ESTUDO COMPARATIVO DO DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO-MOTOR DE RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL E DO MÉTODO CANGURU
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- Fernando Faria Leveck
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1 ESTUDO COMPARATIVO DO DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO-MOTOR DE RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL E DO MÉTODO CANGURU Comparative Study of the sensory-motor development of premature newborns from the Newborn Intensive Care Unit (NICU) and the Kangaroo Method Artigo original RESUMO O é uma alternativa ao método tradicional de assistência a bebês prematuros de baixo peso, que preconiza o contato pele a pele precoce, entre mãe e filho, 24 horas por dia, garantindo-lhes estímulos sensoriais e motores e maior participação dos pais no cuidado de seu bebê. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal é destinada ao tratamento de recém-nascidos prematuros com algum problema ao nascer. Objetivou-se comparar o desenvolvimento sensório-motor de recém-nascidos prematuros (RNPt) da e do. Realizou-se um estudo comparativo, prospectivo e observacional, no Hospital Geral Dr. César Cals, em Fortaleza CE, de agosto a outubro de 4, com 14 RNPt, sendo 7 de cada grupo, com peso inferior a g e idade gestacional entre 3 e 37 semanas. A avaliação foi semanal até a alta hospitalar ou até completarem a idade corrigida de semanas, pelo método Dubowitz e Amiel-Tison, com análise de tônus muscular, respostas sensório-motoras, ganho de peso e tempo de internação. Como resultado, observou-se que os bebês do apresentaram melhores respostas sensório-motoras, comprovadas a partir da constatação de um menor grau de estresse, melhores respostas reflexas, movimentação espontânea e tônus muscular, e menor tempo de internação, permanecendo mais tempo em estado de alerta e interagindo bem com o ambiente e a mãe. Conclui-se que o mostrou-se uma alternativa mais eficaz de assistência a RNPt de baixo peso, pois proporcionou melhores resultados quanto às atividades sensório-motor dos bebês, se comparados à. Descritores: Prematuro; Desempenho Psicomotor; Método Mãe Canguru. ABSTRACT The Kangaroo Method is an alternative to the traditional premature low weight babies assistance. It recommends the precocious mother and son s skin to skin contact, 24 hours per day, guaranteeing to them sensorial and motor stimulations and a greater parent s participation in the care of their baby. The Newborn Intensive Care Unit (NICU) is destined to the treatment of premature babies with some kind of health problem. This study had the aim of comparing the sensory-motor development of premature newborns (RNPt) from a NICU and of those assisted by the Kangaroo Method. It was carried through a comparative, prospective and observational study, at the General Hospital Dr. Cesar Cals, in Fortaleza-CE, from August to October 4, with 14 RNPt, being 7 of each group, weighting less than g and with gestational age between 3 and 37 weeks. A weekly evaluation was held until discharge from hospital or until they had completed the corrected age of weeks, according to the Dubowitz and Amiel-Tison Method, with the analysis of muscular tonus, sensory-motor answers and weight gain, as well as internment period. As the result, it was observed that the Kangaroo Method babies presented better sensory-motor answers, proven by their lower stress degree, better reflex answers, spontaneous movement and muscular tonus, and lower internment period, remaining more time in state of alert and interacting well with both the environment and the mother. It is concluded that the Kangaroo Method revealed to be a more efficient alternative in the assistance of the low weight RNPt, for providing better results regarding the babies sensory-motor activities, if compared to the NICU. Descriptors: Infant,Premature; Psychomotor Performance; Kangaroo Mother Method. Luciana Andrade da Mota (1) Fabiane Elpídio de Sá (2) Mirna Albuquerque Frota (3) 1) Fisioterapeuta, Especialização em RPG Reposturarse Escola Brasileira de Osteopatia e Terapia Manual 2) Fisioterapeuta, Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente UECE 3)Enfermeira, Doutora, Professora Titular do Mestrado em Educação em Saúde, Universidade de Fortaleza. Recebido em: /4/5 Revisado em: 29/8/5 Aceito em: /9/5
