Biodegradação de mistura gasolina etanol em solo residual não saturado
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- Carmem da Rocha Azambuja
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1 Biodegradação de mistura gasolina etanol em solo residual não saturado Rhaissa de Souza Rodrigues Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, Patricia Österreicher-Cunha Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, Eurípedes do Amaral Vargas Jr. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, RESUMO: A contaminação de solos por hidrocarbonetos é uma real preocupação ambiental em muitas partes do mundo devido a crescente dependência econômica dos derivados do petróleo, principalmente os combustíveis fósseis que estão frequentemente sujeitos a vazamentos e derramamentos acidentais. Estudos capazes de entender os mecanismos de biodegradação dos componentes da gasolina no solo não saturado se fazem necessários, pois auxiliam no processo de tomada de decisões em relação ao gerenciamento e controle da propagação em subsuperfície. No Brasil, o etanol é utilizado como aditivo oxigenado à gasolina e alguns autores sugerem para solos saturados que, por ser mais degradável, ele atrasa a degradação dos outros componentes mais tóxicos desse combustível. O trabalho anterior realizado por esse grupo de pesquisa para solo não saturado obteve conclusões semelhantes às já constatadas para solo saturado. No entanto, os mecanismos de degradação na zona não saturada ainda foram pouco estudados e compreendidos. Este estudo tem como objetivo analisar a degradação e mecanismos de distribuição do contaminante em blocos não saturados indeformados de solo arenoso e argiloso, oriundos do município de Duque de Caxias RJ, submetidos a um pulso de contaminante. Dois blocos, um arenoso (BA) e outro argiloso (BS), foram contaminados pela solução de 2% de Benzeno, 4% de Tolueno em Heptano (BT); outros dois blocos, também um arenoso (EA) e outro argiloso (ES), foram submetidos à mesma solução adicionados etanol a 20% (BTE). Foram realizados ensaios com a finalidade de monitorar a atividade microbiana do meio (hidrólise de diacetato de fluoresceína - FDA), um dia antes da contaminação e ao longo dos 133 dias de ensaio. A amostragem para análises químicas, a fim de determinar as concentrações dos compostos retidos no solo, foram realizadas no dia da contaminação e ao longo do ensaio. As constantes dielétricas (Ka) dos blocos foram determinadas ao longo do ensaio a partir de medições com o Time Domain Reflectometer (TDR). Também houve o monitoramento da quantidade de carbono disponível no meio ao longo do ensaio. A atividade microbiana inicial, antes da contaminação, apresentou valores baixos. Logo após a contaminação dos blocos, àqueles sujeitos a etanol apresentaram ausência de atividade enquanto os sujeitos à mistura BT mostraram um aumento, contrariando as expectativas. As atividades microbianas oscilaram ao longo de todo o experimento o que pode indicar uma adaptação da microbiota às novas condições do meio. Com base nos resultados dos ensaios e monitoramentos realizados, podemos sugerir que o principal fator determinante para alteração da atividade foi à composição do solo e sua profundidade de coleta. O contaminante não exerceu a influência esperada e vista nos estudos anteriores. Os resultados das análises químicas elucidarão melhor a retenção dos contaminantes no solo e a associação destes com a atividade microbiana. PALAVRAS-CHAVE: Microbiota do solo, atividade microbiana, TDR.
