UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
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- Therezinha Ângela Cipriano di Castro
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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O ARQUÉTIPO DA SABEDORIA, A ARTETERAPIA E A INSTITUIÇÃO ESCOLA. Caminhos para a Individuação, Transformação e Cura. Por: Sonia Maria D Araujo Gonçalves Orientador Prof.ª Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2009
2 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O ARQUÉTIPO DA SABEDORIA, A ARTETERAPIA E A INSTITUIÇÃO ESCOLA. Caminhos para a Individuação, Transformação e Cura. Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Arteterapia em Educação e Saúde. Por: Sonia Maria D Araujo Gonçalves
3 3 AGRADECIMENTOS Ao amigo Fernando, símbolo de admiração e que transformou singelas plantinhas em árvores fortes, com frutos doces, que se inclinam, dançam e brincam com o vento; as eternas amigas: Mariza, Sandra e Dulce, pelas palavras de incentivo permanente; a supervisora: Mary Sue pela paciência e dedicação, fazendo brotar pouco a pouco as idéias que estavam escondidas; a Eveline Carraro, que num período de dúvida iluminou o meu pensamento; aos professores, pela gentileza de dividir sua sabedoria; aos colegas de classe, pela companhia alegre, compartilhando momentos únicos; a Maria, pela sua amizade e apoio; aos meus cães Luid e Luan e a calopsita Margarida, pela presença constante, alegrando os meus dias e entretendo o meu trabalho.
4 4 DEDICATÓRIA Dedica- se a minha mãe Rosa Araujo, sempre viva em meu coração e fonte de eterna inspiração, pela sua alegria, tenacidade e carinho permanentes, iluminando com afinco sua energia poderosa de amor incondicional até hoje sobre minha vida...
5 5 RESUMO O novo homem cidadão, mais consciente e pensante, orientado através de uma educação, familiar e institucionalizada diferenciadas, utilizando os pressupostos da psicologia analítica e dos recursos da arteterapia, com uma maneira nova e diferente de se inserir na sociedade, que faz questionamentos, ousa com ética, com responsabilidade e criatividade, terá ferramentas e condições internas, para primeiro transformar- se a si mesmo, e posteriormente, poderá impulsionar as transformações urgentes que a sociedade contemporânea há tanto reclama? Acredita- se que essa questão é viável de tornar- se gradativamente em realidade, na medida em que haja as transformações urgentes no âmbito escolar, sendo recriada uma nova estrutura de ensino, concomitantemente, com a contribuição da psicologia Junguiana e seus pressupostos e juntamente com o uso das técnicas expressivas, que são ferramentas importantes nesse processo. E permeando todo esse caminho há a ativação do arquétipo da sabedoria, que quando aflorado, permite a fluidez e a quietude no coração dos homens, e a conscientização das várias etapas que o ser humano atravessa para chegar a um self estruturado (processo de individuação), que possibilita uma profunda transformação interior e, simultaneamente, promove modificações no seu grupo familiar, na sociedade e por fim no planeta.
6 6 METODOLOGIA O processo de produção do trabalho foi desenvolvido através da leitura de livros, cujas referências bibliográficas encontram- se nas páginas: 70, 71 e 72.
7 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I -- A Abordagem Junguiana 13 CAPÍTULO II -- O Arquétipo da Sabedoria 25 CAPÍTULO III -- Arteterapia 34 CAPÍTULO IV A Instituição Escola 45 CAPÍTULO V Vida, Questões e Pensamentos 59 CONCLUSÃO 67 BIBLIOGRAFIA 71 ÍNDICE 75 FOLHA DE AVALIAÇÃO 77
8 8 INTRODUÇÃO Atualmente as pessoas começam a ter notícias desagradáveis a partir do momento que acordam, através dos meios de comunicação. Mudanças urgentes se fazem necessárias no indivíduo, na sociedade e no planeta. O olhar Junguiano pode servir como meio para efetuar essas transformações, que só poderão desabrochar e terem êxito numa sociedade formada por homens cada vez mais conscientes, criativos e livres, que consigam empreender um diálogo com o inconsciente e este flua junto com o ego, como um grande rio que deságue as suas águas no reconhecimento dos objetivos principais da vida, acordando a intuição e gradativamente o núcleo desconhecido e profundo do self. O homem que consegue acender o seu fósforo pessoal (arquétipo do Velho Sábio) consegue iluminar o seu caminho e auxilia no caminhar dos demais... Empreendendo a sua jornada pessoal, não se deixa manipular com o comportamento de galinhas, se identifica também com o seu lado águia, abre suas grandes asas (Imaginação Ativa) num vôo alto (conhece o centro inconsciente do si mesmo), para o solene cume da montanha (Individuação), além do céu azul (mundo interior e exterior fluindo juntos na mesma direção). A constelação do arquétipo do Velho Sábio combinada com o constante acesso ao conhecimento permite, às vezes, comandar os acontecimentos sincrônicos dos homens e do planeta. A Mulher Subterrânea Guardiã (arquétipo feminino sábio) liga profundamente e com propriedade a vida e a energia da árvore e da mulher, liberando uma grande força vital feminina oriunda da Mãe Terra, que transborda, liberta, fortalece e expande os sentidos, num processo tão profundo, que se evidencia somente na beleza das expressões artísticas,
9 9 incluindo as atividades expressivas com Arteterapia, porque as palavras não dispõem de elementos para expressar. A sabedoria permite a descoberta que o ego e o Self não são a mesma coisa, há a tendência à quietude do ego e o aprimoramento do Self e favorece que o indivíduo fique em contato mais profundo com a própria psique e com a psique das outras pessoas. Ela também possibilita a percepção da multiplicidade de personagens internos (arquétipos). Conforme os homens percebem mais claramente e ficam gradativamente conscientes da sua condição de criaturas uni dimensionadas, formando combinações ricas de uma grande variedade de arquétipos que fazem parte do inconsciente e, que passeiam e transbordam dentro dele, podem assumir, às vezes, o controle dos seus pensamentos e das suas emoções; e mais podem aprender a identificar esses grandes temas arquetípicos, aceitando- os como características humanas e começam a viver com essas imagens de uma maneira positiva, tendo a possibilidade de unificálos e dialogar com essas personalidades distintas que dividem o mesmo e único corpo e partilham a mesma psique. A percepção do self (si mesmo) permite estar conectado com as suas próprias profundezas e ir alcançando progressivamente o processo de Individuação. A Imaginação Ativa tem um papel fundamental junto com os sonhos e com a Arteterapia nesse diálogo interno. A vida das pessoas é uma história acabada e embalada por uma força superior, sem nenhuma participação do homem? Ou ela é elaborada conscientemente no dia a dia? Como será a escrita desse roteiro? O homem consciente, criativo e livre, que se insere na realidade de uma maneira nova, poderá impulsionar o inconsciente e efetuar as mudanças imprescindíveis nele próprio e na sociedade atual?
