APRESENTAÇÃO. Caro alfabetizador,
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- Matheus Chaplin Brandt
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4 APRESENTAÇÃO Caro alfabetizador, A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais editou em 16 de abril de 2008 a Resolução nº 1086/08 que dispõe sobre a organização e o funcionamento do ensino fundamental nas escolas estaduais de Minas Gerais. Essa resolução determina a garantia de oportunidades educativas requeridas para o atendimento das necessidades básicas de aprendizagem dos educandos, prevendo a duração de nove anos para o ensino fundamental, sendo que, o ciclo da alfabetização terá a duração de três anos de escolaridade, o ciclo complementar, a duração de 2 anos e mais quatro anos fi nais organizados em anos de escolaridade. A programação curricular dos ciclos de alfabetização e complementar deve ser estruturada de gradativa a ampliar capacidades e conhecimentos, gradativamente dos mais simples aos mais complexos, contemplando de maneira articulada e simultânea, a alfabetização e o letramento (Art. 10 / Resolução SEE nº 1086/08). O ciclo da alfabetização terá suas atividades pedagógicas organizadas de modo a assegurar que ao fi nal de cada ano do ciclo, todos os alunos sejam capazes de: I 1º Ano: a) desenvolver atitudes e disposições favoráveis à leitura; b) conhecer os usos e as funções sociais da escrita; c) compreender o princípio alfabético do sistema da escrita; d) ler e escrever palavras e sentenças. II 2º Ano: a) ler e compreender pequenos textos ; b) produzir pequenos textos escritos; c) fazer uso da leitura e da escrita nas práticas sociais. III 3º Ano: a) ler e compreender textos mais extensos; b) localizar informações no texto; c) ler oralmente com fl uência e expressividade; d) produzir frases e pequenos textos com correção ortográfi ca.
5 Enfi m, a Resolução 1086/08 determina que ao fi nal do ciclo de alfabetização, todos os alunos devam ter consolidado as capacidades referentes à leitura e à escrita necessárias para expressar-se, comunicar-se e participar das práticas sociais letradas e ter desenvolvido o gosto e o apreço pela leitura. Concluído o primeiro bimestre do ano escolar é o momento de darmos prosseguimento ao trabalho com base em novas sugestões de práticas pedagógicas e propostas de atividades que darão continuidade ao processo de aprendizagem da leitura e da escrita de seus alunos. Você está recebendo o Guia do Alfabetizador referente ao 2º bimestre. Propomos que avalie os resultados em relação ao desenvolvimento da oralidade, à apropriação do sistema de escrita e à construção de procedimentos relacionados ao ato de ler, que foram propostos no 1º bimestre e que trace novas metas consultando o QUADRO DAS CAPACIDADES LINGÜÍSTICAS. Observe com atenção aqueles alunos que ainda não estabelecem uma relação entre o que se fala e o que se escreve. Essa observação o ajudará na formação de grupos de trabalho produtivos em que os alunos troquem experiências acerca das hipóteses de leitura e escrita e possam assim se ajudar, com a sua mediação. Conforme o artigo 12 da Resolução 1086, a escola deverá ao longo de cada ano do Ciclo, acompanhar sistematicamente a aprendizagem dos alunos, utilizando estratégias diversas para sanar as difi culdades evidenciadas. Vamos utilizar o tema FESTAS para contextualizar as práticas de oralidade, leitura e escrita centrando-se nos aspectos culturais, para além da ludicidade. Utilizaremos o conceito de festas populares para contextualizar a prática por meio de pesquisas, conversas e entrevistas. Cabe à escola aproveitar as manifestações culturais ampliando o trabalho com o lúdico e aprofundando o conhecimento em relação à escrita e à leitura. As festas juninas são as principais festas populares brasileiras, depois do carnaval. São festas que resgatam as tradições típicas dos costumes do interior. As escolas de todo o país contribuem para que se mantenha essa tradição fazendo com que nessa época do ano as pessoas se contagiem com o Brasil rural e as crianças se divirtam com as comemorações. É nesse momento que a escola pode formar e desenvolver o desempenho lingüístico do cidadão e conhecer as variedades lingüísticas, ensinar a respeitar a diversidade cultural e as maneiras de falar e agir de acordo com as comunidades rurais, familiares e seus conterrâneos.
