonte: Thomson Gráfico 1.2 Bolsas de valores Economias desenvolvidas = Os acontecimentos no mercado de dívida soberana acabaram por contaminar os mercados acionários (gráficos 1.2 e 1.3). O Chicago Board Options Exchange Volatility Index (VIX) que mede a volatilidade implícita de curto prazo do índice S&P5 atingiu, em 2 de maio, o maior valor em 14 meses, 45,8 pontos, ante 19,5 pontos ao final de fevereiro. Ao longo do ano, a volatilidade esteve presente nas principais bolsas de valores, tanto de economias emergentes quanto de desenvolvidas (gráfico 1.4) Fonte: Thomson Japão Nikkei 225 Reino Unido FTSE 1 Alemanha DAX EUA S&P5 Gráfico 1.3 Bolsas de valores Economias emergentes Fonte: Thomson = 1 Coreia Índia México Turquia Caracterizando o aumento de aversão ao risco no período, os rendimentos dos papéis de longo prazo das economias maduras Estados Unidos da América (EUA), Japão, Reino Unido e Alemanha recuaram, indicando que os receios do mercado com relação à sustentabilidade dos déficits ainda estão restritos a um determinado grupo de países do continente europeu (gráfico 1.5). Nos mercados cambiais, o euro recuou frente ao dólar, refletindo as tensões da economia europeia, atingindo, em 7 de junho, a cotação de US$1,19 por euro, a menor desde junho de 26 (gráficos 1.6 e 1.7). O agravamento das tensões fiscais na Área do Euro também resultou, ao longo do segundo trimestre, em maior dificuldade de financiamento para os bancos da região. Em consequência disso, os bancos seguiram aumentando as exigências para concessão de novos empréstimos 2. A exposição de instituições financeiras europeias ao mercado de países com maior risco de default soberano, no momento em que seus balanços ainda apresentam fragilidades decorrentes da recente crise financeira, constituiu, durante o primeiro semestre do ano, o principal risco para a estabilidade financeira global. 2/ The Euro Area Bank Lending Survey, BCE, julho de. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 1
12 Gráfico 1.4 Índice de Volatilidade (VIX) Fonte: Bloomberg p.b Para conter as desconfianças associadas a seu sistema bancário, as autoridades da União Europeia, sob a supervisão do Committee of European Banking Supervisors (CEBS), conduziram testes de estresse em uma amostra de 91 bancos. O resultado desse exercício revelou que apenas sete bancos não teriam capital suficiente para resistir ao cenário mais adverso do teste. No resultado agregado, o pior cenário avaliado nos testes de estresse acarretou perdas de 566 bilhões em e 211, situação em que o capital próprio Tier 1 reduziu-se de 1,3%, em 29 para 9,2% ao final de 211, superior, no entanto, ao patamar mínimo de 6% exigido para o exercício /211. Gráfico 1.5 Retorno de títulos do governo Rendimentos nominais para papéis de 1 anos % a.a. 6, 4,8 3,6 Refletindo esse quadro, a média dos CDS de cinco importantes bancos europeus alcançou 181 pontos-base (p.b.) em 8 de junho, mas recuou para 118 p.b., em 16 de julho, após a divulgação dos resultados dos testes de estresse na Europa. Ressalte-se que, no período, vários bancos da região, sobretudo os sediados em países com menor solvência fiscal, sofreram rebaixamentos nas avaliações feitas pelas principais agências de classificação de risco (gráfico 1.8) Fonte: Bloomberg EUA Alemanha Reino Unido Japão Gráfico 1.6 Moedas de países desenvolvidos Cotações do dólar Fonte: Bloomberg 2,4 1,2, = 1 Libra/Dólar Iene/Dólar Euro/Dólar Nos Estados Unidos, a melhora do desempenho da economia no início do ano contribuiu para que a indústria bancária registrasse um resultado líquido de US$18 bilhões no primeiro trimestre do ano, bem acima do lucro líquido de US$5,6 bilhões apresentado em igual período de No entanto, as tensões originadas na Europa afetaram a indústria bancária do país, e a média dos CDS de cinco importantes bancos alcançou 179 p.b. em 8 de junho, recuando para 136 p.b. em 16 de julho, em movimento semelhante ao observado para os bancos europeus (gráfico 1.9). Indicadores mais recentes apontam que, no segundo trimestre, as maiores instituições financeiras registraram resultados superiores aos esperados pelo mercado. Fato relevante nos EUA foi a aprovação da reforma financeira pelo Congresso. A nova lei estabeleceu a criação de um conselho de reguladores para supervisionar a estabilidade financeira (Financial Stability Oversight Council FSOC), chefiado pelo Secretário do Tesouro, com amplos poderes para monitorar, investigar e avaliar riscos à estabilidade financeira. O FSOC terá poderes para identificar firmas que potencialmente ameacem a estabilidade financeira e submetê-las a uma supervisão mais forte por parte do Federal Reserve (Fed). A lei prevê ainda a possibilidade de liquidação no lugar da falência de instituições financeiras (incluindo corretoras e seguradoras) 3/ Esses valores referem-se às instituições financeiras seguradas pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC). Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 11
