POLISSEMIA E HOMONÍMIA: EMPRÉSTIMOS DENTRO DA PRÓPRIA LÍNGUA
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- Edson Zagalo Borja
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1 POLISSEMIA E HOMONÍMIA: EMPRÉSTIMOS DENTRO DA PRÓPRIA LÍNGUA Adriane Rita dos Santos Jhesyka da Silva Furlan Luma de Fátima Sanches Maryanne Souza Carulla Paulo Henrique Alves Capelari (G- CLCA-UENP/CJ) Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora- CLCA- UENP/ CJ) INTRODUÇÃO É muito comum na linguagem publicitária encontramos enunciados que levam à dupla interpretação de sentidos, gerando a ambiguidade. Isso é possível devido ao uso de palavras homônimas e polissêmicas. Estas palavras possuem uma estrutura fonológica parecida, mas significados diferentes, sempre buscando dar ênfase ao que será anunciado, na tentativa de persuadir e fazer com que o leitor reflita sobre o assunto e até mesmo tome para si os conceitos apresentados. Como são consideradas empréstimos dentro da própria língua, pois são palavras já existentes no vernáculo que podem ser utilizadas em diversas situações comunicativas com sentidos diferentes, a oposição entre esses vocábulos ainda é polêmica. Sendo assim, neste trabalho, apresentamos análise de anúncios publicitários que recorreram ao recurso da homonímia e da polissemia para persuadir o leitor, a fim de verificarmos os efeitos de sentido ocasionados pelo uso dessas palavras.para esse estudo utilizaremos revistas de circulação semanal e mensal. Conceito de homônimos Ilari conceitua homônimo como palavras que se pronunciam da mesma maneira, mas têm significados distintos e são percebidas como diferentes pelo falante da língua, ou seja, são palavras que têm o mesmo som, mas que, em determinado contexto, pode ter um outro sentido diferente. 274
2 Há homônimos que pertencem a classes gramaticais diferentes: banco (de jardim) e banco (casa de crédito) são ambos substantivos. [...] pia (lavatório) é um substantivo; ele pia (uma das tantas vozes de piar) é um verbo; e pia (piedosa) é um adjetivo (ILARI, 2006, p.103) Como podemos observar, de acordo com o autor, as palavras homônimas podem ou não pertencer a mesma classe gramatical. Conceito de polissemia Ainda, de acordo com Ilari (2006, p.151), Fala-se em polissemia a propósito dos diferentes sentidos de uma mesma palavra que são percebidos como extensões de um sentido básico, isto é, uma palavra que tem um duplo sentido, mais de um significado ao mesmo tempo. Para tentar esclarecer a distinção entre homonímia e a polissemia, o autor estabelece que a polissemia se opõe à homonímia. Assim, para que haja polissemia, é preciso que haja uma só palavra; para que haja homonímia, é preciso que haja mais de uma palavra. Portanto, com essa concepção de Ilari, para que ocorra homonímia é necessário mais de uma palavra, de classes gramaticais distintas, pois somente uma terá um sentido único de acordo com o contexto utilizado; já, na polissemia, é apenas uma palavra que pode ter duplo sentido em uma mesma frase. Essa palavra é de uma mesma classe gramatical. Ex: A palavra fio é um substantivo que, em determinado contexto, tem várias acepções ( FERREIRA, 1999): Costurei a blusa com fio vermelho ( linha vermelha). A vida do rapaz está por um fio ( por um triz). Leu o livro de fio a pavio ( do começo ao fim). Perdi o fio da meada ( não dar continuidade ao fluxo de idéias, dos fatos) Análise dos anúncios Anúncio publicitário I 275
3 (CLAUDIA, março 2010) No anúncio acima, podemos observar a ocorrência de polissemia na sentença: banho de gato, visto que esta expressão apresenta três sentidos diferentes. Primeira interpretação é o banho de um gato, ou seja, ato de lavar o animal. Pelo nosso conhecimento de mundo, sabemos que gato não gosta de banho, com isso podemos dar uma segunda interpretação: à expressão: quando dizemos que alguém tomou um banho de gato é no sentido que tomou um banho rápido, ou mal tomado, já que gato não gosta de água. E, a terceira acepção, o sentido dos novos lenços umedecidos, o produto que está sendo exposto no anúncio, pois os lenços umedecidos têm a finalidade de ajudar em uma limpeza rápida e prática. Desse modo, podemos perceber a importância do conhecimento de mundo que é exigido para que o leitor compreenda o anúncio publicitário; bem como a importância da polissemia, recurso linguístico utilizado nessa propaganda. 276