2 1 INTRODUÇÃO No Brasil, o uso do etanol teve seu início com a crise do petróleo nos anos 70. Atualmente, seu uso não está somente vinculado à preocupação com escassez do combustível fóssil, mas também com as questões ambientais. Na tentativa de minimizar os efeitos negativos das emissões de poluentes para a atmosfera, o etanol vem sendo misturado à gasolina brasileira a cerca de 20 anos. Sob o aspecto ambiental, os efeitos dessa mistura ainda não estão totalmente esclarecidos. A solução de gasolina e etanol origina complexas interações físicas, químicas e biológicas entre esses dois compostos, o que pode limitar técnicas de remediação usualmente empregadas em casos de derramamentos de combustíveis. Esses derramamentos de hidrocarbonetos oriundos do petróleo são os mais frenquentes contaminantes encontrados no ambiente (Margesin et al., 1999). Interessada nos possíveis efeitos ambientais que a adição de etanol à gasolina pode causar ao subsolo, a Petrobras tem estudado a influência dessas interações (Schneider, 2001). Outros estudos também vêm sendo conduzidos a respeito das vantagens e desvantagens dessa mistura devido à implementação, nos Estados Unidos, do Clean Air Act, onde o aditivo MTBE teve que ser retirado dos combustíveis por sua baixa degrabilidade e vem sendo então substituído por etanol. A adição do etanol à gasolina afeta propriedades que governam a infiltração, distribuição, dissolução e biodegradação do combustível derramado em subsuperfície. Devido às suas características hidrofílicas, o etanol é facilmente solúvel em água e somado o efeito denominado de cosolvência, o etanol da mistura pode rapidamente aumentar a massa de hidrocarbonetos na água (McDowell et al., 2003). Entretanto, se o efeito do etanol na zona saturada tem sido amplamente documentado, o mesmo não ocorre com os aspectos dinâmicos do processo de particionamento durante a infiltração da gasolina com etanol na zona não saturada, que possuem raros estudos. O objetivo desse estudo é analisar a biodegradação e mecanismos de distribuição do contaminante em blocos não saturados indeformados de solo arenoso e argiloso, focando no efeito do etanol na biodegradação dos componentes da gasolina: Benzeno e Tolueno e relacionando-os à composição dos solos analisados. O ensaio se insere em estudo conduzido pelo grupo de Geotecnia Ambiental da PUC-Rio sobre os mecanismos de contaminação e descontaminação em solos tropicais, muito pouco estudados. O monitoramento do comportamento da microbiota degradadora nos permitirá avaliar se a população microbiana será afetada pelos contaminantes, se haverá adaptação às novas condições encontradas e por fim, se haverá biodegradação dos componentes da gasolina; será avaliado o conjunto de dados obtidos a partir de análises químicas, atividade microbiana, carbono disponível (C disponível) e constante dielétrica do solo (Ka). Este artigo apresenta os resultados experimentais preliminares que avaliam a biodegradação e a distribuição de benzeno e tolueno, assim como mistura destes com 20% de etanol, em blocos de solo argiloso e arenoso. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Solo O solo utilizado para este estudo é oriundo de Duque de Caxias, localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro. Os quatro blocos de solo indeformados foram obtidos com auxílio de técnicos do Laboratório de Geotecnia e Meio Ambiente. As dimensões dos blocos foram de 30 cm x 30 cm, para que fossem mantidas ao máximo as condições de campo encontradas pela microbiota do solo. 2.2 Contaminação Um pulso de 1 litro de contaminante foi derramado sobre o topo de cada um dos quatro blocos estudados. Dois blocos, um arenoso (BA) e outro argiloso (BS), foram contaminados pela solução de 2% de benzeno, 4% de tolueno em heptano (BT); outros dois blocos, também um arenoso (EA) e outro argiloso (ES), foram
3 submetidos à mesma solução adicionados etanol a 20% (BTE). 2.3 Monitoramento As amostras de solo para análises químicas e microbiológicas foram coletadas segundo um ordenamento de faces. A sequência de amostragem respeitou a sequência numérica das faces. As faces dos blocos foram numeradas de 1 a 4 (Figura 1) e, para evitar maiores perturbações à microbiota do solo, as coletas sequenciais seguiram essa ordem. condição de biodegradação do contaminante no solo. O método de extração e de análise por cromatografia gasosa adotado foi descrito por Fernando (2009) a partir de Melquíades et al. (2006) Carbono Disponível Determinação de carbono disponível em amostras de solo, através de oxidação com permanganato de potássio, segundo protocolo desenvolvido por Tirol-Padre & Ladha (2004), modificado da metodologia original de Blair et al. (1995) Reflectometria no Domínio do Tempo (TDR) Figura 1. Sequência de amostragem seguindo o número sequencial das faces Microbiológico A