CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA REPRESA DO LOBO (ITIRAPINA-SP)
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- Natália Angelim Neiva
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1 CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA REPRESA DO LOBO (ITIRAPINA-SP) Arthur Mattos (1); João Batista Miranda Ribeiro; Katty Maria da Costa Mattos; Eneida Aleixo Villa (1) USP-EESC-SEA ABSTRACT This work presents the climatic characteristics of Lobo watershed in Itirapina-SP, during The climate classification for Thornthwaite & Matter (1955) method is B 2 r B 3 a (moist climate with few hydric deficiency). Descriptions of other variables are presents, just as humidity, rain, solar radiation, insolation and temperatures maxim, mean and minimum. 1. Introdução A Represa do Lobo vem sofrendo, como já ocorreu em outras bacias, o processo de expansão e exploração progressiva dos seus ecossistemas, abalando de forma constatada as populações aquáticas, e possivelmente a flora e a fauna circunvizinha, e possivelmente acarretando alterações nas componentes do ciclo hidrológico local. Este processo deve-se, principalmente, ao turismo, fábricas e usinas e o comércio imobiliário. A identificação de um adequado sistema de manejo é muito importante para fazer melhor uso e proveito dos recursos naturais, ao mesmo tempo que esses recursos são conservados para as gerações futuras, garantindo uma produção sustentada no tempo, compatível com uma boa qualidade ambiental. MATTOS (1982) afirma que o clima fundamentado na concepção dos fatores físicos da região, é fator básico às delimitações e análises dos potenciais naturais e da relevância à organização regional das atividades econômicas e sociais. Este trabalho apresenta informações meteorológicas que servem de subsídios para a compreensão dos fenômenos interligados em outras áreas de conhecimento. Para tal fim tem como objetivo principal analisar as características climáticas da Represa do Lobo, localizada no município de Itirapina-SP. Também será feito o balanço hídrico para este local e a classificaçção climática. Para este fim serão considerados dez anos de dados da Estação Meteorológica do CRHEA - Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada, no período de 1987 a Materiais e Métodos De acordo com MESSINA (1997), a Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Lobo é uma bacia de quarta ordem e situa-se na região central do Estado de São Paulo, entre os municípios de Brotas e Itirapina, entre as coordenadas extremas: 22 1 e 22 2 de latitude sul e e de longitude oeste. VILLELA & MATTOS (1975) relataram que o Ribeirão do Lobo é um dos formadores pelo lado esquerdo, do rio Jacaré-Guaçu, afluente da margem direita do Rio Tietê. O ribeirão do Lobo é seu principal afluente, o ribeirão Itaqueri têm suas nascentes no alto da Serra de Itaqueri, onde o nível freático é definido pelo contato do arenito Bauru com o basalto, entre 9 e 94 m. Estes ribeirões apresentam as direções S-N e SSE-NNW que correlacionam-se com a inclinação desta aba da serra, e drenam compartimento deprimido em relação à serra de Itaqueri e de Santana (Planalto de Campo Alegre), que é constituído de arenitos da Formação Botucatu. Com o intuito de gerar energia elétrica para a região, com capacidade de 14kW, a antiga Central Elétrica de Rio Claro S.A. (SACERC) hoje Centrais Elétricas de São Paulo (CESP), construiu a represa, no ano de 1936.
