Precedentes jurisdicionais deste Tribunal e do STJ.

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1 DECISÃO MONOCRÁTICA TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA APELAÇÃO CÍVEL N /001 ORIGEM : 6' Vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital. RELATOR : Dr. Wolfram da Cunha Ramos Juiz convocado para substituir o Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. APELANTE : Município de João Pessoa, representado por seu Prefeito. ADVOGADO : André Leandro de Carvalho Lemes e outros. APELADO : Ana Clara Pinto de Lemos, representada por sua genitora Ana Zely Pinto de L. N. Pontes. ADVOGADO : Arthur Nóbrega Gadelha. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. DIREITO À SAÚDE. GARANTIA CONSTITUCIONAL. DI- REITOS DE TODOS. DEVER DO ESTADO. PRECEDENTES DO STJ E DESTE TRIBUNAL. PROCEDÊNCIA. RECURSO. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. NOR- MAS QUE DISCIPLINAM O FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. OBRIGA- ÇÃO DO MUNICÍPIO. RELAÇÃO NACIONAL DE MEDICAMENTOS ESSENCI- AIS - RENAME. OBRIGAÇÃO DO ESTADO E/OU DA UNIÃO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO E/OU EXCEPCIONAIS. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO NOS TERMOS DO ART. 557, CAPUT, DO CÓ- DIGO DE PROCESSO CIVIL. A saúde é um direito de todos e dever do Estado, no sentido genérico, cabendo à parte optar dentre os entes públicos qual o que deve lhe prestar assistência à saúde, pois todos são legitimados passivos para tanto, à luz do art. 196 da Constituição Federal. É dever inafastável do Estado (gênero) o fornecimento de medicamentos, materiais, cirurgias e tratamentos indispensáveis ao tratamento de doença grave que não faz parte da lista fornecida pelo SUS. Precedentes jurisdicionais deste Tribunal e do STJ. Vistos etc. Ana Clara Pinto de Lemos Nobre Pontes, menor impúbere (recém nascida), representada pela sua genitora Ana Zely Pinto de Lemos Nobre Pontes, ingressou com a Ação de Obrigação de Fazer c/c Pedido de Antecipação de Tutela em face do Município de João Pessoa, aduzindo que desenvolveu intolerância ao leite de vaca, o que ocasiona-lhe continuas cólicas intensas (muco e sangue nas fezes), conforme verificado pela Médica Pediatra, Dra. Maria Heloisa de Amorim, CRM 3044, que suspendeu imediatamente o leite e receitou leite hidrolisado proteico (PREGOMIN) que só pode ser utilizado sob orientação de nutricionista ou médico, o que arretou em melhora acentuada dos sintomas, mas que o custo de uma lata do citado limento, de apenas 400g, é muito elevado, ou seja, R$ 161,47 (cento e sessei reais e quarenta c

2 sete centavos) em média, e que são necessários 04 (quatro) latas por mês, totalizando R$ 645,88, deste modo, não tem condições financeiras de arcar com as referidas despesas. Afirmando fazer jus ao tratamento médico pelo tempo que se fizer necessário até que seja liberada pela Médica de consumi-lo, que diante do iminente risco de danos irreparáveis à sua saúde, podendo voltar a sofrer dores e situações mais graves, requereu a concessão da antecipação de tutela de acordo com os art. 461 e 461-A do CPC, para obrigar o Promovido a custear o fornecimento do referido leite, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (hum mil reais) e, ao final, pediu a procedência da ação. Em Decisão, f. 35/38, o Juízo a quo deferiu a tutela antecipada, na forma pleiteada pela Autora, sob pena de aplicação de multa diária no valor de R$ 1.000,00, atribuindo a responsabilidade pessoal da Secretária de Saúde do Município de João Pessoa, criminal e civil, pelos danos sofridos pela Autora em caso de descumprimento. Na Contestação, f. 48/59, o Município de João Pessoa alegou que (1) o remédio pleiteado não estaria no rol dos medicamentos essenciais da farmácia básica, únicos da sua responsabilidade; (2) caberia à União e ao Estado a aquisição e distribuição dos medicamentos de caráter excepcional; (3) o Judiciário não poderia substituir a Administração Pública no juízo de conveniência e oportunidade, sob pena de violação ao princípio da separação dos poderes e da reserva do possível; (4) o alimento pleiteado poderia ser substituído por outro genérico de valor mais acessível disponível no mercado. Na Sentença, f. 62/65, o Juízo a quo, considerando a comprovação da necessidade do suplemento alimentar, f. 20, e a insuficiência financeira da Autora, julgou procedente o pedido, determinando ao Secretário de Saúde do Município de João Pessoa que fornecesse, de forma contínua e permanente, até a conclusão do tratamento médico, o material descrito, sob pena de multa de responsabilidade pessoal no valor de R$ 500,00, condenando o Réu ao pagamento de honorários advocatícios na razão de 10% sobre o valor da causa. Condenou, ainda, o Promovido ao pagamento de honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa. O Município de João Pessoa interpôs Apelação, f. 67/77, e alegou que: o suplemento alimentar requerido pela Apelada não se inclui na listagem de medicamentos essenciais voltados para a Farmácia Básica, sendo excepcional, não se inclui nas atribuições municipais; é dever da União e/ou do Estado custear os medicamentos de alto custo e os referentes a situações excepcionais; houve violação aos Princípios Constitucionais da Separação dos Poderes, da Legalidade e da Reserva do Possível. Postulou pela reforma da Sentença, para que seja julgada improcedente a ação, ou caso esse não seja o entendimento, que seja permitido o fornecimento de medicamento similar ao requerido. O Apelante, f. 83, asseverou o cumprimento da Deci o dicial que determi-