13 Gráfico 1.7 Moedas de países emergentes Cotações do dólar = Rand sul-africano/dólar Rublo/Dólar Lira turca/dólar won/dólar Fonte: Bloomberg Gráfico 1.8 CDS 5 anos Prêmios de bancos europeus selecionados 1/ Pontos 21 consideradas sistemicamente importantes. Adicionalmente, o novo instrumento legal aumentou permanentemente o limite de cobertura de depósitos por parte do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) para US$ 25 mil por depositante. Com a nova lei, os mercados de derivativos serão regulados e fiscalizados. Destaque-se, ainda, a criação de uma agência de proteção ao consumidor vinculada ao Fed. Pela reforma, as agências de rating passarão a ser supervisionadas, de forma a evitar conflitos de interesses. Algumas das regras terão impacto sobre a margem de lucro das instituições financeiras, como a limitação de operações de tesouraria e medidas de proteção a investidores que negociam instrumentos financeiros mais complexos, como Asset Backed Securities (ABS). No entanto, a dimensão do impacto da nova regulação sobre a rentabilidade das empresas financeiras norte-americanas ainda é indefinida, o que adiciona incertezas sobre a lucratividade futura do setor Gráfico 1.9 CDS 5 anos Prêmios de bancos americanos selecionados 1/ Fonte: Thomson 1/ Calculado pela média aritmética dos prêmios de CDS de cinco anos dos bancos : HSBC, UBS, Santander, BNP Paribas e Deutsche Bank. Como se trata de amostra não aleatória, pode não refletir o comportamento do sistema financeiro como um todo Pontos Fonte: Thomson 1/ Calculado pela média aritmética dos prêmios de CDS de cinco anos dos bancos Citigroup, Bank of America, JPMorgan, Goldman Sachs e Wells Fargo. Como se trata de amostra não aleatória, pode não refletir o comportamento do sistema financeiro como um todo Mercado financeiro nacional Cenário macroeconômico A evolução das principais variáveis do mercado financeiro nacional refletiu tanto as transformações no cenário internacional quanto a continuidade do processo de evolução favorável da atividade econômica doméstica. Enquanto o ano de 29 foi caracterizado por persistente redução das incertezas o Emergent Markets Bond Index Plus (Embi+) e o Emergent Markets Bond Index Plus Brasil (Embi+Brasil) retornaram aos patamares prevalecentes antes do agravamento da crise financeira global deflagrada com a falência do Banco Lehman Brothers, o primeiro semestre de não apresentou um padrão tão definido. A aversão a risco manteve-se elevada, o que contribuiu para que o Embi+ e o Embi+Brasil exibissem bastante volatilidade. Em 16 de julho, esses indicadores de risco estavam em 314 e 225 pontos, respectivamente 4 (gráfico 1.1). O cenário econômico internacional foi determinante para o comportamento dos mercados de commodities, particularmente o de petróleo. Inicialmente, com a melhora das perspectivas de crescimento econômico global, notadamente a partir de 8 de fevereiro, a cotação do barril tipo Brent apresentou trajetória ascendente e superou 4/ Em um semestre caracterizado pelo rebaixamento da classificação da dívida soberana de diversos países, a agência Fitch revisou de estável para positiva a tendência da classificação do Brasil em moeda estrangeira, em função da maior resiliência da economia brasileira à crise financeira. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 12
14 Gráfico 1.1 Embi+ e Embi+Brasil Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jul 29 Embi+Brasil Fonte: Bloomberg Embi+ Gráfico 1.11 Evolução das taxas de juros Taxa Selic e swap de 3 e 6 meses, 1 ano, 2 e 3 anos Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jul 29 Taxa Selic 3 meses 6 meses 1 ano 2 anos 3 anos Fontes: BM&FBovespa e BCB Pontos Taxa % a.a. Tabela 1.1 Taxas de juros selecionadas % a.a. Data 1 dia 3 meses 6 meses 1 ano 2 anos 3 anos ,65 8,64 8,71 9,12 1,67 11, ,65 8,74 9,21 1,46 11,84 12, ,65 9,23 9,92 1,9 11,75 11, ,65 9,1 9,68 1,68 11,67 11, ,4 9,98 1,86 11,79 12,6 12, ,4 1,43 1,89 11,48 11,96 11, ,15 1,61 11,16 11,88 12,45 12, ,16 1,89 11,9 11,47 11,84 11,94 Fontes: BM&FBovespa e BCB US$88, no início de maio, correspondendo a uma alta de 27%. Em reais, embora com comportamento semelhante, as flutuações nos preços do petróleo foram amortecidas pela apreciação do real, cuja cotação registrou crescimento de 17% na mesma base de comparação. Em meados de julho, as cotações oscilavam moderadamente em torno do patamar de R$133,, o mesmo do início do ano. Internamente, as ações implementadas no âmbito da política monetária, com a redução de 5, p.p. na