A Arqueologia da Arquitectura
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- Brenda Furtado Silveira
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1 Maria de Magalhães Ramalho Mestrado em Reabilitação da Arquitectura e Núcleos Urbanos FAUTL /2007 A Arqueologia da Arquitectura Maria de Magalhães Ramalho Departamento de Estudos-IPPAR 1
2 A maior parte do património arquitectónico é igualmente património arqueológico, ou seja, passível de ser abordado pela metodologia arqueológica. 2
3 A Arquitectura como documento histórico, como guardiã da memória 3
4 Arquitectura como centro de interesse de uma multiplicidade de disciplinas A Arqueologia da Arquitectura integra estas duas disciplinas na única zona onde arqueólogos e arquitectos se podem verdadeiramente relacionar; Disciplina que nasce em Itália em meados dos anos 70 no âmbito da grande tradição de restauro e do desenvolvimento da Arqueologia Medieval (T. Mannoni, G. P. Brogiolo e R. Parenti). 4
5 A Arqueologia da Arquitectura método de análise oriundo da arqueologia aplicado ao património arquitectónico; a base deste método científico é a análise estratigráfica. Igreja de Melque e edifício histórico em Siena 5
6 Estratigrafia - escrita ou o registo dos estratos Método estratigráfico utilizado em arqueologia tem origem na Geologia A estratigrafia em geologia é a disciplina que estuda as sequências de camadas de rochas, procurando determinar os processos e eventos que as formaram. Princípios da estratigrafia: sobreposição, sucessão, continuidade. 6
7 O método estratigráfico em arqueologia consiste na análise dos processos de acumulação e erosão dos sedimentos, individualizando os diferentes estratos e analisando a relação entre eles. Escavações arqueológicas no Castelo de Alcácer do Sal 7
8 O objecto de estudo da Arqueologia da Arquitectura: A arquitectura estratificada Diferenças: Estratigrafia em Geologia é o resultado de processos naturais; Estratigrafia em Arquitectura é a consequência da acção do homem. Torre de Montarrenti (Siena) segundo Parenti 8
9 Exemplo de uma leitura estratigráfica que integra estratos escavados e unidades arquitectónicas Leitura estratigráfica da Portaria do Mosteiro de Tibães segundo Luís Fontes (Univ. Minho) 9
10 Na abordagem a um edifício histórico a Arqueologia da Arquitectura poderá aplicar-se quer ao que se encontra a cotas negativas (subsolo) como a cotas positivas (edificado). O EDIFÍCIO VISTO COMO UM TODO! A arqueologia do edificado tem a vantagem de não ser destrutiva (salvo excepções caso dos rebocos), pode aplicar-se apenas ao que está à vista, enquanto que a arqueologia de escavação implica a destruição sucessiva de estratos. Catedral de S. Pedro de Geneve durante campanha arqueológica 10
11 Metodologia de trabalho: 1. Recolha documental e iconográfica; 2. Levantamentos gráficos; 3. Análise do edificado sobre os levantamentos gráficos; 4. Preenchimento de fichas; 5. Levantamento fotográfico; 6. Análises; 7. Elaboração de diagrama final. 11
12 A importância da recolha documental Jerónimos, queda da torre em In Bellem Reguengo da Cidade 12
13 Leitura de paramentos com base em registos fotográficos antigos Estudo de Leo Wevers Castelo da Amieira do Tejo (arquivo da DGEMN) 13
14 Uma base gráfica rigorosa éum dos aspectos mais importantes em Arqueologia da Arquitectura 14
15 Análise sobre levantamento fotográfico simples Palazzo Gritti Badoer em Veneza segundo o Arquitecto Francesco Doglioni 15
16 Levantamento gráfico simplificado (vantagens e problemas) Exemplos: Mosteiro de Santa Clara-a-Velha registo da traçaria (1997).e desenhos/arquivo IPPAR Castelo de Castelo de Vide (2004) 16
17 Levantamento gráfico simplificado Casa Rural da Vila Romana de Milreu Estoi Faro (2002) 17
18 A necessidade de acompanhamento dos registos por parte dos investigadores/utilizadores Exemplos: Fotogrametria Aqueduto de Segovia Catedral de Plama de Maiorca 18
19 Os ortofotomapas (problemas detectados) O caso da capela de Nossa Senhora da Assunção do Castelo de Paderne Albufeira (2007) 19
20 O exemplo da Catedral de Vitória no País Basco A utilização do CAD, Bases de Dados e a aplicação do SIG onde tudo é incluído: o registo do passado mas também tudo o que vai sendo executado ao longo do projecto de reabilitação. 20
21 Além dos estudos estratigráficos, será necessário promover a interdisciplinariedade (não a multidisciplinariedade) de modo a alcançar um conhecimento completo do edifício Nova Conservação (Folha nº 1 ) 21
22 Alguns exemplos: 1. Análises geológicas (ex: proveniência das pedras); 2. Análises físico-químicas de diferentes tipos de materiais: argamassas rebocos madeira pintura mural, etc Foto: J. Aguiar 22
23 As análises tipológicas em Arqueologia da Arquitectura exemplos: Elementos decorativos; Elementos construtivos; Métodos e técnicas de construção. E o estudo de vestígios mais ténues... 23
24 O reconhecimento das marcas que permanecem no tempo e que nos falam de antigos métodos de construção 24
25 Exemplo: Tipologia dos diferentes talhes da pedra Da descoberta dos utensílios ao próprio gesto... S. Román de Tobillas (Pais Basco) 25
26 O reconhecimento das marcas dos andaimes. 26
27 Tipologia das marcas de canteiro Tipologia de marcas de canteiros da Bélgica e do Norte da França segundo Jean-Loius Van Belle Uma marca em forma de chave. Igreja de S. Germain-des-Prés 27
