28 de Março 2012 Contencioso de Cobrança
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- Esther Araújo Bentes
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1 Entra em vigor amanhã, dia 29 de Março de 2012, a Lei n.º 7/2012, de 13 de Fevereiro, que procede à alteração e republicação do Regulamento das Custas Processuais. Desde a entrada em vigor do actual Regulamento das Custas Processuais, em Abril de 2009, foram muitas as críticas ao novo sistema, o que motivou diversas alterações legislativas, mais ou menos profundas e que culminam com este novo diploma legal. OBJECTIVOS DA REFORMA As alterações agora aprovadas têm como objectivos: Uniformizar o sistema das custas judiciais: pretende-se evitar a coexistência de regras diferentes conforme a data do processo, bem como minimizar as divergências de interpretação; Desincentivar a litigância de má fé: aumentando os respectivos montantes mínimo e máximo; Reduzir as pendências processuais: tal como imposto pelo Memorando de Entendimento acordado entre Portugal e a Troika 1. Algumas das soluções encontradas passam pelo regresso a dispositivos que já vigoraram no nosso ordenamento jurídico, tais como a bipartição do pagamento da taxa de justiça ou a dispensa do pagamento de custas em processos pendentes, de forma a incentivar a extinção da instância em processos mais antigos. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES Âmbito de aplicação Passa a prever-se expressamente a aplicação do Regulamento das Custas Processuais aos procedimentos de injunção, dissipando-se assim algumas dúvidas que vinham surgindo. Assim, mesmo que a parte vencida esteja isenta do pagamento de custas, não está dispensada de pagar custas de parte, a menos que se demonstre a insuficiência económica nos termos da lei do apoio judiciário. Isenções Taxa de justiça Para além de várias alterações e esclarecimentos ao elenco das isenções (relativamente a partidos, trabalhadores, agentes das forças de segurança, etc.), estabelece-se que estas não abrangem os reembolsos à parte vencedora a título de custas de parte. É mantido o valor da Unidade de Conta (UC) em 102, Cf. capítulo 7.2 do Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica, disponível aqui. 1/5
2 Momento do pagamento Estabelece-se o pagamento da taxa de justiça em duas prestações: A primeira (que em alguns casos é a única) prestação da taxa de justiça é devida até ao momento da prática do acto processual a ela sujeito; A segunda prestação da taxa de justiça deve ser paga no prazo de 10 dias a contar da notificação para a audiência final: se não for paga, o tribunal notifica a parte para em 10 dias efectuar o pagamento, acrescido de multa de igual montante no mínimo de 1 UC e no máximo de 10 UC. Falta de pagamento da segunda prestação A persistir a omissão do pagamento até ao dia da audiência final ou da realização de outras diligências probatórias, o tribunal determina a impossibilidade de realização das diligências de prova que tenham sido ou venham a ser requeridas pela parte faltosa. Nos casos em que não haja audiência final, mas em que é obrigatório o pagamento da segunda prestação, esta é incluída na conta de custas. Se for paga a segunda prestação da taxa de justiça, mas não for paga a multa, esta transita com um acréscimo de 50% para a conta de custas e é paga a final. Recorde-se que as multas são sempre pagas pela parte que as motivou, independentemente dos benefícios concedidos pela isenção de custas, apoio judiciário ou vencimento na causa. Dispensa do pagamento da segunda prestação A lei tipifica os casos em que não há lugar ao pagamento da segunda prestação da taxa de justiça. Estes podem ter como fundamento: O tipo de processo (por exemplo, acções de processo civil simplificado, jurisdição de menores, processos de jurisdição voluntária em matéria de direito da família); O fim antecipado do processo (por exemplo, acções sem citação do réu, oposição ou audiência de julgamento, bem como acções que terminem sem oposição ou em que, devido à sua falta, seja proferida sentença ainda que precedida de alegações e ainda acções que terminem antes da designação da data da audiência final); A natureza do processo (acções administrativas especiais em que não haja lugar a audiência pública ou acções em massa suspensas 2, processos emergentes de acidente de trabalho ou de doença profissional terminados na fase contenciosa por decisão condenatória imediata ao exame médico, ou processos tributários, quanto à taxa paga pelo impugnante, em caso de desistência no prazo legal após a revogação parcial do acto tributário impugnado). Em suma, na jurisdição cível a dispensa de pagamento da segunda prestação prende-se com a natureza do processo (no caso da acção de processo civil simplificado), ou com a fase processual (nos casos em que a acção termina sem contraditório ou antes da designação da audiência final). 2. Excepto se o autor requerer a continuação do seu próprio processo. 2/5
