Patrimônio Musical do Norte do Brasil: Um estudo preliminar da ópera Gli Eroi de Meneleu Campos ( ).
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- Miguel Gustavo Dreer Frade
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1 1 Patrimônio Musical do Norte do Brasil: Um estudo preliminar da ópera Gli Eroi de Meneleu Campos ( ). Rossini Rocha da Silva 1 Márcio Leonel Farias Reis Páscoa 2 RESUMO: A região amazônica, mais precisamente as cidades de Manaus no estado do Amazonas e Belém no Pará vem experimentando nos últimos anos um revivamento nas suas mais diversas manifestações artísticas e culturais, algo só comparado a épocas passadas como no Renascimento. Assim como naquela época, grandes progressos e incontáveis realizações vem sendo feitos no campo das ciências, da literatura e das artes. E é em meio à busca por uma identidade cultural, que nos permita usufruir uma linguagem que se faça entender ao restante do mundo, que o projeto Patrimônio Musical do Norte do Brasil abriga em suas linhas de pesquisa o teatro musical na Amazônia durante o século XIX. A produção lírica neste período envolveu compositores como Henrique Eulálio Gurjão ( ), José Cândido da Gama Malcher ( ), Ettore Bosio (?-1934) e Meneleu Campos ( ). Este último escreveu a ópera Gli Eroi a qual o presente subprojeto lança então o primeiro estudo preliminar dessa que se constitui no corpo principal da produção lírica do norte do Brasil ao tempo que organizou e preparou os manuscritos para transcrição e edição, vindo assim, dispor mais uma obra, esta ainda inédita, que possa vir a se juntar aos grandes títulos de óperas conhecidas do grande público. Palavras Chave: Ópera Amazônia - Musicologia Keywords: Opera Amazonian Musicology A região Amazônica, famosa por seus atrativos naturais, hoje também começa a ser reconhecida por uma atual efervescência cultural. Mas se engana quem pensa que nem sempre foi assim, pelo contrário, por volta de fins do século XIX e meados do século XX, cidades como Manaus no estado do Amazonas e Belém no Pará desfrutavam de um período econômico farto e bastante expressivo conhecido hoje como Época ou Ciclo da Borracha. O mesmo constituiu uma parte importante da história econômica e social do Brasil, estando relacionado com a extração e comercialização da borracha. Este ciclo teve o seu centro na 1 Licenciando no Curso de Música da Universidade do Estado do Amazonas 2 Doutor em Musicologia pela Universidade de Coimbra / Portugal; Professor de Linguagem e Estruturação Musical, Música Brasileira e maestro e diretor artístico da Orquestra Sinfônica na Universidade do Estado do Amazonas.
2 2 região amazônica, proporcionando grande expansão na colonização, atraindo riqueza e causando transformações culturais e sociais e teve seu maior auge entre 1879 a A vida cultural dessas cidades era uma constante e tinha nas óperas seu gênero artístico mais expressivo, muitos foram os títulos e companhias que ali então se apresentaram, conseqüentemente se criou nesse público uma avidez por novos títulos. Com o sucesso de compositores como o brasileiro Carlos Gomes que ao utilizar em algumas de suas obras personagens tipicamente brasileiros (algo novo e exótico para a época) como em Il Guarany e adquirir assim notório reconhecimento fez criar nesse público um certo sentimento nacionalista, algo que viria a ser melhor explorado tempos mais tarde, esse sentimento não se prendia tão somente a temática das obras, mas sim a uma maior participação dos compositores locais. Foi então que em meio a esse novo cenário lírico da Amazônia, mais precisamente em Belém, nomes como o do compositor José Cândido da Gama Malcher ( ), Henrique Eulálio Gurjão ( ), Ettore Bosio e Meneleu Campos ( ) figuraram entre os principais desse gênero. Esse Último dentre suas obras compôs a ópera Gli Eroi, Nascido em Belém teve