10 10 O que significa a denominação Criança Índigo? E Cristal? Qual a sua participação no processo de mudança nos valores da sociedade, da escola e da família? Acredita- se que essas e outras questões de vida são tão fundamentais que deveriam ter um olhar mais inteligente e sensível por parte das instituições governamentais e, principalmente educacionais, e essas conceituações psicológicas e filosóficas deveriam fazer parte integrante da grade do ensino fundamental, e principalmente do secundário, num contexto didático favorável e com planejamento técnico adequado às faixas etárias. A abordagem Junguiana (analítica) constitui- se num instrumento importante para o pensar de muitas questões atuais e junto com a Arteterapia poderão constituir- se de ferramentas, força de poder curativo e transformador nos acontecimentos contemporâneos, como a corrupção, as doenças mentais, os problemas sociais e educacionais, a falta de qualidades morais, entre outros, podendo ser responsável pela construção de uma nova história pessoal e reconstruindo a realidade. É igualmente importante que a Instituição escola se reinvente, assumindo conteúdos e conceitos mais modernos, adequados a um novo contexto de vida, e principalmente abandone velhos e inoperantes planejamentos e ideologias, que permanecem os mesmos há séculos. Disponibilizando aos educando os conteúdos do programa indispensáveis, mas também oferecendo e elaborando um espaço de reflexão, com temas e debates, que viabilizem oportunidades ao educando para aprender a pensar e a refletir sobre os conceitos programáticos, de forma a poder utilizá- los na sua vida, objetivando também a reflexão de assuntos importantes que permeiam a sua vida interior, concomitante com atividades práticas que favoreçam um maior autoconhecimento desses alunos, do seu grupo familiar e da sociedade.
11 11 Acredita- se que ao focar esses conceitos na criança e no adolescente, ajudará a criar indivíduos mais conscientes dos processos de sua vida interior, possibilitando um maior autoconhecimento e, portanto, uma maior liberdade de propósitos, escolhas e decisões, formando indivíduos mais felizes e preparados para as experiências cotidianas. Essas pessoas conseguem também alterar e melhorar o mundo à sua volta, tendo a possibilidade de transformar nesse fluxo, a sociedade contemporânea, principalmente em seus valores éticos, sociais, morais, políticos, religiosos e econômicos. O mundo externo, com a recente disponibilidade de recursos ligados à informática fornece um mundo conectado rapidamente com todos os lugares do planeta e com todas as pessoas simultaneamente, sem qualquer esforço. Mas a grande aventura ainda se constitui na conexão interna. Conseguir se interiorizar e se conectar consigo próprio ainda consiste num processo de aventura, de criatividade, de fé e de coragem que nenhum procedimento tecnológico criado pelo homem consegue substituir esse profundo diálogo com sua essência e a percepção da caminhada. A importante renovação imprescindível na instituição escola deve fluir com essas mudanças internas e externas disponibilizadas, concomitantemente com um novo olhar dos profissionais ligados ao ensino e à saúde, que devem estar comungados principalmente com o arquétipo do Velho Sábio. Será que a instituição escola poderá futuramente ser objeto de total transformação? Construindo um educar mais consciente, considerando os avanços e esclarecimentos da neurobiologia, percebendo as verdadeiras necessidades da vida contemporânea e das profundas demandas do educando, incorporando e ativando, inclusive, o arquétipo do velho sábio com a possibilidade de representar um espaço livre e criativo para desenvolver o conhecimento de qualidade e a auto- reflexão, objetivando a formação de alunos mais felizes e auto- suficientes, disponibilizando qualidade de ensino para todas as classes sociais. Será isso ainda possível?
12 12 Qual será o papel da psicologia, e especificamente, da psicologia analítica, no processo de transformação e adaptação do planeta e das sociedades que nele vivem? Face às várias crises que assolam a política, a economia e as estruturas sociais, que apontam para a necessidade urgente de se construir um futuro voltado para o desabrochar de valores como a solidariedade e a justiça social, formando indivíduos éticos e com comprometimento com o modelo representativo. E, portanto, será que esse novo homem cidadão, mais consciente e pensante, fruto de uma orientação e educação, familiar e institucionalizada, diferenciada, que se insere na realidade de uma maneira nova, isto é, que questiona, ousa com ética e com responsabilidade, e que primeiro transformase a si mesmo, poderá impulsionar as transformações urgentes na sociedade contemporânea? O objetivo do trabalho é promover uma reflexão através da psicologia analítica e, especialmente da arteterapia sobre o potencial de transformação e cura individual e coletiva, traçando um paralelo sobre a importância da modificação da estrutura escolar e descrevendo a essência do arquétipo da sabedoria como elemento para a ampliação da consciência, contribuindo para impulsionar as mudanças necessárias e promover ideais em ações.
