PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL: UMA REALIDADE EM CONSTRUÇÃO Maria Isabel Araújo dos Santos 1 Marisa Antônia de Souza 2
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- Cecília Amaral Carlos
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1 1 PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL: UMA REALIDADE EM CONSTRUÇÃO Maria Isabel Araújo dos Santos 1 Marisa Antônia de Souza 2 RESUMO O novo projeto profissional do Serviço Social brasileiro foi construído a partir do comprometimento profissional com a classe trabalhadora que irá favorecer um novo projeto societário, pautado nos valores e princípios marxistas. Ele se sustenta no Código de Ética do/a Assistente Social de 1993 que reafirma os princípios tais como a liberdade, justiça social, luta contra todo tipo de preconceito dentre outros. A formação profissional se orienta nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS e na Lei de Regulamentação da Profissão, que dispõe sobre o exercício profissional, suas competências e atribuições privativas, apresenta as atribuições definidas pelo colegiado profissional. O Projeto Ético Político Profissional representa o processo de amadurecimento político da categoria, sendo um elemento indispensável para a mobilização e qualificação dos/as Assistentes Sociais, diante dos desafios e demandas da sociedade. Os novos valores e princípios se complementam exigindo um novo posicionamento ético-político tanto para o exercício, quanto na formação profissional. Uma das principais características do Projeto Ético Político é sua dimensão política, que somente adquire materialidade e concretude nas ações profissionais de forma coletiva, por meio da participação efetiva dos/as Assistentes Sociais nas entidades representativas da categoria e/ou individuais por meio do exercício profissional cotidiano. PALAVRAS-CHAVE: Projeto Ético Político; Cotidiano Profissional; Desafios. 1. A Construção do Projeto Profissional O projeto profissional do Serviço Social brasileiro foi construído a partir da década de 80, passou a ser denominado Projeto Ético Político (PEP) e tem sustentação na teoria social de Marx. De acordo com Netto (2008) surgiu a partir da reflexão dos/as profissionais sobre os métodos tradicionais e princípios conservadores que eram utilizados no exercício profissional, nesse período a profissão passa a se identificar como classe trabalhadora. Desta forma, Assistentes Sociais engajados no conjunto Conselho Federal de Serviço Social e Conselho Regional de Serviço Social (CFESS/CRESS; ABEPSS) e estudantes militantes na Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) passam a envolver se e participar de movimentos sociais e entidades democráticas comprometidos com [...] projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, que reclamam determinados 1 Bacharel em Serviço Social pelo Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio CEUSNP/Itu, Assistente Social na Prefeitura da Estância Turística de Salto/SP, atuando na área da Assistência Social. 2 Docente e Coordenadora do Curso de Serviço Social no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio CEUSNP/Itu, desde Mestre em Educação pelo Unisal/Americana/SP, Bacharel em Serviço Social pelo Unisal/Americana/SP, Licenciatura em Letras, CEUNSP/Itu, Especialista em Serviço Social pela Universidade de Brasília UNB/DF, especialista em Administração de Recursos Humanos pela UNISANTANA/SP, especialista em Grafologia pelo Instituto de Grafologia Liliane Ficher/SP.
