Gabinete do Conselheiro Renato Costa Dias

Transcrição

1 PROCESSO Nº: 3342/2015-TC. INTERESSADO: Prefeitura Municipal de Mossoró ASSUNTO: Dispensa de Licitação RESPONSÁVEL: Abertura de Processo Seletivo Locação de Veículos RELATOR: Conselheiro Renato Costa Dias EMENTA: CAUTELAR. PROPOSTA DO CORPO TÉCNICO E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS E PRINCIPIOLÓGICOS. DEFERIMENTO. Relatório Os presentes autos versam sobre processo de caráter seletivo e prioritário, cujo objeto diz respeito à análise preliminar de documentos relativos ao Pregão Presencial nº. 105/2014, deflagrado pela SEMAD Secretaria Municipal de Administração da Prefeitura de Mossoró/RN, sob o Sistema de Registro de Preços SRP, do tipo Menor Preço (julgamento por lote), no valor total de R$ ,76 (dezoito milhões, quatrocentos e dezoito mil, trezentos e quarenta e seis Reais e setenta e seis centavos. Em análise preliminar da matéria, o Corpo Técnico da Diretoria da Administração Direta DAM, emitiu a informação (fls. 178/188), por meio da qual levantou a existência de algumas supostas irregularidades, principalmente no que concerne à forma de julgamento escolhida pela Administração Municipal, que impediu a contratação dos itens individuais mais baratos. Sugeriu, portanto, a imposição de medida cautelar, consistente na suspensão da contratação de alguns itens, com objetivo de evitar lesão ao ente público. Com vista dos autos, o representante do Ministério Público Junto ao Tribunal de Contas do Estado MPJTC, na lavra do Douto Procurador Carlos Roberto Galvão Barros, opinou pelo deferimento da medida cautelar proposta pelo Corpo Instrutivo, nos exatos termos sugeridos originalmente. É o que importa relatar, passo a votar.

2 Fundamentação Emerge da instrução dos autos que o certame tem por objeto a locação de aproximadamente 215 (duzentos e quinze) veículos de diversas espécies, desde veículos comuns, como motocicletas e automóveis de passeio, a outros utilitários, como ônibus, minivans e vans p/ passageiros, veículos de carga, caminhonetes, além de veículos utilitários especiais como ambulâncias, guindastes e sky munck (com cesto aéreo). Infere-se, assim, que, embora possuam o mesmo gênero (veículos), são de espécies muito distintas entre si e podem ser contratados separadamente. Percebe-se assim, que a forma mais vantajosa de contratação pela administração pública, nesses casos, consiste em que se possa oferecer a oportunidade de concorrência entre os licitantes, levando em consideração a competição pelos mesmos itens, quando as empresas, especializadas em cada um deles pode livremente procurar oferecer preços mais baratos, assim, empresas que comercializam veículos de mesma espécie, ou apenas uma pequena quantidade deles, estariam mais aptas a ter foco somente nesse produto. Essa é a inteligência prevista em nossa legislação para casos como o verificado nos autos, conforme estabeleceu a previsão encartada no art. 23, 1º da Lei nº /93, que reza o seguinte: Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado da contratação: 1 o As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão divididas em tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade sem perda da economia de escala.

3 Esse entendimento encontra-se, inclusive, sumulado pelo Tribunal de Contas da União TCU, como podemos perceber na lição jurisprudencial transcrita: Súmula Nº 247 de 10/11/2004 É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de habilitação adequar-se a essa divisibilidade. Note-se que pode haver a divisão em lotes, desde que haja alguma causa, motivo ou fator que justifique a adoção desse procedimento, como por exemplo, quando surge a necessidade de sua entrega, prestação, fornecimento, etc. em áreas geográficas distintas e específica, porém não se encontra no presente processo, ao menos em uma primeira análise, nenhum elemento que pareça justificar a decisão tomada. Dessa forma, infere-se da instrução processual que, se a Administração Pública houvesse procedido conforme a lei a obriga agir, a contratação dos itens em questão poderia se dar por valor mais vantajoso, caracterizando assim, fortes indícios de prejuízo ao Erário. De posse desses elementos, tanto o Corpo Técnico, quanto o MPJTC, provocaram esta Corte de Contas, no sentido da requerer a suspensão cautelar de itens do contrato onde houve a ocorrência dos supostos contratos com valores a maior, pelo ente Municipal. Tal pretensão encontra abrigo na Lei Complementar Estadual nº 464/2012, que traça as linhas gerais das diretrizes aplicáveis ao caso, no mesmo sentido do pleito processual, como podemos extrair diretamente do texto legal, abaixo transcrito: Art. 1º O controle externo, a cargo da Assembleia Legislativa, é exercido com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado, ao qual compete:

4 X - suspender, cautelarmente, a execução de ato ou procedimento, diante da iminência de lesão grave e de difícil reparação ao patrimônio público, ou determinar a sua suspensão, no caso de contrato; Art No início ou no curso de qualquer apuração, havendo fundado receio de grave lesão ao patrimônio público ou a direito alheio ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, o Tribunal poderá, de ofício ou mediante provocação, determinar medidas cautelares. 2º As medidas cautelares poderão ser adotadas sem prévia manifestação do responsável. Art São medidas cautelares a que se refere o art. 120, além de outras medidas de caráter urgente: II - suspensão da execução de ato, contrato ou procedimento, até que se decida sobre o mérito da questão suscitada; III - sustação de ato, contrato ou procedimento, nos termos do art. 1º, incisos VII, VIII, IX e X; Impõe-se que a competência dos Tribunais de Contas não se restringe apenas à verificação da gestão pública, a própria lei lhe confere agir em prol de evitar a prática de atos lesivos ao patrimônio e à gestão pública. É de se notar, preliminarmente, que a medida cautelar inaudita autera part deve preencher alguns requisitos principiológicos, que são o fumus boni júris e o periculum in mora.

5 Analisando o caso concreto, percebe-se que a fumaça do bom direito encontra-se sobejamente caracterizada no levantamento preciso, feito pelo Corpo Instrutivo da DAM, dos itens em que haveria proposta individual mais vantajosa, sendo racional a não permissão de contratação desses itens, quando haviam outras propostas preteridas com valores inferiores. Quanto ao requisito do perigo na demora, é patente que a permissividade na continuidade da execução dos contratos traria prejuízos ao ente municipal, em razão da realização da efetivação dos pagamentos a maior, pelo que entendo presente os requisitos necessários ao deferimento da liminar. Voto Em sendo assim, acolhendo integralmente o entendimento do Corpo Instrutivo e do parecer do Ministério Público Especial, inclusive seus fundamentos VOTO pelo DEFERIMENTO do pedido de SUSPENSÃO CAUTELAR dos efeitos da Ata de Registro de Preços, e dos demais atos dela decorrentes originada do procedimento licitatório Pregão Presencial nº 105/2014 especificamente no que concerne ao registro do Lote 1 Grupo E (Minivan p/ 07 pessoas); Grupo G (Van p/ 16 pessoas); Grupo M (Veículo 2.5 cabine dupla 4x4); Grupo P (Furgão 1400cc ambulância) e Grupo Q (Motocicleta 125cc), adjudicados à empresa Eurorent Locadora de Veículos; do Lote 2 Grupo E (Veículo kg carga), adjudicado à empresa G3 Neto Serviços Eireli - ME; e do Lote 6 Grupo B (Ônibus 50 passageiros com motorista), adjudicado à empresa Master Locações Ltda ME, até a prolação de decisão meritória por esta Corte de Contas Sala das Sessões, em Renato Costa Dias Conselheiro-Relator