6 Neste segundo bimestre continuaremos o trabalho com diversos gêneros e suportes textuais. Ampliaremos a prática da escrita e leitura conjugando novas capacidades e práticas com o foco na alfabetização e letramento. Este é o material referente às práticas pedagógicas do 2º bimestre do 2º ano do Ciclo da Alfabetização. Nele você encontrará sugestões de práticas pedagógicas que o auxiliarão no processo de alfabetização e letramento dos seus alunos. As práticas sugeridas neste Guia são: Prática pedagógica no uso de cartas, s, bilhetes e convites. Prática pedagógica por meio de listas, com foco na ortografi a. Ditado de listas e ditado cantado. Prática pedagógica na leitura de fábulas. Prática pedagógica no uso de histórias em quadrinhos. O uso das histórias em quadrinhos na alfabetização. Prática pedagógica no uso de instruções de jogos. Prática pedagógica no uso de fi lmes, desenhos animados, sites e softwares. Acreditamos que por meio da leitura e refl exão do material apresentado, o trabalho com os alunos se efetive tanto no aproveitamento de sua experiência quanto no enriquecimento e valorização das metodologias e procedimentos aplicados, em busca da apropriação da alfabetização e letramento, com sucesso. Esperamos que você, alfabetizador, continue utilizando o Guia e suas dicas para renovar e resignifi car ainda mais sua prática pedagógica. Aguardamos sugestões e críticas que servirão como oportunidades de aprendizagem e formação continuada. Afetuosamente, Equipe de elaboração do Guia.
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14 COMO FAZER O CONHECIMENTO DO ALUNO AVANÇAR? Todos sabem que não existe um único processo de ensino e aprendizagem. Essa relação cognitiva e pedagógica acontece no desenvolvimento da prática pedagógica. Cabe, a nós, educadores e alfabetizadores compreendermos o caminho percorrido pelo nosso aluno, identifi car as informações que perpassam pela sala de aula e propor atividades que permitam que tanto o acesso à informação, quanto a construção de conhecimento, se adaptem e dialoguem na relação ensino-aprendizagem. O alfabetizador precisa planejar, intervir e mediar a ação do aprendiz em relação ao objeto de conhecimento, para que o processo seja efetivo no sentido da promoção da aprendizagem, alguns princípios devem ser seguidos: - os alunos precisam apresentar o que sabem sobre o conteúdo que se quer ensinar e para isso, a relação de confi ança e autonomia deve ser construída coletivamente; - a organização e o planejamento das práticas e das atividades devem ser avaliados e devem promover a circulação de informações; - os conteúdos e atividades precisam manter suas características de objetos socioculturais sem se transformarem em simples objetos escolares vazios de signifi cado e sentido. Nem sempre será possível apenas organizar as atividades pensando nesses princípios, pois depende do conteúdo, dos seus objetivos e da orientação da atividade. No entanto, sua seleção e indicação podem direcioná-los para uma prática pedagógica focada no letramento e alfabetização, além dos muros da escola. Não perca de vista, neste segundo bimestre, a importância do trabalho da oralidade, leitura e escrita de convites, cartas, s, bilhetes, listas, fábulas e histórias em quadrinhos. O GUIA apresentará algumas dicas metodológicas no uso de jogos (instruções de jogos), sites, softwares, fi lmes e desenhos animados. E lembre-se de retomar as práticas pedagógicas indicados no Guia do primeiro bimestre, pois a interação em sala de aula é contínua e todos os processos, metodologias e procedimentos precisam ser considerados de acordo com a necessidades e o desenvolvimento da turma.