13 13 CAPÍTULO I A ABORDAGEM JUNGUIANA A obra de Jung é conhecida há muitas décadas, embora muitos de seus conceitos e teorias não tenham repercutido de maneira significativa no contexto geral da época, ficando restritas aos círculos de seguidores. Ele estava muito além do seu tempo e suas idéias tiveram que aguardar o amadurecimento e o entendimento da sociedade, principalmente a contemporânea, para se destacarem e serem compreendidas. Quase não existe praticamente nenhum campo do conhecimento humano que não tenha sido tema de pesquisa sua, conseguindo reunir e revelar a profundeza da alma (psique) humana. Também pesquisou temas religiosos e místicos para ratificar suas teorias sobre o inconsciente coletivo. Fato importante também constitui- se na publicação da sua autobiografia. Nesse último livro publicado somente depois de sua morte e escrito em parte por Jung e compilado o restante por Anita Jaffé, através de reuniões com ele, corresponde a um ato final de pura coragem e fé, num depoimento impactante. Sua obra remete ao poema de Fernando Pessoa que se destaca: Todo estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria de nossa vida física se agita. [...]. Se eu disser: Há sol nos meus pensamentos ninguém compreenderá que os meus pensamentos são tristes. (PESSOA, Cancioneiro - Nota Preliminar).
14 14 A obra de Jung nunca esteve tão inter-relacionada com o pensar atual, face inclusive ao progresso e descobertas da física quântica. Seus conceitos ainda atuais e sua ousada e globalizante psicologia, centrada e aperfeiçoada basicamente nas suas próprias vivências, pesquisas e descobertas, possibilita o conhecimento das relações internas do individuo, incluindo o desenvolvimento à individuação. Sua trajetória aponta a presença de um homem admirável, que construiu sua vida e sua moradia, na medida em que foi elaborando e construindo, também, um dinâmico caminho para a sua psicologia, identificada não mais apenas com a libido, mas ampliando esse conceito para energia psíquica, onde pode conjugar suas descobertas com a física, ampliando o seu enfoque para além do homem, contextualizando os conceitos de religiosidade, criatividade, nutrição, liberdade e arte, entre outros. Pode- se ter inúmeras conceituações sobre a Psicologia analítica, entretanto Nise (2007) elaborou uma excelente, quando sintetiza que: A obra de Jung é comparável a um organismo vivo que cresce se desenvolve e se transforma simultaneamente com o seu autor (p.20). 1.1 A Psicologia Analítica Na década de sessenta foi caracterizada por ser uma época de interesse mais amplo pela consciência humana e pela exploração do interior, incluindo as experiências inapropriadas do uso de drogas. As pessoas começaram a perceber que essas experiências traziam imagens e símbolos desconhecidos para o consciente do indivíduo. Ficou, nessa oportunidade, evidenciada a necessidade de um novo modelo de psique, que abrangesse novos elementos. A vinda do material inconsciente à superfície é curativa e transformadora, quando acontece dentro do setting terapêutico, em circunstâncias e profissional corretos.
15 15 C. G. Jung (2007) introduziu o importante conceito de inconsciente coletivo através da observação de seus próprios sonhos e adicionando- se os sonhos, as fantasias, e alucinações de seus clientes, ele percebeu que a psique humana tem acesso a imagens e símbolos que são comuns a todos os homens. O inconsciente coletivo é uma parte da psique e é diferente do inconsciente pessoal. Enquanto o inconsciente pessoal é formado de conteúdos que já foram da consciência e saíram dela porque foram reprimidos ou esquecidos; os conteúdos do inconsciente coletivo nunca fizeram parte da consciência porque foram adquiridos através da hereditariedade. Jung descobriu a importância da mitologia, dos contos de fadas, da arte e da religião como fontes de informação sobre o inconsciente coletivo. Jung (op. Cit.) descobriu e denominou outro importante conceito que são os arquétipos, que podem aparecer nos sonhos e nos trabalhos artísticos de indivíduos cuja vida ou a educação nunca haviam conhecido determinadas expressões culturais, fruto de disposições inatas e carregadas de emoções. O aspecto inconsciente de um acontecimento é revelado por meio de sonhos, da Imaginação Ativa ou através de técnicas expressivas, de uma maneira não racional, mas, se revela através de uma imagem que é simbólica. Quando se acredita na existência de uma psique inconsciente, admite- se a existência de duas personalidades dentro do mesmo indivíduo. Certas tribos acreditam que o homem tem várias almas e algumas culturas aceitam que o ser humano é constituído de várias unidades interligadas e isso ratifica que a psique não é unificada. Em determinadas situações pode o indivíduo ser facilmente dominado por seus humores e, às vezes, observa- se que o controle de si mesmo é uma virtude muito difícil e rara. Além de perceber e identificar a presença de imagens internas, o indivíduo deve compreender a linguagem sensorial, e conseguir abstrair as emoções e os pensamentos negativos, agindo com sabedoria para criar e permanecer em harmonia interna e, principalmente, tendo consciência que
16 16 apenas a própria pessoa é responsável pelo desequilíbrio de sua psique. Portanto, o estado de paz interior do indivíduo não pode ser responsabilidade de outra pessoa, porque ninguém, absolutamente ninguém tem esse poder. E, portanto, quando o indivíduo consegue ficar nesse estágio de felicidade e sabedoria interna, ele transmite essa harmonia ao seu grupo social e ela se expande para todo o planeta. 1.2 Os Complexos, os Arquétipos e os Símbolos Todos os fenômenos psíquicos são de natureza energética. Os complexos são nós de energia [...] os arquétipos são núcleos de energia, em estado virtual e os símbolos são máquinas transformadoras de energia (SILVEIRA, 2007, p. 41). Os complexos são os conteúdos do inconsciente pessoal, enquanto os arquétipos são conteúdos do inconsciente coletivo. O arquétipo seria a forma preexistente e padronizada, que já existia na psique coletiva da espécie humana e que se está registrada de maneira definitiva na psique individual do ser humano e compete ao homem como ser único e ao ambiente processar continuamente os conteúdos dessa forma. Esse registro na memória pode ser acessado através das técnicas e recursos como a música, a dança, a escrita, a meditação, a pintura, entre outros. A presença de um conflito favorece o aparecimento do complexo e para que este seja elaborado, é necessário que ocorra uma descarga de emoção que está vinculada a ele e, portanto, o complexo fica visível e se materializa. As atividades expressivas oferecem uma ótima oportunidade para que haja a fluidez dessa descarga. O arquétipo imprime uma forte carga de energia específica (númen) à imagem, e interfere em algumas situações com seus próprios impulsos e