2 2 valores para justificá-los e que privilegiam meios (materiais e culturais) para concretizálo (NETTO, 2008 p. 142 grifos conforme original). Desta forma o Projeto Ético Político do Serviço Social adota um projeto societário que está vinculado ao afirmar o compromisso com a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero, por meio de posicionamentos que potencializem a liberdade, justiça social e em busca da consolidação da democracia nas ações profissionais. A partir de então a identidade coletiva passa a existir, em meio aos interesses contraditórios peculiares da organização da sociedade de classes sociais antagônicas: burguesia e proletariado. O comprometimento profissional com a classe trabalhadora irá favorecer um novo projeto societário, independentemente do que estava determinado pelo projeto profissional. Sobre essa questão Netto (2008), destaca que um projeto profissional apresenta: [...] a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a quem cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais) (p. 144 grifos conforme original). Cabe resgatar que um projeto profissional não é uma estrutura pronta, apesar de se respaldar em um projeto societário de maior abrangência, sua operacionalização é dinâmica e em algumas vezes até indefinida. O projeto profissional responde as alterações sociais, econômicas, políticas e culturais da sociedade levando se em conta as dimensões ético políticas, teórica metodológicas e técnico operativas da profissão. A construção e consolidação desse projeto vão depender de um verdadeiro debate de ideias que só é possível através do pluralismo que, por sua vez, supõe também o respeito às hegemonias legitimamente conquistada (NETTO, 2008, p. 146). Dando sequência o autor acrescenta que: A luta pela democracia na sociedade brasileira, encontrando eco no corpo profissional, criou o quadro necessário para romper com o quase monopólio do conservadorismo no Serviço Social: no processo da derrota se inscreveu a primeira condição a condição política para a constituição de um novo projeto profissional (NETTO, 2008, p. 150). Compreende se que com o amadurecimento teórico e a herança deixada pelo movimento de reconceituação latino americano, os diversos profissionais mobilizados e organizados buscam romper com a predominância do conservadorismo. Essa atitude impulsiona a busca de novos rumos para a construção de um novo projeto profissional para o Serviço Social brasileiro.
3 3 O marco histórico deste processo foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais 3 (CBAS) de 1979 promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e pelo Conselho Regional de Assistentes Sociais (CRAS) do Estado de São Paulo, sendo considerado por Abramides e Cabral (2009a) como: [...] um divisor de águas na trajetória histórica dos congressos e da própria profissão, dado pelo debate político travado e pelas posições públicas assumidas coletivamente pela categoria na defesa dos interesses imediatos e históricos dos trabalhadores e por se reconhecer, em sua condição de assalariamento, como parte da classe trabalhadora (p. 731). Sobre esta questão Netto (2008) já considerava que [...] pela primeira vez, no interior do corpo profissional, repercutiam projetos societários distintos daqueles que respondiam aos interesses das classes e setores dominantes (p.151). Sendo que o reconhecimento da profissão enquanto classe trabalhadora faz com que seja assumida a atitude política e crítica por parte de uma parcela de Assistentes Sociais que se organizaram e conseguiram modificar a direção do III CBAS. Com grande visibilidade pública e alcance social, este congresso, muito apropriadamente denominado Congresso da Virada, institui-se como solo fecundo, onde foram lançadas as raízes de um projeto ético-político profissional comprometido com a classe trabalhadora e com a construção de uma nova ordem societária (MARTINELLI, 2009, p.101). A repercussão desse Congresso impulsionado pelas lutas de redemocratização do país os/as Assistentes Sociais passam a se mobilizar ativamente nos debates políticos e éticos, passando a redimensionar a organização profissional e influenciar as entidades representativas da categoria e os Conselhos Regionais e Conselho Nacional provocando desta forma modificações no corpo profissional, criando condições necessárias para a construção do novo Projeto Ético Político Profissional. Faz-se necessário lembrar que o contexto histórico do Congresso da Virada, acompanhava a legitimação do Serviço Social no meio acadêmico, que passava a analisar temáticas importantes nesse [...] processo de renovação profissional tais como a questão da metodologia, as políticas sociais e os movimentos sociais (BRAZ, 2005, p. 4). A aproximação do Serviço Social [...] da discussão sobre a vida cotidiana e a ética marxista, por meio das ideias de autores como Lukács e Heller, Goldman, Lefèvre[...] (BARROCO, 2007, p. 174) e a teoria Gramsciana tiveram influências diretas em diversas produções teóricas da época, possibilitando novas interpretações e posicionamentos. 3 O CBAS constitui-se em um fórum de reflexão, debate e deliberação da categoria profissional que ocorre a cada três anos e reúne mais de 3 mil participantes, entre profissionais e estudantes (...) (ABRAMIDES E CABRAL, 2009, p.731) e já foi realizado o 13 Congresso que ocorreu em Brasília em 2010.