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28 PRÁTICA PEDAGÓGICA NO USO DE CARTAS, S, BILHETES E CONVITES Alguns textos circulam e estão mais presentes em nossa vida cotidiana. As cartas, bilhetes, diários e convites apresentam comunicações pontuais e rotineiras, informam e expressam a experiência vivida: sentimentos e opiniões. As cartas, s (cartas digitais) e bilhetes servem para a comunicação por escrito para um destinatário ausente. O destinatário pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas. Esses textos têm um grande valor social, pois são usados por todos, mesmo pelos que não sabem ler e escrever, que recorrem a outros para a escrita ou a leitura. Já assistiram ao fi lme de Walter Salles que apresenta essa realidade brasileira, de forma bem clara? Vale a pena assistir Central do Brasil. As cartas podem ser de vários tipos. Podemos escrever cartas pessoais, convites, cartas literárias, cartas de solicitação etc. O estilo que se emprega na escrita de uma carta está diretamente relacionado ao grau de familiaridade que se tem com o destinatário. Na escrita de cartas para pessoas próximas recorre-se ao estilo informal; para pessoas que não são íntimas recorre-se ao formal. As cartas servem como meio de comunicação entre pessoas distantes físicas ou geografi camente, contam acontecimentos, sentimentos e emoções do autor do texto. Descrevem fatos e apresentam propostas. Para o trabalho com o formato destes gêneros textuais é preciso apresentar alguns modelos. Iniciar pelo cabeçalho informando o lugar e a data de sua redação, logo em seguida há um acolhimento ao destinatário, a mensagem com os fatos e sentimentos e fi nalmente a mensagem de despedida, que inclui a assinatura do autor. Há produções literárias que se utilizam de correspondências para representarem toda a trama (O livro Professora Sim, Tia Não, de Paulo Freire se constrói a partir de cartas entre o autor e uma professora). O (correio eletrônico) ou ainda mensagem digital ou eletrônica é um método que permite compor, enviar e receber mensagens através de sistemas eletrônicos de comunicação. O termo é aplicado aos sistemas que utilizam a Internet. O aluno e o alfabetizador podem utilizar a prática de envio de s para autores de livros, pessoas distantes que possam apresentar uma discussão sobre um tema estudado em sala ou, até mesmo, troca de s entre colegas de sala, escola ou bairro.
29 É importante comparar os formatos de uma carta em papel e um (carta eletrônica) ou entre os bilhetes e convites e discutir sobre a diagramação, papéis, suportes e as maneiras de se comunicar ao utilizar determinados textos informativos. Os bilhetes e convites têm a mesma função das cartas e s e seguem a organização da carta (local, saudação, mensagem, despedida e assinatura), porém a mensagem é mais objetiva e enxuta. Na prática pedagógica de textos informativos como cartas, s, bilhetes e convites são necessários trabalhar de várias maneiras construindo uma seqüência de atividades como, por exemplo: - selecionar cartas e bilhetes literários ou recebidos pelo alfabetizador ou alunos e criar momentos de leitura destes textos; - apreciar e comentar sobre os diversos tipos de autores das cartas, s, bilhetes e convites; - analisar as cartas, os bilhetes e os convites dos qual o aluno possa ter uma cópia e possam ser lidos para que o alfabetizador pergunte sobre o local em que foi escrito, quem o remeteu, para qual destinatário, as informações contidas no texto entre outros; - ler sobre as maneiras de cumprimentar e despedir; - antecipar a leitura e criar expectativas sobre a carta, bilhete ou convite lidos; - ler em voz alta a carta e os alunos acompanham em silêncio a carta lida. Essa é uma boa estratégia para apropriar-se desse modelo ou mesmo da língua que se escreve; - solicitar aos alunos que tragam cartas, bilhetes ou convites recebidos pela família para a compartilharem com os colegas em uma roda de conversa; - propor, aos alunos, escrita individual de cartas, s, bilhetes e convites a partir das hipóteses que têm sobre a escrita dos mesmos. - propor escrita de bilhetes a partir de outro texto conhecido; - preparar convites para a festa proposta pela sala ou escola; - escrever uma carta ou de um personagem para outro, a partir de uma fábula, por exemplo; - criar situações de envio de cartas, s, bilhetes e convites entre os alunos da sala e a comunidade escolar; - produzir uma carta (bilhete e convite) coletiva (dependendo da turma) para enviar para outra classe ou escola, diretora, ou família; - visitar um laboratório de informática, correios ou sala de informática do bairro ou da comunidade, fazer o endereço eletrônico da turma ou dos alunos e experimentar o uso do computador e da internet para envio de mensagens pela caixa postal por meio do ; Durante o processo de escrita do texto, é fundamental que o professor discuta com os alunos a forma de escrever as palavras e a organização do texto, pois isso favorece a aprendizagem de novos conhecimentos sobre a língua escrita. ALFABETIZAÇÃO: livro do professor/ Ana Rosa Abreu...[et al] Brasília FUNDESCOLA/ SEF-MEC, 2000