2 Mota LA et al. INTRODUÇÃO Prematuridade é uma condição definida para os bebês com menos de 37 semanas e seis dias de gestação, calculados a partir do primeiro dia da última menstruação materna, sendo classificada de acordo com critério temporal, com base no peso ao nascer e de acordo com a adequação do peso de nascimento à idade gestacional (1). Com relação ao peso, um bebê é considerado de baixo peso quando nasce com menos de 25g, independente de sua idade gestacional. Isso exerce efeitos negativos na sobrevida da criança, assim como em seu desenvolvimento sensório-motor, podendo ser considerado um importante fator de risco de enfermidades na idade adulta (2). Segundo a OMS, no mundo nascem anualmente milhões de bebês prematuros e com baixo peso, dos quais um terço morre antes de completar um ano de vida e em cada recém-nascidos vivos, 9 tem peso inferior a g ao nascer (3). Estes bebês podem apresentar várias complicações e dificuldades para a adaptação à vida extra-uterina devido à imaturidade dos diversos sistemas orgânicos (4). Nem todos os prematuros precisam de cuidados intensivos, muitos são assistidos em unidade de cuidados intermediários ou em berçários, dependendo do grau de prematuridade e da gravidade das complicações. Normalmente, o bebê prematuro apresenta uma hipotonia global, suas extremidades são posicionadas em padrões de extensão e abdução, o que contribui para a falta de flexão fisiológica. Os reflexos primitivos podem estar ausentes ou diminuídos e a movimentação espontânea é mínima conforme o grau de prematuridade (2,5). Anteriormente, todos os bebês prematuros e com baixo peso, mesmo adquirindo estabilidade clínica e estando apenas em processo de engorda, eram mantidos nas unidades de cuidado intensivo durante vários dias, até atingirem g de peso. Apesar dos avanços tecnológicos esse ainda não é um ambiente confortável para o bebê. As incubadoras são muito diferentes do útero materno e falíveis quanto à proteção dos bebês, que ficam expostos às bactérias hospitalares, aumentando os riscos de infecções. Além disso, a iluminação intensa, os barulhos excessivos (monitores, motores das incubadoras, as vozes das várias pessoas que transitam na Unidade) e realização de procedimentos dolorosos (aspiração de secreção, punção venosa), que interrompem-lhes o sono várias vezes ao dia, são constantes fontes de estresse (6). Atualmente, bebês da que sejam clinicamente estáveis e pesem menos que 1.g podem ser encaminhados para o, exceto devido a fatores como carência de vagas na Enfermaria Canguru ou indisponibilidade materna, já que deverá acompanhar a criança em tempo integral. O enquadra-se nas ações de humanização dos serviços de saúde, e caracteriza-se por contato precoce, entre a mãe e o recém-nascido de baixopeso, que se encontra em processo de ganho de peso. O bebê recebe maior estimulação tátil, cinestésica, auditiva, visual e térmica, podendo alimentar-se em livre demanda, pelo contato direto com a mãe (7). Todo esse conjunto, que simula as condições intrauterinas, possibilita ao bebê prematuro completar sua idade gestacional em um ambiente aconchegante, seguro e rico em estímulos, fundamental para a maturação cerebral (8). Esse Método foi desenvolvido em 1979 no Instituto Materno- Infantil de Bogotá (Colômbia), com o objetivo de reduzir a mortalidade infantil; em função da estabilidade térmica garantida pelo método, substituir incubadoras, permitir alta hospitalar precoce e melhorar a qualidade de assistência, com menos custo. Vem sendo utilizado em vários países, e no Brasil, o programa objetiva, principalmente, a