3 Dispensa de pagamento prévio Mantém-se a dispensa de pagamento prévio da taxa de justiça para o Estado (englobando esta definição os serviços e organismos ainda que personalizados, as Regiões Autónomas e as autarquias locais), excepto em matéria administrativa contratual e pré-contratual e relativas às relações laborais com os seus funcionários, agentes e trabalhadores. Tal como ocorria antes da entrada em vigor do Regulamento das Custas Processuais, as partes estão também dispensadas de pagamento prévio nas acções sobre o estado das pessoas (por exemplo, divórcios) e nos processos de jurisdição de menores. As partes dispensadas do pagamento prévio de taxa de justiça são notificadas, conjuntamente com a decisão da causa principal, para pagar no prazo de 10 dias. Deve ter-se em conta que este pagamento é devido independentemente de condenação ou da recorribilidade da decisão, nos termos gerais. Recursos No recurso de decisões jurisdicionais, a apresentação de contra-alegações volta a pagar taxa de justiça. De notar que a taxa de justiça nos recursos continua a ser metade do valor normal, excepto no caso dos processos de expropriação. Procedimento europeu de injunção O novo Regulamento das Custas Processuais passa a prever expressamente a sua aplicação ao procedimento europeu de injunção de pagamento (criado pelo Regulamento (CE) n.º 1896/2006 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Dezembro de 2006), sendo o valor da respectiva taxa de justiça o dobro do das injunções nacionais. É igualmente aplicável quando o referido procedimento seguir como acção. Encargos Os encargos são os pagamentos devidos ao Estado pelo reembolso de diversos tipos de despesas (tais como os custos com o apoio judiciário, as diligências efectuadas pelas forças de segurança, os pagamentos devidos a quaisquer entidades pela produção ou entrega de documentos, as compensações devidas a testemunhas, a utilização de depósitos públicos, etc.). Os encargos devem ser pagos pela parte requerente ou interessada imediatamente ou em 10 dias a contar da notificação do despacho que ordene a diligência ou marque o julgamento. A falta de pagamento tem como consequência a não realização da diligência requerida. Mas se a sua realização ainda for oportuna em razão do tipo de processo e da data marcada a parte que não pagou pode fazê-lo nos cinco dias posteriores, acrescendo uma sanção de valor igual ao montante em falta, com o limite máximo de 3 UC. Refira-se ainda que a parte contrária pode pagar o encargo em falta nos cinco dias posteriores ao termo do prazo referido no parágrafo anterior e, neste caso, não acresce qualquer sanção. 3/5
4 Outra novidade é relativa à retribuição devida aos intervenientes, designadamente peritos, tradutores, intérpretes, consultores técnicos e liquidatários, administradores ou encarregados da venda extrajudicial. Além da remuneração a que têm direito, acrescem as despesas de transporte que se justifiquem, desde que requeridas até ao encerramento da audiência e não tenha sido disponibilizado transporte pelas partes ou pelo tribunal. Estas despesas são fixadas nos mesmos termos que para as testemunhas. Custas de parte Mantém-se o limite imposto para os honorários dos mandatários, mas o mesmo deixa de existir para os honorários do agente de execução. Litigância de má fé Nos casos de condenação por litigância de má fé, a multa é fixada entre 2 UC e 100 UC, vendo este limite máximo um aumento de oitenta UC, nitidamente como medida desencorajadora da má fé processual. Reforma e reclamação O juiz passa a poder ordenar a reforma da conta, oficiosamente. É alargado o prazo para reclamar da conta concedido à parte ou a qualquer interveniente que tenha quantias a receber, de 5 para 10 dias. A reclamação apresentada pelo responsável pelo pagamento deixa de estar sujeita ao depósito imediato de 50% do valor, mas não é admitida segunda reclamação dos interessados sem o depósito das custas em dívida. Deve realçar-se que a reclamação da conta é um incidente, pelo que em caso de indeferimento é devido pagamento a fixar entre 1/2 UC e 5 UC. Pagamento em prestações Flexibiliza-se o número das prestações em que podem ser pagas as custas, podendo o respectivo pagamento ser feito até seis ou até doze prestações mensais, consoante o valor da conta e o tipo de responsável (pessoa singular ou colectiva). O prazo para requerer o pagamento em prestações é o do pagamento voluntário das custas, ou seja, 10 dias. INCENTIVO À EXTINÇÃO DA INSTÂNCIA O artigo 5.