30 PRÁTICA PEDAGÓGICA POR MEIO DE LISTA COM FOCO NA ORTOGRAFIA A prática pedagógica por meio do uso da lista já foi indicada no primeiro bimestre, mas vale a pena retomá-la no segundo bimestre, agora pensando em palavras com regularidades ortográfi cas e até mesmo em relação às irregularidades. Faça, com sua turma, uma análise da maneira de grafar e as correções ortográfi cas realizadas ao longo do bimestre. Anote as difi culdades ortográfi cas específi cas e trabalhe com elas, por exemplo, troca de b por d, ou d por t, ou mesmo p por b. Organize um banco de palavras signifi cativas com a turma, ilustre cada uma delas, faça um cartaz ou uma cópia ou um ditado com essas palavras, lembrando que elas precisam ser contextualizadas e ter signifi cado para quem as escreve, redige e lê. Listar signifi ca relacionar nomes de pessoas ou coisas para a organização de uma ação. Por exemplo: listas de convidados para uma festa, dos produtos para comprar, dos compromissos do dia, das atividades que serão realizadas na sala de aula etc. Por ter uma estrutura simples, a lista é um texto privilegiado para o trabalho com alunos, mas é necessário que o alfabetizador proponha a escrita de uma lista temática que tenha alguma função de uso na comunidade ou na sala de aula. Na escola, uma ótima forma de ensinar as práticas sociais de leitura e escrita é propondo aos alunos Leitura de listas É importante propor atividades de leitura em que os alunos são os leitores. Por exemplo: atividades em que recebam uma lista com os títulos dos contos ou fábulas lidos ou dos personagens conhecidos, e tenham que localizar determinados personagens ou títulos; leitura da lista de ajudantes do dia; de atividades que serão realizadas no dia; dos aniversariantes do mês etc, de endereços e telefones dos colegas de sala, podendo ser até em uma agenda ou diário. Escrita individual de listas Por ser um tipo de texto simples, as atividades de escrita de listas possibilitam que os alunos pensem muito mais na escrita das palavras (que letras usar, quantas usar, comparar outras escritas etc.). O alfabetizador deve propor atividades de escrita de listas das quais os alunos possam de alguma forma fazer uso. Por exemplo: escrever a lista dos contos lidos, dos animais que já foram estudados e dos que ainda pretendem estudar, dos personagens preferidos, das invenções apresentadas e trabalhadas etc. Reflexão sobre a escrita de listas Sempre que for possível, favorecer a refl exão pelos alunos sobre a própria escrita, propor comparações entre palavras que começam ou terminam da mesma forma (letras, sílabas ou pedaços). As listas são ótimos textos para a realização dessas atividades. Perceber as regularidades e as diferenças entre as palavras das listas poderá promover a construção e elaboração de algumas regras ortográfi cas.
31 DITADO DE LISTAS E DITADO CANTADO As propostas de escrita de lista podem ter muitas variações, desde o seu conteúdo até a atividade que será desenvolvida. Por exemplo, a partir da lista de brinquedos ou histórias, programas de tevê ou cantores da preferência do grupo, o alfabetizador pode ditar e os alunos circulam as palavras ditadas (o que é uma atividade de leitura), ou transcrever da lista o que é da preferência individual (o que é uma atividade de leitura e cópia da escrita). Consideramos listas, as relações de palavras de um mesmo campo semântico animais, frutas, compras de supermercado, títulos de histórias, invenções ou músicas, nomes de pessoas ou personagens etc. O fato de o aluno saber de que categoria são as palavras da lista permite que utilize estratégias de antecipação e inferência, o que não seria possível se as listas fossem de palavras iniciadas por uma determinada letra, quando as possibilidades são infi nitas. A atividade só é desafi adora se for ao mesmo tempo possível e difícil para o aluno; se for possível e fácil demais, não há desafi os colocados, e se for difícil, porém impossível de realizar (pelo fato de exigir do aluno mais do que ele consegue), também não há desafi os colocados. Encontrar palavras numa relação em que todas começam com a mesma letra, sem saber qual é a categoria a que pertence, é praticamente impossível para quem ainda não sabe ler de forma convencional. Mas sabendo qual é a categoria, é uma atividade possível e desafi adora. Além do ditado em listas temáticas há a dica do ditado de músicas. O alfabetizador ao invés de falar cantará uma música do conhecimento da turma e os alunos deverão escrever a música. Outra maneira de escrever a partir do que o alfabetizador fala, é entregar aos alunos a letra da música e pedir que localizem e circulem as palavras indicadas. Ao trabalhar com o ditado cantado o aluno deve: conhecer a música; cantar a música, buscando identifi car as partes do escrito; marcar onde o alfabetizador faz a pausa na música; socializar sua resposta.