sua educação musical iniciada nessa cidade, estudou piano com a mãe, a pianista Adelaide da Costa Campos e violino com Adelelmo do Nascimento, em Posteriotmente, tornou-se acadêmico de direito na cidade de Recife em Pernambuco e já se entregava a composição, mandando imprimir seus primeiros trabalhos. Quatro anos depois, abandona a faculdade de direito e embarcou para Milão onde se matriculou no Real Conservatório, concluindo em 1898, entre outros, o curso de composição e regência com brilhante destaque. Tão notável foi seu aproveitamento que em 1899 o governo do estado do Pará chamou-o para dirigir o Instituto Carlos Gomes onde tomou posse no ano seguinte. Foi também esse o seu período de maior produção como compositor. Três anos mais tarde viajava para a Europa onde conheceu o poeta Luigi Illica, este, um dos autores e libretistas mais famosos e requisitados de sua época. A vida pessoal de Illica, imitava as vezes os temas de seus libreto: se deixava ser fotografado sempre com sua cabeça ligeiramente virada para o lado pois perdera sua orelha direita em duelo por uma mulher. Meneleu recebe das mãos deste autor referencial do Naturalismo o libreto de Gli eroi. Empolgado, ainda no mesmo ano retornaria para Belém onde iniciou os trabalhos de composição dessa obra. Mas, três anos depois, desentendimentos políticos forçaram-no a abandonar a direção do Instituto Carlos Gomes e mais uma vez o compositor se ausentava do
3 3 país. Permaneceu algum tempo em Paris onde fez algumas audições privadas de trechos dessa ópera para alguns convidados, provavelmente possíveis patrocinadores. Emm seguida foi novamente para Milão. Nesta cidade trabalhou o 4º ato da ópera, concluindo-o em 1907, como registra a última página do 4º ato¹. Em 1908 deu por acabada a instrumentação da ópera e logo pleitearia sua inclusão em temporada lírica, algo que não veio a acontecer por motivos ainda não esclarecidos, mas possivelmente relativos à falta de patrocínio ou à doença repentina que acometeu sua filha Sulamita obrigando-o a transferir-se para Portugal. O ocaso da época da borracha na Amazônia encerrou também o ciclo das temporadas operísticas nos dois principais teatros da região onde esta atividade se desenvolvia, o Teatro Amazonas, em Manaus, e o Teatro da Paz, em Belém. Com o retorno definitivo a Belém, Meneleu Campos tinha reduzidas chances de ver Gli eroi ser montada. A ópera ficou assim inédita e seus manuscritos foram depositados na Biblioteca Nacional, onde estão localizáveis três cópias da versão para canto e piano e do libreto. A pesquisa se desenvolveu de início a partir do levantamento das informações sobre o compositor e obra, para em seguida se iniciar o processo de investigação sobre a localização dos originais da obra escolhida. Constatou-se que a mesma se encontra em um departamento específico da citada Biblioteca Nacional, a Divisão de Música e Arquivo Sonoro. O libreto, escrito originalmente em língua italiana, apresenta-se em 82 páginas. Depois de observada toda a integridade física da obra, foi feita organização por seqüência de numeração e lógica da composição. O passo seguinte foi o de identificar possíveis erros pelo copista para assim dar seqüência à numeração dos compassos. O primeiro ato tem 105 páginas, incluindo capa e páginas de correção, e 851 compassos; O segundo ato, diferente do primeiro, está subdividido em: pré-ato com 37 páginas e o ato propriamente dito, com 75 páginas, inclusive capa, e mais 10 páginas de correção, resultando no total de 123 páginas. O número de compassos é de 278 no pré-ato e mais 582 no ato, resultando em 860 compassos. O terceiro ato, igualmente como o segundo, subdivide-se em pré-ato com 52 páginas e o ato propriamente dito, com 64 páginas. Incluindo as correções chegam ao total de 120 páginas. Há 343 compassos no pré-ato e 495 no ato, num total de 838 compassos por toda a terceira parte. O quarto ato, ao contrário dos dois últimos, não possui pré-ato e resume-se em 85 páginas, com duas páginas de correção e capa somando assim 88 páginas e um total de 390
