O ESTUDO DA CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO ROSÁRIO G2 (RG2), GUAÍRA, SP
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- Maria de Begonha Ferrão Oliveira
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1 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, O ESTUDO DA CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO ROSÁRIO G2 (RG2), GUAÍRA, SP Fernando Henrique Ferreira de Oliveira, Neide Barrocá Faccio FCT/UNESP Presidente Prudente, SP Brasil. E mail: nfaccio@terra.com.brl RESUMO Esse trabalho deriva de uma pesquisa em arqueologia pré colonial brasileira que tem por objetivo discutir sobre os resultados da curadoria e da análise do material cerâmico do Sítio Arqueológico Rosário G2. A pesquisa relaciona a interface da geografia com a arqueologia, que tem como objeto, o estudo das ocupações humanas pretéritas por meio dos vestígios materiais de cultura. No caso do RG2, a maior fonte de informação cultural foi a cerâmica indígena. Todavia, relacionamos duas variáveis para entender como o homem pré colonial utilizava as unidades paisagísticas para fabricar seus instrumentos, determinando o Sistema de Ocupação Regional presente no espaço geográfico do sítio. O Rosário G2, situa se em Guaíra, SP. Trata se de um sítio de formação lito cerâmica. A pesquisa arqueológica levou em consideração diversos processos metodológicos, desde a revisão bibliográfica, até as atividades em laboratório, que compreendeu a lavagem, numeração, catalogação, curadoria e análise do material cerâmico. Palavras chave: Sistema de Ocupação Aratu/Sapucaí Sítio Arqueológico. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O artigo foi elaborado com intuito de entender a ocupação dos índios pré coloniais do Sistema Regional de Ocupação Aratu Sapucaí por meio da interpretação e estudo do material cerâmico coletado no Sítio Arqueológico Rosário G2, que está localizado em uma fazenda no Município de Guaíra, SP. Desse modo, esse artigo apresenta os resultados de uma pesquisa na área da arqueologia préhistórica brasileira realizada com materiais cerâmicos provenientes do Sítio Rosário G2. O sítio Rosário G2, situa se no Município de Guaíra, do norte do Estado de São Paulo, na Mesorregião Geográfica de Ribeirão Preto.Do ponto de vista do contexto geográfico o sítio localiza se na unidade geomorfológica do Planalto Ocidental Paulista (ROSS, 2006), numa região de clima tropical alternando se entre quente, seco e úmido ao longo do ano. O estudo da paisagem e da variabilidade da cerâmica mostrou que a região do Sítio Rosário G2 foi ocupada por índios agricultores ceramistas durante o período pré colonial.
2 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, OBJETIVOS O trabalho é norteado pela arqueologia, que é uma ciência que tem por objetivo estudar o espaço por meio das evidências da cultura material produzida pela sociedades pretéritas. Assim, como diz Renfrew e Bahn (2005): La Arqueología se interessa em el conocimiento global de la experiencia humana em el passado: como se organizaba la gente em grupos sociales y cómo exploraba el entorno; que comían, hacían y creían; como se comunicaban y por qué cambiaron sus sociedades (RENFREW; BAHN, 2007, p. 18). Nosso objeto de estudo é o Sítio Arqueológico Rosário G2, caracterizado como tipo litocerâmico (PALLESTRINI; MORAIS, 1982), evidenciando uma ocupação pré histórica de um grupo de índios agricultores ligados à produção cerâmica. Segundo Neves (1995): um sítio arqueológico é o resultado de uma ou mais intervenções em um determinado espaço por uma população no passado. Esse espaço pode ser um abrigo sob rocha, o topo de uma colina, uma planície aluvial, uma praia, etc. As formas e o tempo da intervenção variavam: uma cidade, uma aldeia habitada por vários anos, um acampamento de caça ocupado por algumas horas, um cemitério, um santuário visitado durante décadas por sucessivas gerações (NEVES, 1995, p. 173). A paisagem e a variabilidade da cerâmica indicam que a região do Sítio Rosário G2 foi ocupada por índios agricultores ceramistas, ligados ao Sistema Regional de Povoamento Aratu Sapucaí (MORAIS, 1999/2000). O sistema Aratu Sapucaí foi identificado como uma tradição arqueológica por Valentin Calderon no Estado da Bahia durante o estabelecimento do PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas), que foi criado em 1968 no regime militar com intuito de identificar tradições e fases culturais de ocupações indígenas durante os períodos pré colonial e histórico. Dessa forma, o sistema de ocupação Aratu Sapucaí é um dos principais no contexto arqueológico brasileiro. Esse sistema foi identificado no Brasil Central e se expandiu para outros estados do território, tais como, Bahia, Piauí, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. O sistema de povoamento Aratu Sapucaí decorre da união das tradições Aratu e Sapucaí que foram identificadas por Calderón (1969) como Aratu na Bahia e por Dias (1978) em Minas Gerais como Sapucaí (Foto 1).