humanização da assistência à saúde, e a preservação dos princípios de cidadania da família (6,3). Com base nessa compreensão, em função do grande número de nascidos prematuros e de como a condução terapêutica dessa fase inicial da vida pode influenciar no amadurecimento dos bebês, objetivou-se comparar o desenvolvimento de recém-nascidos prematuros de baixo peso, em condições clínicas semelhantes, submetidos aos cuidados em uma Unidade de Terapia Intensiva e no Método Canguru, como uma forma de comprovar a importância desse Método para o desenvolvimento pscico-motor dos bebês e de suas relações afetivas, não só com a mãe, mas com toda a família e o meio social. MÉTODOS Realizou-se um estudo comparativo, prospectivo e observacional, no período de agosto a outubro de 4, desenvolvido no Hospital Geral Dr. César Cals. Nele são promovidos atendimentos em nível terciário à rede pública da Secretaria de Saúde CE, sendo considerado referência no atendimento a recém-nascidos pré-maturos de baixo peso e pioneiro na aplicação do em Fortaleza- CE. No Hospital existem 2 UTIs Neonatais destinadas ao tratamento de bebês prematuros e que apresentam algum tipo de problema ao nascer. 192 RBPS 5; 18 (4) :
3 e A Enfermaria Canguru dispõe de 5 leitos, que acomodam as mães que ficam internadas junto com seus bebês até que eles adquiram o peso e amadurecimento esperado, estando aptos a continuar o desenvolvimento em casa. Foram selecionados 14 recém-nascidos prematuros, sendo 7 provenientes da e 7 do Método Canguru com perfil de peso, diagnóstico e idade gestacional semelhantes, variando entre 3 e 37 semanas. Todas as crianças foram avaliadas com relação às características do desenvolvimento sensório-motor, adequados à idade corrigida. O número da amostra justifica-se pela demanda de crianças internas no hospital que se enquadrava no perfil da pesquisa no período definido para as atividades de coleta de dados. Definiu-se como critério de inclusão, que os bebês deveriam ser recém-nascidos prematuros, com peso inferior a g, clinicamente estáveis, em ventilação espontânea, de ambos os sexos, com idade gestacional entre 3 e 37 semanas, internados na Enfermaria Canguru e na UTI Neonatal. Foram excluídos os bebês instáveis da UTI Neonatal, com menos de 3 semanas de idade gestacional, com peso superior a g, em suporte ventilatório, portadores de má-formação congênita ou outras patologias. O estudo teve início após a aprovação do Comitê de Ética do hospital. As avaliações foram semanais até a alta hospitalar ou até completarem a idade corrigida de semanas, realizadas sempre pelo mesmo avaliador da equipe de pesquisa. Utilizou-se a ficha de avaliação pelos métodos Dubowitz e Amiel Tison, que contemplam diferentes variáveis, e é modelo padrão do referido hospital. O método Dubowitz consiste em um exame neurocomportamental que pode ser utilizado em bebês a termo e prematuros, durante o período neonatal, levando em consideração os estados de consciência. Foram consideradas as seguintes variáveis: sinais de estresse e sua influência na postura e tônus muscular, aspectos sensoriais (visão, audição) e respostas aos estímulos sensório-motores. Além disso, avaliou-se idade gestacional, tempo de internação, ganho de peso, tipo de nutrição e a freqüência da presença materna junto ao seu bebê. O método Amiel Tison avalia aspectos do desenvolvimento motor: tônus passivo dos membros (por meio da postura e da medida dos ângulos de extensibilidade), tônus ativo e atividade reflexa. Estes dados são importantes para a detecção precoce das anormalidades tônicas (hipertonia e hipotonia), assimetrias, alteração dos reflexos, distúrbios sensoriais-perceptivos e afetivo-emocionais (9). Após a coleta dos dados, foi feita a tabulação e, em seguida, a análise de variância (ANOVA) com fator duplo de repetição, seguindo-se a demonstração mediante de gráficos para uma melhor compreensão. Os softwares utilizados foram Sigma Stat 3 e Excel. RESULTADOS Como os bebês que