ADOÇÃO DO POSTPONEMENT EM EMPRESAS PRODUTORAS DE DERIVADOS DE TOMATE
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- Larissa Veiga Rocha
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1 ADOÇÃO DO POSTPONEMENT EM EMPRESAS PRODUTORAS DE DERIVADOS DE TOMATE Karine Araujo Ferreira (UFOP) Rosane Lucia Chicarelli Alcantara (UFSCar) Nesta pesquisa buscou-se investigar a aplicação da estratégia de postponement em empresas produtoras de derivados de tomate, com objetivo de identificar os tipos de postponement adotados por estas empresas, sua implementação e as principaiss mudanças obtidas no processo produtivo após sua adoção. Foram desenvolvidos três estudos de caso exploratórios em empresas produtoras de derivados de tomate, onde foram realizadas entrevistas executivos das áreas de produção e logística, diretamente envolvidos na fabricação e distribuição dos produtos. Dentre os resultados, é possível destacar que ambos os tipos de postponement de tempo e forma foram verificados nas empresas pesquisadas. Com aplicação da estratégia postponement, foi possível também verificar o deslocamento do ponto de desacoplamento e o aumento de atividades executadas sob pedido, o que trouxe impactos positivos para as empresas, tais como: maior possibilidade de customização e atendimento das necessidades dos clientes, processamento do tomate no período de safra e seu armazenamento no período entressafra, aumento do prazo de validade do produto, bem redução de custos operacionais e logísticos. Palavras-chaves: postponement, customização, gestão de operações, empresas produtoras de derivados de tomate.
2 1. Introdução O atual ambiente competitivo coloca cadeias de suprimentos em uma crescente pressão para fornecer produtos e serviços que atendam as necessidades específicas de clientes individuais (WIKNER et al., 2007, BRUN e ZORZINI, 2009). Isto exige uma grande flexibilidade e responsividade das cadeias de suprimentos, a fim de lidar com a complexidade e a incerteza da demanda. Em tal contexto, a capacidade de fornecer produtos de acordo com as necessidades dos clientes, controlando custos é crucial e se torna um desafio. Para Van Hoek et al. (1999), uma maneira para enfrentar este desafio consiste em obter benefícios pela economia de escala para determinados estágios de conformação de produtos, deixando a etapa de diferenciação para o ponto em que a demanda é conhecida. Envolve também permitir que produtos sejam estocados em armazéns centralizados até o momento em que o pedido é realizado. Esta estratégia é conhecida como postponement e consiste em adiar o máximo possível qualquer movimentação e/ ou configuração final de produtos. Assim, o produto não é deslocado até que a localização da demanda (ou ponto de consumo) seja conhecida, ao mesmo tempo em que sua configuração final (customização) só acontece quando as preferências do consumidor são conhecidas (ALDERSON, 1950; VAN HOEK, 2001). Embora a maior discussão e divulgação dessa estratégia tenha ocorrido só recentemente, o postponement não é um conceito novo ou apenas um conceito teórico. O assunto vem sendo estudado de forma descontinuada há décadas. O termo foi introduzido primeiramente na literatura em 1950 (ALDERSON, 1950) e as primeiras experiências utilizando o postponement remontam da década de vinte (CLM, 1995). Nos últimos anos, o presente tema tem despertado interesse de acadêmicos e executivos em diversos países. Trabalhos abordando o conceito postponement podem ser encontrados em setores onde o conceito é extensivamente aplicado, como roupas, confecções, eletrônicos e automotivo. Porém, poucos estudos foram feitos sobre a viabilidade e o uso da teoria do postponement no setor alimentício, onde o conceito ainda é pouco discutido na literatura. O presente artigo apresenta alguns resultados de um estudo realizado em empresas produtoras de derivados de tomate. As empresas analisadas estão entre as maiores empresas produtoras de derivados de tomate no Brasil. O foco do estudo é avaliar como o postponement é adotado nestas empresas. Mais especificamente, os objetivos do estudo são: - discutir e apresentar os tipos de postponement aplicados nas empresas produtoras de derivados de