3 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, Foto 1. Área de entorno do Sítio RG2. Os índios desse sistema de ocupação instalavam suas moradias nas encostas e topos de morros próximo a pequenos córregos e rios. Segundo Júnior (2006), os índios de assentamentos associados a Tradição Aratu Sapucaí não escolhiam montar suas habitações próximos a grandes cursos d água, devido a sua grande mobilidade pelo território brasileiro. Segundo Júnior (2006), a cerâmica do sistema Aratu Sapucaí se caracteriza por vasilhames piriformes e globulares de variados tamanhos, destacando se grandes potes para armazenagem de líquidos e grãos, urnas funerárias, pequenas vasilhas geminadas, rodelas de fuso que atestam a fiação do algodão, cachimbos, além de pratos e tigelas (JÚNIOR, 2006, p. 18). A tradição Aratu foi identificada por Valentin Calderón (1969/1970), após prospecções realizadas na Bahia, Sergipe e Pernambuco. A origem do nome aratu deu se por causa do sítio arqueológico Guipe, localizado no centro industrial do município de Aratu, próximo a Salvador, BA. Apesar de esse sítio ter sido destruído após a construção da barragem do Riacho Guipe, Calderón realizou um trabalho de salvamento desse sítio.
4 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, Esta tradição abrange além do estado da Bahia os estados de Alagoas, Sergipe, Piauí, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. METODOLOGIA O estudo da indústria ceramista requer compreender o artefato como uma unidade de estudo, desde o início da produção, com a escolha da matéria prima pela oleira, entendendo o processo de fabrico da vasilha, seu uso e função, a reciclagem e descarte, que põe fim a cadeia operatória na produção do artefato e compreender seu contexto no sítio arqueológico. Os procedimentos metodológicos serão elencados abaixo. Revisão bibliográfica; Fichamentos sobre o assunto; Lavagem do material cerâmico; Curadoria do material cerâmico do Sítio Arqueológico Rosário G2; Análise e interpretação da cerâmica do Sítio Arqueológico Rosário G2. RESULTADOS E DISCUSSÕES O estudo da indústria ceramista do Sítio Arqueológico Rosário G2 partiu dos pressupostos teórico metodológicos definidos para o estudo e análise das ocupações ceramistas dos índios do Oeste paulista (FACCIO, 1992). Tomando por base teórica essa metodologia, parte se do pressuposto de tomarmos o artefato como um objeto de análise, com objetivo de entender a sua principal função na sociedade, que é atuar como mediador social entre o homem e a cultura, além de levar em consideração o objetivo da arqueologia que é estudar as sociedades humanas. Portanto, o estudo da unidade paisagística atrelada à variabilidade cerâmica nos indicou que a região do Sítio Arqueológico Rosário G2, assim como um complexo de sítios arqueológicos da mesma região geográfica foi ocupada por índios agricultores ceramistas, que produziram a cerâmica arqueológica ligada ao Sistema Regional de Ocupação Pré colonial Aratu Sapucaí. No âmbito quantitativo foram coletados, curados e analisados 794 fragmentos de cerâmica arqueológica, sendo classificados em quatro categorias de análise, que serão apresentados na tabela 1.