entraram na pesquisa já apresentavam alguns dias de vida, utilizou-se o cálculo da idade corrigida (Capurro Corrigido), que consiste em somar os dias de vida da criança ao valor de sua idade gestacional. Observou-se que a média de idade dos bebês nos 2 grupos apresentou diferença, sendo a amostra da mais jovem que a do, com a média de idade de 34 semanas na UTI e 36 semanas e 4 dias no Método Canguru. Essa diferença pode ser desconsiderada, visto que os métodos de avaliação Dubowitz e Amiel-Tison têm como critério de análise, as respostas sensório-motoras adequadas às idades corrigidas de cada bebê. Quanto à influência do nível de estresse, os resultados mais significativos foram observados no tônus muscular e na movimentação espontânea. Com relação ao tônus, observou-se que no houve uma variação entre tônus normal (67%) e hipertônico (33%), enquanto na houve variação de bebês com tônus normal (95%) e hipotônico (5%) (Figura 1). Com relação ao item movimentação, % das crianças do Canguru apresentam boa movimentação espontânea, enquanto o grupo da UTI apresentou variação entre boa (9%) e regular (%) (Figura 2) % Tônus Muscular Figura 1: Distribuição da amostra segundo a influência do nível de estresse no tônus muscular. Fortaleza, Hipotônico Hipertônico Normal Tipo de tônus RBPS 5; 18 (4) :
4 Mota LA et al % Movimentação Espontânea Boa Regular Ruim Movimentação espontânea Figura 2: Distribuição percentual da amostra segundo a influência do nível de estresse na movimentação espontânea. Fortaleza, 5. A média das respostas reflexas obtidas nas avaliações mostra que as crianças do apresentaram reflexos primitivos mais presentes que os bebês da UTI Neonatal, o que se deve à estimulação dada pela postura prona e flexora na qual o bebê é mantido entre os seios da mãe, que contribui para a organização neurofisiológica e desenvolvimento cognitivo e motor dos bebês (Figura 3). 5). Para o tônus passivo, todas as respostas foram mais significativas nos bebês do e com relação ao tônus ativo, pode-se dizer que houve um equilíbrio na evolução motora (Figura 5). Grau de evolução (%) ,5 Postura 78,5 Manobra Calcanhar orelha 37,1 Tônus Passivo Ang. Poplíteo 57, ,5 Ang. Dorsoflesão Figura 4: Distribuição percentual da amostra segundo a evolução nas respostas de tônus passivo. Fortaleza, 5. 7 Sinal de Xale 77, Manobra de recuo Atividade Reflexa Tônus Ativo % presença Moro 93 Sucção 92 Pontos Cardeais Pressão palmar Pressão plantar 94 Extensão cruzada Marcha Reflexos Grau de evolução (%) ,6 56,6 Membros Inferiores Tronco Flexores pescoço Extensores do pescoço Figura 3: Distribuição percentual da amostra quanto à atividade reflexa. Fortaleza, 5. Na análise do tônus muscular ativo e passivo, observouse a média de evolução motora das crianças de acordo com a tabela de avaliação do Método Amiel Tison, (Figuras 4 e Figura 5: Distribuição percentual da amostra segundo a melhora das respostas de tônus ativo. Fortaleza, 5. Na atividade sensorial, observou-se uma predominância de respostas interativas nos bebês do, 194 RBPS 5; 18 (4) :
5 e confirmando o fato de que pela maior estimulação, passam mais tempo alerta e relacionam-se melhor com o ambiente (Figura 6). na mãe, o que demonstra um grau de maturidade cerebral maior das crianças do em relação à UTI (Figuras 8). % Olhos fechados Atividade Sensorial 9 Reage e olha com atenção Segue estímulo visual 18 Segue o som 38 Olha e está atento % SOG Alimentação materna Tipo de Nutrição 42 9 Copo 21 Transição 29 Tipo de Nutrição Figura 6: Distribuição percentual da amostra segundo a atividade sensorial. Fortaleza, 5. Quanto ao tempo de internação, os bebês do Método Canguru passaram menos tempo no hospital (17,7 dias) que os da (,8 dias) (Figura 7). Dias Média de Dias de Internação 17,7 Pacientes,8 Figura 7: Distribuição da amostra segundo a média de dias de internação. Nas crianças estudadas observou-se grande diferença quanto ao tipo de nutrição, sendo 46% dos bebês da UTI alimentados através de sonda