2 Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizada a série histórica de dados nos períodos de para caracterizar a climatologia da Bacia do Ribeirão do Lobo, adquiridos através da estação meteorológica do CRHEA-EESC-USP. Os dados foram analisados em termos de totais e médias mensais das variáveis estudadas. Os dados coletados foram: precipitação pluvial, temperaturas máximas, médias e mínimas, umidade relativa do ar, velocidade do vento a 2 e 1 m de altura, radiação solar global e insolação. Com base nos dados de temperatura do ar e precipitação foi estimado o balanço hídrico e a classificação climática pelo método de Thornthwaite & Matter (1955). Todas as figuras serão apresentadas com base na variação média para o período de Resultados 3.1. Temperatura do Ar Na Figura 1 estão plotadas as variações sazonais das temperaturas máximas, mínimas e médias mensais, dos dados da estação meteorológica do CRHEA. Como era de se esperar, as variações Temperaturas (C) 35, 3, 25, 2, 15, 1, 5,, Meses Máxima Média Mínima Figura 1. Variação sazonal das temperaturas do ar máxima, mínima e média mensal. das temperaturas médias são características das estações do ano, onde os valores mínimos são observados no outono-inverno (maio a agosto) e os máximos na primavera-verão (setembro a abril). Nota-se que a mínima temperatura ocorre no mês de julho (9,5 o C) e a máxima no mês de novembro (29,8 o C). As temperaturas médias mensais mais elevadas foram observadas em dezembro, janeiro e fevereiro (23,3 o C). Em termos de média anual, a máxima foi de 27,6 o C, a mínima de 14,3 o C e a média diária de 2,7 o C. De certa forma, não foram verificadas na variação intra-anual, grandes alterações dos valores de temperatura, cuja maior diferença entre as temperaturas médias anuais ficou em 1,7 o C, não sendo portanto constatada nenhuma tendência a alteração da temperatura média na Bacia do Ribeirão do Lobo. Logicamente que a ventilação natural no local contribui para amenizar a temperatura do ar, porém a progressão do desmatamento local poderá causar alterações na reflectânica superficial (aumentando o aquecimento superficial) que poderá se sobrepujar ao efeito amenizador, culminando com a elevação da temperatura do ar Umidade Relativa e Precipitação Pluvial A variação sazonal da precipitação pluvial e da umidade relativa do ar é mostrada na Figura 2. Só foi possível utilizarmos valores de umidade relativa do ar de 1989 a A umidade relativa
3 atinge o menor valor (56%) justamente no pico do inverno, o que é característico do inverno frio e seco nessa região. Os valores mais elevados de umidade relativa foram de 71% nos meses de fevereiro e março, durante o verão. Este efeito está associado com o aumento na convecção devido ao maior aquecimento da superfície, cujo transporte de calor e umidade para a atmosfera favorece as chuvas de verão. Uma preocupação concernente ao desmatamento é que a vegetação contribui para o aumento da umidade do ar, uma retirada da cobertura vegetal em grande escala pode influir numa redução ainda maior da umidade relativa do ar. Os baixos valores de umidade do ar no inverno normalmente causam desconforto e apresentam consequências biológicas, como ressecamento da pele e dificuldade de respiração. Quanto a precipitação, como era de se esperar, apresenta elevados valores no verão e baixos valores no inverno (junho a agosto). Normalmente no inverno as chuvas são ocasionais devido à comum predominância de alta pressão (subsidência de ar) sobre a região e que inibe a formação de nuvens. No total anual a precipitação representa 1559,4 mm. Esta quantidade de água precipitada sobre a bacia apresenta riscos de erosão decorrentes do desmatamento, em função da energia transportada no escoamento durante as chuvas, o que acarreta perda considerável das camadas superficiais do solo. Esta erosão já é visível na Represa do Broa e transporta sedimentos para dentro da represa, o que poderá causar também assoreamento dos leitos. Quanto mais se retira a vegetação, mais o solo fica exposto e compactado, impedindo a penetração da água da chuva nas camadas mais profundas do solo. Vale ressaltar que estudos recentes detectaram que grande parte da área no entorno da represa apresenta grande susceptibilidade à erosão. 3 8 Precipitação (mm) Umidade Relativa (%) PRP UR Figura 2. Variação sazonal da precipitação pluvial e umidade relativa Radiação Solar Global e Insolação O comportamento da radiação solar global e da insolação é apresentado na Figura 3. Observa-se a maior incidência de radiação solar durante a primavera e verão, quando os raios do Sol incidem mais diretamente sobre a região, cujos respectivos valores de radiação solar global foram 532,5 W.m -2 e 476,3 W.m -2. Como o saldo de radiação está estreitamente relacionado com a radiação solar global, nesta época há mais energia disponível para alimentar os fenômenos atmosféricos e as necessidades bióticas e abióticas do ecossistema. O menor valor de radiação solar global foi encontrado no mês de junho, quando o Sol está em seu ponto mais extremo no hemisfério norte. No que tange à exploração dos recursos naturais através do desmatamento, a característica negativa do desmatamento é percebida na incidência direta da radiação solar global sobre a superfície, o que aumento o desconforto térmico por aquecer mais a atmosfera e pode influir no metabolismo de plantas e animais. A floresta, por exemplo, armazena boa parte dessa radiação por reflexões múltiplas no dossel, assim, a retirada da cobertura vegetal, dentre outras consequências, poderá elevar a temperatura média do ar. A insolação significa período (tempo) de exposição aos raios solares, ou seja, quanto mais claro estiver o céu (menos nuvens), maior será a insolação. Portanto, os menores valores de insolação observados em janeiro (183,2 horas), fevereiro (172,9 horas) e março (187,5 horas) estão relacionados