4 4 De acordo com Netto (2008) essas conquistas da vanguarda profissional foram construídas após o Congresso da Virada e se consolidando com a aprovação do Código de Ética do Assistente Social de 1986, expressando desta forma um avanço em relação aos Códigos anteriores, tendo em vista que neste Código passa a ser explicitado, a luta da categoria na superação da visão conservadora e tradicional do Serviço Social, a superação da neutralidade na ação profissional, reconhecimento da dimensão histórica e política da profissão, assumindo compromissos com a classe trabalhadora e se reconhecendo como tal. Sobre essa particularidade Barroco (2012) destaca que: O Código de Ética se organiza em torno de um conjunto de princípios, deveres, direitos e proibições que orientam o comportamento ético profissional, oferecem parâmetros para a ação cotidiana e definem suas finalidades ético-políticas, circunscrevendo a ética profissional no interior do projeto ético-político e em sua relação com a sociedade e a história (p. 53). Se faz necessário lembrar que os Códigos de Ética anteriores estavam vinculados às concepções filosóficas e éticas do neotomismo e do positivismo, defendendo uma ética profissional neutra diante das contradições existentes na sociedade. O Código de Ética de 1947 manifestavaclaramente sua vinculação com a doutrina social e dogmas da Igreja Católica, assim como o Código de 1965, mesmo sem romper com as bases filosóficas e éticas do anterior, revela alguns traços importantes para renovação profissional, passando a considerar o/a Assistente Social como profissional liberal, introduz novos valores como: pluralismo, democracia e justiça social. A reformulação do Código em 1975 ocorre no auge da ditadura militar, consequentemente refuta os valores e avanços conquistados anteriormente, passando a reiterar o conservadorismo profissional. Mesmo existindo pequenas alterações entre os diversos Códigos, seus princípios norteadores assumem naquele momento a ética liberal burguesa, que toma a ordem capitalista como um fenômeno natural e inquestionável, exigindo do/a assistente social a função de adaptar e ajustar os indivíduos de acordo com a ordem vigente. Rmpendo com esse passado Barroco (2012) afirma que o Código de Ética de 1986: [...] passa a se dirigir explicitamente ao compromisso profissional com a realização dos direitos e das necessidades dos usuários, entendidos em sua inserção de classe. [...] são conquistas políticas inestimáveis, sem as quais não seria possível alcançar o desenvolvimento verificado nos anos 1990 (p. 48 grifos conforme original). As conquistas e avanços das décadas de 80 aos anos 90 exige da profissão um amadurecimento teórico-metodológico e ético-político que passa orientar as discussão nos CBAS(s) e nos Seminários regionais, estaduais e nacionais que expressam [...] as aspirações coletivas dos profissionais brasileiros (PAIVA E SALES, 2010, p. 216). No ano de 1993 foi aprovado o novo Código de Ética do/a Assistente Social brasileiro, representando o processo de amadurecimento político da categoria, bem como um aliado na mobilização e qualificação dos/as Assistentes Sociais, diante dos desafios e demandas da
5 5 sociedade. O Código de Ética profissional passa a ser um instrumento de defesa da qualidade dos serviços prestados pelos/as profissionais aos usuários e de defesa ao exercício profissional. Além de especificar os direitos e deveres para o exercício profissional, no Código de Ética estão previstas as atitudes e ações profissionais dos/as Assistentes Sociais traduzidas nos artigos e novos princípios. Sobre esta questão Netto (2008) afirma que: [...] o novo código incorporou tanto a acumulação teórica realizada nos últimos vinte anos pelo corpo profissional quanto os novos elementos trazidos ao debate ético pela urgência da própria revisão. Neste sentido, o Código de Ética Profissional de 1993 é um momento basilar do processo de construção do projeto ético-político do Serviço Social no Brasil (p.154). Diante da nova ética profissional que emergiu no interior da vertente de ruptura e da