28 A traçaria As salas de risco, os estaleiros de obra, etc. Pedra de traçaria do Convento de S. Francisco de Santarém 28
29 Análise dos materiais e das pequenas marcas remete para o conhecimento da organização laboral, condições de trabalho, etc. Do estaleiro ao indivíduo... 29
30 Análise de patologias (marcas de sismos, problemas estruturais etc.) O papel da Arqueologia da Arquitectura na identificação de patologias é fundamental. Saber quando e porquê surgiram os problemas permite a definição de estratégias para uma actuação segura. Catedral de Vitória (País Basco) 30
31 O método 31
32 Na leitura estratigráfica são individualizadas as Unidades Estratigráficas (UE) = entidades mínimas que, no caso da leitura dos paramentos podem ser : Construtivas (aparelho, argamassas, rebocos, etc.); Destrutivas (interfaces de destruição, marcas de sismos, etc). Cada UE é descrita individualmente em fichas e registada em desenhos de campo Descrição exaustiva; Estabelecimento de relações entre diferentes UE (anterior, posterior, contemporânea). Utilização do Diagrama de Harris ; As UE são posteriormente agrupadas em: 1. Actividades (exemplo: colocação de telhado novo, restauro de revestimentos, etc); 2. Etapas (períodos cronológicos cronologia absoluta ou relativa). OBJECTIVO: reconstituir a sequência temporal do edifício o seu percurso histórico 32
33 Exemplo: Análise do edificado sobre os levantamentos fotogramétricos A numeração das Unidades Estratigráficas S. Gião da Nazaré estudo de Luís Caballero Zoreda/IPPAR 33
34 O reconhecimento de diferentes rebocos: Recolha de amostras; Análises físico-químicas (Fac. Ciências da UL) 34
35 As fichas de campo 35
36 36
37 Preenchimento de fichas de UE (Unidades Estratigráficas) S. Gião da Nazaré ficha de Luís Caballero Zoreda 37
38 O registo das Actividades e das Etapas Históricas (soma de várias UE); *A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DO DIAGRAMA DE HARRIS * Actividades Etapas S. Gião da Nazaré estudo de Luís Caballero Zoreda/IPPAR 38
39 Da entidade mínima (Unidade Estratigráfica) à visão global do edifício e da sua história Processo de síntese 39
40 Principais dificuldades na aplicação da Arqueologia da Arquitectura: 1. Complexidade do edifício - ocultação da sua estratigrafia por rebocos, grande número de alterações. Diagramas muito complexos; 2. Registos gráficos deficientes; 3. Equipas reduzidas. A importância do domínio do método arqueológico mas também o conhecimento das técnicas construtivas (arquitectos e arqueólogos em trabalho conjunto). 40
41 Um exemplo: 41
42 Sé-Catedral de Idanha-a-Velha. O edifício... 42
43 os pormenores... 43
44 O registo das Actividades Idanha-a-Velha segundo Luís Caballero Zoreda 44
45 A elaboração de diagrama das actividades (com cronologias relativas e absolutas) Matriz de Idanha (L. Caballero Zoreda) 45
46 Hipóteses de reconstituição do edifício original Idanha-a-Velha segundo L. Caballero Zoreda 46
47 A proposta da Arqueologia da Arquitectura: Ir à descoberta da história escondida dos edifícios Compreender a linguagem dos edifícios... Um novo olhar... Mosteiro Cisterciense de S. Pedro das Águias 47
48 A intervenção em arquitectura estratificada O conhecimento determina o projecto e não o projecto que determina o futuro do edifício Necessidade de estabelecer um compromisso entre os novos usos e o respeito pelo valor do edifício. Parede do Palazzo Bizarrini (Feltre) ensaios estratigráficos, reconhecimento das UE Estudo e intervenção do Arquitecto Francesco Doglioni (Instituto Universitário de Veneza) 48
49 Exemplo: Palazzo Bizarrini durante a intervenção de restauro manutenção das marcas da história, a valorização da arquitectura estratificada 49
50 Um edifício que fala, que conta histórias... Palazzo Bizarrini após a intervenção de restauro 50
51 Convento de S. Francisco de Beja, antigo convento durante a fase de reconversão Um edifício mudo 51
52 A intervenção arquitectónica em estruturas estratificadas deverá possibilitar: a manutenção do carácter, da alma do edifício e da sua capacidade expressiva; permitir aos visitantes um diálogo directo com o património. Nada mais interessante para o visitante que um edifício onde é possível reconhecer um lugar habitado pela história, pela memória e pelo tempo... 52
53 A arquitectura estratificada possuiu um carácter particular, facilmente reconhecível, este carácter excepcional relaciona-se directamente com aspectos como: cor, texturas, luzes, sombras uma comunicação que se estabelece com o indivíduo o conhecimento sensível ligado à força expressiva do lugar... emoção, imaginação... 53
54 CONCLUSÃO: Arqueologia da Arquitectura surge assim como um desafio inovador para todos aqueles que se interessam pela história da arquitectura, ao propor abordar o edifício em toda a sua complexidade, compreender a sua história pessoal única e irrepetível de uma forma integrada, conjugando os dados históricos e arqueológicos, os estudos de patologias, comportamentos estruturais, caracterização de materiais construtivos, etc., possibilitando assim o conhecimento profundo do passado dos edifícios através de um método coerente, objectivo, sistemático, método este testado desde há anos pela arqueologia e que tem vindo a revelar resultados extraordinários. 54
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