educar na contemporaneidade: Cultura, Tecnologia e Educação no Cotidiano do Professor e do Estudante
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- Ayrton Regueira Molinari
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1 educar na contemporaneidade: Cultura, Tecnologia e Educação no Cotidiano do Professor e do Estudante Andre ia Miranda Domingues Magali Fernandes Margarita Victoria Gomez (orgs.)
2 Conselho Editorial Av Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú - Jundiaí-SP contato@editorialpaco.com.br Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt 2013 Andre ia Miranda Domingues, Magali Fernandes, Margarita Victoria Gomez Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. D7132 Domingues, Andréia Miranda; Fernandes, Magali; Gomez, Margarita Victoria (orgs.) Educar na contemporaneidade: cultura, tecnologia e educação no cotidiano do professor e do estudante (Pedagogia de A a Z; Vol 9 ) /Andréia Miranda Domingues, Magali Fernandes e Margarita Victoria Gomez (orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: p. Inclui bibliografia. Inclui gráficos, imagens e tabelas. Vários autores. ISBN: Educação 2. Formação 3. Tecnologia 4. Escola. I. Domingues, Andréia Miranda II. Fernandes, Magali III. Gomez, Margarita Victoria. CDD: 370 Índices para catálogo sistemático: Educação Pedagogia 370 Escola Métodos De Ensino. Pedagogia. A Escola 371 Política Escolar IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal
3 Sumário Apresentação...5 PARTE I Cultura, Tecnologia e Educação CAPÍTULO 1 Educar pela Pesquisa Dispositivos da web para a Investigação Científica...13 Margarita Victoria Gomez CAPÍTULO 2 Trabalhando com o Cinema no Ensino Superior Uma Experiência em Construção...39 José de Sousa Miguel Lopes CAPÍTULO 3 Decifrando, em Sala de Aula, Visões de Mundo Oferecidas pelo Cinema...65 Albert Roger Hemsi Parte Ii Jogos Computarizados na Educação CAPÍTULO 4 Jogos Computadorizados Educação, Cooperativismo e Cidadania...81 Andréia Miranda Domingues Marcus Vasconcelos de Castro
4 CAPÍTULO 5 Jogos Educativos Computadorizados em Tempos de Legislação e Orientações Curriculares para o Ensino Fundamental...97 Andréia Miranda Domingues Parte Iii Multimídia, Aprendizagens e Formação Docente a Distância CAPÍTULO 6 A Pedagogia de um Projeto Multimídia Magali Fernandes CAPÍTULO 7 A Universidade Aberta do Brasil Expansão e Interiorização da Educação Superior com Docentes, Dirigentes e Gestores da Educação Básica Margarita Victoria Gomez Luciana da Silva Kelly Victor
5 APRESENTAÇÃO Não há potência na tecnologia que nãos seja moldada, mediada, pelas tendências sociais profundas, tanto as que se voltam à emancipação quanto as que se destinam à dominação e à exclusão. (JESUS MARTÍN-BARBERO) Aparentemente, já não há o que contestar. A incorporação das tecnologias da comunicação digital e dos conteúdos da cultura midiática às relações de ensino formal, que já foi objeto de polêmicas acirradas por parte de intelectuais e profissionais do campo da Educação, se apresenta, hoje, como uma tendência irreversível. Nas salas de aula do ensino fundamental às dos programas de pós-graduação, nas grandes e pequenas cidades, em escolas públicas e particulares, cada vez mais professores e alunos convivem com monitores de TV, computadores, tablets ou, no mínimo, celulares, todos vinculados à internet. Sem falar na expansão cada vez mais importante dos programas de ensino a distância, em que a presença física dos professores e o contexto da sala de aula são substituídos pela sua expressão virtual, e o processo pedagógico se dá primordialmente na interação entre aluno e máquina. Tudo indica que, com maior ou menor velocidade, enfrentando maior ou menor resistência, a escola do tradicional cuspe e giz vai cedendo lugar a uma escola midiatizada, tida como mais adequada a uma contemporanei- 5