4 com o aumento da atividade convectiva, (consequentemente, aumento da nebulosidade local) nesta época do ano, quando as temperaturas superficiais são mais elevadas. Logicamente que durante o inverno, o céu geralmente é mais claro e assim há um aumento da insolação. Como as árvores servem de anteparo natural à incidência da radiação solar à superfície de forma direta, o desmatamento tende a aumentar a exposição aos raios solares. Variação da Radiação Solar Global (W/m2) e Insolação (horas) Meses Insol Rg Figura 3. Variação sazonal da radiação solar global (Rg) e da insolação total (Insol) Balanço Hídrico e Classificação Climática Para determinação do balanço hídrico utilizou-se o método de Thornthwaite e Matter (1955), considerando-se a capacidade de armazenamento de água no solo (para fins climatológicos) de 1 mm. A Tabela 1 apresenta o balanço hídrico para a Represa do Lobo (Broa), e a respectiva classificação climática foi a seguinte: O clima do Broa é do tipo B 2 r B 3 a, ou seja, clima úmido, com pequena deficiência hídrica (nos meses de junho, julho e agosto), mesotérmico, com evapotranspiração anual de 985 mm e concentração da evapotranspiração potencial no verão (três meses mais quentes dezembro, janeiro e fevereiro) igual a 34,1%. Tabela 1. Balanço hídrico para a Represa do Ribeirão do Lobo (Broa), no período de 1987 a MESES TEMP P EP BALHID (C) (mm) (mm) (mm) 23, , , , , , , , , , , , ANO 2,
5 Nota: Na coluna Balanço Hídrico, os números precedidos de do sinal (+) representam excedentes hídricos e os de sinal (-) deficiências hídricas. 4. Conclusões Conforme já foi destacado no texto, a Represa do Lobo em Itirapina-SP já sofre uma expansão em função, principalmente, do turismo na região. Sem ter ainda uma infra-estrutura para e adequar a esta expansão, o crescimento urbano devido à especulação imobiliária traz, de certa forma riscos ao ecossistema local. Como consequências do desmatamento podemos destacar que as queimadas ou desmatamentos retiram os micronutrientes do solo, desprotegendo-o e diminuindo sua fertilidade, favorecendo as erosões. O solo sem cobertura causa o assoreamento de rios, lagos, causando inundações. As represas recebem grande quantidade de terra, sofrendo contínuo processo de assoreamento e prejudicando a vida aquática. Formam-se novas ilhas nos estuários dos rios, impedindo a subida dos peixes e os meios de transportes fluviais. A degradação de várias áreas na represa do Ribeirão do Lobo (Broa) já acontece há mais de dez anos, e claramente percebesse que há uma perda do espaço verde a cada ano. Se por um lado o turismo cresce e traz retorno financeiro a alguns, do outro o ecossistema do Broa sofre com o processo acentuado de degradação. A ação do homem tem sido um fator decisivo para gerar um impacto ambiental. Em contrapartida os desmatamentos deixam os solos descobertos e as enxurradas devido às chuvas causam uma perda da camada superior do solo, com a consequente lixiviação dos nutrientes e carriamento de materiais, na maioria das vezes prejudiciais à flora e fauna da represa. Assim, solos desmatados tendem a tornar-se compactados e pobres em termos de nutrientes. A síntese de impacto ambiental do desmatamento, fundamenta-se na imposição de riscos de extinção da flora e fauna, e também na ameaça ao regime hídrico da região, causando a degradação do ambiente. 6. Referências Bibliográficas BRINO, W. C. (1973). Contribuição à definição climática da Bacia,do Rio Corumbataí e adjacentes (SP), dando ênfase à caracterização dos tipos de tempo - Rio Claro: Tese (Doutoramento) - FFCL. CAGO, A.P. (1974) Clima do Estado de São Paulo Secretaria da Agricultura, v.1 DREW, D. (1986). Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. Trad. João Alves dos Santos. São Paulo: DIFEL, 26pp. FLORES, E.F. (1995). Sistema de Informação Climatológica: desenvolvimento e inserção no sistema de informação geográfica GEO+INF+MAP.- Rio Claro: UNESP - IGCE, Dissertação (Mestrado) MATTOS, A. (1982). Método de Previsão de estiagens em rios perenes usando poucos dados de vazão e longas séries de precipitação- São Carlos: Tese (Doutorado), EESC-USP. THORNTHWAITE, C.W., MATHER,J.R. (1955). The Water Balance- Centerton. Lab. of Climatology, 14p.v.8.. VILLELA, S.M; MATTOS, A.;. Hidrologia Aplicada. São Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil.
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