4 4 compassos. Por fim, em números, as partituras, as capas de apresentação de cada livro e páginas extras de correção, somam-se 436 páginas e 2939 compassos. Foram consideradas também as variações dinâmicas que o autor da música usou na sua composição, como variação de tonalidade, de andamento, formulação de compassos, sinais agógicos entre outros. Para tal foram criadas tábuas que pudessem expor essas variações de uma forma mais clara, com o intuito de verificar a variação dinâmica da composição. Exemplo de Resumo de Tábuas de Variações dinâmicas da Ópera Gli eroi 1º Ato Compasso: 1 (Largo), A menor, 4/4 ; 10 - E menor; 13 - A menor; 20-2/4; 21-4/4; 28 - D menor; 30-2/2; 62 (Largo), 4/4; 67-2/4; 68 - C menor; 74-3/4; Gb, 12/8 ; 113-2/4; 119 A; D, 4/4; 135-2/4; 136 (Largo), A, 4/4; 158-3/4; 166-4/4; /8; 180 (Largo); 192 G, 3/4; 212-6/8; 226-4/4; 230-3/4; 245-2/4; 246-3/4; 249-2/4; 252-6/8; 260 3/4; 266-6/8; A menor 4/4; 289-2/4; 292-4/4; 297-2/4; D menor 3/4; 311 D, 4/4; 321-6/8; 327-2/4; 328-4/4; 340-6/8; 363 (Andante), 4/4; 369-2/4; 370-6/8; 378-2/2; 382-6/8; 384-4/4; 402-6/8; C, 2/4; 444-4/4; 447-2/4; 448-4/4; Gb, 3/4; 471-2/4; C; D; 516-4/4; 521-2/4; 526 (Largo), 4/4; 549-2/4; 629 (Andante); Eb, 4/4; 724-2/4; 725-4/4; 731-2/4; 732-4/4; 782-2/4; 783-6/8; 810-3/4; 813-4/4; D; 819-2/4; 840 (Largo), 6/8. Obs. Os números marcados em negrito referem-se aos números de compassos. Os principais personagens da ópera são Dom Folco, (barítono), Giovani Nascimbeni, (tenor), Angelo Barnalió, (tenor), Riario Barnalió (baixo), Dom Galiaso Barnalió (barítono), Alessandra Barnalió (soprano), Agnes Barnalió (mezzo-soprano), Max von Dancka (tenor). Há também entre eles personagens de participação menor que é o caso de Agatha (mezzo-soprano) e um tenor que representa um personagem que se mantém oculto e
5 5 se apresenta no pré-ato do segundo ato, além de outros personagens também sem nome definido que são utilizados ao decorrer da trama em pequenas participações, como o caso dos três servos que contracenam com Dom Folco ainda no primeiro ato, sendo eles dois tenores e um barítono. Nos tempos atuais o resgate pelo passado tem sido a grande chave para retomada dos avanços tecnológicos nas mais diversas áreas. Metodologias até pouco tempo consideradas ultrapassadas, hoje, mais do que antes, servem de base para a fundamentação de um novo conhecimento ou técnica, independente da área a que se atribui. Como exemplo a atual efervescência cultural por que passa a região norte do Brasil se deve ao resgate de valores outrora esquecidos ou até mesmo banalizados, fruto de políticas mal direcionadas. A medida que tais valores puderem ser expostos para as gerações atuais, haverá mais demanda por ações culturais e pelo patrimônio da região. O intuito desencadeado por este trabalho é de que Gli eroi venha a se juntar ao repertório circulante de ópera, ainda carente de grande produção que está momentaneamente esquecida como foi o caso de Bug Jargal e Iara, ambas do compositor paraense Gama Malcher ( ), contemporãneo de Meneleu Campos. Referências Bibliográficas PÁSCOA, Márcio. A Vida Musical em Manaus na Época da Borracha, Manaus: Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, PÁSCOA, Márcio. Cronologia Lírica de Manaus, Manaus: Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas/Editora Valer, SALLES, Vicente. Música e Músicos no Pará. Belém: Secretaria de Cultura do Estado do Pará, 1970/Editora Rideel, CAMPOS, Otávio Meneleu Gli Eroi (ópera em guatro atos), Milão-Itália, ILLICA, Luigi Libreto da ópera Gli Eroi, Milão-Itália, 1907.
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