afirmação do novo Projeto Ético Político, o Código de Ética de 93 reafirma princípios, como a liberdade e justiça social no qual os novos valores e princípios se complementam exigindo um novo posicionamento ético-político tanto para o exercício, como na formação profissional fundamentada na teoria social de Marx. Segundo Barroco (2012), os princípios estão interligados e [...] se algum princípio ou valor for analisado isoladamente, a partir de referências estranhas ao CE, a compreensão da totalidade do CE será atingida" (p. 58). Consciente da importância da compreensão do Código de Ética segue a análise detalhada de cada um deles, no primeiro princípio é indicado o/a Assistente Social na sua atuação profissional o dever de orientar se pelo [...] reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos (Resolução do CFESS nº 273). Cabe ressaltar que a concepção de liberdade aqui apresentada, não tem o mesmo sentido da liberdade presente no liberalismo que estimula o individualismo e a livre concorrência. A liberdade que profissão defende exige um posicionamento critico em relação a hegemonia burguesa que elimina a possibilidade de elevação da consciência do ser humano, fazendo com que ele não reconheça a verdadeira liberdade, ou seja, a liberdade burguesa torna o ser humano alienado. A liberdade referenciada no Código de Ética do/a Assistente Social segundo Paiva e Sales (2010) apontam para: [...] uma nova direção social, que tenha o indivíduo como fonte de valor, mas dentro da perspectiva de que a plena realização da liberdade de cada um requer a plena realização de todos. Para tanto, é preciso garantir as demandas que a ela se vinculam autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais (p. 182). Portanto, o texto nos leva a crer que mesmo diante da recusa cotidiana da liberdade, o/a Assistente Social precisa desenvolver sua ação profissional de forma que seja capaz de reinventar o cotidiano e construir estratégias para difusão da liberdade. No segundo princípio esta inscrito a [...] defesa intransigente dos direitos humanos recusa do arbítrio e do autoritarismo [...] Esse princípio indica que os/as Assistentes Sociais
6 6 precisam posicionar se contra qualquer tipo de violação dos direitos humanos, vinculando sua ação profissional em sua defesa. Cotidianamente os/as profissionais se deparam com diversas violações aos direitos humanos que são apresentadas através de atendimentos em seus espaços ocupacionais como: abuso de autoridade, criminalização da pobreza, desemprego, precárias condições de trabalhos, intolerância e violências (étnico-raciais, de gênero, religiosas e sexuais) e o não reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência, idosas, crianças e/ou adolescentes e jovens. Tem se a consciência que a defesa dos direitos humanos é uma tarefa árdua e o envolvimento profissional não devem ser direcionados por atitudes ingênuas e messiânicas, pois a direção social do Projeto Ético Político pressupõe o amadurecimento teórico e crítico para que a/o profissional tenha condições de entender os limites e possibilidades do exercício profissional na sociedade capitalista. Em relação a esta questão Paiva e Sales (2010) consideram que é necessário: [...] empreendermos uma recusa e um combate nos espaços institucionais e nas relações cotidianas, diante de todas as situações que ferem a integridade dos indivíduos e que os submetem ao sofrimento, à dor física e à humilhação (PAIVA e SALES, 2010, p. 185). Dando sequência a presente pesquisa, destacamos o terceiro princípio que valoriza a [...] ampliação e consolidação da cidadania considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia de direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras os/as Assistentes Sociais são profissionais que têm uma relação direta com a efetivação da democracia e o acesso a cidadania. No entanto, Iamamoto in CFESS (2009), afirma que a ampliação da cidadania se esbarra na lógica do capital [...] a condição de classe cria déficits e privilégios, que criam obstáculos para que todos possam participar, igualitariamente, da