meta para a taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) entre janeiro e julho de 29, conjuntamente com ações de estímulo fiscal, haviam contribuído para a retomada vigorosa do nível de atividade, particularmente a partir do último trimestre daquele ano. À medida que aumentava o nível de utilização de capacidade instalada e as expectativas para a inflação se aproximavam do centro da meta 5, de 4,5%, cresceram as apostas de que o Banco Central do Brasil (BCB) pudesse antecipar para março de o início do ciclo de aperto monetário. Assim, as taxas de juros de curto prazo elevaram-se, reduzindo a inclinação da curva de juros, pois, concomitantemente, houve redução das taxas nos demais prazos e alongamento da duração das carteiras de títulos de rendimento prefixado por parte de investidores estrangeiros (gráfico 1.11 e tabela 1.1). A decisão pela manutenção da meta para a taxa básica de juros em 8,75% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de março, entretanto, ensejou ajustes pontuais nas taxas de prazos mais curtos, que, em seguida, retomaram a trajetória ascendente. Em abril, as taxas de juros nos prazos mais longos também subiram, devido às revisões em alta das projeções para o crescimento mundial e à divulgação de dados que corroboravam o vigor da atividade interna 6 aumento do emprego, da massa salarial, do crédito 7 e das vendas no comércio varejista. Dessa forma, ao final daquele mês, com o aumento de,75 p.p. na meta para a taxa Selic, a curva de juros apresentou elevação (gráfico 1.12). A partir de maio, o agravamento da crise fiscal na Europa contribuiu para que as taxas de juros de prazos mais longos caíssem, enquanto que as de menor prazo mantiveram a trajetória ascendente, influenciadas pela divulgação de dados indicando a continuidade do crescimento robusto da economia brasileira e a manutenção das expectativas de 5/ As resoluções nº 3.584, de 1º de julho de 28, nº 3.782, de 3 de junho de 29, e nº 3.88, de 22 de junho de, do Conselho Monetário Nacional, fixaram, respectivamente, as metas de inflação para, 211 e 212 em 4,5%, e os intervalos de tolerância em 2, p.p. abaixo e acima da meta. 6/ O Índice de Atividade Econômica do BCB (IBC-Br) aumentou 2,9% no semestre na série dessazonalizada, mantendo-se relativamente estável no segundo trimestre. 7/ No semestre, o estoque de crédito cresceu 8,1% e no acumulado em doze meses, 19,7%. Em junho, já representava 45,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 13
15 Gráfico 1.12 Curva de juros 9 1 ano 2 anos 3 anos Fontes: BM&FBovespa e BCB Gráfico 1.13 Volatilidade das taxas de juros Gráfico 1.14 IPCA Taxa % a.a. Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai 29 Núcleo IPCA acum. 12 m Meta de inflação Fontes: IBGE e BCB Taxa % a.a. Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jul 29 Curto Médio Longo Fontes: BM&FBovespa e BCB IPCA acum. 12 meses IPCA esp. 12 m suav a.a. (%) 2,5 2, 1,5 1,,5, 5,3 5, 4,8 4,5 4,3 4, inflação acima da trajetória de metas. Entretanto, desde a reunião do Copom de junho 8, a persistência de incertezas no cenário externo, com o arrefecimento das pressões inflacionárias em algumas economias relevantes, e a percepção de riscos decrescentes para a consolidação de um cenário inflacionário benigno suportados por indicadores de atividade mais contemporâneos que sinalizavam uma desaceleração do crescimento no segundo trimestre 9 e a evolução moderada dos preços justificavam um viés de baixa na estrutura a termo das taxas de juros. Embora as taxas de juros de um ano não tenham retomado sua trajetória descendente tão prontamente, como o fizeram as de prazos mais longos, a inclinação da curva de juros voltou a diminuir até meados de julho. A volatilidade das taxas de juros no primeiro semestre de apresentou um padrão errático e ligeiramente ascendente, seguindo-se à queda acentuada registrada em 29. A volatilidade do trecho longo da curva de juros refletiu as incertezas que pairaram sobre a recuperação da economia mundial no período. Sua intensidade foi amortecida pela resiliência da economia brasileira e sua dinâmica de crescimento, ancorada em fatores internos. As taxas de juros de prazos mais curtos, entretanto, tornaramse mais sensíveis com a aproximação do início do ciclo de aperto monetário e exibiram maior volatilidade até o início de maio, com aumento de incerteza no cenário internacional. A partir de então, a maior previsibilidade dos movimentos subsequentes do BCB propiciou o recuo da volatilidade dessas taxas (gráfico 1.13). O Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) apresentou elevações mensais durante todo o primeiro semestre de, influenciado pela aceleração do Índice de Preços por Atacado Disponibilidade Interna (IPA-DI), que se elevou em 6,17% no período. