Paisagem Sonora. Paisagem Sonora e Classificação dos sons Prof. Lawrence Shum. Leia a seguir o conceito de Paisagem Sonora (SCHAFER, 1977, p.
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- Manoel de Escobar Medina
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1 Paisagem Sonora Leia a seguir o conceito de Paisagem Sonora (SCHAFER, 1977, p. 366): Paisagem sonora O ambiente sonoro. Tecnicamente, qualquer porção do ambiente sonoro vista como um campo de estudos. O termo pode referir-se a ambientes reais ou a construções abstratas, como composições musicais e montagem de fitas, em particular quando consideradas como um ambiente. (Schafer 1977: 366) Assim, se paisagem sonora é qualquer porção do ambiente sonoro vista como um campo de estudos e pode referir-se a ambientes reais ou a construções abstratas (...) em particular quando consideradas como um ambiente, faz sentido afirmar que filmes, vídeos e aplicativos hipermidiáticos possuem paisagens sonoras próprias. Estas paisagens delimitam a extensão do ambiente sonoro e, na medida em que se dilatam ou contraem, definem o tamanho aparente do espaço sugerido pelos sons, além dos limites do campo visual da tela (cinema) ou do monitor (games / hipermídia). Se apresentarmos, por exemplo, a imagem de uma sala ao som de um relógio de parede, o campo sonoro estará circunscrito ao ambiente imediato. O mesmo não irá ocorrer, se a mesma imagem for mostrada ao som de ondas distantes do mar. Neste caso, não apenas a extensão sonora será ampliada, como o áudio funcionará como índice de que aquela sala faz parte de uma casa próxima a uma praia. As paisagens sonoras podem apresentar duas grandes áreas: on-track e off-track. On-Track significa que o som está presente e pode ser ouvido; off-track, ao contrário, representa os negativos sonoros, isto é, sons sugeridos pelas imagens, mas que não estão presentes ou sons que não podem ser ouvidos em decorrência de mascaramento por outros sons de maior amplitude com espectro de freqüências similar.
2 A área on-track pode ser dividida em duas regiões: a diegética e a não-diegética. A não-diegética refere-se a tudo aquilo que é sobreposto ao plano da narrativa. Por exemplo, músicas incidentais e narrações em voz over 1. A região não-diegética é freqüentemente planejada para criar climas específicos, causar impacto, surpreender, criar tensão e relaxamento. Já a diegética está relacionada diretamente aos acontecimentos apresentados e subdivide-se em visível e acusmática. A visível contém os sons onscreen, isto é aqueles cujas fontes (seres, objetos ou máquinas) podem ser vistas na tela. A região acusmática, por outro lado, reúne os sons offscreen, responsáveis pela delimitação da extensão do ambiente sonoro. Os sons offscreen, por sua vez, dividemse em externos, internos e on the air. Chion (1994: 85) classifica os sons offscreen externos em dois tipos: ativos e passivos. Ativos são todos aqueles que instigam, deixam dúvidas, causam inquietações como o que será isso?, ou quem será?", ou ainda como será?. Podem funcionar como keyframes sonoros, isto é, sons que ocorrem em sincronia com transições ou cortes de imagens. Os externos passivos, por sua vez, são responsáveis pela criação de uma atmosfera ou de um ambiente sonoro (ambient sounds). Eles são elementos sonoros que envolvem e estabilizam as imagens, como ruídos de tráfego, de vento ou do ambiente. Ao contrário dos ativos, não exercem papel importante na edição das imagens (no caso dos filmes) e se subdividem, conforme Chion (1994: 85), em sons do lugar (territory sounds) e sons discretos (elements of auditory setting). Sons do lugar são ambientações sonoras contínuas, como ruídos de máquinas em uma fábrica. Configuram-se na forma de massas ou texturas sonoras; já os elementos discretos da paisagem sonora são sons pontuais que oferecem pistas acerca do espaço existente no entorno da imagem apresentada. Por exemplo, o canto de um pássaro ou as badaladas do sino de uma igreja. No cinema, esses sons podem também funcionar como keyframes sonoros. Dentro das categorias onscreen e offscreen de sons diegéticos podem ocorrer também sons internos (objetivos e subjetivos) e sons on the air. Sons internos objetivos estão relacionados a processos biológicos como respiração, batimentos cardíacos, etc. 1 Convém aqui estabelecer uma diferenciação sutil entre voz over e voz off. Voz over é a voz sobreposta ao plano da narrativa na região não-diegética, enquanto a voz off pode ser a de um personagem na região diegética.