tomate e como são aplicados; - identificar os principais motivadores para aplicação dessa estratégia; - identificar e analisar o processo antes e depois da adoção do postponement. Como a implementação prática do postponement ainda se encontra pouco discutida, principalmente na indústria de alimentos, o alcance destes objetivos são relevantes. Para tanto, o método de pesquisa adotado foi o estudo de caso, realizado em três empresas processadoras de alimentos, particularmente empresas produtoras de derivados de tomate. Esta pesquisa foi conduzida por entrevistas semi-estruturadas, realizadas com os executivos responsáveis pelas áreas da produção ou logística das empresas investigadas. 2
3 Este artigo está estruturado em cinco seções, incluindo o capítulo introdutório. Na seção 2, é apresentada uma síntese da literatura sobre postponement, seguida pela discussão de trabalhos que descrevem sua aplicação na indústria alimentícia (seção3). Os principais resultados dos estudos de caso desenvolvidos nesta pesquisa são expostos na seção 4. Por fim, são apresentadas as considerações finais do trabalho (seção 5), e em seguida, as referências bibliográficas. 2. Práticas de postponement O conceito de postponement tem uma longa história na literatura acadêmica e em aplicações práticas. Inicialmente o conceito foi proposto por Alderson (1950) como uma maneira de mudar a forma, identidade ou lugar de produtos em um momento tão tarde quanto possível dentro dos processos de manufatura e distribuição física. Assim, postergar a movimentação do produto foi denominado de postponement de tempo (time postponement), enquanto a postergação na diferenciação do produto foi denominada de postponement de forma (form postponement). Em 1965, Bucklin agregou mais detalhes ao trabalho de Alderson, estudou limites de aplicação da estratégia e criou o conceito oposto ao de postponement, o Princípio da Especulação (Principle of Speculation). Esse princípio é o inverso do postponement e consiste em finalizar as operações o mais cedo possível no processo de manufatura (BUCKLIN, 1965). Depois de 1965, poucos trabalhos abordaram o assunto, e o tema foi retomado no final da década de 80 por Zinn e Bowersox (1988) que propuseram que o postponement poderia ser separado em cinco diferentes tipos, quatro relacionados com alterações de forma do produto (etiquetagem, embalagem, montagem e manufatura) e o quinto relacionado ao tempo (centralização dos estoques). Além das classificações de Alderson (1950) e Zinn e Bowersox (1988), vários autores têm introduzido categorizações conceituais da estratégia de postponement. Bowersox e Closs (1996) realizam distinção entre postponement de manufatura e postponement logístico. Para estes autores, o postponement de manufatura consiste fabricar um produto base ou padrão em quantidades suficientes para realizar economia de escala, enquanto as características de finalização são adiadas até que os pedidos dos consumidores sejam recebidos. Já o postponement logístico consiste em manter toda linha de produtos já acabados em estoque centralizado. O deslocamento dos estoques é adiado até o recebimento do pedido dos clientes. Van Hoek (1999) define também, além do postponement de forma e tempo, o postponement de lugar. Para ele, o postponement de lugar implica em estocar os produtos acabados em localizações centrais, antes da demanda ocorrer (atrasando a determinação do local); enquanto o postponement de tempo consiste em atrasar a movimentação de produtos finais efetuando-a apenas sob pedido (atrasando a determinação de tempo). Percebe-se que para Van Hoek (1999) o postponement logístico engloba o postponement de tempo e o de lugar, ou seja, a combinação de postponement de tempo e lugar é entendida como postponement logístico. Pagh e Cooper (1998) identificam quatro estratégias genéricas, combinando postponement de manufatura e logístico. Estas incluem: estratégia de especulação plena, estratégia de postponement de manufatura, estratégia de postponement logístico e estratégia de postponement pleno. Yang et al. (2004), Garcia-Dastugue e Lambert (2007) e outros autores de diferentes correntes literárias também propõem outras classificações de postponement, ampliando o leque de possibilidade. Esta diversidade de classificações ocorre, pois ao longo dos anos, o 3