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em doze meses, em ascensão desde novembro de 29, atingiu 5,26% em abril de, recuando depois para 4,84% em junho, ainda acima do centro da meta de 4,5% tal queda sendo influenciada pela taxa de inflação nula daquele mês. As expectativas para a inflação registraram elevação ao longo do primeiro semestre de, atingindo 4,85% em junho de (gráfico 1.14). 8/ O Copom promoveu novo aumento de,75 p.p. na meta para a taxa Selic, perfazendo elevação de 1,5 p.p. no semestre. 9/ O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), subiu de 8,82% em janeiro para 82,92% em abril, recuando para 82,68% em junho na série dessazonalizada. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 14
16 Gráfico 1.15 Taxa de câmbio R$/US$ 2,55 2,35 2,15 1,95 1,75 1,55 Jul 29 Set Nov Jan R$/US$ EUR/US$ Fonte: Bloomberg EUR/US$,85,81,77,73,69,65 Mar Mai Jul Ao longo do primeiro semestre de, a taxa de câmbio real/dólar oscilou em uma faixa relativamente estreita e atingiu 1,78R$/US$ em 16 de julho, correspondendo à desvalorização de 2,1% no período. Perante o euro, entretanto, o real se valorizou 7,8%, resultado do enfraquecimento do euro diante do dólar norte-americano. (gráfico 1.15) A volatilidade observada pode ser atribuída à deterioração fiscal em algumas economias maduras, bem como ao início da reversão da forte expansão da liquidez ocorrida em 29 nas economias emergentes. Nessas condições, houve moderação na demanda por ativos de risco. A partir da segunda semana de junho, com o aumento da incerteza em relação à recuperação da economia norte-americana e com a perspectiva de fortes entradas de recursos, a cotação do dólar perante o real voltou a ceder, enquanto o euro revertia parte da desvalorização perante o dólar acumulada no semestre. Apesar da expressiva queda do saldo da balança comercial 1, o saldo de câmbio contratado subiu US$,7 bilhão, para US$3,4 bilhões, com a entrada de US$12,3 bilhões de recursos no segmento financeiro. De janeiro a maio de, o volume líquido de investimento estrangeiro direto (IED) cresceu 1,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. O BCB, por seu turno, manteve a política de acumulação de reservas internacionais, que totalizaram US$253 bilhões em junho de no conceito de liquidez internacional, representando aumento de 5,9% em seis meses Mercado de ativos O crescimento da economia brasileira, retomado a partir do segundo trimestre de 29, adquiriu maior vigor no segundo semestre do ano e projetou-se sobre o primeiro trimestre de 11, o que ensejou sucessivos aumentos nas previsões de crescimento para este ano 12. A despeito dos incentivos fiscais ainda prevalecentes no primeiro trimestre de, a gradativa recuperação da arrecadação 13 e o anúncio, em maio, de corte adicional de R$1 bilhões nas despesas de custeio do Orçamento de promoveram melhora no resultado fiscal acumulado no semestre, em comparação com igual período de 29. No primeiro 1/ As exportações brasileiras cresceram 12,3% enquanto as importações subiram 35,3%, resultando em piora de U$11,6 bilhões no saldo da balança comercial. 11/ No terceiro e no quarto trimestre de 29, as taxas de crescimento do PIB com ajuste sazonal foram, em relação ao trimestre imediatamente anterior, de 2,2% e 2,3%, respectivamente. No primeiro trimestre de, o PIB cresceu 2,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior e 9,% na comparação inter-anual. 12/ Em junho, as previsões do relatório trimestral de inflação do BCB referentes ao crescimento do PIB para foram revistas de 5,8% para 7,2%, mesmo após a retirada dos incentivos fiscais adotados em / A arrecadação da Receita Federal no primeiro semestre de, de R$379,5 bilhões, cresceu 12,48% na comparação com o primeiro semestre de 29. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 15
17 semestre de, o superávit primário do setor público consolidado totalizou R$4,1 bilhões, o equivalente a 2,36% do PIB, enquanto o déficit nominal elevou-se,1 p.p., para 3,2% do PIB 14. A retomada do crescimento da economia nacional contribuiu para consolidar o retorno à normalidade do mercado de títulos públicos, apesar do cenário econômico internacional mais conturbado no segundo trimestre de. Os destaques do semestre foram o aumento de 8,4% da DPMFi e as flutuações no saldo das operações compromissadas 15. Influenciada pelas emissões diretas de títulos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em abril e maio, no valor total de R$8, bilhões, a DPMFi alcançou R$1,5 trilhão em junho, período no qual sua composição pouco diferia da observada no encerramento do ano de 29. Ainda assim, a participação dos títulos com rendimento prefixado, após queda de 4 p.p. em janeiro, aumentou 6 p.p. até