PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA

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1 A I * 'COO: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL N /001 BAYEUX Relator : Des. Raphael Carneiro Arnaud Apelante : O representante do Ministério Público Apelado : José Raimundo Alves (Advs. Antonio Marco Pólo C. Dias e Claudius Augusto L. F. Caju) JÚRI Tentativa de homicídio Autoria confirmada Animus necandi, entretanto, negado pelos jurados.15n Desclassificação da conduta para lesões corporais Apelo ministerial Decisão manifestamente contrária à prova lnocorrência Dupla versão nos autos Opção dos jurados pela tese defensiva Intangibilidade da decisão assegurada pelo princípio constitucional da soberania dos veredictos populares Improvimento do apelo. *. Se entre os subsídios apurados em instrução coexiste a versão segundo a qual o apelado, após discussão verbal com a vítima e os amigos desta, retirou-se em direção ao seu automóvel e, quando abriu a porta do veículo, notando que estava sendo seguido pelo grupo, atirou em direção ao solo e, ato contínuo, observando que os seus contendores ainda se aproximavam, agressivamente, de sua pessoa, efetuou mais três disparos, lesionando a vítima nos braços e em uma das pernas, não há como acolher a pretensão ministerial pela cassação do veredicto popular que desclassificou a conduta para lesões corporais, a pretexto de manifesta incongruência entre a decisão plenária e a prova dos autos "À

2 - e is t * PODER JUDICIÁRIO -. NIRO:.:' TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA acima identificados: VISTO S, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal, ACORDAa Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em negar provimento ao apelo ministerial. JOSÉ RAIMUNDO ALVES foi pronunciado pelo Juiz da 1 a. Vara da comarca de Bayeux, como incurso nas sanções do art. 121, 2, II, c/c o art. 14, : inciso II, todos do Código Penal, sob a acusação de haver, no dia 09 de junho de,w,fr 2004, por volta das 23,00 horas, em uma palhoça situada na "praça da alimentação", nas proximidades do 16 RCMEC, ter efetuado quatro disparos em direção à vítima Genildo Alexandre de Souza e seus amigos, provocando lesões nos seus braços e em uma das pernas, fls. 83/86.,..,:., Levado a julgamento popular, no distrito da culpa, os senhores integrantes do conselho de sentença, reconhecendo, à unanimidade, a autoria dos disparos em relação ao réu, terminaram, entretanto, por maioria de votos, por reconhecer a inexistência do animus necandi por parte do mesmo, fls. 135/136, do que resultou a sentença desclassificatária da conduta para lesões corporais e, diante do menor potencial ofensivo do crime, em tese, determinou, tão logo transitasse a sentença em julgado, fosse dado vistas ao representante do Ministério Público para possível proposta de suspensão do processo, fls. 137/138. Insatisfeito, o Promotor de Justiça interpôs o presente recurso de apelação criminal, ao argumento de que a decisão dos senhores jurados teria afrontado, de forma manifesta, a prova dos autos, fls. 144 e145/148. Contra-arrazoado o recurso, fls. 151/153, vieram os autos a esta Instância Superior, onde a douta Procuradoria de Justiça, em parecer, opina pelo seu desprovimento, fls. 159/

3 . 1, * ; 4:lir 1".n P O DERJUD DI Cel ÁJ IR SI OT I Ç A TRIBUNAL DO ESTADO DA PARAÍBA -VOTO- () episódio que deu origem ao presente processo ocorreu a partir de um incidente em que a vítima, se encontrando, com alguns amigos, no interior de uma barraca onde se servia churrasquinhos e bebida alcoólica, afastou, acidentalmente ou de propósito, parte de uma lona que servia de cobertura ao local, gesto que fez derramar, na roupa do apelado, certa quantidade de água de chuva que ali se encontrava depositada. 4,0 --` O fato em si mesmo, pelas suas características inusitadas, teria provocado o riso dos circunstantes, situação que teria desagradado o apelado, o qual, mesmo assim, limitou-se a solicitar um pano ao proprietário, da barraca, com o qual passou a enxugar a sua roupa. 10:0 A partir de então, a prova dos autos inclina-se por duas vertentes opostas, uma das quais, abraçada pela acusação, sinaliza no sentido de que se estabeleceu, de pronto, uma discussão verbal entre o apelado e a vítima, no bojo da qual teria o primeiro ido até o seu carro e, retornando já na posse de uma arma de fogo, teria acionado o gatilho por quatro vezes, acertando três disparos na vítima, sendo dois nos braços e um deles em uma das pernas. Já a versão de defesa aponta no sentido de que, estabelecido o desentendimento verbal entre o apelado e a vítima, que, no ato, recebia o apoio dos seus companheiros, um deles teria jogado uma lata de cerveja nas costas do apelado, que, sentindo-se em desvantagem numérica, teria optado por deixar o local, caminhando para o seu carro que se encontrava estacionado em local próximo. Mesmo assim, segundo a versão esposada pela defesa, a vítima e seus amigos teriam seguido o apelado, em atitude de agressão iminente, situação que teria levado o mesmo a abrir apressadamente a porta do veículo e retirar um revólver do seu interior, atirando, inicialmente, em direção ao solo, em sinal de intimidação. 4 3