º da Lei n.º 7/2012, de 13 de Fevereiro que aprova o novo Regulamento das Custas Processuais estabelece mecanismos de extinção da instância. Tal como aconteceu com alterações legislativas no passado recente, visa-se acabar com processos judiciais sem que tal acarrete o pagamento das custas devidas pela parte que seria responsável. Na prática, esta medida permitirá reduzir a duração média dos processos pendentes, bem como acabar alguns milhares de processos judiciais (em especial, execuções). Assim, há dispensa do pagamento das taxas de justiça e dos encargos devidos por quem praticou o acto que conduziu à extinção da instância, não havendo lugar à restituição do que já tiver sido pago a título de custas nem, salvo motivo justificado, à elaboração da conta. 4/5
5 Esta medida aplica-se aos processos pendentes e às acções que resultem da distribuição de injunções anteriores à publicação da referida lei e que terminem até um ano após a sua entrada em vigor. Isto significa que há dispensa de pagamento para todos os processos pendentes em 13 de Fevereiro de 2012, ou acções resultantes da distribuição de injunções requeridas até esta data, que terminem por extinção da instância (em razão de desistência do pedido, desistência da instância, confissão ou transacção) desde que tal facto ocorra até 29 de Março de entrada em vigor (29 de Março de 2012), bem como aos processos pendentes, mas neste caso com algumas particularidades que pretendem obstar a pagamentos ou restituições motivados pela nova lei, das quais salientamos as seguintes: Se houver lugar ao pagamento da segunda prestação da taxa de justiça (anteriormente designada taxa subsequente) e este ainda não se tenha tornado exigível, o valor é fixado nos termos do novo Regulamento das Custas Processuais, mesmo que seja diferente do da primeira prestação; Deve ter-se em conta que esta regra não obsta ao pagamento da remuneração devida às entidades intervenientes (por exemplo, peritos) e aos agentes de execução a título de despesas e honorários. APLICAÇÃO NO TEMPO Uma das grandes apostas do novo diploma legal é a uniformização do sistema das custas processuais. Os diplomas anteriores, em regra, não se aplicavam aos processos pendentes, o que levava a dúvidas sobre qual o normativo aplicável por parte dos diversos intervenientes judiciários, com consequências na produtividade e segurança do sistema. Assim, o novo Regulamento das Custas Processuais é aplicável a todos os processos iniciados, ou actos praticados, após a sua Nos casos em que foi regularmente efectuado o pagamento da taxa de justiça única, não há lugar ao pagamento da segunda prestação prevista no novo Regulamento das Custas Processuais; No que diz respeito às alterações no âmbito das custas de parte, a nova lei é aplicável a todos os processos pendentes, com excepção daqueles em que a nota discriminativa e justificativa tenha sido remetida à parte responsável em data anterior à sua entrada em vigor. Ainda que alguns aspectos destas alterações possam ser discutíveis, é de louvar a aplicação, em regra, deste novo Regulamento das Custas Processuais a todos os processos, já em andamento ou iniciados após a sua entrada em vigor. Grupo Contencioso de Cobrança. 5/5 Esta Analysis contém informação e opiniões de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para mais informações, por favor contacte-nos através do apc@abreuadvogados.com ABREU ADVOGADOS 2012 ( * ) LISBOA* SEDE PORTO * MADEIRA * LISBOA Av. das Forças Armadas, º Lisboa, Portugal Tel.: (+351) Fax.: (+351) lisboa@abreuadvogados.com Rua S. João de Brito, 605 E - 4º Porto Tel.: (+351) Fax.: (+351) porto@abreuadvogados.com Rua Dr. Brito da Câmara, Funchal Tel.: (+351) Fax.: (+351) madeira@abreuadvogados.com PORTO MADEIRA ANGOLA (EM PARCERIA) MOÇAMBIQUE (EM PARCERIA) CHINA (EM PARCERIA)
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