Sumário. Capítulo 1 Esses adolescentes de hoje... são mesmo agressivos ou estão fadados à submissão? Vanessa Fagionatto Vicentin
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- Talita Valverde Silva
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1 Sumário Apresentação Luciene Regina Paulino Tognetta e Vanessa Fagionatto Vicentin Capítulo 1 Esses adolescentes de hoje... são mesmo agressivos ou estão fadados à submissão? Vanessa Fagionatto Vicentin Capítulo 2 Esses adolescentes de hoje... vivem em tribos? O papel das tribos urbanas na formação moral Denise D Aurea-Tardeli Capítulo 3 Esses adolescentes de hoje... são consumistas pós-modernos? Adriana Regina Braga Capítulo 4 Esses adolescentes de hoje... podem e sabem discutir e vivenciar dilemas contemporâneos? As contribuições de Lawrence Kohlberg e Georg Lind Patrícia Unger Raphael Bataglia Capítulo 5 Esses adolescentes de hoje... podem ser motivados a participar ativamente da construção de sua personalidade ética? Sonia Maria Pereira Vidigal
2 Capítulo 6 Esses adolescentes de hoje... podem sentir necessidade das regras na escola? Adriana de Melo Ramos Capítulo 7 Esses adolescentes de hoje... convivem com bullying na escola? Luciene Regina Paulino Tognetta, Telma Pileggi Vinha e Thais Leite Bozza Capítulo 8 Esses adolescentes de hoje... podem ser protagonistas de uma mudança? Sistemas de apoyo en la escuela para el desarrollo del protagonismo del alumnado en la convivencia escolar José María Avilés Martínez e Natividad Alonso Elvira Sobre os autores
3 Apresentação Esses adolescentes de hoje... é expressão de nosso desalento tendo em vista tantos problemas nas relações entre as pessoas, manifestados sob a forma de violência, agressividade, incivilidade, indisciplina e bullying. Com razão, dadas as situações de desrespeito constantes no ambiente escolar e fora dele envolvendo meninos e meninas numa fase extremamente importante para a adesão a valores morais, o tema de educar moralmente para a convivência respeitosa apresenta-se como um desafio. É percebido que nas relações de convivência entre nossos adolescente e jovens a escolha pela tolerância, pela humildade e pela justiça parece estar distante do cotidiano em tempos líquidos, cuja multiplicidade de valores atrelados ao consumo, à boa vida, à virilidade e à força física está presente. Questionamentos sobre de quem é a responsabilidade de educar para a convivência permeiam as conversas entre pais e professores, assim como se apresentam de forma constante entre as mesmas preocupações e investigações de especialistas das ciências humanas. Enquanto isso, os problemas se avolumam para aqueles que educam, e uma decisão precisa ser tomada, a fim de promover a educação de valores dessa juventude, Algumas décadas atrás, a tarefa de formar moralmente era atribuída à família e às instituições religiosas. Posteriormente, a disciplina Educação Moral e Cívica, obrigatória durante a ditadura militar, pretendia moldar o comportamento dos alunos e formar cidadãos honrados. Obviamente que pela forma autoritária como foi colocada e pela verdadeira 15
4 16 finalidade proposta formar pessoas que estivessem afinadas com os objetivos do regime militar vigente a disciplina felizmente foi extinta por não atingir a meta a que se propunha. Contudo, surgiu uma lacuna no espaço que as escolas tinham destinado ao desenvolvimento dos valores dos alunos, pois a partir desse período a maioria delas não se empenhou em fazê-los refletir sobre temas relacionados à ética, à cidadania e, principalmente, às questões de convivência. De fato, atribuir apenas à família ou apenas a uma disciplina desconectada das outras o papel de favorecer o desenvolvimento moral de crianças e adolescentes e sua capacidade de conviver de forma ética é uma perspectiva ingênua ou acomodada. Pesquisas nesse âmbito da psicologia e da educação moral concordam que não é possível eximir-se da formação ética dos alunos, visto que qualquer ação ou abstenção da parte dos educadores contribui para a construção da autonomia ou heteronomia moral dos alunos. Contudo, os profissionais da educação pouco sabem sobre qual seria o melhor caminho para atingir esse objetivo. Os velhos procedimentos parecem não resolver as situações de desrespeito na escola atual. Os educadores observam que as punições aplicadas há algumas décadas, como advertências, suspensões e pontos negativos, somados a novas técnicas de bilhetes informatizados aos pais ou registros de ocorrências disciplinares junto às secretarias de educação ou outros órgãos não corroboram a regulação e conservação de valores morais nas ações dos alunos. Os prêmios e recompensas destinados a garantir o bom comportamento do aluno não cumprem seu papel, sobretudo em um tempo em que os interesses e o sentido para a vida parecem estar constantemente em movimento. Dessa forma, é fato que muitos profissionais da educação se sentem desamparados