4 Anúncio publicitário II (ÉPOCA,08 de março de 2010) Na propaganda da Hortifruti, veiculada na revista Época de 8 de março de 2010, podemos encontrar dois casos de polissemia. No trecho O Gilberto sabe como garantir um futuro mamão com açúcar. sabemos que mamão com açúcar é apenas uma fruta com açúcar, mas, nessa propaganda, essa expressão indica que algo é muito fácil. Nesse caso, concluímos que Gilberto sabe garantir um futuro fácil. O outro caso que encontramos polissemia é no trecho Quando Gilberto não podia trabalhar, sabia que era pepino na certa. Sabemos que pepino é um legume, mas, na propaganda, tem o sentido de algo que é difícil, complicado. Então concluímos que quando Gilberto não podia trabalhar, sabia que era difícil, que era um problema na certa. O uso da expressão mamão com açúcar e da palavra pepino no texto configura-se como emprego de palavras polissêmicas, pois essas expressões, no contexto, estão em sentido figurado e continuam pertencendo à mesma classe de palavras: substantivo. 277
5 Anúncio publicitário III (VEJA, abril 2010) Neste anúncio da editora Saraiva, extraído da revista Veja de abril de 2010, ocorre um caso de homonímia, pois a palavra agora é usado várias vezes,com sentidos diferentes e classes gramaticais distintas. Como sabemos que agora, gramaticalmente é um advérbio de tempo, quando lemos Chegou Agora, num primeiro momento, podemos entender que se está falando que alguma coisa chegou naquele exato momento, no caso, novo sistema de ensino. Mas, continuando a a ler o anúncio, percebemos o uso da palavra Agora como substantivo, fazendo referência ao nome do novo sistema de ensino criado pela Editora Saraiva, o AGORA.. Entretanto, no final do texto, há a seguinte frase: A escola do futuro se faz AGORA. Novamente o uso da palavra Agora, só que neste contexto, agora tem sentido de neste momento, funcionando como de advérbio de tempo. Podemos, então, perceber que a palavra agora é um termo homônimo, pois é usada várias vezes no anúncio, ora como substantivo, ora como advérbio. 278
6 Anúncio publicitário IV (Veja de abril de 2010) No anúncio retirado da revista Veja de abril de 2010, há os enunciados: Se o produto não tá direito, reclame. Você tem direito. Neste enunciado a palavra direito foi usada duas vezes. Na primeira oração, a palavra direito é apresentada como um adjetivo, caracterizando produto: se o produto não está correto, certo; na segunda, encontramos o termo direito sendo usado como substantivo para rotular o conjunto de leis que regem o Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Outro caso de homonímia na publicidade. Considerações finais De acordo com a análise que fizemos, constatamos que, nos mais diversos anúncios publicitários, são utilizados os recursos linguísticos da polissemia e da homonímia na elaboração das mensagens. O anunciante, muitas vezes, recorre a estes recursos lingüístico, visto que se trata de palavras que produzem ambigüidade, gerando novos sentidos. Esse empréstimo de palavras existentes em nossa língua ocorre dentro do texto publicitário como uma das formas de chamar atenção do leitor para o produto que está sendo apresentado, como finalidade de persuadi-lo, para que assim adquira para si o que o anunciante promove. 279
7 Também percebemos a necessidade de o leitor ter conhecimento de mundo para que possa compreender os diversos sentidos que uma palavra pode ter dentro do texto publicitário. Referências: CARVALHO,Nelly. Publicidade: linguagem da Sedução.Série Fundamentos. São Paulo, Editora Ática.1995 CLAUDIA, março 2010 ÉPOCA, 8 de março de FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem. São Paulo, Cortez ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica. São Paulo: Contexto, Introdução ao estudo do léxico. São Paulo: Contexto, VEJA, abril 2010 Para citar este artigo: SANTOS, Adriane Rita dos et al. Polissemia e homonímia: empréstimos dentro da própria língua. In: VII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários Anais... UENP Universidade Estadual do Norte do Paraná Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, ISSN p
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