atividade degradadora total da microbiota foi determinada pelo método de medida de hidrólise de diacetato de fluoresceína (FDA). O método adotado foi descrito por Adam & Duncan (2001) e Green et al. (2006) e modificado por Österreicher-Cunha et al. (2007). O método da hidrólise de FDA nos fornece uma indicação da biodegrabilidade intrínseca da amostra, correspondendo à atividade degradadora de bactérias e fungos existentes essencialmente devido à natureza da microbiota do solo utilizado. A avaliação microbiológica foi realizada antes e depois da contaminação, e até o 133º dia Químico As concentrações dos compostos Benzeno, Tolueno e Etanol no solo ao longo do período do experimento são fundamentais para que sejam comparadas aos valores de atividade degradadora da microbiota do solo. Assim pode-se ter uma melhor avaliação da real O TDR tem sido usado como um método para medida da constante dielétrica pela determinação do tempo de trânsito de um pulso eletromagnético lançado ao longo de sondas metálicas paralelas inseridas no solo. Análises teóricas e correlações experimentais mostram que o tempo do pulso é proporcional à constante dielétrica aparente. Esse parâmetro físico é fundamental e está diretamente correlacionado com a umidade do solo. As constantes dielétricas (Ka) e umidades (w) foram determinadas com o Theta Probe TM (Delta Instruments) TDR. O instrumento foi inserido nos locais de coleta, e anteriormente a ela, para amostragens de solo para análise de FDA. Foram feitas medições antes da contaminação e após. Como a água tem constante dielétrica relativa (81) bem maior que a dos materiais do solo (3 a 5), do ar (1), benzeno (2.3) e tolueno (2.38) quanto maior o conteúdo de água do solo, maior será a sua constante dielétrca aparente. A grande disparidade do valor da constante dielétrica da água em relação aos materiais do solo e contaminantes estudados aqui permite a sua determinação através desta técnica, uma vez que a maior parte do efeito do retardamento do pulso na antena é decorrente do conteúdo de água do solo (Tommaselli et al., 2011). A umidade do solo foi determinada a partir dos valores de constante dielétrica aparente.
4 Para sua determinação, foi realizada a calibração do TDR (relação entre o conteúdo de água e a constante dielétrica aparente do solo) para cada um dos dois tipos de solo utilizados no experimento. A calibração consistiu em medidas com TDR periódicas em blocos de solo siltoso e areoso concomitantemente a coleta para verificação do peso seco das amostras que foram mensuradas com TDR. As curvas de calibração para solo siltoso e arenoso podem ser verificadas nas Figuras 2 e 3. (BA) teve um aumento de sua atividade enquanto os blocos siltosos apresentaram queda, o que pode ser atribuído a uma aeração maior no solo arenoso que pode ter estimulado a atividade da microbiota. Solos com atividade muito baixa são mais suscetíveis às manipulações, que podem rapidamente estimular a atividade microbiana e assim dificultar a avaliação dos efeitos dos tratamentos. A retirada dos blocos, mesmo indeformados, de seu ambiente pode ter eliminado o fator que mantinha a atividade baixa, possibilitando sua retomada. Figura 2. Curva de calibração do TDR para o solo siltoso. Figura 4. Atividade enzimática da microbiota antes da contaminação. Figura 3. Curva de calibração do TDR para o solo arenoso. 3.1 Atividade Microbiana A primeira análise de hidrólise de FDA foi realizada 4 dias após a coleta, ou 36 dias antes da contaminação dos blocos. Na Figura 4 se pode constatar que, com exceção do bloco siltoso (ES), as atividades já estavam abaixo dos níveis geralmente encontrados para esses solos. Nesse momento, os blocos siltosos apresentaram as atividades mais compatíveis com estudos anteriores para o mesmo solo (Österreicher et al, 2008). Um mês depois, um dia antes da contaminação, o bloco arenoso Após a contaminação dos blocos, ao longo do experimento, as oscilações na atividade estiveram sempre presentes, como pode ser visto na Figura 5 e 6. A análise microbiológica detectou um impacto inicial da contaminação na atividade microbiológica semelhante ao ocorrido em estudo anterior, porém aqui as atividades foram inferiores às ocorridas anteriormente. Solos contaminados por BT apresentaram as maiores atividades 24h após a contaminação. No bloco arenoso o aumento foi de nove vezes e no argiloso de seis vezes em relação à atividade inicial antes da contaminação. Contudo, visto a atividade excepcionalmente baixa desses solos logo após a coleta, em particular o solo arenoso (BA), somente o solo siltoso (BS) atinge um nível de atividade médio, para estes solos após a contaminação. Já para os blocos submetidos à contaminação de BTE houve uma queda da atividade nas primeiras 24h para o bloco argiloso e manutenção da ausência de atividade no bloco arenoso.