3 Caso o personagem não seja humano, pode-se criar sons internos específicos a partir das suas características morfológicas, mecânicas, eletrônicas e/ou físico-químicas. Sons on the air são emitidos por dispositivos como receptores de rádio, TV, intercomunicadores, celulares, computadores conectados a websites, etc. Já os sons externos são todos aqueles provocados por suas fontes sonoras (seres, máquinas, objetos, etc.) dentro da região diegética. Observe os gráficos a seguir:
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5 Classificação dos sons No processo de construção de Paisagens Sonoras, considere os tipos de sons (vozes, músicas e efeitos) a serem empregados: OFF-TRACK Negativos Sonoros (sons sugeridos pela presença de fontes sonoras, porém ausentes) Sons mascarados por outros sons com amplitude maior ON-TRACK Diegéticos (fazem parte do espaço da narrativa) Não-Diegéticos (são sobrepostos ao espaço da narrativa)
6 Diegéticos (fazem parte do espaço da narrativa) o Onscreen (suas fontes sonoras são visíveis) Externos (ocorrem no ambiente) Internos Objetivos (processos biológicos como respiração, batimentos cardíacos, outros órgãos, etc.) Subjetivos (sonhos, devaneios, delírios, estados alterados de consciência, etc.) On the air (provocados por dispositivos como rádios, auto-falantes, tocadores de mp3, etc.) o Offscreen (suas fontes sonoras não são visíveis) Externos (ocorrem no ambiente) Ativos (instigantes, chamam a atenção, keyframes sonoros) Passivos (ambient sounds ou sons ambiente) o Territory Sounds: sons do lugar, sons contínuos, massas ou texturas sonoras. o Elements of Auditory Setting: sons discretos. Também podem atuar como keyframes sonoros. Internos Objetivos (processos biológicos como respiração, batimentos cardíacos, outros órgãos, etc.) Subjetivos (sonhos, devaneios, delírios, estados alterados de consciência, etc.) On the air (provocados por dispositivos como rádios, auto-falantes, tocadores de mp3, etc.) Não-diegéticos (são sobrepostos ao espaço da narrativa)
7 Atividade Prática I Mapeamento da paisagem sonora (classificação dos sons) de trecho com duração entre um e dois minutos de filme ou vídeo selecionado em websites como o YouTube ( Instruções: Selecione o trecho de filme ou vídeo. Algumas referências para pesquisa: e Assista o trecho selecionado. Faça o mapeamento da Paisagem Sonora por tempo ou cenas. Exemplo de mapeamento: Tempo Descrição Classificação do Som / Observações 00:00 a 01:49 Cama de molas em movimento vertical Alternância entre os planos Diegético Onscreen e Diegético Offscreen. Ocorrem variações de amplitude (volume) e freqüência de acordo o plano em que o som é apresentado. Entre os instantes 00:13 e 00:30 é aplicado efeito de reverberação para simular propagação através de tubulação metálica. 00:16 a 00:30 Violoncelo Inicia em fade in como Diegético Offscreen e transforma-se em Diegético 00:35 a 00:39 Mulher batendo em tapete para tirar pó Onscreen. Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. O som da cama tem amplitude menor e reverberação que representa a propagação do som na escadaria do edifício. 00:39 a 00:43 Bomba de pneu de bicicleta Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 00:39 a 00:43 Som de TV ligada Diegético Onscreen on the air. 00:44 a 00:46 Violoncelo Diegético Onscreen.