6 Andre ia Miranda Domingues, Magali Fernandes, Margarita Victoria Gomez dade que autores como Castells e Levy designam como era da informação ou era da informática. 1 Como entender o sentido dessas mudanças? Qual o impacto das tecnologias da comunicação na configuração das relações pedagógicas e dos processos de produção e disseminação de conhecimento? Em que medida elas alteram as concepções de cultura e as hierarquias do saber? Ate que ponto a presença das novas tecnologias no interior das instituições de ensino poderão, efetivamente, corrigir a defasagem da escola em relação ao modelo social de comunicação que foi introduzido pelos meios audiovisuais e pelas novas tecnologias e da emergência de novas sensibilidades, acusada por Je sus-martin Barbero a partir de pesquisa com jovens latino-americanos? (2008, p. 11). As respostas a essas perguntas não podem ser buscadas nas características ou propriedades intrínsecas aos recursos tecnológicos. Atribuir uma essência transformadora à tecnologia e adotar uma perspectiva determinista, que desconhece tanto a complexidade das relações implícitas nos processos pedagógicos quanto as suas articulações com a sociedade mais ampla. Tecnologias são artefatos culturais, histórica e socialmente localizados. Como tal, para compreender seu significado e os efeitos que produzem na vida social, e preciso situá-las no universo de códigos, valores e visões de mundo em que estão inseridas, investigando os diferentes modos como são apropriadas nas práticas individuais e coletivas. Estas ideias são magistralmente sintetizadas por Daniel Miller antropólogo inglês dedicado aos estudos da cultura material e do consumo que, mais recentemente, se voltou para pesquisas sobre o universo das relações digitais quando, ao apresentar os pressupostos de uma pesquisa sobre os usos da internet pelos 1. Essas duas expressões estão, sintomaticamente, nos próprios títulos de livros em que estes autores buscam definir as características da contemporaneidade, tendo como foco as tecnologias da comunicação. No caso de Manuel Castells, trata-se da trilogia A era da informação: economia, sociedade e cultura (Paz & Terra, 2005); no de Pierre Le vy, As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática (34 Letras, 1993). 6
7 Educar na Contemporaneidade: Cultura, Tecnologia e Educação no Cotidiano do Professor e do Estudante moradores das ilhas de Trinidad e Tobago, afirma: meu ponto de partida e que não existe internet e tampouco trinitinos (2009, p. 189). Em outras palavras: a internet e o uso que os indivíduos fazem dela, e estes podem ser bastante diversos dependendo dos contextos em que se encontrem. Nessa perspectiva, não há como prever ou afirmar qual o resultado da presença das novas tecnologias sobre as práticas sociais, em nenhuma de suas áreas. Um mesmo computador, tablet ou celular, munidos dos mesmos programas e aplicativos pode servir a fins inovadores e revolucionários ou à manutenção de uma ordem preexistente. O mesmo se aplica ao caso das tecnologias incorporadas ao universo da educação formal. Para ale m da crítica à uma visão essencialista das tecnologias da comunicação e seu papel transformador, e necessário ainda rever um outro pressuposto para evitar um ponto de vista reducionista sobre a relação entre estas e as instituições de ensino: a ideia da sociedade e da cultura como uma realidade coerente, cujos códigos e normas se impõem aos indivíduos, moldando-os segundo padrões determinados. Esse tipo de concepção, subjacente às interpretações das instituições de ensino formal como mecanismos de reprodução da ordem estabelecida, nega, a priori, a possibilidade de elas serem parceiras ou protagonistas de qualquer movimento consistente de mudança ou inovação. Na contramão dessa perspectiva, os estudos culturais oferecem uma abordagem analítica eminentemente mais complexa e dinâmica. Para autores como Homi K. Bhabha e Stuart Hall, a cultura e concebida como espaço de contradições, arena política de negociações e confrontos. Nos seu interior, as diferenças convivem em permanente tensão, confrontando-se em busca de uma hegemonia que e sempre potencialmente precária. Quando a proposta e compreender os efeitos da presença das tecnologias midiáticas sobre o universo da educação formal, e preciso fugir à tentação das fórmulas prontas e dos chavões. Nenhuma das perguntas formuladas acima admite respostas uni- 7