4 ,... 1 * i,. : Mi : :::: PODER JUDICIÁRIO,:y.l. 11,4:', TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA 0. IN moa. Prosseguindo a vítima e seus companheiros, entretanto, a caminhar em direção ao apelado, como se estivessem na iminência de agredi-lo, este haveria acionado a arma por mais três vezes, produzindo, na vítima, as lesões descritas no laudo técnico de fls. 53. Uma análise da prova de acusação registra, de plano, que esta não conseguiu ultrapassar os estritos limites das pessoas envolvidas no incidente, posto que, além das declarações da vítima, só logrou a acusação trazer a Juízo, para efeito de oferecerem as suas versões do fato, José Paulo da Silva, fls. 46, e Gerivaldo Félix de Oliveira, fls. 49/50, pessoas que, segundo a versão de defesa, deram cobertura à vítima desde o início das desinteligências, tendo sido um deles, inclusive, quem teria arremessado uma lata de cerveja nas costas do apelado, além de terem acompanhado a vítima quando esta, conforme registrado pelos testemunhos de defesa, seguira o apelado, em atitude belicosa, até as proximidades do carro do mesmo, oportunidade em que ocorrera o desfecho violento. Em seu depoimento em Juízo, o senhor Ernani Muniz da Silva, proprietário da barraca onde a desinteligência teve início, afirmou, dentre outras, colocações, que "a vitima se escorou em um pedaço de ferro que sustentava a lona e a água que estava ali armazenada molhou o acusado; que não sabe dizer se a vítima fez cair a água porque quis; que quando a água molhou o acusado, a vítima e seus colegas ficaram rindo; que ficaram rindo e se aproximando do acusado; que houve trocas de palavras; que nessa oportunidade o acusado saiu em direção ao veículo; que a vítima fez que ia em direção ao acusado; que este efetuou três disparos em direção ao chão um disparo um pouco mais alto; que viu quando a vítima jogou cerveja no corpo do acusado; que quando o acusado foi em direção ao veículo, foi a vítima que foi em direção ao acusado", fls. 71. _ 4

5 . i... k,.,:-.,:-,, PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAIBA Já Valdemir Ferreira de Paiva, pessoa que, segundo afirmou, estava utilizando um orelhão localizado nas proximidades do local onde os fatos ocorreram, afirmou, em depoimento devidamente jurisdicionalizado, que "presenciou a vítima balançando o ferro de sustentação da barraca; que a vitima não fez tal ato para molhar o acusado, mas fez com intenção de molhar alguém; que a vítima e seus companheiros ficaram rindo; que o acusado foi em direção ao carro, dizendo que não queria mais os churrasquinhos; que quem jogou o copo de cerveja no acusado foi um dos companheiros da vítima; que o acusado não viu porque estava de costas; que quando o acusado virou para trás, as três pessoas caminhavam em sua direção; que 13 o acusado abriu a porta do carro, pegou o revólver e efetuou o primeiro disparo para o chão; a vítima e seus companheiros não se intimidaram e o acusado apontou a arma e fez mais três disparos", fls. 72. Tais elementos de convicção, colhidos através de informes dignos de toda a credibilidade, esboçam, induvidosamente, um quadro fático que estabelece, pelo menos, a dúvida probatória em relação às possibilidades de ter o apelado agido com o propósito de matar a vítima ou tão somente de fazer estancar a agressão iminente que se desenhava contra a sua pessoa. ed Nesse sentir, interpretando-se a hipótese, só para efeito de exegese, sob o entendimento doutrinário de que teria ocorrido a denominada tentativa perfeita ou crime falho, ou seja, aquela em que o agente teria realizado toda a fase de execução, mas o resultado não ocorreu por circunstâncias alheias à sua vontade, tem-se que a tese ministerial, de que tais circunstâncias teriam consistido no fato de encontrar-se o agente emocionalmente perturbado, fls. 147, só depõe contra o acolhimento da possibilidade de ter havido o imprescindível animus necandi, por parte daquele. Com efeito, para caracterizar a tentativa, é imprescindível que a circunstância impeditiva da consumação do crime seja não só exterior à vontade do agente, como também objetiva, concreta, a exemplo da tomada da arma, por terceira pessoa. --,.. 5

6 .., o 1, ; *.., i-ty : : -..W::e,. PODER JUDICIÁRIO +' TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAIBA.'... Por outro lado, se a hipótese for considerada, só para efeito de análise, como tentativa imperfeita, ou seja, aquela em que a fase de execução se interrompe por circunstâncias alheias à vontade do agente, tem-se que a hipótese refoge, inteiramente, ao modelo penal de tentativa de homicídio, visto que a prova não dá conta, em momento algum, da incidência de uma ação, exterior e objetiva, no sentido de fazer cessar a agressão.. Com efeito, demonstra a prova dos autos que, tão logo efetuou os disparos, o apelado retirou-se, spontae sua, do palco dos acontecimentos, conduzindo a arma ainda parcialmente municiada, situação que acena para a possibilidade de ter ocorrido a desistência voluntária (art. 15, primeira figura, do CP), situação em que só responderia pelos atos praticados. A análise dos autos, portanto, evidencia que a prova produzida ofereceu aos jurados a convicção pela não incidência do ânimo de matar por parte do apelado, pelo que, recepcionando a tese defensiva, o veredicto encontra-se absolutamente intangível, do ponto de vista de sua reformulação. Por tais fundamentos, nego provimento ao apelo ministerial. I Ge É como voto. Presidiu o julgamento o Des. Antônio Carlos Coelho da Franca, sem voto, e dele participaram os Des. Raphael Carneiro Arnaud, relator, José Martinho Lisboa e Nilo Luís Ramalho Vieira. SALA DE SESSÕES "DES. M. TAIGY DE QUEIROZ MELO FILHO" DA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA, em 02 de maio de / De w= e = or RAPHAEL CARNEIRO A - NAUD RELATOR \ p: ['::',., 6

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