junho, perfazendo 35% do total da dívida, patamar mais elevado dos últimos dois anos. Houve no período alongamento no prazo médio do estoque e das emissões, que encerraram o semestre em 4,8 e 43,1 meses 16, respectivamente. O saldo das operações compromissadas, após ultrapassar R$5 bilhões em janeiro 17, recuou para R$351 bilhões ao final do semestre. Essa flutuação decorreu em grande parte das alterações nos recolhimentos compulsórios 18. O BCB realizou, com frequência diária, operações compromissadas de curtíssimo prazo e, semanalmente, operações compromissadas longas, com prazo de seis meses. No primeiro semestre de, o volume financeiro das operações longas totalizou R$87,1 bilhões, o que representou aumento de 4,6% em relação ao semestre anterior. Ao final de junho, 26,8% do saldo das operações compromissadas eram compostos por operações de seis meses. 14/ Em junho de, no acumulado em doze meses, o superávit primário alcançou R$69,4 bilhões (2,7% do PIB), enquanto o déficit nominal atingiu R$112,2 bilhões (3,35% do PIB). 15/ Ao englobar o saldo em mercado aberto, a dívida cresce 2,2% no semestre. 16/ O prazo médio do estoque subiu,4 mês no semestre e,6 mês em um ano, enquanto que o da emissão aumentou 5,9 e 7,6 meses, respectivamente. 17/ Em 6/1/, o volume atingiu R$547,3 bilhões, maior valor desde o início da série existente na Nota para a Imprensa sobre operações do mercado aberto (dezembro de 1999). 18/ Foram recolhidos R$89 bilhões a partir de 22 de março por conta da exigibilidade adicional, sendo que 58,6% desse aumento resultou da exigência do recolhimento em espécie. A partir de 9 de abril, com o restabelecimento das alíquotas de recolhimento compulsório sobre recursos a prazo aos níveis anteriores à crise, o recolhimento em espécie respondeu por apenas 42,3% do acréscimo de R$57,4 bilhões. Para mais informações sobre as alterações recentes nas alíquotas de depósito compulsório, vide o boxe Reversão das Medidas Anticrise, contido no capítulo 2 deste relatório. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 16
18 No mercado futuro de juros na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa), observou-se aumento no volume diário médio negociado nos prazos de todos os contratos nos intermediários, nos longos e principalmente nos curtos, nos quais o aumento chegou a 21,6% quando comparado o primeiro semestre de com o semestre anterior. A perspectiva do início do ciclo de aperto monetário e as incertezas quanto à sua magnitude e duração acarretaram maior procura pelos contratos de prazos curtos. A participação relativa dos contratos com prazo inferior a seis meses subiu 4,8 p.p. 19, para 42,4% do volume diário médio. No mercado futuro de dólar, o volume médio de contratos negociados tem mostrado recuperação consistente desde dezembro de 28. No primeiro semestre de, a média dos volumes diários mensais subiu 28,8%, para 372 mil contratos, em relação ao segundo semestre de Gráfico 1.16 Índice Bovespa Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jul 29 Fonte: BM&FBovespa Pontos (mil) A evolução do mercado acionário brasileiro mostrou-se bastante errática, contrastando com a contínua valorização registrada em 29. A despeito do elevado nível de atividade e do robusto crescimento do PIB brasileiro, o desempenho do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) ficou condicionado à evolução do cenário internacional. A queda abrupta de 18,9% registrada em abril e maio resultou da crise deflagrada pela incerteza quanto à capacidade de solvência de alguns países europeus. No ano, até 16 de julho, o Ibovespa acumulou perdas de 9,1% em termos nominais e de 11,% em dólar, enquanto o Morgan Stanley Capital International Emerging Markets Index (MSCI EM) 21 recuou 4,1%. O fluxo líquido de investimentos estrangeiros acumulou saldo negativo de R$2,9 bilhões no semestre (gráfico 1.16). 19/ O contrato futuro com vencimento em janeiro de 211 foi o mais negociado e concentrou 3,6% da quantidade diária média dos contratos negociados. 2/ Os investidores não residentes (INR) mantiveram posições compradas de US$2 bilhões de dólares, em média diária, durante o primeiro semestre de. No entanto, no mês de abril, os INR assumiram posições vendidas cuja média chegou a US$3,9 bilhões. 21/ O índice MSCI EM representa o comportamento das bolsas dos países emergentes medido pelo Morgan Stanley. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 17