4 postponement passou a ser estudado não somente na literatura de logística e marketing, em que o tema postponement tradicionalmente aparecia, mas também nas áreas correlatas de engenharia, administração de empresas, gestão de operações, projeto do produto e gestão da cadeia de suprimentos. Neste trabalho, adotou-se a classificação original proposta por Alderson (1950), ou seja, buscou-se investigar se as empresas analisadas adotavam o postponement de forma e/ou tempo. Esta classificação foi adotada, pois analisando as diferentes classificações propostas na literatura foi possível verificar muitas delas são apenas um novo rótulo para as classificações de postponement de tempo e de forma propostas originalmente por Alderson (1950). A posição na cadeia de suprimentos onde a customização ocorre é denominado de Customer Order Decoupling Point (CODP - ponto de desacoplamento do pedido do consumidor, ou simplesmente, ponto de desacoplamento), que é o ponto de separação entre o que é produzido para estoque e o que é produzido sob encomenda. Assim, todas as atividades na cadeia de suprimentos executadas depois do CODP são customizadas e etiquetadas no pedido específico do consumidor, enquanto atividades na cadeia de suprimentos executadas antes do CODP são padronizadas (LAMPEL e MINTZBERG, 1996; VAN HOEK, 1997; VAN DONK, 2001; YANG e BURNS, 2003). Na literatura, este ponto pode receber diferentes denominações. Além do já mencionado CODP - Customer Order Decoupling Point, existem autores que o definem apenas como DP (decoupling point - ponto de desacoplamento), ou OPP (order penetration point - ponto de penetração do pedido). Aplicações e pesquisas sobre o postponement podem ser verificadas em diferentes setores industriais, como na indústria de alimentos, foco desta pesquisa. Alguns trabalhos sobre postponement na cadeia de suprimentos alimentícia foram produzidos ao longo dos anos e serão abordados com maiores detalhes na próxima seção. 3. Pesquisas sobre aplicação de postponement em empresas alimentícias Como em muitas outras indústrias, a indústria de alimentos está enfrentando também o desafio da eficiência de custo e da diferenciação de produto, visto que a perisibilidade dos bens faz a entrega rápida uma condição essencial (VAN HOEK,1997). A estratégia de postponement tem se tornado de relevante importância para lidar com esses desafios. Na cadeia de suprimentos da indústria de alimentos, pesquisas prévias têm projetado a viabilidade do postponement. Morehouse e Bowersox (1995) predisseram que no futuro, aproximadamente 50% de todos os estoques (na agroindústria) na cadeia de suprimentos serão mantidos em um estado semi-acabado, esperando por processamento final e empacotamento, baseado nos pedidos dos consumidores. Entretanto, Van Hoek (1999) e Twede et al. (2000) afirmam que a não-modularidade do produto e do processo oferece um desafio especial em aplicar o postponement na indústria de alimento. Apesar das fundamentações teóricas sobre tema, as empresas alimentícias têm começado a executar sistemas de produção postergada somente recentemente. Adicionalmente, poucos trabalhos investigam a adoção do conceito nas empresas alimentícias, onde pode-se destacar os trabalhos de Van Hoek (1999); Van Hoek (1997); Van Donk (2000); Sampaio (2002); Assumpção e Ribeiro (2001) e Wong et al. (2011). Ao estudar empresas alimentícias na Europa, Van Hoek (1999) verificou em quais atividades o postponement é aplicado nas empresas alimentícias, comparando-as com outras indústrias 4