32 DITADO DE LISTAS E DITADO CANTADO - CONTINUAÇÃO Vários jogos e brincadeiras podem ser trabalhados por meio da lista. Um deles é a Viagem à Lua (todos os alunos deverão falar palavras que podem chegar à Lua por meio de um código estabelecido pelo alfabetizador por exemplo palavras que comecem com L, ou palavras que representem os objetos escolares, palavras que representem alguma cor), o passeio pode ser tanto à Lua quanto a casa da avó com uma cestinha carregadinha de doces (citar os doces e salgados e depois escrever; em outro momento poderão ser frutas, verduras, legumes, cereais, palavras começadas por ----(P) ou palavras terminadas em ---(ão), entre outras possibilidades).
33 PRÁTICA PEDAGÓGICA NA LEITURA DE FÁBULAS O que são fábulas? E como elas foram criadas? Quem são os seus autores? Essas perguntas fazem parte do pensamento das crianças quando essas conhecem o universo mágico das fábulas. As fábulas constituem um estilo literário de grande importância para o aprendizado do código da língua escrita, pois é um texto curto e lúdico. As fábulas se originam das parábolas. As parábolas são recursos de comunicação muito antigos. Na Bíblia há muitas parábolas, pois esse era o modo escolhido por Jesus para ensinar ao povo. Em suas pregações ele contava uma história com personagens e fatos conhecidos para levá-los a descobrir uma mensagem nova, ou seja, ele utilizava uma linguagem fi gurativa para expressar o que realmente queria dizer. Narrar é a arte de contar histórias. As histórias narradas estão presentes em nossa sociedade há muito tempo e por meio delas é possível a preservação cultural (na tradição oral essa foi a única forma de conservação de hábitos e da cultura). Outro fato que nos estimula a sua prática no interior da sala de aula é que por meio das fábulas é possível transmitir em linguagem simples valores morais relacionados ao dia-a-dia. As fábulas são narrações curtas, não realistas e, portanto, de natureza simbólica e bem humorada na qual os personagens, geralmente, são animais personifi cados, ou seja, possuem características humanas. Eles pensam e agem como seres humanos. O objetivo da fábula é transmitir uma lição de moral. Suas mensagens e ensinamentos estão relacionados a fatos do cotidiano. O próprio nome, fábula, já nos remete a isso, veja: Fábula: lat. fari + falar e gr. Phaó + dizer, contar algo. Veja como alguns escritores de fábulas, também chamados de fabulistas, as defi nem: Theon (séc. I d.c.) - Fábula é um discurso mentiroso que retrata uma verdade. Fedro (séc. I d.c.) - A fábula tem dupla fi nalidade entreter e aconselhar. La Fontaine (séc. XVII) - A fábula é uma pequena narrativa que, sob o véu da fi cção, guarda uma moralidade.