19 Sistema bancário 2 Gráfico 2.1 Índice de liquidez (média móvel 5 dias) IL por porte Jul Ago Out Dez Fev Abr Ago Out Dez Fev Abr Grande Médio Pequeno Micro Gráfico 2.2 Recolhimentos obrigatórios de instituições financeiras Saldo total Un. R$ bilhões Introdução Em junho de, as instituições do sistema bancário brasileiro 22 detinham R$3,9 trilhões em ativos 23 e uma carteira de crédito no país de R$1,33 trilhão, que representavam, respectivamente, 85% e 86% do total desses itens no Sistema Financeiro Nacional (SFN) 24. Em relação ao semestre anterior, houve crescimento de 12% nos ativos e de 9% no estoque de crédito. O crescimento do crédito e a baixa para prejuízo de créditos de difícil recuperação melhoraram os indicadores de qualidade da carteira. As provisões têm sido suficientes para cobrir as perdas esperadas, bem como os créditos baixados a prejuízo nos doze meses seguintes à constituição da provisão. Contudo, o alongamento da carteira tem resultado em maior necessidade de provisão à medida que a carteira envelhece. 28 Set Dez Mar 29 Set Dez Mar A expansão do crédito para pessoas físicas em modalidades de menor risco e o aumento dos prazos médios refletiram em crescimento moderado do comprometimento da renda dos tomadores, sem, portanto, elevação significativa no risco da carteira dos bancos. No crédito a pessoas jurídicas, o crescimento do risco, decorrente do aumento da participação das pequenas e médias empresas, foi acompanhado pelo crescimento das taxas de juros. 22/ Para efeito deste capítulo, o sistema bancário é definido como o conjunto de instituições do tipo banco comercial, banco múltiplo, caixa econômica e banco de investimento e pelos conglomerados financeiros compostos ao menos por uma dessas instituições. Os bancos de desenvolvimento não estão incluídos nas análises. 23/ Ativos totais menos intermediação. Conceito utilizado no relatório dos cinquenta maiores bancos e o consolidado do SFN, disponível no sítio do BCB. Ao longo deste capítulo, são utilizadas variáveis com ajustes, como eliminações, reclassificações e balanceamentos, os quais são detalhados no anexo Conceitos e Metodologias. Os ajustes visam adequar as variáveis para fins de análise. 24/ O SFN engloba, além do sistema bancário, as seguintes instituições: bancos de desenvolvimento, cooperativas de crédito, agências de fomento, associações de poupança e empréstimo, companhias hipotecárias, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades corretoras de câmbio, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades de crédito ao microempreendor e sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 18
20 Gráfico 2.3 Saldo das captações 28 Dep. a prazo Dez 29 Obrigações por empréstimos e repasses Dep. a vista Dez Dep. de poupança R$ bilhões Op. compromissadas com títulos priv. Outros Os ativos líquidos mostraram-se suficientes para suportar as operações, inclusive em situações de estresse. Apesar do crescimento do crédito e da maior necessidade de recursos para o cumprimento do recolhimento compulsório, o sistema bancário foi capaz de obter fontes de financiamento sem que houvesse comprometimento de sua liquidez. A solvência das instituições permaneceu em nível confortável. A acumulação de lucros permitiu que o Índice de Basileia (IB) se mantivesse bem acima do mínimo regulamentar, apesar da alteração normativa que impactou a base de capital e do aumento do requerimento de capital em razão da maior exposição ao risco de crédito. Gráfico 2.4 Crescimento do estoque de depósitos a prazo /29= Em todos os cenários de estresse analisados, inclusive em cenários extremos de deterioração da situação macroeconômica, com a consequente elevação da provisão, o IB seria superior a 11%. A rentabilidade, por sua vez, permaneceu compatível com o histórico do sistema bancário, com forte redução da contribuição do lucro não operacional, o que reforça a percepção de que houve melhora na qualidade do resultado do sistema. 29 Ago Out Dez Fev Grandes bancos Abr Demais 85 Gráfico 2.5 Captações de fundos de investimento 1/ e variação de depósitos a prazo Bancos de grande porte Estoque PL (R$ bilhões) 1.1 Fluxos (R$ bilhões) 18 Eventuais mudanças na regulamentação prudencial, decorrentes da adoção dos padrões internacionais em discussão em diversos fóruns mundiais, com objetivo de reduzir a alavancagem e de melhorar a qualidade do capital, podem aumentar a pressão sobre a rentabilidade e impactar o índice de solvência das instituições. Contudo, a boa situação de capitalização e liquidez, a capacidade de adaptação das instituições, bem como a retenção de lucros durante o período de transição para as novas regras devem minimizar esses impactos Jul 29 Set Nov Jan Mar Mai Cap. liq. fundos Variação dep. prazo PL fundos 1/ Exclui fundos de investimentos em cotas de fundos Fonte: BCB e CVM Liquidez As instituições bancárias apresentaram adequada liquidez ao longo de todo o semestre. O índice de liquidez do sistema, medido pelos ativos líquidos (Liquidez Total LT) em relação à necessidade estimada de liquidez (NEL) em situações de crise 25, manteve-se em nível elevado, o que demonstra a capacidade de suportar situações de estresse de mercado (gráfico 2.1) / Ver anexo Conceitos e Metodologias sobre o cálculo do índice de liquidez, neste relatório. 26/ Essa métrica é similar ao Liquidity Coverage Ratio atualmente em discussão pelo Bank for International Settlements (BIS). Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 19
