PSICOLOGIA, QUEIXA E EXCLUSÃO ESCOLAR
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- Yago Oliveira Mendonça
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1 PSICOLOGIA, QUEIXA E EXCLUSÃO ESCOLAR Disciplina: Psicologia Educacional II Profª Ms. Luciene Blumer
2 Deu-se que certa vez, numa escola qualquer, transcorria uma aula normalmente. Após a professora ter atingindo sua explanação do ponto previsto para aquele dia, um dos alunos a interrompe: 'Professora, eu não entendi '. A professora explica o ponto de novo. O aluno reafirma: 'Não entendi!'. A professora preocupada com o cumprimento do programa, explica pela derradeira vez. O aluno retruca no final: 'Eu não disse que não ouvi, eu disse que não entendi' (AQUINO, J. G. Erro e fracasso na escola. São Paulo: Summus,1997, p. 91, grifos meus).
3 Fracasso escolar: Quantidade X Qualidade do ensino Quantidade: década de 80 aumento do nº de vagas nas escolas, garantindo o acesso de grande parte da população da zona urbana. Qualidade: altos índices de exclusão escolar (evasão e repetência), baixa remuneração aos professores, baixos índices de investimento em educação pública em relação ao PIB, etc. Pedagogia da Repetência: Acredita-se que se um aluno repetir terá a oportunidade de refazer/ reparar aquilo que não sabe ou não estudou.
4 Ferraro: Exclusão da Escola (não-acesso) Exclusão na Escola (repetência e evasão). Aumento na quantidade de alunos + baixa qualidade: vários alunos passaram a ser encaminhados para serviços de atendimento psicológico. Queixa escolar: maior motivo de encaminhamento para serviços de atendimentos psicológicos nas clínicas escolas de cursos de Psicologia e em unidades de atendimento do sistema público de saúde. Basicamente é entendida como o problema do aluno em aprender: Dados: 70% Região Sudeste de SP; 60% SAPSi 60% das crianças que entram na 1ª série chegam até a 4ª série. 40% repetem ou evadem.
5 Perfil da clientela encaminhada para os serviços Maioria: crianças na faixa etária de 6 a 10 anos, com pico de 8 e 9 anos. Sendo predominantes meninos (71%), que freqüentam a escola pública (57%), estudam entre 1º e 4º séries do 1º grau, foram encaminhadas pela própria escola (29%) e já haviam passado por outro profissional de saúde (52%), são trazidos pelos pais, que apresentam pouca escolarização. Criança considerada problema, geralmente, vem de escolas públicas e pertence às camadas mais humildes da sociedade. Os meninos são encaminhados por distúrbios do desenvolvimento e de habilidades escolares. As meninas por comportamentos não explícitos. A queixa mais freqüente são as dificuldades escolares.
6 A presença maciça de queixa escolar nos atendimentos realizados pelos psicólogos ocorre com crianças que apresentam problemas de aprendizagem e que estão no início do processo de alfabetização e na seqüência das séries iniciais. Proença alerta para o risco da atitude diagnóstica ou preditiva da atuação da criança no início do processo de alfabetização. Passa a ser vista como um problema potencial, necessita de atendimento preventivo. Risco: profecia auto-realizável (Jacobson e Rosenthal) ir mal à escola porque é isso que se espera dela.
7 Explicação tradicional para as dificuldades escolares o Muitas dificuldades tornam-se evidentes quando as crianças entram na escola: Criança seria portadora de dificuldades emocionais e conflitos internos que se revelam ao entrar em contato com um ambiente desafiador e hostil como a escola. o Formação dos professores: enfatiza as explicações psicológicas aos problemas de aprendizagem. o O professor que trata seu aluno como especial, nem imagina que poderia fazer diferente. Faz o que lhe parece evidente e natural. oquestão de gênero: meninos são os maiores encaminhados para o atendimento psicológico: medo da escola que o menino (aluno) torne-se um futuro marginal.