17 17 sentimentos, podendo controlar o ego; e quando funcionam como complexos, modificam as vontades conscientes de maneira bastante perturbadora. Ele pode possuir um lado positivo quando origina em criação, fonte de inspiração e êxtase, e, portanto, resulta em Arte ou, pode ter um aspecto negativo e destruidor, quando se manifesta na forma de uma possessão (psicose) ou fanatismo. Os arquétipos são incontáveis. Os principais arquétipos são: a Grande Mãe, o Pai, a Persona, a Sombra, a Anima e o Animus, o Herói, o Puer aeternus, o Velho Sábio, o Self, entre outros. As estruturas arquetípicas não são formas estáticas, mas energias dinâmicas que se manifestam por meio de impulso, tão espontâneas quanto os instintos. As imagens arquetípicas são tão instintivas quanto à habilidade dos gansos formando um V no seu caminho da imigração. Outra forma conhecida de expressão arquetípica é percebida no mito e nos contos de fadas, e nesses contextos o significado de arquétipo fica mais claro. A energia psíquica do homem flui através dos símbolos, de uma maneira parecida como as águas de um rio fluem e possibilitam a integração da percepção sensorial externa às vivências internas, guiando as ações conforme esses significados e retratando os arquétipos. Na atividade artística, os materiais plásticos emprestam o seu corpo e a sua flexibilidade para que a imagem arquetípica possa tornar- visível, através da consciência dos símbolos, que surgem no ato de criar. E nesse sentido, o arquétipo do artesão, do pintor, do dançarino... com sua sabedoria e intuição, molda delicadamente a materialidade, desenvolvendo a sua obra e desabrochando suas emoções, que estavam escondidas no inconsciente. Os símbolos proporcionam a aproximação do consciente com o inconsciente porque a princípio, quando ainda se apresentam como um
18 18 mistério, proporcionam a estimulação da intuição no homem frente ao desconhecido. Depois, quando se materializam e ficam compreendidos através do pensamento lógico, eles se esvaziam e desaparecem. Os arquétipos só podem ser compreendidos quando relacionados à história própria daquele determinado indivíduo e Jung lembra que arquétipos são imagens ligadas à pessoa através de uma verdadeira ponte de emoções. Ele afirmava que é a partir do mundo das formas arquetípicas que o indivíduo é guiado para determinadas direções, que levam ao caminho único e pessoal na vida, que é o caminho em direção ao processo de individuação. 1.3 O Processo de Individuação. Jung utilizou o termo individuação para definir o processo que o indivíduo realiza durante o decorrer de toda a vida, possibilitando atingir metas e processando sua auto- realização, além de desenvolver todo o seu potencial, favorecendo um maior autoconhecimento e permitindo que o indivíduo desenvolva- se e torne- se auto- sustentável. Ele desperta porque é um processo que acontece de modo consciente. A individuação proporciona a efetiva reconstrução do indivíduo e ele torna- se completo, em direção a uma maior liberdade de escolhas e decisões. Ela é um processo, portanto, de crescimento em busca da essência de cada um. Individuação não significa que a pessoa se isolou do grupo social, porque como ele se sente mais centrado e completo, mais procura o caminho dos valores, interesses e qualidades humanas, possibilitando a união ao grupo humano. A individualização não isola, ela faz a pessoa se conectar. Na fase final do processo de individuação germina a consciência da unidade total que é simbolizado pelo arquétipo do self, que significa o princípio
19 19 da integração. Os arquétipos se relacionam em muitas combinações e possibilitam criar a psique da pessoa. Essa combinação de arquétipos resulta na individuação. A individuação é o movimento em busca da conscientização do self total. Usando os sonhos como modelos, percebemos que a individuação também consiste, em grande parte, em fazer uma síntese das personagens interiores que existem dentro de nós. Individuação não é só tornar- se cônscio desses sistemas de energia interiores, mas encontrar o relacionamento e a unidade entre eles (JOHNSON, 2007, p. 66). No processo de individuação a pessoa consegue identificar a diferença entre os valores e idéias oriundas do próprio Self (si - mesmo), das opiniões originárias do mundo exterior, sendo importante essa capacidade de discernimento, na medida em que pode detectar se está tomando as decisões baseada nas próprias necessidades ou apenas está refletindo o mundo a sua volta, sem verdade ou convicção. Conhecer- se a si próprio desenvolve segurança e permite simultaneamente um maior conhecimento a respeito do mundo e esse processo é um empreendimento para a vida toda. Conhecer- se a si mesmo completamente é uma viagem interna onde o tempo não existe, as emoções se acalmam e há o desabrochar de um novo olhar para o mundo externo, proporcionando equilíbrio, paz interna, aumento da consciência e do poder de decisão, além de outros atributos que harmonizam a vida interiormente. Conhecer- se a si próprio finalmente é poder chegar à varanda interior e contemplar o crescimento e a integração da união do consciente com o inconsciente, aventurando- se a perceber que a vida adquiriu um significado especial e único, além de permitir que a pessoa desenvolva, através do amor e respeito por ela mesma, o amor e a empatia pelo outro ser humano, descobrindo outro sentimento tão em desuso chamado compaixão.