5 (automobilístico, tintas e computadores). Dentre as principais conclusões deste trabalho, o autor destaca que em empresas alimentícias, a aplicação do postponement têm se concentrado principalmente em atividades como rotulagem e embalagem de produtos no estágio final da cadeia de suprimentos. Adicionalmente, o autor destaca que o postponement de manufatura é modestamente aplicado na indústria de alimentos, apesar de exceções como vinho e produção de açúcar. Corroborando com esses resultados, Twede et al. (2000) destacam que o processo de rotulagem tem sido postergado em muitas empresas na indústria de enlatados durante anos. Em outro trabalho, Van Hoek (1997) examina aplicações de manufatura postergada em um produtor de vinho europeu. Com base neste estudo, Van Hoek (1997) elaborou modelos de decisão que ajudam determinar qual o tipo de postponement deve ser adotado conforme as características do produto, processo, tecnológicas e de mercado. Em sua pesquisa sobre aplicação do postponement na indústria alimentícia, Van Donk (2000) analisa quais produtos, famílias ou combinações de produto e mercado podem e devem ser produzidos para estoque e quais devem ser produzidos sob pedido. Outro trabalho que pode ser destacado na indústria de alimentos é o de Assumpção e Ribeiro (2001), que desenvolveram um artigo teórico discutindo a aplicação da estratégia de postponement na relação entre fabricantes de açúcar e empresas processadoras de alimentos. Ao investigar a implementação do postponement em cinco conceituadas empresas de diferentes setores no Brasil, Sampaio (2002) analisa também uma fabricante de bolos e confeitos. Para atender aos desejos variados de seus clientes, essa empresa mantém em todas as lojas (franquias) produtos em estado básico, ou seja, massas que podem ser utilizadas em diversos bolos, assim como coberturas e recheios. Sendo assim, cada cliente pode escolher o bolo que deseja ou a própria loja pode confeccionar bolos extras daqueles que mais foram vendidos, ganhando maior flexibilidade e agilidade. Por fim, cabe destacar Wong et al. (2011) que através de um estudo de caso, avaliam o postponement como uma opção para melhorar o desempenho da cadeia de suprimentos em um produtor de café solúvel. Baseado neste estudo, os autores verificaram que com o atraso nos processos de rotulagem e embalagem, até o conhecimento da demanda dos consumidores, economias de custo significativas foram obtidas. 4. Apresentação dos Resultados A seguir, são apresentados os resultados dos estudos de caso realizados em três empresas produtoras de derivados de tomate. Estas empresas foram denominadas empresas T1, T2 e T3, respectivamente. As empresas T1, T2 e T3 são empresas alimentícias que têm em comum a produção de derivados do tomate (purê, extrato, molho, catchup, entre outros) e estão entre as seis maiores empresas deste segmento no Brasil. As empresas T1 e T2 estão localizadas no interior do estado de São Paulo, e a empresa T3, no interior de Goiás. Na empresa T1, os derivados do tomate constituem a principal parcela dos produtos (70%). Na empresa T2, a proporção é 40% de derivados de tomate e 40% de derivados de goiaba. Já na empresa T3, 30% do total da sua produção é destinada aos derivados de tomate e 40%, aos vegetais em conserva, principalmente, o milho. Como essas empresas têm em comum a produção de derivados de tomate, serão aqui agrupadas e denominadas empresas produtoras de derivados do tomate e a postergação será analisada principalmente na fabricação dos produtos derivados do tomate. 5
6 4.1 Visão geral do postponement e motivos para sua adoção Durante as entrevistas foram solicitadas informações sobre as diferentes estratégias adotadas pelas empresas para responder às demandas de mercado, podendo variar desde uma estratégia de especulação, até um dos diferentes formatos de postponement identificados na literatura. Nas empresas investigadas, a estratégia de postponement é o padrão de resposta à demanda escolhido, sendo observados tanto os tipos de postponement de forma como o de tempo. No caso do postponement de forma, o tomate é pré-processado, transformado em polpa e permanece armazenado no estado semi-acabado até que a demanda seja mais conhecida. Baseado nas especificações de receita e demanda por determinado tipo de produto final (purê, extrato, molho, etc.), essa polpa é então transformada no produto final (derivados do tomate) no momento em que a demanda é conhecida. Esse mesmo processo de postergação ocorre também a partir da atividade de manufatura final para os derivados da goiaba, na empresa T2. Diferentemente de empresas de outros segmentos como tintas ou empresas processadoras de suco de laranja, que o produto semi-acabado é postergado para outros membros da