orogástrica, enquanto no apenas 29% tinham essa forma de alimentação. A maioria deles (42%) já mamavam diretamente Figura 8: Distribuição percentual da amostra segundo tipo de nutrição. Fortaleza, 5. Quanto à presença materna no ambiente hospitalar, % das mães do tinham presença constante junto aos seus bebês, diferente da UTI, cuja freqüência das mães variava entre visitas semanais (42,8%) e diárias (57,1%). DISCUSSÃO O último trimestre de gestação é o tempo destinado ao amadurecimento dos sistemas interativos do bebê. Quando o parto ocorre prematuramente, impossibilita-o de passar por essa fase e traz como conseqüência perdas sensoriais em todos os demais sistemas (). Após o parto, o período determinante para desenvolvimento do sistema neuro-motor dá-se entre zero () e dois (2) anos de idade, portanto, se o bebê permanecer em um ambiente favorável, rico em estímulos apropriados à sua idade, poderá apresentar melhora dos padrões de sono, estabilidade dos estados de consciência e posturas adequadas, favorecendo a estabilidade fisiológica (1,5). Os recém-nascidos prematuros de baixo peso durante a primeira semana de vida, apresentam um quadro característico chamado apatia protetora, permanecendo a maior parte do tempo sem chorar, com poucas mudanças de RBPS 5; 18 (4) :
6 Mota LA et al. estado e respostas vagas. Isso seria uma forma de conservar energia e proteger-se dos estímulos excessivos a que são expostos. Em torno da 3 a semana variam mais, permanecendo mais tempo acordados e alerta (7). Ressaltando que o nível de atividade do bebê pode variar dependendo do tempo da última alimentação, da estimulação ambiental recebida, das experiências sensoriais vivenciadas e da idade gestacional (9). Tem se observado o desenvolvimento de inúmeras tecnologias e unidades direcionadas ao tratamento de recémnascidos de baixo peso como forma de reduzir a morbimortalidade e as seqüelas apresentadas por essas crianças, porém ainda são muitas as deficiências, especialmente quanto à separação entre pais e filhos, que pode ser considerada uma fonte de estresse para essas crianças (11,12). Na enfermaria Canguru os bebês ficam o dia inteiro na posição Canguru. As mães são incentivadas a amamentar, participar do banho, higiene do coto umbilical, troca de fraldas e roupas de seus bebês, gerando um ciclo de confiança e tranqüilidade para os dois (13), reduzindo ao máximo os estímulos estressantes. A influência do nível de estresse no tônus muscular ativo e na movimentação espontânea (Figuras 3 e 4) alerta para a importância do ambiente na maturação cerebral do recémnascido. No houve uma variação entre tônus normal (67%) e hipertônico (33%), contudo, essa hipertonia pode ser considerada transitória, é observada com freqüência em recém-nascidos prematuros, não é considerada uma anormalidade, pois desaparece com o tempo e não impede a conquista das aquisições motoras (11). Enquanto na UTI Neonatal, houve variação de bebês com tônus normal (95%) e hipotônico (5%), o que pode ser considerado uma resposta negativa, pois a hipotonia irá retardar ou impedir o desenvolvimento do tônus flexor fisiológico próprio do recém-nascido, tão importante para a aquisição das atividades e coordenações motoras. Isso ressalta níveis de estresse mais elevados na que no. Os padrões motores apresentam-se diferentes em recémnascidos prematuros, com ausência dos reflexos primitivos, inconsistência ou anormalidade, podendo ainda existir assimetria em 1 ou todos os membros (2). Esses desequilíbrios poderão interferir fortemente no controle de cabeça e do tronco, equilíbrio sentado, habilidades e coordenação bilateral, dificuldade de conquistar a linha média, atraso na marcha, podendo também afetar a imagem corporal e as habilidades exploratórias (12). A melhora do tônus para o bebê prematuro possibilita a aproximação dos membros da linha média, facilitando a aquisição das coordenações motoras (9). A posição prona possibilita ao bebê o uso dos extensores da cabeça, além da flexão