34 PRÁTICA PEDAGÓGICA NA LEITURA DE FÁBULAS - CONTINUAÇÃO O nascimento da fábula coincide com o surgimento da linguagem. Antes de ser considerada um gênero literário faz parte do cotidiano popular sendo contada de geração em geração. As fábulas nasceram simultaneamente na África, na Europa e no Oriente. Esopo foi um fabulista grego que teria vivido na Antigüidade no séc VI a.c. A ele atribui-se a origem das fábulas. Não se sabe ao certo se ele realmente existiu ou se é uma lenda, entretanto foram atribuídas como de sua autoria, mais de 300 fábulas. Alguns dizem que Esopo era um escravo que foi libertado pelo seu dono e na liberdade conheceu as fábulas, por elas se apaixonou e começou a escrever essas narrativas. Exemplo: A raposa e as uvas Esopo Uma raposa esfomeada passou por uma latada e viu uns cachos de uvas muito apetitosos. - Estas uvas parecem muito suculentas - pensou ela. - Tenho que as comer! Tentou apanhá-las saltando o mais alto que pode, mas em vão, porque as uvas estavam fora do seu alcance. Então desistiu e afastou-se. Fingindo-se desinteressada, exclamou: - Pensei que estavam maduras, mas vejo agora que ainda estão muito verdes! Moral da história: Não te enganes a ti mesmo se as coisas não correrem como desejas. Fonte: Fedro foi um poeta, fi lho de escravos, nascido em Tárcia. Ele recontou as fábulas de Esopo, porém em forma de poesia. Retratou, através dos versos, sua revolta contra as injustiças sociais. Exemplo: A raposa e o cacho de uva Fedro Forçada pela fome, uma raposa tentava apanhar um cacho de uva numa alta videira, saltando com todas as forças; Como não conseguisse alcançá-lo, disse, afastando-se: Ainda não estão maduras; não quero apanhá-las verdes. Aqueles que desdenham com palavras o que não conseguem realizar deverão aplicar para si este exemplo.
35 PRÁTICA PEDAGÓGICA NA LEITURA DE FÁBULAS - CONTINUAÇÃO Tradução de José D. Dezotti FCL - Unesp in A Tradição da Fábula de Maria Celeste C. Dezotti - Unesp - Araraquara La Fontaine, poeta francês, de origem burguesa é considerado o pai da fábula moderna. Algumas fábulas escritas por ele são: A Lebre e a Tartaruga, O Homem, O Menino e a Mula, O Leão e o Rato, O Carvalho e o Caniço. La Fontaine resgatou as fábulas de Esopo e Fedro trazendo originalidade ao criar algumas fábulas. Exemplo: A cigarra e a formiga La Fontaine Num dia soalheiro de Verão, a Cigarra cantava feliz. Enquanto isso, uma Formiga passou por perto. Vinha afadigada, carregando penosamente um grão de milho que arrastava para o formigueiro. - Por que não fi cas aqui a conversar um pouco comigo, em vez de te afadigares tanto? Perguntou-lhe a Cigarra. - Preciso de arrecadar comida para o Inverno respondeu-lhe a Formiga. Aconselho-te a fazeres o mesmo. - Por que me hei-de preocupar com o Inverno? Comida não nos falta... respondeu a Cigarra, olhando em redor. A Formiga não respondeu, continuou o seu trabalho e foi-se embora. Quando o Inverno chegou, a Cigarra não tinha nada para comer. No entanto, viu que as Formigas tinham muita comida porque a tinham guardado no Verão. Distribuíam-na diariamente entre si e não tinham fome como ela. A Cigarra compreendeu que tinha feito mal... Moral da história: Não penses só em divertir-te. Trabalha e pensa no futuro. Fonte: No Brasil, temos como grande exemplo o escritor Monteiro Lobato (século XX), que recontou através da personagem Tia Anastácia no Sitio do Picapau Amarelo, inúmeras fábulas dos fabulistas Esopo e La Fontaine. Monteiro Lobato tem um livro chamado Fábulas e nele reúne diversas histórias desse gênero. Millôr Fernandes é um escritor carioca que recriou as antigas fábulas de Esopo e La Fontaine, de forma satírica e engraçada. Em seu livro 100 Fábulas Fabulosas, expressa humor e ludicidade.