cadeia de suprimentos, para as empresas de derivados de tomate, as atividades geralmente são postergadas nas próprias unidades fabris, ou seja, internamente nas empresas T1, T2 e T3, atrasando somente o momento em que as diferenciações ocorrem. Cabe destacar que a empresa T2 também vende a polpa de tomate e goiaba para outras empresas. Somente neste caso, as atividades de elaboração dos derivados do tomate e goiaba são postergadas para outros membros da cadeia de suprimentos. Adicionalmente, é também importante ressaltar que o postponement de forma pode ser adotado a partir de diferentes atividades para diferentes produtos da organização. Como exemplo, pode-se destacar a empresa T3 que adota o postponement na atividade de manufatura final para o tomate, e na atividade de rotulagem, para os vegetais em conserva, no caso, o milho. Em relação ao postponement de tempo, percebe-se que este ocorre para todos os tipos produtos nas empresas investigadas. Assim, os diferentes tipos de produtos são mantidos nos armazéns localizados nas unidades produtivas das empresas investigadas e são deslocados para seus destinos (distribuidores, CD s, supermercados e demais canais de distribuição) somente após receber o pedido do cliente. Dentre os fatores que motivaram as empresas produtoras de derivados de tomate adotarem o postponement, foram destacados a sazonalidade, marcas e versões do produto, prazo de validade, formas de acondicionamento dos produtos, e os custos de produção e logística (custo de estoque, armazenagem e transporte). No caso da sazonalidade, o postponement representa uma alternativa as empresas produtoras de derivados do tomate, uma vez que as matérias-primas principais (tomate e goiaba) são produtos sazonais e perecíveis. A sazonalidade foi apontada pelas três empresas como principal motivador da estratégia, mas de acordo com os entrevistados das empresas T2 e T3, a inovação tecnológica e novas formas de acondicionamento foram os principais facilitadores que permitiram a mudança do processamento e obtenção da polpa, através de isolamento total desta com o meio ambiente, possibilitando assim, sua conservação por grande período de tempo (até 3 anos). No caso da goiaba, a empresa T2 foi pioneira na tecnologia para processamento da mesma. Anteriormente, a polpa de goiaba era mantida de forma congelada como no processo produtivo da laranja. A empresa mudou e alterou a forma de processamento da goiaba, onde conseguiu manter o produto armazenado em temperatura ambiente com características iguais as do produto congelado. 6
7 Outros fatores destacados pela empresa T3 como principais à aplicação do postponement são as diferentes marcas e versões do produto e o prazo de validade. A empresa T3, por exemplo, além de possuir quatro diferentes marcas, produz com marcas de outros clientes. Isso aumenta a incerteza da demanda, um dos fatores também apontados como um dos principais motivadores da postergação, principalmente no caso do milho, que muitas vezes é produzido e colocado em uma lata sem rótulo. Assim que a demanda por uma determinada marca acontece, o produto recebe então o rótulo daquela marca. Já no caso do prazo de validade do produto, sem a adoção da estratégia, os derivados do tomate poderiam ser estocados pelo período de máximo de dois anos. Com o postponement, a polpa pode ser armazenada por até três anos, e o produto final, após elaborado, pode ser armazenado por mais dois anos, gerando assim, um aumento no ciclo de vida do produto, que passa para cinco anos. Em relação aos custos de produção e logística, os entrevistados das três empresas afirmaram que os custos para processar a polpa e mantê-la na forma concentrada são bem menores que para o produto acabado. Isso porque as condições de armazenagem da polpa, manuseio e as embalagens adotadas para a polpa são bem mais simples do que para o produto final, e o volume ocupado no armazém também é bem menor. Adicionalmente, o risco de obsolescência de armazenar o produto final é bem maior. 