dos membros, a possibilidade da mão na boca, a posição semi-sentada com o apoio entre os seios da mãe promove o início do controle de cabeça, melhor orientação e controle visual. A posição Canguru oferece tudo isso ao bebê, diferente das crianças da UTI, que mesmo estando em posição prona e/ou contida por rolinhos, estarão sempre em desvantagem pela menor estimulação tátil. Essas afirmações puderam ser confirmadas no estudo tanto na análise da movimentação espontânea, da atividade reflexa, como na exploração do tônus muscular ativo e passivo, em que as respostas obtidas expressam melhores resultados neuro-motores nas crianças do Método canguru, comparativamente à. O que sugere a importância da estimulação sensório-motora para a maturação cerebral. A atividade cognitiva das crianças reflete sua capacidade de interagir com o meio ambiente, daí a importância de um ambiente rico em estímulos adequados a sua idade (5,13). Isso pode ser comprovado no estudo, já que, as crianças do, que são mais estimuladas, apresentaram comportamento mais alerta e interagiram melhor com o meio ambiente, respondendo bem a estímulos visuais e sonoros, quando comparadas às crianças do. Após a resolução da doença neonatal aguda, a ênfase clínica é dada à nutrição para possibilitar o crescimento e desenvolvimento dos órgãos internos, em especial o sistema nervoso central. Os bebês são pesados diariamente e os valores são parâmetros importantes para avaliar o grau de melhora dessas crianças. As mães de bebês prematuros produzem um leite especial, com maior teor protéico, de calorias, de sódio e menor lactose que o leite do termo, essencial pelas propriedades imunológicas e nutritivas (2). As crianças com menos de 34 semanas têm grande desvantagem quanto à alimentação oral pela incapacidade de coordenar sucção, deglutição e respiração. Assim, faz-se necessário alimentação por sonda e estimulação para o amadurecimento dessas funções é feita pela equipe multidisciplinar, em especial, pela Fonoaudióloga e Fisioterapia (5). Na, como a maioria dos bebês usam sonda oro-gástrica, e nem sempre a mãe está presente, é administrado o leite em intervalos de tempo determinados. Na presença da mãe, esta ação é realizada por ela. No Método Canguru, as mães são incentivadas ao aleitamento materno exclusivo, com sucção nutritiva precoce em livre demanda (14), o que reflete maior grau de maturação cerebral e interação entre mãe e filho. Atualmente, os critérios para a alta hospitalar incluem capacidade de sugar o seio materno e deglutir adequadamente, crescimento e recuperação de peso, 196 RBPS 5; 18 (4) :
7 e estabilidade da temperatura, além de capacidade da mãe de cuidar do seu filho em casa, com o compromisso de comparecer ao ambulatório (15). Esse critério de alta precoce se diferencia do tradicional em que as crianças só recebem alta ao atingir peso entre 17 e 18g (6). Porém se as crianças evoluem bem, estão em boa interação com a mãe, se esta se mostra segura no cuidado de seu bebê, o tratamento pode continuar em casa. Pela participação constante da mãe em todos os procedimentos, pode-se considerar que não só os bebês, mas a díade mãe-bebê do evoluem melhor que na UTI, passando menos tempo internados, comprovados pelos dados presentes na Figura 8. Muitas vezes, a mãe do recém-nascido prematuro apresenta sentimentos de culpa, medo de perda do filho e tristeza devido a sua fragilidade. Isso acontece porque ela procura conhecer as necessidades do bebê para satisfazêlas, mas quando a criança está na UTI é impossível para ela reconhecer essa necessidade, então sente-se impotente, dispensável, uma mãe que nem pode alimentar seu filho. Isso justifica muitos dos abandonos que ocorrem nas UTIs (14, 16). Na enfermaria Canguru, as mães podem reconstruir a imagem da maternidade que foi destruída pelo parto prematuro, estabelecendo os vínculos afetivos com suas crianças precocemente, pela possibilidade de participar ativamente da assistência a seus filhos (14). CONCLUSÃO Os