5 Figura 5. Evolução da atividade microbiana ao longo do ensaio após a contaminação. Figura 6. Tendência da atividade microbiana ao longo do ensaio após a contaminação. Estudos anteriores com estes solos mostraram que a atividade microbiana sofre uma queda imediatamente após a contaminação com gasolina e gasolina-etanol, mas também que o impacto é transiente e a microbiota se recupera, adaptando-se ao novo meio e iniciando a degradação dos contaminantes (Österreicher- Cunha et al, 2004, 2007). aumento da atividade corresponde à redução dos níveis de carbono disponível (Figura 7). 3.2 Química Resultados da análise química estão sendo processados. 3.3 Carbono Disponível Como já era esperado, no tempo 0 antes da contaminação os solos siltosos apresentaram maiores quantidade de carbono disponível no solo. Após a contaminação, a quantidade de carbono disponível variou de acordo com a atividade microbiana. De modo geral, o Figura 7. Variação da quantidade de C disponível ao longo do experimento. 3.4 Umidade Os resultados das medições com o TDR mostraram que os blocos argilosos mantiveram durante todo o experimento umidades superiores aos blocos arenosos. As variações de
6 umidade foram em torno de 15% em todos os blocos (Tabela 1 e Figura 8). Tabela 1. Medições realizadas pelo TDR ao longo do experimento. Bloco Faixa de Umidade (%) EA ES BA BS Os resultados das medições indicam que o conteúdo de água não se relaciona com a atividade microbiana. Assim sendo, pode-se sugerir que as oscilações na atividade da microbiota são devido à composição do solo. Figura 8. Variação da umidade ao longo do ensaio medida por TDR. 3.5 Constantes Dielétricas (Ka) Pode-se observar na Tabela 2 que os valores de Ka tiveram suas mudanças mais expressivas logo após a contaminação. Os blocos contaminados com a mistura BTE dobraram seus valores enquanto os sujeitos à mistura BT quase não modificaram suas medidas. Ao longo do ensaio foram realizadas medidas nas faces que eram amostradas para o FDA que variaram de acordo com as variações de umidade. Tabela 2. Medições realizadas pelo TDR no topo do bloco antes a logo após a contaminação. Bloco Ka Antes¹ Após² EA ES BA BS ¹Antes da contaminação; ²Após a contaminação. 4 DISCUSSÃO Diversos são os fatores que controlam as propriedades físicas e biológicas do solo não saturado, dentre esses fatores destacam-se a composição do solo e sua profundidade. O solo subsuperficial possui propriedades físicas e químicas bem distintas àquelas encontradas em solos superficiais. Grande parte dessa diferença é devido à atividade microbiana que ocorre nesses ambientes distintos. Os fatores que afetam essa atividade são principalmente: disponibilidade de água, C, ph, temperatura, potencial redox e nutrientes. O solo subsuperficial, por sua vez, recebe quantidades de nutrientes e água inferiores aos solos superficiais o que resulta em uma atividade microbiana baixa em relação à atividade de solos superficiais (Holden et al., 2005). A composição química do solo afeta a disponibilidade de substratos e, de acordo, com a profundidade essa disponibilidade, se modifica drasticamente. O conteúdo de argila, que controla as troca iôncas, e de matéria orgânica, que controla a abundância e disponibilidade de nutrientes, também se reduzem com a profundidade (Holden et al., 2005). O conjunto desses fatores pode explicar a reduzida atividade microbiana constatada neste estudo, já que os blocos estudados são oriundos de profundidades superiores a 20 cm. Contudo, estudos realizados in loco no talude de onde foram extraídos os blocos, mostraram atividades variando entre 0,10 e 0,6 g fluoresceína/g solo/minuto ao longo dos dois anos de monitoramento, durante os quais somente a feição arenosa apresentou valores abaixo de 0,10 g fluoresceína /g solo/ minuto, durante as épocas de estiagem (Österreicher et al, 2012). Como indicado nas Figuras 5 e 6, todos os blocos indeformados do presente estudo apresentaram atividade microbiológica excepcionalmente baixa quando comparados a estudos anteriores do solo da mesma região. Um estudo feito com as feições do mesmo talude mostrou que o fator que controla as propriedades físicas e biológicas em subsuperfície e a distribuição das propriedades microbiológicas está relacionado à composição