4.2 Mudança do processo produtivo com a aplicação de postponement Na Figura 1 é possível visualizar o fluxo produtivo dos produtos derivados do tomate e goiaba com e sem a aplicação do postponement de forma. É importante ressaltar que as atividades apresentadas na figura foram simplificadas para facilitar a visualização. No primeiro caso (sem postponement de forma), a seqüência das atividades é a seguinte: aquisição da matéria-prima, extração da polpa, elaboração dos produtos finais, adição de embalagem, rótulo e estocagem dos produtos. Todas estas atividades são realizadas sob previsão, restando apenas a atividade de distribuição, que não envolve mudança na configuração do produto, para ser realizada sob pedido do cliente. No processo com postponement, somente as atividades de aquisição da matéria-prima, extração e processamento da polpa (produto base), bem como sua estocagem são realizadas sob previsão, sendo postergadas as atividades de manufatura final, adição de embalagem, rótulo e distribuição para o momento que a demanda é mais previsível. Estas últimas são realizadas sob pedido. Dessa forma é possível notar que, com o postponement, as atividades de diferenciação do produto são adiadas e realizadas próximas ao cliente final. Assim, no processo com postponement de forma é possível notar o deslocamento do ponto de desacoplamento, gerando um aumento das atividades realizadas sob pedido, uma vez que as atividades mistura e preparação dos produtos finais derivados do tomate e goiaba (manufatura final, adição de embalagem, rótulo e distribuição) passaram a ser realizadas no momento que a demanda é mais previsível. 7
8 PROCESSO SEM POSTPONEMENT DE FORMA Produzido por previsão Produzido sob pedido Aquisição materiaprima Extração da polpa tomate ou goiaba genéricos Manufatura final (derivados tomate ou goiaba) acabados Adição embalagem / rótulo Estoque Produto final pronto para venda Distribuição CD s e clientes PROCESSO COM POSTPONEMENT DE FORMA Produzido por previsão Produzido sob pedido Aquisição materiaprima Extração da polpa tomate ou goiaba Estoque Produto Semiacabado Manufatura final (derivados tomate ou goiaba) Adição embalagem / rótulo Distribuição CD s e clientes genéricos genéricos acabados prontos para venda FIGURA 1 - Aplicação do postponement de forma na elaboração dos derivados do tomate e goiaba Em relação ao postponement de tempo, na Figura 2, é possível visualizar um aumento das atividades realizadas sob pedido, uma vez que os produtos ficam armazenados em centros de distribuição centralizados e somente seguem para clientes após o conhecimento prévio da demanda. 8
9 PROCESSO SEM POSTPONEMENT DE TEMPO Movimentação por previsão Aquisição matériaprima Extração do produto (tomate, goiaba ou milho) genéricos Manufatura final (derivados tomate ou goiaba) acabados Adição embalagem / rótulo Estoque Produto final pronto para venda Distribuição CD s e clientes PROCESSO COM POSTPONEMENT DE TEMPO Movimentação por previsão Movimentação sob pedido Aquisição matériaprima Extração do produto (tomate, goiaba ou milho) Estoque Produto Semiacabado Manufatura final (derivados tomate/goiaba) Adição embalagem / rótulo Distribuição CD s e clientes genéricos acabados prontos para venda FIGURA 2 - Aplicação do postponement de tempo nas empresas produtoras de derivados de tomate 5. Considerações Finais Este estudo buscou aprofundar a pesquisa sobre postponement, principalmente em empresas da indústria de alimentos, setor onde existem poucas pesquisas e publicações sobre o tema. Baseado nesta investigação, o propósito deste trabalho foi investigar a implementação do postponement em empresas alimentícias. Na pesquisa de campo foi possível verificar que ambos os tipos de postponement de tempo e forma são encontrados nas empresas produtoras de derivados de tomate investigadas, sendo que no caso do postponement de forma, este ocorre principalmente a partir das atividades de manufatura final nas empresas estudadas. Assim, pode-se verificar que embora na literatura Van Hoek (1999) afirme que o postponement de forma (nas atividades de rótulo e embalagem) e o postponement tempo são os principais tipos encontrados nas empresas alimentícias, foi possível verificar na pesquisa de campo que estes não são os únicos tipos de postponement que ocorrem neste setor. Em relação ao estágio da cadeia de suprimentos em que postponement acontece, foi possível verificar que, nas empresas do segmento investigado, este ocorre apenas na própria empresa fabril ou à jusante da cadeia de suprimentos. Dentre os motivos para aplicação do postponement, foi possível destacar a sazonalidade da matéria-prima, marcas e versões do produto, prazo de validade, modernas formas de 9