20 20 Enquanto o ego é o centro da consciência, o Self é o centro da consciência e do inconsciente. O desenvolvimento do Self não implica na destruição do ego porque ele ainda continua como centro da consciência, mas agora está submetido ao self. E para que os conteúdos psíquicos fiquem conscientes é preciso haver o diálogo com o ego. Portanto, enquanto a mente consciente está ocupada com as distrações diárias, muitas vezes o inconsciente trabalha com ela ou predomina, podendo assumir o controle. A incorporação dos conteúdos inconscientes é contínua até que a consciência absorva toda a totalidade do self. Portanto, quando o inconsciente e o consciente conseguem dialogar e se concentram em torno do self, a personalidade amadurece e completa- se. E isso permite que aconteça a totalização do ser humano ou sua esferificação. O indivíduo não se constitui mais num ser fragmentado, e guiado pelo ego. O seu mundo interno ampliou- se, podendo abraçar valores que foram cultivados e acumulados pela espécie e ele torna- se um ser completo, e agregando todas as suas dicotomias, abrangendo seus aspectos claros e escuros e convivendo com o diálogo entre consciente e inconsciente. No estágio inicial do processo de individuação (na primeira metade da vida) há o desenvolvimento do ego, porque ele precisa estar suficientemente forte para suportar as enormes transformações oriundas desse processo, principalmente a difícil tarefa de deixar a proteção dos responsáveis e adentrar no mundo. E essa força do ego é disponibilizada para a segunda metade da jornada. Na individuação há a percepção da Persona, os confrontos com a Sombra e com a Anima ou Animus. O indivíduo que não iniciou o processo de individuação é muito inconsciente dele mesmo e do mundo ao seu redor, ele age de um modo instintivo e sempre percebe e compreende que tudo que não está consciente
21 21 nele é reflexo do mundo exterior, e, portanto, projeta essas equivocadas idéias sobre as outras pessoas, culpando- as e não percebendo, por desconhecer as projeções do seu próprio inconsciente, que essas idéias são fruto dele mesmo. Na meia idade, entretanto, essa distorção fica inviável e quando se olha no espelho percebe- se que o inimigo é o próprio indivíduo porque há o diálogo entre a pessoa e a sombra. Esse encontro com as qualidades inferiores é muito difícil, mas possibilita que essa projeção sobre os outros comece a diminuir. E são essas constatações de encontros com os sentimentos difíceis como a raiva, o ciúme, o egoísmo, etc. que possibilitam melhorar e tornar verdadeiros os relacionamentos da pessoa, buscando a cura dela mesma e o melhoramento do mundo, permitindo um viver com mais responsabilidade e sinceridade. As mãos modelam a argila, dando lhe muitas formas diferentes, as mãos vão modelando e libertando as esculturas já existentes, embora ocultas ao olhar comum. Assim, também, no processo de individuação, a pessoa tem que desejar ser remodelada, entregando- se inteiramente e profundamente nesse difícil processo, onde serão removidas várias camadas de material, aonde vão se esculpindo escolhas, e revelando a sua verdadeira natureza, o seu verdadeiro eu. São necessárias coragem e fé para empreender essas transformações, porque senão corre- se o risco de terminar os dias sem tomar conhecimento da sua verdadeira essência. Coragem e fé para visitar e conhecer as profundezas do seu interior, contemplando e reconhecendo o mapeamento das suas subidas e descidas (montanhas e vales), tentando conhecer seus medos e sua sombra, como fez o personagem Dante, da Divina Comédia. A sua viagem interna o levou até as profundezas do inferno, mas também possibilitou uma conexão com o espírito, com fontes importantes que ele desconhecia. E esse confronto entre consciente e inconsciente produz o alargamento do mundo interior, que, como já foi descrito, passa a ter como centro dessa personalidade o self e não mais o ego. Portanto, até chegar ao si mesmo ou self a pessoa tem que passar por muitas etapas: a inocência da
22 22 infância, a soberania do ego e o seu declínio para poder florescer o self, que como já foi definido, representa a fluência do consciente com o inconsciente. Se o indivíduo deixar- se levar seriamente ao processo de individuação, ele adquire uma orientação interna nova e, portanto, isso significa também um olhar diferente para observar, refletir e remodelar os acontecimentos da vida diária. Como é um processo aonde o indivíduo pouco a pouco vai se aprofundando, ele é um caminho que é permanentemente aperfeiçoado visto que a realização plena do ser humano deve ser algo que se encontra na fronteira do infinito... O Self, entre outras formas, pode assumir, muitas vezes, a forma de um Velho homem Sábio e pode representar uma compreensão superior, além de se constituir em elemento de rumo interno. 1.4 Sincronicidade Um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com o estado psíquico ordinário. (JUNG, 2007, p.23) A sincronicidade ou coincidência significativa tem sido objeto de inúmeras dúvidas desde o século passado, e está relacionada tanto à psicologia quanto à física quântica. O fenômeno da sincronicidade é consequência da presença de uma imagem inconsciente que penetra na consciência de maneira direta ou indireta, ou seja, de modo simbólico, e esse conteúdo interior subjetivo é observado e associado intuitivamente, e aparece concomitantemente com um evento exterior paralelo. O interessante disso é que parece existir um acontecimento
23 23 preexistente de fatos futuros, que eram desconhecidos completamente pelo indivíduo até aquele momento. As emoções também exercem um papel importante na freqüência das sincronicidades porque elas proporcionam o envolvimento com arquétipos fortes e estes desencadeiam uma também forte série de acontecimentos sincronísticos. Entretanto, também o indivíduo é capaz de perceber a sincronicidade quando fica atento a tudo que faz e através dessa atenção focada expande a sua percepção e entra num estado de receptividade. Acontecimentos que ocorrem do lado de fora estão ligados diretamente ao que o indivíduo pensa, percebe, sente ou sonha e a pessoa vivencia com intensa exclamação essa coincidência significativa. Nesse sentido a sincronicidade proporciona a idéia de que o universo é indivisível e, portanto, necessariamente existe uma forte ligação entre o que está dentro da pessoa, em sua psique, e o que está fora dela, no mundo real, e essa interação acontece sem nenhuma ligação causal e, portanto, fenômenos de sincronicidades sinalizam que um determinado conteúdo percebido pelo indivíduo pode coincidentemente acontecer também no mundo exterior. É interessante como a psique percebe esses acontecimentos antes deles acontecerem de fato no mundo exterior. É quase como se o indivíduo constatasse acontecer concretamente, no mundo de fora, o que antes ele percebeu somente no mundo interior, antecipando e tendo consciência de acontecimentos que ainda se tornarão realidade. Para Jung (2007), o indivíduo tem quatro funções básicas que seriam: pensamento, emoção, sensação e intuição. De um modo geral, a pessoa quase sempre possui apenas uma de modo predominante, mas quando todas são ativadas, elas entram em harmonia e a função sincronicidade é adquirida.