8 Postura dos pais quanto ao encaminhamento para atendimento psicólogo: Muitos não conseguem compreender os motivos dos encaminhamentos: Procuram encontrar suas causas na história de vida culpabilização: Acho que foi porque quando era pequeno caiu de uma laje e bateu a cabeça. As vezes tentam atribuir significado a problemas que nem identificam. Gera conflito diante daquilo que observam e o que a escola relata. Encaminhamento: gera angústia, pois o atendimento psicológico é muitas vezes associado a problemas mentais, à loucura, à problemas graves. Problema: escola atrelar a continuidade na escola ao acompanhamento psicológico.
9 Como a queixa escolar vêm sendo atendida pelos psicólogos, ou que práticas de atendimento tem sido geradas para solucioná-la? Temos ainda o predomínio do modelo clinico: Tripé - entrevista inicial/anamnese; aplicação de testes; encaminhamento à psicoterapia e orientação de pais. Psicólogo aceita a demanda: a avaliação de um profissional sela destinos (Patto). Crítica aos testes psicométricos, projetivos, e de prontidão. Dificuldade de aprendizagem passa a ser apenas um problema individual (do aluno). Preocupação demasiada com diagnóstico.
10 Esses alunos acabam virando personagens, que são objetivações de uma série de práticas como: psicólogos fazendo avaliações diagnósticas para encaminhamento, professores entendendo os problemas das crianças como algo individual ou familiar, a exigência de um laudo psicológico para a criança estar na classe especial. Quando se fala em queixa escolar rapidamente há uma correlação em que a dificuldade de aprender é atribuída a um déficit cognitivo, intelectual e emocional do aluno. Culpabilização da vítima: estudos questionam a concepção que culpabiliza a vítima e chamam a atenção para a má qualidade do ensino, e a presença de estereótipos e preconceitos com relação a criança pobre.
11 O que as práticas de psicodiagnóstico incluem ou excluem? Certas práticas potencializam a diferença ser vivida como negação, como algo qualitativamente inferior. Buscam uma homogeneização que restringem a diversidade e a diferença ao campo do normal e do anormal. Praticas clínicas tradicionais: incluem a busca do sentido da existência, do significado de estar no mundo, compreender-se e lidar com seus anseios e desejos, mas exclui todo um contexto escolar no qual a criança está inserida, exclui a existência da diversidade escolar, de seus determinantes e variantes.
12 Naturalização: Modelo psicologizante ou medicalizante. Naturalizar é pensar que o acontece é decorrente da natureza mesma das coisas e não da história. Aprisiona-se a diferença. Cristalizam-se as relações: queixas são as mesmas há muito tempo. Reflexo de uma visão de mundo que explica a realidade a partir de estruturas psíquicas e nega as influencias e/ou determinações das relações institucionais e sociais sobre o psiquismo (encobre arbitrariedades, estereótipos e preconceitos).
13 Problemas inexistentes: porque acontece isso e não aquilo, porque o aluno não aprende? Como se o normal fosse aprender. Perguntas mal formuladas: agrupam arbitrariamente coisas que diferem de natureza. Eternas comparações: a saída daquele aluno da escola foi uma fuga. São praticas singulares, portanto de naturezas diferentes. Captura do desejo: o desejo de ler a história fica capturado pelo devo fazer a lição. Desejo dá lugar a obrigação.
14 Que lugar (escola) é esse? o Diversidade e heterogeneidade na vida escolar, diferentes escolas, diferentes professores, corpo administrativo, com diferentes apropriações das regulamentações governamentais. o Não se pode falar da escola com um ser abstrato, homogêneo. o Mas como um espaço contraditório, dinâmico, confuso, divergente, atravessado por muitas outras instituições.
15 Possibilidades de intervenção Psicólogo: deve urgente rever suas interpretações, práticas e ampliar o olhar... Outras possibilidades: conhecer como a professora entende os problemas de seu aluno; colher informações sobre o contexto de sala de aula, obter dados sobre a história escolar da criança, sobre a classe em que está e o que pensa sobre as queixas feitas pela professora. formar pequenos grupos nos quais são criados espaços de expressão e comunicação, em que a criança fala de seu aprendizado, de sua vida escolar e mostra as suas potencialidades cognitivas e expressivas. Paralelamente trabalhar com os professores que encaminham as crianças.
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