apropriação de riquezas espirituais e materiais, socialmente criadas (p. 34). De acordo com a política liberal os indivíduos são considerados cidadãos quando conseguem suprir suas necessidades básicas, cabendo ao Estado à responsabilidade de fornecer os mínimos necessários para sobrevivência dos que não conseguem. Diante desta realidade, os/as Assistentes Sociais precisam lutar para a universalização dos direitos sociais, políticos e civis que será alcançada por meio de lutas, desta forma se faz necessário o engajamento nos movimentos sociais que cotidianamente travam discussões, mobilizações e lutas em prol de uma cidadania entendida: [...] como capacidade de todos os indivíduos, no caso de uma democracia efetiva, de se apropriarem dos bens socialmente produzidos, de atualizarem as potencialidades de realização humana, abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado (IAMAMOTO in CFESS, 2009, p. 35). Neste sentido o quarto princípio oferece uma direção ao relacionar a [...] defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza
7 7 socialmente produzida. A democracia que o Serviço Social defende é aquela que contraria a lógica da acumulação e exploração do capital sobre a classe trabalhadora e ultrapassa a democracia e tolerada, pela sociedade burguesa. A democracia que se almeja é um sistema capaz de oferecer acesso e oportunidades para que todos/as trabalhadores/as tenham direito ao trabalho e condições dignas de moradia, educação, saúde, lazer e cultura. De acordo Paiva e Sales (2009) o/a assistente social deve defender a democracia na perspectiva de: [...] romper com as práticas tradicionais de controle, tutela e subalternização. E, mais, contribuir para o alargamento dos canais de participação dos usuários nas decisões institucionais, entre outras coisas, por meio da ampla socialização de informações sobre os direitos sociais e serviços (p. 190). Portanto, romper com as amarras do conservadorismo no cotidiano profissional contribui para a efetiva participação dos usuários. Para tanto, o/a Assistente Social precisa analisar criticamente a conjuntura que o/a envolve e desenvolver mecanismos de publicização dos serviços e programas desenvolvidos pelo estado. O quinto princípio expressa o [...] posicionamento em favor da equidade e justiça social, de modo a assegurar a universalidade do acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática. Para que haja justiça social é necessária à efetivação da democracia e da liberdade, enquanto a estrutura social, econômica e política estiver seguindo a lógica do capital, é importante que os/as profissionais devam: [...] insistir na questão da universalização, porque os assistentes sociais precisam fortalecer cada vez mais, junto aos usuários, o entendimento de que eles têm direito ao franco trânsito e alcance em termos dos programas e das políticas, enquanto primeira forma de viabilizar a distribuição de riquezas produzidas [...] (PAIVA E SALES, 2010, p. 191). Quanto ao sexto princípio refere-se ao [...] empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças. Este desafio está presente no cotidiano dos/as profissionais que precisam lutar para combater o preconceito 4 nesta sociedade determina por padrões e costumes que reproduz acriticamente a intolerância e a diferença. Diante deste desafio, o/a assistente social necessita assumir uma atitude crítica e consciente, não atitudes preconceituosas e discriminatórias. Assim sendo, é dever do/a Assistente Social enquanto profissional dotado/a de competência ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa: [...] formular, estratégias de ação visando contribuir para a desalienação dos diferentes atores com os quais contracenamos no espaço institucional. Outrossim, é dever do assistente social incentivar o respeito à diversidade, a participação dos grupos discriminados e a explicitação e o debate das diferenças. Esta é uma das mais importantes parcelas que nos compete como 4 Preconceito é uma das expressões do pensamento cotidiano, marcado por repetições, rotinas e pela rigidez do modo de vida.