8 Andre ia Miranda Domingues, Magali Fernandes, Margarita Victoria Gomez versais e, menos ainda, apriorísticas. Estas precisam ser buscadas caso a caso, atrave s de pesquisas empíricas que atentem para a especificidade de cada universo estudado e valorizem as diferentes perspectivas dos sujeitos envolvidos em suas interações. Se, aparentemente, não há o que contestar, há muito que refletir. Nos últimos anos, vários governos, na Ame rica Latina e em outros continentes, implementaram programas de políticas públicas voltadas para o aprimoramento dos sistemas educacionais atrave s do investimento em tecnologias da comunicação. No caso brasileiro, a Universidade Aberta do Brasil (UAB), criada em 2006, com o objetivo de ampliar e interiorizar o acesso ao ensino superior atrave s da educação a distância, bem como o programa Um Computador por Aluno (UCA), de 2007, que prevê a distribuição de um computador portátil por aluno e professor do ensino fundamental da rede pública, são exemplos importantes dessas ações. Acompanhar os seus resultados e produzir uma reflexão aberta sobre essas e outras experiências e uma tarefa urgente que, por sua relevância e complexidade, cabe não apenas aos pesquisadores da educação, mas tambe m aos diferentes campos das ciências humanas e sociais. A coletânea de artigos que se segue e uma excelente contribuição para essa empreitada. Ilana Strozenberg Antropóloga, Doutora em Comunicação e Cultura. 8
9 Educar na Contemporaneidade: Cultura, Tecnologia e Educação no Cotidiano do Professor e do Estudante REFERÊNCIAS BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, HALL, Stuart. Da Diáspora, identidades e mediações culturais. Belo Horizonte/Brasília: UFMG/Unesco, MARTIN-BARBERO, Jesús. A mudança na percepção da juventude: sociabilidade, tecnicidades e subjetividades entre jovens. In: BORELLI, Silvia H. S.; FREIRE FILHO, João (orgs.). Culturas Juvenis no Século XXI. São Paulo: Educ, 2008, p MILLER, Daniel. O consumo da comunicação. In: Centro de Altos Estudos da ESPM (org.). Bravo Mundo Novo, novas configurações da comunicação e do consumo. São Paulo: Alameda, 2009, p
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11 PARTE I CULTURA, TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO
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13 CAPÍTULO 1 Educar pela Pesquisa Dispositivos da web para a Investigação Científica Margarita Victoria Gomez INTRODUÇÃO Conta-se que em Serendip 1, antigo Ceilão, hoje Sri Lanka, havia três príncipes considerados heróis pelas descobertas que faziam. A sagacidade lhes permitia achar coisas que nem sempre procuravam. Trata-se de um conto que chega ate nós pela tradição oral e que hoje podemos ler em uma simples busca no Google. O conto de fadas Os três príncipes de Serendip narra as relações que os heróis faziam para confirmar as suas descobertas, mobilizando sua própria curiosidade e a de outras pessoas (HOUAISS, 2001). Segundo a tradição, a sagacidade dos príncipes provinha do ato de observar, explorar, relacionar e achar coisas que não estavam procurando e que eram de muita utilidade pelo seu valor social. Sua inteligência, que se poderia dizer relacional, lhes possibilitava achados que não seriam possíveis em uma lógica clássica. É evidente que a cultura, a educação e a curiosidade deles não lhes permitiam ter um olhar esquematizado ou estereotipado. Acredito que, por não terem um olhar formatado pela ciência e pela tecnologia ou por estereótipos sociais da e poca, conseguiam enxergar e aproveitar coisas, fatos ou situações que outras pessoas não enxergavam. Royston M. Roberts, no livro Serendipia: descobrimentos acidentais em ciência (2004), tradução do original Serendipity: 1. Do ing. serendipity (1754) id. < top. Serendip o Serendib (do ár. Sarandíb), antigo nome de Sri Lanka, + suf. ing. -ity, palavra criada, em 1754, por Horace Walpole ( , escritor inglês) (HOUAISS, 2001). 13