5 e indignados com a conduta dos alunos e, em alguns momentos, tentados a abandonar a profissão que escolheram. Emerge, nestes tempos, uma nova discussão: é preciso uma mudança de paradigma para poder educar moralmente. Já não bastam as receitas e as lições de moral. Já não causam efeitos os castigos e as punições. Para o bem de todos nós, ciências como a antropologia, a sociologia, a psicologia, a filosofia e a educação se afinam para buscar um novo e integrador olhar ao ser humano, o animal moral. Uma visão mais profunda e multicausal do homem indica-nos uma concepção de educação moral historicamente construída: para saberem respeitar o outro, nossas crianças e adolescentes precisam construir recursos cognitivos e afetivos. Tal construção deve se dar nas relações travadas no interior das instituições, principalmente numa relação de confiança com aqueles que são eleitos como autoridade (porque esta se dá pelo prestígio, e não pela força) e de cooperação com seus pares. A tarefa da escola passa a ser então colaborar para a formação de pessoas que escolham agir bem porque se sentem valorizadas e honradas quando assim se comportam. Como fazê-lo? Eis a nossa contribuição: a psicologia moral é uma ciência que traz muitas contribuições a respeito da formação ética das pessoas. Os diversos estudos que aproximaram o pensamento historicamente construído da comprovação empírica que o sustenta sobre como educar moralmente podem comprovar que a conquista da autonomia moral é resultado de um processo de interação sucessiva entre o sujeito e o ambiente em que a pessoa está inserida. Nesse sentido, as ações dos educadores e a construção de um ambiente que prima pelo diálogo, pelo respeito mútuo e pela cooperação serão de fundamental importância para 17
6 18 atingir um dos objetivos dos PCNs que se referem à formação de pessoas que, de forma livre e independente, legitimem princípios e regras morais. Para tal, é preciso que os educadores atuem de modo a dar aos alunos oportunidades de CONVIVER porque só se aprende, de fato, a fazê-lo de forma ética no exercício (da convivência). Isso envolve necessariamente sentir-se um sujeito de valor para depois reconhecer o valor do outro. Por sua vez, os educadores que ministram disciplinas específicas aos jovens estudantes também devem fazê-los pensar de maneira lógica, argumentar e organizar ideias a respeito da história da humanidade, do mundo e de si mesmos. A dinâmica das aulas ministradas para adolescentes e jovens pode e deve ser organizada para favorecer o diálogo e a argumentação em busca do desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo em uma fase em que tais sujeitos estão consolidando sua personalidade e fazendo escolhas sobre quem querem ser. Diante das incertezas encontradas em tantas escolas cujo protagonismo infantojuvenil não é vigente, temos ao menos esperanças de que a formação de nossos educadores possa se encaminhar para tal propósito. Diversas instituições educativas iniciam trabalhos de formação de professores a fim de que estes tenham recursos teóricos para agir nas situações de condutas inapropriadas dos alunos. É fato: sem recurso teórico, o professor não tem condições de lidar de modo satisfatório com as situações de desrespeito que ocorrem sistematicamente nas salas de aula, sem prejudicar os alunos ou a si próprio. Os dados sobre absenteísmo, estresse e afastamento dos educadores comprovam essa afirmação. Não temos dúvida de que educar para a convivência exige de todos os que participam de uma comunidade educa-
7 tiva a cooperação, o respeito ao outro e a si mesmo, pressupostos indiscutíveis de uma educação moral. Para tanto, este livro oferece alguns caminhos para que o professor de qualquer disciplina possa colaborar com a formação moral e ética dos educandos. Além disso, apresenta aos especialistas em ciências específicas alguns procedimentos morais que pretendem promover a reflexão em grupo sobre os valores da sociedade e, consequentemente, favorecer a formação de pessoas mais justas e generosas. No primeiro artigo, de nossa autoria (Vanessa Fagionatto Vicentin), são discutidos estudos sobre agressividade e submissão dos jovens, e é apresentada uma reflexão sobre como as ações dos professores podem contribuir com a formação de jovens que atuam de forma mais justa e equilibrada. Como estratégia indireta para o favorecimento da formação ética dos alunos, Denise Tardeli apresenta no segundo artigo um trabalho efetivo com a constituição da personalidade ética por meio de procedimentos em que adolescentes e jovens podem refletir sobre seus valores, os valores de seus ídolos e da sociedade em que estão inseridos. No próximo capítulo, Adriana Regina Braga chama a atenção para um tema necessário e atrelado à formação ética: a educação para o consumo. A necessidade de a escola propor alternativas para que adolescentes e jovens reflitam sobre o consumo e a sustentabilidade do planeta é a ênfase dada pela autora, já que representa um atributo da construção de valores morais. Em seguida, Patrícia Unger Raphael Bataglia discute as comunidades justas e o uso de dilemas morais na escola. Partindo das teorias de Lawrence Kohlberg sobre os níveis de julgamento moral e de Georg Lind sobre o conceito de competência moral, a autora propõe o procedimento de discussão 19