8 8 profissionais e cidadãos na construção de uma cultura humanista, democrática e plural (PAIVA E SALES, 2010, p.196). Passando para o sétimo princípio registra se a [...] garantia do pluralismo, por meio do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e do compromisso com o constante aprimoramento intelectual, em relação a este princípio cabe resgatar que nos anos 80 ocorreu um profundo debate no Serviço Social, devido a [...] diferentes linhas de pensamentos que estavam em disputa pela hegemonia quanto à orientação e direção social do projeto ético político [...] (PAIVA e SALES, 2010, p. 196). É importante ressaltarmos que pluralismo previsto no Código atual diz respeito às correntes profissionais democráticas existentes e descarta as demais que negam a liberdade e a democracia. O oitavo princípio menciona a [...] opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero Orientar as ações profissionais com base neste princípio corresponde à defesa de uma nova estrutura social com relações sociais pautadas em parâmetros igualitários entre os sujeitos, o que significa a busca pela superação da imediaticidade 5 no cotidiano profissional, pautando-se na teoria social crítica a fim de compreender a dinâmica da sociedade capitalista e desvendar as possibilidades de uma intervenção consciente e crítica das contradições provocadas pela lógica de dominação e exploração do capital. O nono princípio sugere o rompimento do endogenismo 6 por meio da [...] articulação com os movimentos sociais de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores [...], acreditar que é possível a construção de uma nova ordem societária livre de toda forma de opressão exige do/a profissional o compromisso em fortalecer e articular alianças estratégicas com movimentos sociais, instituições democráticas e outras profissões que compartilham do mesmo projeto societário. Passando ao décimo princípio observa se que é solicitado ao profissional assumir com o [...] compromisso dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual na perspectiva da competência profissional. Oferecer a população usuária um atendimento qualificado nas tarefas cotidianas, esse exercício requer do/a profissional responsabilidade ética, constante aprimoramento intelectual para conseguir desvendar as dimensões da questão social, podendo contribuir para construção de instrumentos eficazes de acordo com as 5 Imediaticidade significa as ações desencadeadas na vida cotidiana que tendem a responder, fundamente, às demandas imediatas da reprodução social dos sujeitos (Yolanda, 2007, 13). 6 Romper com o endogenismo significa que a profissão precisa compreender que o serviço social se situa como uma profissão inserida na divisão sócio e técnica do trabalho e para sua compreensão se faz necessário compreender a realidade na qual ela está inserida.
9 9 exigências do Projeto Ético Político. A competência referenciada se apoia em Iamamoto in CFESS (2009) principalmente quando alerta que: [...] a competência crítica capaz de desvendar os fundamentos conservantistas e tecnocráticos do discurso da competência burocrática. O discurso é crítico quando vai a raiz e desvenda a trama submersa dos conhecimentos que explica as estratégias de ação. Essa crítica não é apenas mera recusa ou mera denúncia do instituído dado. Supõe um diálogo íntimo com as fontes de conhecimento [...] (p. 17). O último princípio a ser considerado trata do [...] exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física. Na sociedade atual requer profissionais dispostos a lutar cotidianamente as formas de descriminalização, dentro ou fora do seu ambiente de trabalho. Segundo Paiva e Sales (2010), os/as profissionais devem estar. Para finalizar este item se faz necessário refletir sobre as prescrições de Iamamoto (2008), sobre os valores éticos e políticos e o Código de Ética, considerados como: [...] focos que vão iluminando os caminhos a serem trilhados, a partir de alguns compromissos fundamentais acordados e assumidos coletivamente pela categoria. Então ele não pode ser um documento que se guarda na gaveta : é necessário dar-lhe vida por meio dos sujeitos que, internalizando o seu conteúdo, expressam-no por ações que vão tecendo o novo profissional no espaço ocupacional cotidiano (p. 78 grifos conforme original). 1.2 Demais elementos que compõe o Projeto Ético Político Além do Código de Ética do/a Assistente Social o Projeto Ético Político se apoia na Lei de Regulamentação da Profissão 7, que dispõe sobre o exercício profissional, suas competências e atribuições privativas, apresenta as atribuições definidas pelo colegiado profissional. O conjunto CFESS/CRESS no seu exercício fiscaliza o exercício profissional e elabora as resoluções diante das demandas que vão surgindo que visam assegurar melhoria nas condições de trabalho, além de preservar a identidade profissional, fornece elementos para resguardar as competências e atribuições privativas da profissão, para que os seus direitos não sejam transgredidas nos diversos espaços sócio ocupacionais. Outro elemento a ser destacado são as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Serviço Social da ABEPSS, que em 1996, toma como referência o Currículo Mínimo para os cursos de Bacharel em Serviço Social aprovado pelo Ministério da Educação e da Cultura (MEC) com apoio das Unidades de Ensino e das entidades representativas da categoria elaboraram essas 7 Lei nº de 07 de junho de 1993, que foi provada após muita luta da categoria profissional, sendo sancionada pelo então Presidente da República Itamar Franco, e publicada no Diário Oficial da União. Regulamenta o exercício profissional do Assistente Social, definindo a profissão e estabelecendo as atribuições privativas desta.