24 24 Sincronicidades constituem, portanto em avisos de acontecimentos importantes que ainda vão ocorrer ou, muitas vezes, funcionam como um sinal que objetivam mostrar e encaminhar os homens para um caminho interior, um caminho para o próprio inconsciente coletivo, para o coração, ou ainda um caminho para a espiritualidade... Os sinais de sincronicidade ficam mais presentes e tem uma maior frequência na medida em que o indivíduo começa a ficar mais consciente deles e de como o inconsciente coletivo é percebido. Esses sinais sincronísticos quase sempre acompanham as fases mais difíceis do processo de individuação. Conforme Jung (2006) relata, face inclusive, seus estudos sobre o I Ching (I Ging), que constitui- se num método oracular oriental que pressupõe que existe uma correlação sincronística entre o estado psíquico de quem pergunta e o hexagrama que fornece a resposta. Não sabia também, de forma alguma (como até hoje, em geral, não se sabe) que o futuro se prepara, muito tempo antes, no inconsciente e que por isso os visionários podem advinhá- lo com anterioridade. (JUNG, 2006, p. 275) Sob esse ponto de vista, acessando o inconsciente, pode- se vislumbrar uma lacuna do tempo um pouco além do presente. Talvez, porque os fenômenos sincronísticos não estão sujeitos aos períodos determinados e conhecidos da consciência: passado, presente e futuro, acontecendo de uma maneira atemporal e em realidades paralelas. Os indivíduos que possuem sensibilidade, percepção e intuição podem perceber com maior facilidade esses sinais de sincronicidade.
25 25 CAPÍTULO II O ARQUÉTIPO DA SABEDORIA O arquétipo da sabedoria é consequência da percepção e construção de um mundo interno, equilibrado, que não é mais considerado desconhecido e, portanto, não necessita mais de mecanismos de defesa contra ele. Quando o indivíduo consegue se conduzir pelos caminhos do self ele aprende a relacionar- se com o mundo subjetivo do si mesmo e aprende a ficar conectado com as suas próprias forças internas e consegue ser guiado pelo processo da individualização. Até alcançar um diálogo com o self, a pessoa passa por situações boas e ruins, e esses caminhos são recheados de experiências novas. Mas. conforme o indivíduo vai sucessivamente constatando essas experiências ruins elas perdem seu caráter traumático, e floresce a Sabedoria como resultante dessas sucessivas descidas nas próprias profundezas, e proporciona ainda a necessidade de despertar a criatividade e a organização do psiquismo do indivíduo. E nesse subir e descer pelos vales e montanhas, a pessoa consegue agora se distanciar e perceber as suas descidas apenas como uma testemunha, e a conseqüência disso é que agora ela já não sofre tanto com os dissabores que, às vezes, a vida oferece. O arquétipo da sabedoria tem poder de transformar o indivíduo, oferecendo a coragem necessária para efetuar a mudança de posturas cristalizadas. Ele leva a pessoa a viver a vida em toda a sua plenitude, porque cada um tem que encontrar o seu caminho e segui- lo. E o arquétipo da
26 26 sabedoria constitui- se em chama de orientação porque ela conhece este caminho que a pessoa deve tomar. O arquétipo da Sabedoria leva o individuo a integrar e harmonizar o interior e o exterior, proporcionando simultaneamente o olhar para dentro, podendo se interiorizar e participar conscientemente da vida interna, e o olhar para fora, adicionando as novas percepções e consolidando o que foi observado no mundo exterior. Ele direciona a pessoa à totalidade, chegando ao self, visto que o Arquétipo do Self incorpora também o Arquétipo da Sabedoria. Essa exploração do mundo interior com o exterior possibilita um grande amadurecimento. Entretanto a idade cronológica não leva necessariamente à aquisição de sabedoria, nem ao aparecimento da maturidade ou a consolidação do Arquétipo do Self. A sabedoria pode ser, muitas vezes, encontrada na criança e no jovem. Existem jovens e crianças muitas vezes mais maduros e centrados que seus parentes com maior idade cronológica. A experiência religiosa tem um papel fundamental nesse processo porque coloca o indivíduo em contato com as realidades mais profundas dentro e fora dele, clareando o significado da sua vida e constituindo- se de fonte para a integração das decisões conscientes e inconscientes. Enfim, o Arquétipo da Sabedoria possibilita que o indivíduo saiba mais dele próprio, da sua história e dos seus mitos pessoais, além de fazer a pessoa ter uma maior consciência de outros valores importantes como a necessidade e a importância da amizade, a consciência do verdadeiro amor e um melhor entendimento sobre temas que remetem ao nascimento e a morte. 2.1 O Arquétipo do Velho Sábio Como já foi mencionado o Self é o centro interior da psique total, e o Arquétipo do Velho sábio uma das muitas personificações do Self. A figura do
27 27 velho sábio pode aparecer em sonhos, como nas visões ligadas à meditação ou através da Imaginação Ativa. O Velho Sábio quando aparece nos mitos ou contos de fadas tem a função de auxiliar o herói, que se encontra em situação difícil e sem resolução de saída para o problema, que só se resolverá através de auto-reflexão profunda ou insight. O conhecimento necessário surge sob a forma de um pensamento personalizado que é a presença do Arquétipo do Velho Sábio, aconselhando quase sempre a tomar um novo caminho. O aparecimento do arquétipo neutraliza a situação emocional e confere clareza ao quem, onde, como e para que, possibilitando um diferente olhar sobre o conhecimento da situação e do objetivo a alcançar, além de deter as informações que o ajudarão a prosseguir, até alcançar este objetivo. O velho representa, por um lado, o saber, o conhecimento, a reflexão, a sabedoria, a inteligência, a intuição, conjugado com qualidades morais como a solicitude e a benevolência. Ele também é o iluminador, o professor ou um psicopombo (guia das almas). E como o arquétipo é um conteúdo autônomo do inconsciente, o conto de fadas concretiza o arquétipo, dando à figura do velho uma aparência de sonho. Como todo o arquétipo possui um lado positivo, favorável, luminoso, mas, também possui outro lado desfavorável e negativo. Essa manifestação negativa pode ser representada pela figura do feiticeiro que por motivos mesquinhos, pratica o mal ou ainda pode ser representado negativamente pela figura da velha, que está associada à sequência: bebe - menina velha morte e pode simbolizar um ego angustiado, em face da degradação da aparência física. A velha vestida de negro pode simbolizar a velhice e morte de acordo com o mistério do destino, ela nos remete à transformação que inicia com o fresco botão de flor que rapidamente desaparecido dá origem ao destino derradeiro da flor murcha... A constelação do arquétipo do velho sábio possibilita a entrada num estágio decisivo de desenvolvimento, porque na presença de algum problema