8 Tempo Descrição Classificação do Som / Observações 00:47 a 00:50 Cama de molas em Diegético Onscreen. movimento vertical 00:51 a 00:56 Mulher batendo em tapete Diegético Onscreen. para tirar pó e fungada da mulher 00:56 a 00:58 Metrônomo Diegético Onscreen. 00:52 a 00:58 Violoncelo Inicia em fade in como Diegético Offscreen e transforma-se em Diegético Onscreen. 00:59 a 01:00 Bomba de pneu de bicicleta Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:00 a 01:03 Rolo de pintura no teto Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:00 a 01:03 Violoncelo Diegético Offscreen com amplitude muito baixa 01:04 a 01:06 Máquina de perfuração Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:07 a 01:10 Diapasão, emissão vocálica e Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. objeto cilíndrico 01:07 a 01:10 Goteira em bacia OFF-TRACK Negativo Sonoro. 01:11 a 01:16 Cama de molas em Diegético Onscreen. Ocorre variação no movimento. movimento vertical 01:17 a 01:19 Rolo de pintura no teto Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:18 a 01:19 Violoncelo Diegético Offscreen com amplitude muito baixa 01:20 a 01:21 Música aparentemente vinda Diegético Offscreen on the air. de rádio 01:20 a 01:21 Mulher tricotando OFF-TRACK Negativo Sonoro. 01:22 a 01:23 Violoncelo Diegético Onscreen em primeiro plano. 01:24 a 01:25 Mulher batendo em tapete Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. para tirar pó 01:26 a 01:27 Máquina de perfuração Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:28 a 01:29 Bomba de pneu de bicicleta Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:28 a 01:29 Música aparentemente vinda Diegético Offscreen on the air com amplitude muito baixa. de rádio 01:29 a 01:30 Cama de molas em Diegético Onscreen. movimento vertical 01:30 a 01:32 Metrônomo Diegético Onscreen.
9 Tempo Descrição Classificação do Som / Observações 01:30 a 01:32 Violoncelo Diegético Offscreen em primeiro plano. 01:32 a 01:34 Mulher batendo em tapete Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. para tirar pó 01:35 a 01:36 Música aparentemente vinda Diegético Offscreen on the air com amplitude muito baixa. de rádio 01:35 a 01:36 Bomba de pneu de bicicleta Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:36 a 01:37 Violoncelo Diegético Onscreen em primeiro plano. 01:37 a 01:38 Mulher batendo em tapete Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. para tirar pó 01:38 a 01:39 Rolo de pintura no teto Diegético Onscreen no ritmo da cama de molas. 01:39 a 01:40 Cama de molas em Diegético Onscreen movimento vertical 01:40 a 01:45 Violoncelo Alterna entre Diegético Onscreen e Diegético Offscreen. 01:42 a 01:45 Grito de orgasmo do Homem Alterna entre Diegético Onscreen e Diegético Offscreen. 1 01:45 Estouro de pneu de bicicleta Diegético Onscreen. 01:46 Ruptura de corda do Diegético Onscreen. Violoncelo 01:46 Grito de mulher Diegético Onscreen. 01:47 a 01:48 Grito de Homem 2 Começa Diegético Onscreen e termina Diegético Offscreen. 01:49 Suspiro do Homem 1 Diegético Onscreen.
10 Atividade Prática II Crie duas paisagens sonoras, utilizando músicas não-diegéticas, para o arquivo de vídeo 07_J_e_June_Base_p_Extensao_do_AS.wmv. O objetivo é perceber o quanto a música não-diegética pode influenciar a percepção da narrativa. Referências Bibliográficas CHION, Michel (1994). Audio-Vision. Sound on Screen. New York: Columbia University Press [Translated by Claudia Gorbman. Original title: L' Audio-Vision. Paris: Editions Nathan, 1990] SCHAFER, Murray (1977). A Afinação do Mundo. São Paulo: Fundação Editora da UNESP (FEU) [Tradução de Marisa Trenc de O. Fonterrada. Título original: The Tuning of the World. ISBN: ]. SHUM, Lawrence R. (2008). Topologia (s) Sonora (s) nos Games. Tese de Doutorado em Comunicação e Semiótica defendida na PUC-SP. Orientador: Prof. Dr. Eugênio Trivinho.
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