36 PRÁTICA PEDAGÓGICA NA LEITURA DE FÁBULAS - CONTINUAÇÃO Exemplo: A raposa e as uvas Millôr Fernandes De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes. E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia risco de despencar, esticou a pata e... Conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes! MORAL: A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra. Fonte: lologia.org.br/vicnlf/anais/caderno03-07.html Algumas fábulas possuem personagens humanos, mas a maior parte delas mostra situações do dia-a-dia vividas por seres personifi cados animais com características humanas. O comportamento dos animais representa os defeitos, as qualidades e os vícios dos seres humanos. É muito comum a presença de provérbios populares. Uma maneira dos textos circularem pela sala de aula é através da leitura diária realizada pelo alfabetizador de uma das fábulas. As fábulas devem fazer parte do cotidiano da sala de aula para que os alunos possam ampliar o seu repertório, conhecendo autores e obras, apropriando-se da mensagem e da linguagem dos textos e, principalmente, estabelecendo vínculo com a leitura e a escrita. A atividade de leitura deve ser diária (na hora da chegada, na volta do recreio, antes da saída), pois é importante que os alunos tenham um contato freqüente com os textos, para que possam conhecê-los melhor. O alfabetizador precisa conhecer a fábula com antecedência para que a narrativa tenha ritmo e entonação indicando assim a idéia correta sobre a leitura.
37 Como usar fábulas na sala de aula Antes da leitura 1. Converse com os seus alunos sobre as fábulas. Explique como surgiram e como eram chamados quem as escrevia. 2. Comente sobre a vida de Esopo e de outros fabulistas famosos, como Fedro, La Fontaine e o nosso Monteiro Lobato. Durante a leitura 1. Escolha uma fábula, conte ou leia para os alunos. Divida-os em grupos ou duplas, distribua o texto lido ou escreva, no quadro, a fábula que foi contada. 2. Peça aos alunos para ilustrar o que entenderam da fábula. 3. Escolha alguns alunos e peça-os que recontem a fábula lida. Pode ser por meio de uma dramatização. Essa não é uma situação em que o aluno deva decorar ou memorizar todas as partes da história, mas ele poderá se apropriar da idéia central da fábula e transformar o enredo. 4. Dialogue com a turma sobre o sentido da fábula. Quais são os personagens? O que acontece? Como a trama se desenvolve? 5. Indague sobre o título da fábula. Ele faz menção aos acontecimentos do texto lido? Essa atividade estimula os alunos a refl etirem sobre as características principais dos textos. 6. Peça aos alunos para sugerirem outros títulos para as fábulas. Faça um julgamento na turma e eleja os que forem mais originais. 7. Construa com os alunos um outro fi nal para a fábula. 8. Converse com os alunos sobre a moral da fábula. Pergunte se eles sabem o que é moral. Dê exemplos para que eles entendam o que é moral, sem que você diga, pois dessa forma eles estarão construindo o conhecimento e pensando sobre a língua.
38 Depois da leitura 1. Peça aos alunos para pesquisarem a diferença entre fábula, apólogo 1 e parábola. (o conceito de Apólogo e Parábola está em nota de rodapé) 2. Peça aos alunos para investigarem a origem da palavra fábula, relacionando-a com o signifi cado das palavras que dela se originaram, como confabular, fabuloso etc. Embora os alunos estejam em fase de alfabetização ainda aprendendo o código escrito da língua, eles conseguem pensar e refl etir sobre a fábula lida. Aproveite ao máximo os momentos de contar histórias, para que através da oralidade, possa construir com os alunos o entendimento do texto e estimular o pensamento deles. Quando os alunos conseguem entender o texto e interpretá-lo oralmente têm mais facilidade de expor seu pensamento sobre as indagações do texto através da escrita. Seus alunos sabem o que são fábulas? Navegue com eles nos sites abaixo e eles aprenderão brincando. Veja o exemplo abaixo. Nesse site as fábulas podem ser vistas com os recursos: animação e som, somente animação ou somente som. Dessa forma há inúmeras possibilidades de trabalho pedagógico e aprendizado. Fábula a cigarra e a formiga. Fonte: ash/cigarrasom.jhtm 1 - Apólogo é um gênero fi gurado de narrativa que busca ilustrar lições de sabedoria ou ética, através do uso de personalidades de índole diversa, imaginárias ou reais, que podem ser tanto inanimadas como animadas. Serve como exemplo clássico os apólogos de Esopo. É comumente confundida com a fábula, que é focada nas relações que envolvem coisas e animais (ex: o livro Quem Mexeu no Meu Queijo e A Revolução dos Bichos), e com a parábola, que se centra nas histórias somente entre homens e comumente possui cunho religioso (ex: Parábolas de Jesus). Bem parecido com a fábula em sua estrutura, o apólogo é um tipo de narrativa que personifi ca os seres inanimados, transformando-os em personagens da história. Fonte:
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