28 28 externo, o arquétipo do velho sábio é uma boa solução para a situação, porque conforme está internalizada no indivíduo há a possibilidade de conversação com ele sobre a situação e, essa simples presença gera tranquilidade para a resolução do problema ou situação conflitante e possibilita o aumento da autoconfiança. Pode- se exemplificar essa figura com Philemon, que foi o nome que Jung deu a uma das imagens arquetípicas da sabedoria, em sua autobiografia: Lembranças, sonhos e reflexões ele diz: Psicologicamente, Philemon representa um discernimento superior. É uma figura misteriosa para mim. Às vezes me parece quase real, como se fosse uma personalidade viva. Caminhava para cima e para baixo com ele no jardim e, para mim, ele é o que os hindus chamam de guru. (JUNG, 2006, p.219). Ele observava que Philemon ia além da sua própria personalidade e mantinha diálogos animados com ele, e foi nessa ocasião que Jung criou a técnica da Imaginação Ativa. Ao abrir as portas do seu inconsciente, a princípio ele encontrou essa imagem arquetípica em um sonho. Quando Jung (op. Cit.) percebeu Philemon nos sonhos ele não entendeu o significado daquela imagem e o pintou como um homem velho e sábio. Depois de reconhecer essa parte sábia da psique pode-se, portanto, pintá- la ou desenhá- la como fez Jung e, também, tentar conversar com ela, descobrindo os seus ensinamentos de vida assim como perceber outros mistérios da vida pessoal. Lidar com essas imagens: caminhos, guias, gurus desperta na pessoa uma capacidade especial, que é o conhecimento inconsciente ou intuição, objeto de estudo de Jung. Esse conceito não desvaloriza o pensamento racional, porque ele também é importante, mas com o aprimoramento da
29 29 intuição é mais fácil progredir no processo de individuação, porque é um conhecimento percebido mais rapidamente. Além da intuição e do pensamento racional, existe o pensamento adquirido através de imagens primordiais que são os símbolos. É muito importante ter acesso aos símbolos porque eles permitem a volta a um estado de sabedoria ancestral e possibilitam uma grande harmonia, resultando no amadurecimento de uma vida mais plena, independente da mente consciente. A sabedoria Xamã tem como princípio que: as cobras não mordem as pessoas. As cobras mordem o que as pessoas pensam. Nesse sentido, de acordo com essa filosofia primitiva, as vidas são desequilibradas com pensamentos, sentimentos e ações errados e não se podem responsabilizar as outras pessoas pelos problemas que a própria pessoa, de certa forma, contribuiu para gerar. As respostas para os problemas tem que ser encontrados, primeiramente, no interior de cada um, possibilitando as transformações necessárias para o continuar da caminhada mais prazerosa e de mais verdade. Quando o arquétipo do Velho Sábio é vivenciado de uma forma plena, a pessoa pode se confrontar com um grande espelho d água oriundo da natureza, favorecendo a propagação da luz ou chama que serve para clarear a escuridão. Essa luz brilha sobre os outros também, mas acredita- se que não deliberadamente, porque cada um tem que encontrar a sua própria luz interior, que nunca vem pronta e procurar o seu fósforo pessoal que é responsável em acender a iluminação do seu próprio caminho. E nunca entregar essa responsabilidade a alguém porque somente cada pessoa é que detém a sabedoria do que se vive e tem que viver, descobrindo quieto o frescor da noite e do dia no seu interior. A essência desse arquétipo acarreta uma ampliação da consciência, porque quando se entra nessa época de introspecção fica- se livre da opinião de terceiros, podendo o indivíduo se aproximar dele mesmo,
30 30 conseguindo agregar sabedoria de vida, coragem e força para redefinir novos caminhos e, portanto, passando a vida a limpo. Uma força profunda interior arremeça a pessoa para frente, permitindo, passo a passo, transformar metas em ação. Em uma psique equilibrada, o espírito jovem (energia e determinação) e a alma velha e sábia (visão e força do que se deseja) se harmonizam. Ser sábio requer um profundo autoconhecimento e um aprimoramento continuo, enfrentando, às vezes, grandes desastres, decisões incorretas e recomeçando sempre quando necessário, a fim de remodelar seu espírito, coração, mente, corpo e alma, face o florescimento permanente da sabedoria já pré- existente e aperfeiçoando o seu modo de enxergar, ser e viver. 2.2 O Arquétipo da Mulher Sábia Guardiã Subterrânea Na confusão da vida atual, muitas pessoas encontram- se perdidas, e é frequente a sensação literal de sentir a falta de chão sob os seus pés, porque perderam suas raízes e se atém apenas as copas das árvores. Nesse descuido, acabam por não saber mais onde estão as verdadeiras fontes de força secreta, que equilibram, centram, promovem o enraizamento e produzem energia para cada célula, criando e recriando a vida. Conforme elabora Ciornai (2007), os pés tem um importante papel no equilíbrio e sustentação do corpo, assim como estão ligados ao crescimento interno e à vida espiritual. A palavra pé também está muito relacionada à palavra paidor que em grego significa criança. Ciornai (op. Cit.) diz que: [...] gostaria de salientar a importância de o terapeuta cuidar do enraizamento de seu cliente, pois os pés trazem a criança que todo o homem carrega dentro de si. Sabemos que quanto mais trabalhamos os pés e [...] mais e mais os pés vão se enraizando no chão e a energia do
31 31 corpo aos poucos torna- se equilibrada. Além disso, os pés como base do equilíbrio e do movimento do corpo também ajudam a desenvolver o equilíbrio do psiquismo e da espiritualidade, pois se comportam como raízes de nosso ser. (CIORNAI, 2005, vol. 64, p.128). Esses pensamentos remetem aos conceitos elaborados por Clarissa Pinkola Estés (2007) sobre o paralelo da vida da mulher com a vida das árvores. A árvore abriga sob a terra uma árvore oculta, feita de raízes vitais alimentadas por águas invisíveis, e a alma oculta da árvore empurra a energia para cima, para que a sua natureza sábia sobreviva a céu aberto, e o mesmo acontece com a vida de uma mulher. Por debaixo da terra existe também uma mulher oculta (guardiã subterrânea) que cuida para que a fonte profunda ou energia vibrante nunca acabe. Essa mulher oculta empurra esse espírito vital em busca da vida, atravessando o solo e nutrindo o seu eu em céu aberto. Às vezes, assim como essa árvore pode transformar- se em simples caixotes, as mulheres podem viver momentos em que são derrubadas e pensam que é o seu fim. Mas a mulher oculta que vive sob a terra encontra saída, porque as vidas da mulher e da árvore encontram forças e percebem que não precisam ser destruídas e podem florescer em paz. E conforme Estés, com relação à força do arquétipo sábio feminino, ela diz que: Dentro da psique de muitas mulheres existe algo que entende intuitivamente que o conceito de curar está incluído na palavra saúde. Quando ferida ela se torna cheia de cura [...] significa que algum filamento vibrante, gerador de vida, no seu espírito e na sua alma se move persistentemente na direção da própria vida, seja na busca de forças, seja na reconstituição da integridade perdida [...] (ESTÉS, 2007, p. 40).