5 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, Tabela 1. Frequência de classes do material cerâmico do Sítio Arqueológico Rosário G2. Classes Quantidade de peças Base 72 Borda 42 Parede 677 Parede de vaso conjugado 01 Total 794 No Sítio Arqueológico Rosário GII foram encontrados 794 fragmentos de vasos cerâmicos. Desses 677 são paredes, 72 são bases, 42 são bordas e um foi classificado como parede de vaso conjugado. Ainda dessas 794 peças, 19 apresentaram engobo branco ou vermelho. Em todos os fragmentos analisados foi identificada a técnica de manufatura de rolete que é a mais difundida entre as tradições e culturas indígenas brasileiras. Na confecção dos vasilhames, utilizou se predominantemente o antiplástico mineral e o caco moído. Na relação do uso do antiplástico, a associação do mineral ao caco moído foi utilizado em 636 peças com cerca de 80,1%. O antiplástico mineral está presente em 157 peças totalizando 19,8%. O uso do mineral associado ao cariapé esteve presente em uma peça. A relação do tipo de pasta utilizada na cerâmica do Sítio Arqueológico Rosário GII foi de 36,52% plástica, 24,81% intermediária e 38,66% dura. A espessura das paredes das peças variou entre 0,4 e 3,0 cm, sendo as bases com maior espessura. O tamanho do antiplástico mineral e do caco moído variou entre 0,1 e 1,3 cm. CONCLUSÃO Ao pensar sobre pré história, logo nos vem em mente imagens de dinossauros e de animais gigantescos em uma crucial luta pela sobrevivência. Porém, com o auxílio da arqueologia, que é uma ciência social responsável pelo estudo das sociedades humanas, percebemos que a vida nesse período vai além desse pensamento. O tema envolve questões polêmicas, sobre a origem e presença humana na terra, a cronologia das datações radiocarbônicas dos artefatos, a extinção da megafauna, as glaciações do período Quaternário, o início da agricultura, da domesticação de animais e plantas, além da sedentarização da espécie humana.
6 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, Assim, entendemos a cultura como a totalidade da experiência adquirida e a soma de conhecimentos acumulados pelo homem que são transmitidos socialmente, como uma herança social. Portanto, a cultura é cumulativa e dinâmica, pode ser imaterial, como a música e o folclore ou material, como os monumentos. Ela se manifesta no cotidiano, nos costumes, hábitos e ações de um povo. No caso do Sítio Arqueológico Rosário G2, a maior fonte de cultura material foi a cerâmica arqueológica, porém, o estado de conservação desse material não estava em boas condições. A destruição das vasilhas cerâmicas do sítio deve se ao uso de máquinas agrícolas como o arado e subsolador que foi utilizado na região na monocultura da cana de açúcar, por isso, não foi possível reconstituir vasilhas inteiras. Desse modo, finalizamos esse trabalho com objetivo de contribuir criticamente para o estudo da pré história brasileira e conscientizar as pessoas sobre a importância do índio na formação cultural do povo brasileiro. REFERÊNCIAS BAHN, P; RENFREW, C. Arqueologia: Teorias, métodos y prácticas. Editora Akal, CALDERÓN, V. Contribuição para o Conhecimento da Arqueologia do Recôncavo e do Sul do Estado da Bahia. Museu Paraense Emílio Goeldi. Série Arqueologia Pará, FACCIO, N. B. Estudo do Sítio Arqueológico Alvim no Contexto do Projeto Paranapanema. Dissertação de mestrado em Arqueologia FFLCH, Universidade de São Paulo. São Paulo, MELLATI, J. C. Os Índios do Brasil. 7º Ed: Universidade de Brasília. Brasília, MORAIS, J. L. Arqueologia da Região Sudeste. Revista USP, São Paulo, dezembro/fevereiro 1999/2000. ROSS, J. L. S. Geografia do Brasil. EDUSP. São Paulo, PALLESTRINI, L.; MORAIS, J. L. Arqueologia Pré histórica Brasileira. Fundo de Pesquisas do Museu Paulista. São Paulo, 1982.
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