8 20 de dilemas morais entre os adolescentes a fim de contribuir com a construção da autonomia moral. No quinto capítulo, assinado por Sonia Maria Pereira Vidigal, são apresentadas as práticas morais recomendadas por Puig, que se referem a ações conjuntas dos educadores que almejam contribuir com a construção de uma personalidade ética dos alunos. A autora conceitua, exemplifica e discute a importância de realizar, com adolescentes e jovens, procedimentos que promovam reflexibilidade, deliberação, virtude e prática normativa, as quais pretendem favorecer a consolidação da identidade desses estudantes. No sexto capítulo, Adriana de Melo Ramos propõe a realização de assembleias como forma de diálogo entre os membros da instituição educativa. A autora enfatiza a necessidade de um espaço sistemático para que os alunos se sintam pertencentes à construção das regras na escola e indica como organizar tais assembleias. O capítulo 7 volta-se a um tema bastante inusitado nos dias de hoje: o bullying na escola diante dos desafios da pósmodernidade. De nossa autoria (Luciene Regina Paulino Tognetta), Telma Pileggi Vinha e Thais Leite Bozza, esse capítulo apresenta um panorama de estudos sobre o fenômeno presencial e virtual (cyberbullying) na escola e discute suas causas, a partir da psicologia moral, e as possibilidades de ação dos educadores. Por fim, e em continuidade ao capítulo anterior, José María Avilés Martínez e Natividad Alonso Elvira, professores da Universidad de Valladolid, Espanha, apresentam os principais caminhos para que o protagonismo juvenil aconteça na escola que tanto deseja que seus alunos sejam autônomos.
9 Por certo, não pretendemos com estes capítulos sustentar verdades absolutas sobre a educação moral nem propor resoluções mágicas para os problemas de relações interpessoais que afligem os profissionais de educação. Contudo, esta obra, em consonância com a expressão esses adolescentes de hoje..., pretende mostrar que o caminho para a melhoria da convivência na instituição educativa está na formação ética das pessoas, na qual a escola tem papel fundamental. Os recursos indicados pelos autores são sustentados por estudos empíricos e teóricos consagrados. Estamos certos de poder colaborar com a prática pedagógica de profissionais que atuam junto a adolescentes e jovens brasileiros e que estão preocupados com a formação integral deles. Esse é o objetivo do professor doutor Pedro Goergen, professor titular da Universidade de Sorocaba e da Universidade Estadual de Campinas, que nos dá a honra de participar desta obra, prefaciando-a. É também o grande objetivo dos demais autores, todos pesquisadores do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), da Unesp e Unicamp. Mais que um objetivo, esse desejo é agora compartilhado com todos aqueles que pretendem fazer da escola, como uma instituição justa, um espaço para a conquista da vida boa defendida por Paul Ricoeur quando define a ética: Ética é a busca por uma vida boa com e para o outro, em instituições justas. Façamos, então, a nossa parte. Profa. Dra. Luciene Regina Paulino Tognetta Profa. Dra. Vanessa Fagionatto Vicentin Primavera de
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11 Capítulo 1 Esses adolescentes de hoje... são mesmo agressivos ou estão fadados à submissão? Vanessa Fagionatto Vicentin Um pai conversa com sua esposa sobre o comportamento agressivo do filho. Ele diz que precisam fazer algo, porque a atitude do garoto parece inofensiva para uma criança, mas, questiona o pai, e quando ele chegar à adolescência?. Uma professora de Educação Infantil conversa com outra do Ensino Médio sobre as dificuldades com os alunos. Ela conta sobre aqueles que batem, mordem e xingam os outros. A professora do Ensino Médio argumenta que tais situações precisam ser resolvidas, porque, do contrário, ela não faz ideia do que os professores enfrentarão quando esses alunos forem adolescentes. Diante dessas constatações, uma questão se impõe: esse tipo de inquietação é raro ou comum? A preocupação com a fase da adolescência, seus comportamentos e reações, em especial em tempos em que a indisciplina e a violência aparentemente preponderam sobre a obediência e o respeito, aumentou consideravelmente nos dias atuais. Por isso, este capítulo discute a fase da adolescência e suas particularidades, as formas de resolução de conflitos atualmente em vigor e o papel da escola diante de tal panorama do ponto de vista da psicologia moral. 23
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