32 32 Quando ocorre a repressão do ego na superfície, a guardiã subterrânea aumenta a vitalidade, até que a árvore a céu aberto fica tão profunda quanto às suas raízes. Com relação à mulher, como assinala Pinkola (op. Cit.), a mulher subterrânea guardiã ( arquétipo feminino) empurra a força da vida para cima, em direção à mente, ao espírito e ao coração. Se a mulher prestar atenção e se escutar conscientemente brotarão folhas, flores e frutos (filhas) sob a forma de idéias novas e vibrantes por uma vida melhor e com mais significado. Conforme a mulher amadurece, ela expande a visão, a audição e a mente, transformando a menina em uma mulher sábia e vibrante. Esses acontecimentos são tão sutis e profundos que raramente a expressão linguística consegue expressar, e a expressão através das Artes consegue fluir melhor essas imagens. Essa fonte sábia e única de energia empurra as mulheres a desenvolver a intuição e elas, nesse momento, nunca mais encontram obstáculos que as impeçam de fazer qualquer coisa que desejem. Nesse processo de continuamente tornar- se sábia, ela vai se enraizando cada vez mais na vida da alma, e representa a mais pura libertação, porque os ensinamentos são transmitidos para as mais jovens, dando prosseguimento à vida. Através do olhar do arquétipo da mulher sábia, percebe- se que as mulheres de agora são herdeiras daquelas que iluminaram o próprio caminho porque decidiram sempre persistir através da sabedoria de ser como a água que descobre como passar pelos pequenos orifícios, e de com paciência, tranqüilidade e determinação, simplesmente ir diante sempre, até conseguir chegar as suas metas de vida, num permanente caminhar. E agora através do fósforo pessoal pode- se acender a chama a partir do delas. Considera- se que esse arquétipo de sabedoria é uma importante como contribuição no papel mais atuante da mulher no cenário social, possibilitando expandir suas potencialidades internas, e contribuindo com um desempenho mais assertivo no plano social, principalmente na área de trabalho,
33 33 considerando os anos de atraso cultural e social enfrentado por elas no contexto histórico. Assim como tradicionalmente existe a figura literal da avó, que se apaixona pelos netos, existe mulheres que geram idéias, outras transbordam trabalhando com a sua Arte. O arquétipo da mulher sábia tem como objetivo primordial viver a vida plenamente, não de acordo com o querer dos outros, mas viver sob o domínio do livre arbítrio, viver de forma plena e verdadeira, e oferecendo que as pessoas ao seu redor se inspirem e desfrutem desse viver verdadeiro, vibrando junto. Quando a pessoa percebe todo o seu potencial, onde o consciente e inconsciente fluem harmoniosamente, ela encontra- se na obrigação de realizá- lo de forma plena. Esse momento normalmente coincide com o desenvolvimento do seu potencial para atividades artísticas. Viver em plenitude, conforme as suas capacidades é uma arte, a arte criativa.
34 34 CAPÍTULO III ARTETERAPIA Definir Arteterapia envolve muito dos pressupostos da psicologia analítica (Junguiana) e remete inevitavelmente ao maravilhoso trabalho de Nise da Silveira. Psiquiatra pioneira que revolucionou os métodos de atendimento ao portador de distúrbios mentais no Brasil, utilizando- se dos conteúdos da psicologia Junguiana. Ela criou no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro, uma Oficina Terapêutica Ocupacional, organizado para aliviar a dor dos pacientes mentais, principalmente esquizofrênicos, que na prática eram isolados e abandonados, sem a ajuda de nenhum tratamento expressivo. Atualmente esse centro deu origem ao Museu do Inconsciente. Como formas de tratamento, nos ateliês terapêuticos, os pacientes podem desenvolver trabalhos manuais e atividades expressivas como: pintura, música, dança, modelagem e teatro, etc. Ela transformou todo o trabalho que vinha sendo realizado nesta área e promoveu um novo olhar profissional sobre o paciente, trazendo a arte e as técnicas expressivas para o centro do trabalho terapêutico. Atualmente a arteterapia conseguiu ampliar o seu campo de atuação e promove o seu benefício a outros grupos como os: dependentes químicos, pacientes com programa de diálise crônica, pacientes com HIV, câncer, para portadores de paralisia cerebral, crianças em habilitação em enfermarias, entre outros.
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