10 10 diretrizes concretizando um projeto de formação profissional que já estava sendo construído coletivamente ao longo do processo de renovação da profissão no Brasil (Iamamoto, 2012). As diretrizes são importantes, servindo como referencia para as inúmeras instituições de ensino públicas e privadas que desenvolveram cursos de Serviço Social, cabe considerar que a coordenação dos referidos cursos de graduação e pós-graduação em serviço social são atribuições privativas do/a assistente social, garantidas na Lei de Regulamentação da profissão. Diante das diferenciadas manifestações da questão social frente à reforma do Estado e as mudanças no mundo do trabalho, as Diretrizes tem como objetivo estabelecer um patamar comum que assegure a flexibilidade, descentralização e a pluralidade no ensino brasileiro em Serviço Social, de modo que a profissão consiga acompanhar não somente as transformações sociais, culturais e políticas, mas também da ciência e da tecnologia. São mudanças contemporâneas que exigem uma formação profissional capaz de realizar a articulação e [...] a análise dos fundamentos do Serviço Social em suas dimensões históricas, teórico-metodológicas e éticas com as reais condições e relações de trabalho em que se realiza o exercício profissional (Iamamoto, 2012). É importante ressaltar que mesmo com vistas a materializar o Projeto Ético Político em seus documentos legais, a profissão sempre se defrontou com o posicionamento conservador do Estado que prioritariamente atende aos interesses do capital, assim, conforme Iamamoto (2012), o texto final aprovado pelo MEC no anos de 2001, [...] sofreu uma forte descaracterização tanto na direção social, quanto na base dos conhecimentos e habilidades considerados essenciais ao desempenho profissional do assistente social (p. 43). Consequentemente a categoria profissional que ao longo dos anos vem construindo e acumulando um arsenal teórico metodológico crítico, considerada uma referência contra hegemônica, passa a ser alvo de ataques na tentativa de descaracterizar sua proposta de formação ético política. Diante dessa realidade, torna-se necessário que cotidianamente tanto os/as profissionais de campo, os estudos acadêmicos mantenham o constante aprimoramento intelectual pautados na teoria social crítica, para não se distanciarem dos princípios defendidos no Projeto Ético Político. Se faz necessário resgatar que um projeto profissional não é uma estrutura pronta, mas sim dinâmica e indefinida, que responde as alterações sociais, econômicas, políticas e culturais da sociedade e das dimensões ético, política, teórica e operativa da profissão. E relembramos que a construção e consolidação do projeto dependerão de um verdadeiro debate de ideias que só é possível através do pluralismo [...] que, por sua vez, supõe também o respeito às hegemonias legitimamente conquistada (NETTO 2008, p. 146). Os/as Assistentes Sociais devem acompanhar e compreender a realidade da vida em sociedade, se apoiando na teoria de forma críticas no cotidiano profissional. Cabe considerar que é no cotidiano que as determinações conjunturais se expressam, portanto aí reside o desafio
11 11 de garantir o sentido e a direção da ação profissional expressos no Projeto Ético Político Profissional, sobre essa questão Braz (2005), define o Projeto Ético Político como uma: [...] projeção coletiva que envolve sujeitos individuais e coletivos (daí a ideia de projeto) em torno de uma determinada valorização ética (daí o termo ético) que está intimamente vinculada a determinados projetos societários (daí o termo político) presentes na sociedade que se relacionam os diversos projetos coletivos (profissionais ou não) em disputa na mesma sociedade (daí o termo profissional expressando a particularidade de uma categoria) (p. 1 grifos conforme original). Uma das principais características do Projeto Ético Político é sua dimensão política, que somente adquire materialidade e concretude nas ações profissionais de forma coletiva, por meio da participação efetiva dos/as Assistentes Sociais nas entidades representativas de organização da categoria e/ou individuais por meio do exercício profissional cotidiano. No entanto, ambas demandam determinações que não