bebês do apresentaram, de um modo geral, melhores respostas sensório-motoras, comprovadas por meio de menor grau de estresse, melhores respostas reflexas, melhor movimentação espontânea e tônus muscular, menor tempo de internação, melhor atividade sensorial, permanecendo mais tempo em estado de alerta e interagindo bem com o ambiente e com a mãe, que conseguiu iniciar rapidamente a amamentação ao seio e apresentou-se constantemente junto ao seu filho. As crianças da também apresentaram boas respostas motoras e sensoriais, ganho de peso significativo, bom nível de consciência, proporcionais a suas idades e grau de prematuridade, porém o aparato tecnológico dessas unidades mostrou-se menos competente que a aparente simplicidade do aconchego materno. Certamente a permuta das condições adversas da UTI pelo tocar, pelo segurar, pelo posicionar iriam beneficiar as crianças e incluir os pais no processo de cura de seus bebês, tornando-os mais confiantes e capazes de dar continuidade ao tratamento em casa. RBPS 5; 18 (4) : Com isso, pode-se considerar que o modelo de estimulação ideal para o desenvolvimento sensório-motor precoce de recém-nascidos prematuros está nas fontes naturalmente disponíveis aos bebês, ou seja, a mãe e que o mostrou melhores resultados que a UTI Neonatal. Assim faz-se necessária a divulgação e o conhecimento desse método por parte dos profissionais da Saúde e da sociedade como um todo, pois ele é eficaz, tem fácil aplicação, baixo custo, reduz o uso de equipamentos e melhora a qualidade de vida da mãe e do bebê, diminuindo os índices de abandono das crianças prematuras. REFERÊNCIAS 1. Souza ELBL. Fisioterapia aplicada à obstetrícia & aspectos de neonatologia: uma visão multidisciplinar. 2ª ed. Belo Horizonte: Health;. 2. Gordon BA, Fletcher MA, MacDonald MG. Neonatologia: fisiopatologia e tratamento do recémnascido. 4ª ed. Rio de Janeiro: Médica e Científica; Ministério da Saúde (BR). In: Método canguru. [on-line]. [Capturado em 4 fev 18]. Disponível em: URL: / 4. Cloherty JP, Stark AR. Manual de Neonatologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Medsi; Fleming I. Atlas do desenvolvimento motor normal e seus desvios no lactente. Rio de Janeiro: Atheneu;. 6. Charpak N, Calume ZF de, Hamel A. O método mãecanguru: pais e familiares dos bebês prematuros podem substituir as incubadoras. Rio de Janeiro: McGraw-Hill; Arias M del RM. Adaptación canguru hospitalaria: cuidado de lamadre que inicia el programa madre canguro. Santafé de Bogotá: World Laboratory - ISS; Törnhage CJ, Stuge E, Lindberg T, Serenius F. First week kangaroo care in sick very preterm infants. Acta Paediatric 1999; 88(12): Hassano AYS, Oliveira MCB, Steinberg V. Novo manual de follow-up do recém-nascido de alto risco. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Científica da Nestlé; Andrade MAG. Continuidade entre a vida pré e pós-natal. Informativo método mãe canguru 2 jan-mar; (3). 11. Ghist T, Iwabe C, Torello EM. A influência do método canguru no tono postural do recém-nascido pré-termo. 197
8 Mota LA et al. Temas sobre o desenvolvimento 4 jan-fev; 12(72): Ayache MG, Mariani Neto C, Corinto MN. Considerações sobre o desenvolvimento motor do prematuro. Temas sobre o desenvolvimento 3 novdez; 12(71): Figueiredo DV. O método mãe-canguru de assistência ao recém-nascido pré-termo de baixo peso. Temas sobre desenvolvimento 3; 12(71): Sá FE. Sentimentos e emoções maternas na vivência do método canguru. [Dissertação]. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará Ministério da Saúde (BR). Atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso: método mãe-canguru; manual do curso. 1ª ed. Brasília: Ministério da Saúde; Cunha I. A neurociência e o vínculo mãe-bebê. Informativo método mãe-canguru 1 out-dez; (2). Endereço para correspondência: Luciana Andrade da Mota Rua Lauro Maia, 95 Apto. 51, José Bonifácio Fortaleza-CE lucianaamota@gmail.com 198 RBPS 5; 18 (4) :
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