7 do solo (Österreicher et al, 2012). Além disso, uma análise da biomassa microbiana mostrou que ela não se correlaciona com o conteúdo de água, mas com a quantidade de C disponível no solo. Sendo a quantidade de C do solo fortemente influenciada pelo conteúdo de argila deste (Balkwill et al., 1998). O C disponível é essencial para manutenção da atividade celular e produção de biomassa. No presente estudo, o C disponível no solo correspondeu à expectativa e apresentou os maiores níveis. Porém, diferentemente do que já havia sido observado em estudo anterior, a atividade nos solos com maiores quantidades de C disponível (blocos siltosos) foram os que apresentaram as maiores atividades. A atividade microbiana se correlaciona positivamente com solos cujo teor de argila confere um efeito protetor oferecido às enzimas. As células microbianas estão intimamente associadas às frações de argila, pois estas fornecem grande parte da superfície de suas partículas para interação com os microrganismos (Ladd et al., 1993). Os resultados deste estudo mostraram que os solos com maior conteúdo de argila apresentaram maiores atividade ao longo do ensaio, o que pode ser explicado pela preferência de bactérias por microporos em micro agregados, como os encontrados em solos argilosos. Essa população é exposta a nutrientes e contaminantes de diferentes formas comparadas àquelas que vivem em macroporos. Estes resultados corroboram os obtidos anteriormente para estes solos, onde as atividades nos solos siltosos se apresentaram mais elevadas. Contudo, foi constatado também a maior eficiência da microbiota das feições arenosas em ciclar e incorporar o carbono do solo (Österreicher et al, 2012). A primeira análise de hidrólise de FDA antes da contaminação dos blocos mostrou, com exceção do bloco siltoso (ES), que as atividades já estavam abaixo dos níveis geralmente encontrados para esses solos. Ainda assim, os blocos siltosos apresentaram as atividades mais próximas àquelas verificadas em estudos anteriores para o mesmo solo (Österreicher et al, 2008). Após a contaminação, levando-se em consideração a composição dos contaminantes, pode-se sugerir que a adição de etanol à solução de BT contrariou as expectativas de que esses blocos teriam uma atividade maior com uma maior retenção inicial de BT, conforme observado anteriormente. Medidas da hidrólise de FDA 24h após a contaminação mostraram um aumento significativo no bloco siltoso sujeito a solução BT (BS) chegando a valor superior ao encontrado para o solo da mesma região em estudo anterior. O mesmo não ocorre para os outros blocos, que após 24h da contaminação apresentaram valores de atividade inferiores aos já estudados. Geralmente a presença de etanol estimula a atividade enzimática logo após a contaminação, devido à sua degradação constitutiva, que não requer adaptação e não apresenta time lag ; o etanol é integrado imediatamente ao ciclo bioquímico das células não requerendo uma ativação enzimática, o que não ocorre com o BT que requer uma ativação enzimática antes de sua degradação, atrasando o processo de degradação quando na presença de etanol (Corseuil et al., 1998; Österreicher et al, 2007). Foram observadas ao longo do ensaio oscilações características de populações microbianas ambientais, contudo, maiores amplitudes foram observadas nos solos siltosos, o que é condizente com seu nível, em geral, mais elevado de atividade. De forma geral, essas oscilações foram semelhantes com exceção do bloco EA, no qual não foi possível detectar atividade no início do ensaio. A constante dielétrica dos blocos contaminados com a mistura de BT apresentaram menores variações de Ka enquanto aqueles onde foi acrescentado etanol à mistura (BTE) apresentaram variações significativas. O aumento, apesar de pouco expressivo, do valor de Ka nos blocos contaminados por BT sugerem que a água residual presente não foi expulsa, impedindo o pleno contato do contaminante com as partículas de solo, o que impossibilitaria o aumento da atividade microbiana. Já a variação de Ka nos blocos sujeitos a mistura de BTE dobraram seus valores, o que já era esperado visto que o etanol é dissolvido com maior facilidade na água