10 acondicionamento dos produtos, e os custos de produção e logística (custo de estoque, armazenagem e transporte). Com aplicação da estratégia postponement, foi possível também verificar o deslocamento do ponto de desacoplamento e o aumento de atividades executadas sob pedido para a ambas estratégias de postponement de tempo e forma. Dessa forma, a adoção do postponement pelas empresas processadoras de suco de laranja trouxe alguns impactos, dos quais se destacam: maior possibilidade de customização e atendimento das necessidades dos clientes, processamento do tomate e goiaba no período de safra e seu armazenamento no período entressafra, aumento do prazo de validade do produto, bem redução de custos operacionais e logísticos. Referências ALDERSON, W. Marketing efficiency and the principle of postponement. Cost and Profit Outlook, Vol.3 No.4, p , ASSUMPÇÃO, M. R.; RIBEIRO, J. F. Compounding: postponement at processed food. In: 3th INTERNATIONAL CONFERENCE ON AGRI-FOOD CHAIN / NETWORKS ECONOMICS AND MANAGEMENT, Ribeirão Preto, Disponível em: < >. Acesso em: Dec BRUN, A.; ZORZINI, M. Evaluation of product customization strategies through modularization and postponement. International Journal of Production Economics, Vol. 120, p , BUCKLIN, L.P. Postponement, speculation and the structure of distribution channels. Journal of Marketing Research, Vol.2, p , CLM - Council of Logistics Managemen. World class logistics: the challenge of managing continuous change. United State of America: Oak Book, GARCIA-DASTUGUE, S.; LAMBERT, D. Interorganizational time-based postponement in the supply chain. Journal of Business Logistics, Vol.28, No.1, p.57-76, LAMPEL, J.; MINTZBER, G.H. Customizing customization. Sloan Management Review, Vol.38 No.1, p.21-30, MOREHOUSE, J.E.; BOWERSOX, D.J. Supply chain management: logistics for the future. Washington: Food Marketing Institute, PAGH, J.D.; COOPER, M.C. Postponement and speculation strategies: how to choose the right strategy. Journal of Business Logistics, Vol.19, No.2, p.13-32, SAMPAIO, M. O poder estratégico do postponement p. Tese (Doutorado em Administração) - Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, TWEDE, D.; CLARKE, R.H.; TAI, J.A. Packaging postponement: a global packaging strategy. Packaging Technology and Science, Vol.13, p , VAN DONK, D. P. Make to stock or make to order: the decoupling point in the food processing industries. International Journal Production Economics, Vol.69, p , VAN HOEK, R.I. Postponed manufacturing: a case study in the food supply chain. Supply Chain Management, Vol. 2, No.2, p.18-34, Postponement and the reconfiguration challenge for food supply chains. Supply Chain Management, Vol. 4, No.1, p.18-34, The rediscovery of postponement a literature review and directions for research. Journal of Operations Management, Vol. 19, No. 2, p ,
11 VAN HOEK,R.I.; PEELEN, E..; COMANDEUR, H.R Achieving mass customization through postponement: a study of international changes. Journal of Market Focused Management, Vol.3, p , WIKNER, J.; NAIM, M.M.; RUDBERG, M. Exploiting the Order Book for Mass Customized Manufacturing Control Systems With Capacity Limitations, IEEE Transactions on Engineering Management, Vol. 54 No.1, p , WONG, H.; POTTER, A.; NAIM, M. Evaluation of postponement in the soluble coffee supply chain: A case study. International Journal Production Economics, Vol.131, No.1, p , YANG, B.; BURNS, N.D. Implications of postponement for the supply chain. International Journal of Production Research, v.41, n.9, p , YANG, B.; BURNS, N.D.; BACKHOUSE, C. J. Management of uncertainty through postponement. International Journal of Production Research, v.42, n.6, p , ZINN, W.; BOWERSOX, D.J. Planning physical distribution with the principle of postponement. Journal of Business Logistics, v.9, n.2, p ,
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