dependem somente do/a profissional, pois enquanto trabalhador assalariado, o/a Assistente Social está mediando relações contraditórias e complexas as quais requerem competência profissional adquirida durante uma formação profissional crítica e de sua continuidade. De acordo com Braz (2005) a materialidade do Projeto Ético Político pode ocorrer a partir de três dimensões articuladas: [...] a dimensão da produção de conhecimentos no interior do Serviço Social, a dimensão político-organizativa da categoria e a dimensão jurídico-política da profissão (p. 5). Este corpo material do Projeto Ético Político deve ser entendido como um processo coletivo de construção contínua e cotidiana em defesa de uma perspectiva ética, teórica e política que orientam e direcionam os/as Assistentes Sociais e as entidades representativas da categoria a se posicionarem criticamente perante as demandas e os desafios da contemporaneidade. O autor (Op. Cit.) ressalta que até o final dos anos 90, o termo Projeto Ético Político ainda permanecia desconhecido para muitos/as Assistentes Sociais, por tratar se de uma discussão ética, vários profissionais entendiam que essa temática estava restrita aos espaços teóricos e/ou acadêmicos. Diante deste desafio em 1998, a categoria profissional realizou o IX CBAS com o tema Trabalho e Projeto Ético-Político Profissional, sendo que um dos objetivos do evento era levar o debate para o conhecimento dos profissionais e estimular a produção teórica sobre a temática. Mesmo com avanços e conquistas o Projeto Ético Político do Serviço Social brasileiro ainda se confronta na atual conjuntura como [...] o canto da sereia da pós-modernidade (CFESS, 2009, p. 3) essa realidade exige cotidianamente do/a Assistente Social uma reflexão permanente e a elaboração de estratégias para dar concretude ao projeto
12 12 profissional nos moldes que este foi construído, sem se deixar aprisionar pelas armadilhas do cotidiano. Defender o Projeto Ético Político na atual conjuntura é assumir para si os seus princípios éticos e políticos entendendo-o não como: [...] um processo de construção permanente e cotidiana em defesa de uma perspectiva ética, teórica e política que subsidia Assistentes Sociais e as entidades nacionais da categoria para aturarem em condições concretas (CFESS, 2009, p. 3). Cabe considerar se que o presente debate sobre o Projeto Ético Político do Serviço Social não se esgota, sendo um tema que necessita de dedicação e reflexão por parte dos/as profissionais comprometidos/as com a formação e com o exercício profissional. REFERENCIAS ABRAMIDES, M. B. CABRAL, M. do S. R. O significado do papel do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais CBAS In Revista Serviço Social e Sociedade nº 100, P São Paulo: Cortez, BARROCO. M.L. Ética Fundamentos Sócio Histórico- Biblioteca Básica/ Serviço Social. São Paulo: Cortez, BARROCO. M.L. Materialidade e potencialidade do Código de Ética dos Assistentes Sociais Brasileiros. In Código de Ética do Assistente Social Comentado CFESS (org.) p São Paulo: Cortez, BRAZ. M. Notas sobre o Projeto Ético Político do Serviço Social, CFESS, Brasília, GUERRA, Y. A instrumentalidade do serviço social. 8ª ed. São Paulo: Cortez, IAMAMOTO in CFESS/ ABEPSS, Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais Brasília, CFESS/ABEPSS, IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social em Tempos de Capital Fetiche. São Paulo: Cortez, IAMAMOTTO. M. V. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: Esboço de uma história. 11ª ed. São Paulo: Cortez, MARTINELLI, M. L. Análise do contexto socioeconômico e político no Brasil na década de 1970 e suas implicações para o serviço social. In: 30 Anos do Congresso da Virada p CFESS (Org.); ABEPSS; ENESSO; CRESS/SP (Coorg.). Brasília, NETTO, J.P. Ditadura e Serviço Social: Uma Análise do Serviço Social no Brasil Pós-64-12ª Ed. São Paulo: Cortez; PAIVA, B. A. de; SALES, M. A. A nova ética profissional: práxis e princípios. In Serviço Social e Ética: convite a uma nova práxis. 11ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.
13 CFESS, Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais, Lei nº 273 de 13 de março de
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