21 Gráfico 2.6 Taxas de remuneração dos depósitos a prazo Taxa média mensal dos CDBs 29 Ago Out Dez Fev Grandes bancos Abr Gráfico 2.7 Estoque de DPGE e depósitos a prazo tradicionais IFs que emitiram DPGE Jan 29 Mar Mai Jul Set Nov Jan Dep. prazo tradicionais Mar Gráfico 2.8 Sustentabilidade do crescimento da carteira de crédito Demais % CDI R$ bilhões DPGE % A eliminação, entre março e abril de, de parte das medidas de flexibilização do recolhimento compulsório fez com que a liquidez das instituições, sobretudo as de grande porte, retornasse aos valores pré-crise financeira de 28 (ver boxe Reversão das Medidas Anti-Crise, neste relatório). A redução do excedente de liquidez já era esperada, considerando que, em razão da reversão das medidas e, em menor grau, do aumento da base de depósitos, houve aumento de cerca de R$85 bilhões no montante recolhido em relação a fevereiro de (gráfico 2.2). O saldo total das captações cresceu R$137,7 bilhões 7,9% em razão, principalmente, do aumento de R$5 bilhões das obrigações por empréstimos e repasses, de R$36,5 bilhões das operações compromissadas com títulos privados e de R$22,4 bilhões no montante de depósitos de poupança (gráfico 2.3). A poupança continuou sendo uma opção de investimento atrativa em um cenário de taxas de juros mais baixas. As operações compromissadas com títulos privados foram realizadas, em sua maioria, com lastro em debêntures emitidas por sociedade de arrendamento mercantil integrante do conglomerado emissor de tais valores mobiliários. O aumento das obrigações por empréstimos e repasses pode ser explicado pelo crescimento dos empréstimos do exterior, em razão da maior liquidez internacional, e pela maior disponibilização, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de recursos para repasses. Os depósitos a prazo, por sua vez, aumentaram R$6,5 bilhões, como resultado, por um lado, do aumento de R$24,4 bilhões nos bancos de menor porte e, por outro lado, da redução de R$18 bilhões nos bancos de maior porte (gráfico 2.4). Dez 22 Dez 24 Dez 26 Dez 28 Dez Dez 212 Operações de crédito/captações Dez 214 Dez % 76% 64% 52% 4% A queda nos depósitos a prazo nas instituições de grande porte foi consequência de uma opção por fontes de financiamento que apresentavam menor custo no período, tais como as operações compromissadas com lastro em debêntures. Além disso, os fundos de investimentos administrados por essas instituições apresentaram captações líquidas positivas de R$32,1 bilhões no semestre (gráfico 2.5). Caso necessário, parte desses recursos poderia ter sido captada pelos bancos para compor a base de depósitos, por meio da oferta de taxas mais atrativas. Os bancos de menor porte, por outro lado, são mais dependentes dos depósitos a prazo, razão pela qual pagam taxas mais elevadas (gráfico 2.6). Ressalta-se que as instituições de menor porte estão utilizando menos as captações sob a forma de Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE) cobertos pelo Fundo Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 2
22 Gráfico 2.9 Obrigações por prazo de vencimento R$ bilhões % Gráfico 2.1 Liquidez total em relação aos ativos totais ajustados (ATA) <3 meses 3-12 meses 1-3 anos 3-5 anos 5-15 anos >15 anos Sem vencimento Total % Garantidor de Crédito (FGC). Essa modalidade de depósito foi criada em um momento de incertezas já superado, como demonstra o retorno das captações em depósitos a prazo tradicionais nas instituições que emitiram DPGE (gráfico 2.7). Contudo, um conjunto de instituições, que representa,9% dos ativos totais do sistema bancário, é ainda fortemente dependente dessa fonte de financiamento. O crescimento das captações nesse semestre demonstra a capacidade do sistema bancário para ajustar as fontes de financiamento ao aumento da carteira de crédito e do recolhimento compulsório, sem comprometer a liquidez. Isso corrobora a avaliação de que, no médio prazo, há baixa probabilidade de restrição ao crescimento do crédito por falta de fontes de financiamentos (gráfico 2.8). No longo prazo, outras formas de financiamento podem ganhar importância, como as emissões de títulos lastreados em operações de crédito, cujos estoques têm crescido, embora ainda não sejam significativos. Jul 27 Out Fev 28 Out Fev 29 Set Jan Mai Apesar do aumento do total das captações, observa-se que as instituições financeiras são altamente