3 nou o fornecimento do suplemento alimentar "PREGOMIN" à Autora. Nas Contrarrazões, f. 99/107, a Apelada alegou que o fornecimento gratuito de materiais e medicamentos a hipossuficientes é de responsabilidade solidária da União, Estados e Municípios e que o Poder Público tem a obrigação de fornecer o medicamento requerido Pugnou pela total improcedência da Apelação. A Procuradoria de Justiça, f. 113/119, opinou pelo desprovimento do recurso, por entender ser responsabilidade do Município o fornecimento do leite necessário à alimentação da apelada para recuperação de sua saúde até o fim do interregno determinado pela prescrição médica. É o relatório. O fornecimento gratuito de medicamentos, tratamentos e exames médicos constituem responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos Municípios derivada dos artigos 196 e 198 da Constituição Federal. O cumprimento do dever político-constitucional de proteção à saúde, consagrado no art. 196 do texto básico, obriga o Estado (gênero) em regime de responsabilidade solidária entre as pessoas políticas que o compõem - dada à unicidade do sistema (art. 198, CF/88), a par de restar incluso, nas atividades voltadas a assegurar tal direito fundamental - ao fornecimento gratuito de medicamentos e congêneres a pessoas desprovidas de recursos financeiros, para a cura, controle ou atenuação de enfermidades. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são partes legítimas para figurarem no polo passivo das demandas cuja pretensão é o fornecimento de medicamentos, realização de exames e cirurgias imprescindíveis à saúde de pessoa carente. Nesse sentido, cumpre gizar que o constituinte assegurou, em sede constitucional, o direito à saúde, quando dispôs no artigo 196 de nossa Carta Magna que: "a saúde é direito de todos e dever do Estado". Doutrina e jurisprudência vêm se orientando no sentido de que a cláusula é de aplicabilidade imediata, sendo exigível do Estado, desde logo, assegurar a todos os cidadãos o direito fundamental à saúde. É certo que referida orientação deve comportar limites, insertos no próprio texto constitucional, sob pena de o Judiciário imiscuir-se na esfera de competência do Legislativo e do Executivo, interferindo no orçamento dos entes estatais até mesmo na política de distribuição de saúde a todos os cidadãos. Diante desse cenário, tenho que a questão relativa enação do Poder Público ao fornecimento de medicamentos deve ser aprec 4; 'om a maior cautela

4 possível, pois indubitavelmente, envolve a priorização de alguns direitos em detrimento de outros. Contudo, ressalto que a afamada "cláusula da reserva do possível" não pode ser invocada para restringir o fornecimento de materiais pretendidos por aquela que deles necessita para sua própria sobrevivência. Isso porque o objetivo último da Constituição da República, de assegurar ao cidadão o direito à saúde, deve ser atendido de forma ampla, sem qualquer condicionamento, fazendo-se inviável, portanto, negar o direito à obtenção de medicação essencial à saúde do administrado em virtude da existência de lista prévia de remédios eleitos pela Administração como os adequados para o tratamento da população. Diante das considerações até agora tecidas, verifico que não existem óbices para o acolhimento da pretensão inaugural. Há nos autos prescrição firmada por profissional médico reconhecidamente idôneo, f. 20, cujo conteúdo é no sentido de que a Autora necessita do suplemento alimentar "PREGOMIN", o qual possui melhores condições de prescrever o tratamento correto. Com efeito, constitui inafastável dever do Poder Público, constitucionalmente previsto, o de fornecer às suas expensas, às pessoas carentes e portadoras de moléstia grave medicamentos, equipamentos, materiais e tratamentos destinados a assegurarlhes a continuidade da vida e a preservação da saúde, o que, inclusive, define imperativo emanado de solidariedade social, ainda que o material não faça parte de lista elaborada pelo Ministério da Saúde para entrega gratuita a pacientes portadores de doenças graves e crônicas. Nessa linha de argumentação, chega-se à conclusão cristalina de que a Promovente tem direito de exigir do Estado Brasileiro, por intermédio de qualquer um de seus entes, priorizando-se o mais próximo e com melhores condições, o fornecimento da medicação e dos materiais necessários à preservação de sua saúde. Nesse sentido caminha a Jurisprudência Pátria, como se pode constatar dos precedentes deste Tribunal e do STJ, que adiante se seguem: APELAÇÃO C1VEL N /001- Primeira Câmara Cível do TJ-PB; APELAÇÃO CIVEL N /001 - Segunda Câmara Cível do TJ-PB; AGRAVO DE INSTRU- MENTO N /001 - Terceira Câmara Cível do TJ-PB; AGRAVO N /001- Quarta Câmara Cível do TJ-PB; REsp RS, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em 17/08/2006, DJ 02/10/2006 p. 236; AgRg no AgRg no Ag /RS, Rel. Ministro LUIZ7,IX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/02/2004, DJ 28/04/2004 p Razão pela qual, nego seguimento ao Recurso de art. 557, caput, do Código de Processo Civil. ação nos termos do

5 Publique-sc. Intime-se. Gabinete no TJ/PB em João Pessoa:-PB 2 ie out br[ 2O12. y. / a Ramos luz convocado - Relator

6 DE JUSTIÇA TRIBUNAL Diretoria Judidária Registrado e