8 residual, modificando suas propriedades primárias. Estudos com solos não saturados inertes mostraram que a água residual foi expulsa dos poros do solo quando a gasolina foi misturada a etanol (Osterreicher-Cunha et al., 2007); entretanto, não foram obtidas evidencias que comprovassem o ocorrido no presente estudo, pois durante o período após a contaminação a constante dielétrica dos blocos pouco se modificou. Os parâmetros monitorados durante os 133 dias de ensaio mostraram que na fase inicial do experimento, contrariando estudos anteriores, o etanol não influenciou positivamente na atividade microbiológica inicial fazendo com que essa se reduzisse (ES) e se mantivesse ausente (EA) sugerindo que o etanol foi tóxico à população microbiana do meio. Entretanto, após a suposta recuperação da população resistente, a atividade microbiológica variou de maneira semelhante em solos com composições similares, sendo os solos argilosos a apresentarem as maiores atividades, conforme esperado. De fato a feição arenosa do solo deste estudo apresenta atividade degradadora mais baixa, em acordo com o que se observa com solos arenosos em geral. Os resultados das análises químicas elucidarão questões como a persistência dos compostos Benzeno e Tolueno nos blocos com e sem etanol, além de indicar se a degradação realmente ocorreu e pode ser relacionada com as atividades microbiológicas apresentadas neste estudo. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos técnicos laboratoriais Amaury Cardoso Fraga, Alexandro Alves Lippi, Josué Pereira Martins e Rogério Ross Fonseca Daniel pelo apoio no campo e no laboratório. Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS Adam, G., Duncan, H., Development of a sensitive and rapid method for the measurement of total microbial activity using fluorescein diacetate FDA in a range of soils. Soil Biology & Biochemistry, Vol. 33, p Adam, G., Gamoh, K., Morris, D.G., Duncan, H. (2002). Effect of alcohol addition on the movement of petroleum hydrocarbon fuels in soil. Science of the Total Environment, Vol. 286, p Balkwill, D.L., Murphy, D.M., Fair, D.M., Ringelberg, D.B., White, D.C. (1998). Microbial communities in hight and low recharge environments: Implications of microbial transport in the vadose zone. Microbial Ecology, Vol 35, p Corseuil, H.X., Hunt C., dos Santos Ferreira, R.,. Alvarez P.J.J. (1998) The Influence of the gasoline oxygenate ethanol on aerobic and anaerobic BTX degradation, Water Resour Gestel, M.V., Merckx, K.V. (1996). Spatial distribution of microbial biomass in microaggregates of a siltyloam soil and the relation with the resistance is microorganisms to soil drying. Soil Biology and Biochemistry, Vol. 28, p Holden, P. A., Fierer, N. (2005). Microbial Process in the Vadose Zone. Vadose Zone Journal, Vol. 4, p Ladd, J. N., Foster, R., Nannipieri, P., Oades, J. M. (1996). Soil Structure and Biological Activity. Soil Biochem., Vol. 9, p Margesin, R., Zimmerbauer, A., Schinner, F. (2000). Monitoring of bioremediation by soil biological activities. Chemosphere, Vol. 40, p McDowell, C.J., Powers, S. (2003). Mechanisms affecting the infiltration and distribution of ethanolblended gasoline in the vadose zone. Environ. Science & Technology, Vol. 37, p Österreicher -Cunha, P., Vargas, E.A., Guimarães, J.R.D., Campos, T.M.P., Nunes, C.M., Costa, A., da Silva, M.I.P., Antunes, F.S., Mano, D.M. (2004). Eval. of bioventing on a gasoline ethanol contaminated undisturbed residual soil. Journal of Hazardous Materials, Vol. 110, p Österreicher -Cunha, P., Guimarães, J.R.D., Vargas, E.A., da Silva, M.I.P. (2007). Study of biodegradation processes of BTEX ethanol mix. in tropical soil. Water Air and Soil Pollution, Vol. 181, p Österreicher-Cunha, P., Vargas, E.A., Guimarães, J.R.D., Antunes, F.S., Mothé, G.P.B.,Guimarães, P.L.S., Fernando, A.F.B., Coutinho, H.L.C. (2007). Distribution of microbio., chem. and geotec. characteristics in a heterogeneous tropical soil. 24º Congresso Brasileiro de Microbiologia. Österreicher-Cunha, P., Vargas, E.A., Antunes, F.S., Guimarães, J.R.D., Mothé, G.P.B., Coutinho, H.L.C. (2012). Influence of Soil and Climate on C Cycling and Microbial Activity of a Hetero. Tropical Soil. Geomicro. Journal, 29:5, p Schneider, M.R. (2001). Avaliação dos mét. para det. dos coef. de biodegrabilidade dos compostos BTEX e etanol em águas sub. cont. por gasolina. Diss. de mestrado, UFSC, 95 p.
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