dependentes de fontes de financiamento de curto prazo. Em junho de, por exemplo, 59% das captações tinham prazo de vencimento inferior a doze meses 27 (gráfico 2.9). Esse fato tem pressionado as instituições a buscar alternativas para alongar os prazos dos passivos, com o objetivo de evitar o descasamento com as operações de crédito de prazos mais longos. Gráfico 2.11 Excedente de liquidez em relação aos ativos totais ajustados (ATA) % Com esse propósito, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou, em fevereiro de, a regulamentação da Letra Financeira (LF), instrumento com vencimento mínimo de dois anos e sem possibilidade de resgate antecipado (ver boxe Regulação do Sistema Financeiro Nacional, neste relatório). Até junho de, o estoque de LF era de cerca de R$6 bilhões, e, embora os valores captados representem um pequeno montante em comparação aos depósitos totais, espera-se que esse instrumento seja mais utilizado à medida que um mercado secundário se desenvolva. Jul 27 Out Fev 28 Mai Set Dez Abr 29 Ago Nov Mar O aumento das concessões de crédito também tem impactado a participação dos ativos líquidos em relação aos ativos totais das instituições financeiras (gráfico 2.1). Embora esse índice tenha apresentado elevação momentânea, em razão das medidas de liberação de compulsório adotadas durante a crise financeira, é possível observar uma tendência de redução ao longo dos anos. 27/ Foram considerados os depósitos, obrigações por operações compromissadas, empréstimos no país e no exterior e repasses do país e do exterior. Os depósitos a vista e poupança foram considerados como tendo vencimento entre três e doze meses. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 21
23 Gráfico 2.12 Passivos internacionais do sistema bancário 1/ Participação no total de passivos patrimoniais % 12 Contudo, o excedente de liquidez, medido como a diferença entre os ativos líquidos (LT) das instituições e a necessidade estimada de liquidez (NEL), em relação aos ativos totais, situa-se em nível elevado (gráfico 2.11). Mar 28 26% 29% 25% 3% 45% 45% Dez 25 Set Dez Mar 29 1/Operações em moeda ou c.om contraparte estrangeira. Gráfico 2.13 Operações de crédito Participação por controle acionário Dez 26 25% 28% 47% Dez 27 24% 3% 21% 36% 2% 37% 46% 43% 42% Dez 28 Set Dez Mar Dez R$ bilhões Outro ponto a destacar é que grande parte dos ativos líquidos são compostos por títulos públicos federais, aceitos irrestritamente pelo BCB em suas operações com o mercado. Ademais, a dependência do sistema bancário em relação às captações externas é baixa, o que o torna menos suscetível à volatilidade do mercado internacional (gráfico 2.12). Esses fatos evidenciam a baixa vulnerabilidade do sistema bancário ao risco de liquidez. Em síntese, constata-se a existência de adequado nível de ativos líquidos no sistema bancário. A eliminação de parte das medidas de liberação de compulsório fez com que a liquidez das instituições retornasse ao patamar pré-crise financeira. O crescimento das concessões de crédito, em prazos cada vez mais longos, refletiu-se na redução da participação dos ativos líquidos no volume total de ativos e no maior descasamento entre ativos e passivos. Apesar disso, o aumento das captações demonstra a capacidade do sistema bancário de obter recursos para financiar a expansão da carteira de crédito. Bancos privados nacionais Bancos públicos Bancos estrangeiros Gráfico 2.14 Crescimento das principais modalidades de crédito Pessoa jurídica /29 = 1 29 Ago Out Dez Fev Total Capital de giro Investimento e aquisição de bens Abr 2.3 Crédito A carteira de crédito atingiu R$1,33 trilhão, com crescimento de 8,7%, ante 7,9% no semestre anterior, o que pode ser explicado pelo maior dinamismo da atividade econômica, que tem impulsionado os investimentos e o consumo (gráfico 2.13). No primeiro semestre de, a carteira das instituições públicas cresceu 12%, a das instituições privadas nacionais, 8,3%, e a das instituições estrangeiras, 3,7%. Essas diferenças no ritmo de crescimento resultaram em aumento da participação relativa das instituições públicas de 1,1 ponto percentual (p.p.) e na redução da participação das instituições privadas nacionais e estrangeiras de, respectivamente,,1 p.p. e 1, p.p. 28. Os empréstimos para pessoas jurídicas aumentaram 8,%, atingindo R$668,1 bilhões 29. O crescimento foi 28/ Considerando todo o SFN, os bancos estrangeiros representam 17,6% do crédito total, os privados nacionais, 38,7%, e os públicos, 43,7%. Destaque para o forte crescimento no crédito dos bancos de desenvolvimento. 29/ Considerando todo o SFN, os empréstimos a pessoas jurídicas cresceram 8,1%. Setembro Relatório de Estabilidade Financeira 22
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