14 Margarita Victoria Gomez Acidental Discoveries in Science (1989), analisa casos de achados científicos e chama a atenção para a sensibilidade e a capacidade de alguns cientistas para realizar descobertas fabulosas pelo princípio criativo da serendipidade. O serendipismo, a serendipidade, serendiptismo ou, ainda, a serendipia são palavras que se acham nos dicionários para designar esse processo. A Enciclopédia britânica disponível em: (< afirma que essa palavra começou a ser usada e foi incorporada aos dicionários ingleses na de cada dos anos 1970, para designar os descobrimentos acidentais da ciência. Na verdade, chama a atenção a sagacidade que algumas pessoas têm para fazerem descobertas ao acaso, e se percebe que hoje entrar e navegar na internet pode se tornar uma importante experiência de serendipidade. De certa maneira, percebemos que, mesmo com vastos conhecimentos sobre o assunto, quando entramos nos buscadores, nas enciclope dias e bibliotecas digitais, bem como nas bases de dados, com nossa estrate gia de busca baseada em palavras-chave, muitas vezes achamos coisas que não procurávamos e que acrescentam muito valor ao projeto, estudo ou pesquisa que estamos realizando. No contexto hipertextual da web, que nos permite inter-relacionar textos, essa situação parece ampliar-se, já que as descobertas feitas por acaso, embora não premeditadas, tambe m não ocorrem simplesmente, pois respondem à condição/situação da pessoa que, estando atenta, curiosa e presente no que faz, consegue perceber a importância do fato, o que lhe abre possibilidades para novas práticas e reflexões. O ine dito se faz viável. Paulo Freire diria que o ine dito viável opera, pois e um percebido que não foi realizado: É na realidade uma coisa ine dita, ainda não claramente conhecida e vivida, mas sonhada e quando se torna um percebido destacado pelos que pensam utopicamente, esses sabem, então, que o problema não e mais um sonho, que ele pode se tornar realidade. (FREIRE, 2000 p ) 14
15 Educar na Contemporaneidade: Cultura, Tecnologia e Educação no Cotidiano do Professor e do Estudante Evidentemente, estamos frente a uma nova organização dos saberes e das pesquisas em redes que implicam produção, ou seja, ação-reflexão-ação. É a riqueza da dimensão hipertextual e semântica da web, apresentada nas telas do computador, que nos deixa pular de um link para outro em segundos. Em nós está a decisão de escolher o caminho, mas as descobertas feitas por acaso simplesmente acontecem porque na frente da tela lemos e elas encontram ressonância em nós, tornando-se valiosas para a nossa pesquisa. Essa aptidão ou faculdade de atrair e achar fatos úteis permite que a pessoa, professor ou aluno, por estar atento, estar presente e ser sensível, faça as descobertas e perceba a importância de relacioná- -las com a pesquisa, pois não são meros acidentes, fazem parte da investigação científica. Paul Flory, prêmio Nobel de Química em 1974, disse (apud R. Royston, 1993, p. 12) que: Invenções significativas não são meros acidentes. A visão errônea [de que elas o são] e amplamente aceita, de tal forma que a comunidade científica e te cnica, infelizmente, tem feito pouco para dispersá-la. A casualidade geralmente tem a sua parte, não se pode negar, mas uma invenção e muito mais do que prega a crença popular de ser algo que surge subitamente do nada. Profundidade e amplitude de conhecimento são pre -requisitos virtuais. A menos que a mente esteja totalmente repleta de antemão, a fagulha proverbial do gênio, se ela se manifestar, provavelmente não encontrará nada para incendiar. Essa faísca acende a curiosidade em uma cabeça bem feita e não em uma cabeça bem cheia, que, no dizer de Edgar Morin, leva a cegueiras e ignorâncias: (...) Morin remete à primeira finalidade do ensino formulada por Montaigne, escritor e filósofo da e poca da Revolução 15
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