Composições Narrativas Contos Populares
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- Madalena Amaral
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1 Composições Narrativas Contos Populares
2 O rei e o velho Era uma vez um rei que andava a passear no jardim, encontrou um velhote a chorar, ficou muito admirado e perguntou-lhe o que é que ele tinha e o velhote disse: - Foi o meu avô que me bateu. O rei viu que o velho era velho e se ainda tinha avô? - Ainda. - Então eu gostava de ver o teu avô. Lá foi, o velhote levou o rei à presença do avô. Quando chegou à beira do avô, o rei, diz-lhe: - Olhe, eu nunca teimo com ninguém, nunca bebi sem comer e nunca me sentei em pedra fria. Então o rei quis pô-lo à prova. - Então vai dar um passeio comigo. Lá foram passear, chegou a alturas tantas, diz assim o rei pró velho: - Olhe, vamo-nos sentar aqui um bocadinho que já estamos cansados. Havia umas pedras. O velhote tirou uma cortiça do bolso, pô-la debaixo do cu e lá se sentou, já não se sentando em pedra fria. Seguiram o caminho e diz o rei: -Vamos beber, já levo sede. E o velhote meteu a mão ao bolso e meteu um bocado de pão que tinha na boca e comeu enquanto estava a beber. Bem, continuaram o caminho e pararam em cima de uma ponte e diz o rei para o velho: - O rio corre p ra cima ou p ra baixo? - O rio corre p ra baixo. Diz o rei: - Não num corre, corre p ra cima. E o velhote diz-lhe: - Corra p ra baixo, corra p ra cima, deixem lá passar o velho que eu não quero teimar com ninguém. Manuel Romão Carvalho Gonçalves, 56 anos, cassete 3 A
3 A história do alfaiate e do carpinteiro O carpinteiro foi fazer um trabalho ao alfaiate, o alfaiate era um grande caloteiro, nunca lhe pagou. Um dia, o carpinteiro diz assim para um amigo: - O alfaiate nunca mais me paga o que me deve, já há tantos anos que me deve trinta réis e nunca mais me paga. Diz-lhe o outro: - Tu finges que morres e eu vou lá falar com ele e ele ou te dá o dinheiro ou tem que te ir guardar toda a noite na igreja, vamos ver se resulta. O rapaz foi falar com o outro: - Ó pá, olha que o carpinteiro morreu e tu deves-lhe trinta reis, ou lhe pagas ou vais ter que ir fazer o velório toda a noite lá p rá igreja do cemitério. Diz o alfaiate: - Tá bem, eu lá lhe vou fazer o velório, que dinheiro não tenho. Bom, o carpinteiro fingiu que morreu, meteram-no no caixão, foram-no lá pôr à igreja. Que faz o alfaiate? Leva a máquina, aproveita e vai trabalhar lá atrás do confessionário. Às altas horas da noite, vem um bando de ladrões, viram a luz na igreja do cemitério, dirigiramse para lá. - Ai que local bom, vamos aqui contar o nosso dinheiro. Despejaram os sacos do dinheiro no meio do chão e toca de contar para fazer a divisão. Enquanto estavam a dividir, diz um: - Tenho aqui esta faca, vou-a experimentar naquele morto para ver se corta bem ou não corta. O carpinteiro que estava deitado no caixão, quando viu o ladrão a vir, levanta-se muito depressa e diz: - Levantai-vos defuntos! E o outro que estava atrás do confessionário, atira com a máquina por ali abaixo. - Aí vamos todos juntos! Foi uma barulheira desgraçada e os ladrões, cada um fugiu para seu lado, ora toca de correr. Chegaram a um certo lugar: - Não, era tanto dinheiro, nós vamos voltar para trás e vamos lá buscar o nosso dinheiro, que nós não vamos ter medo dos mortos. Vieram para trás e diz um:
4 - Não pá, vai lá tu sozinho, vai lá espreitar, logo vês se são muitos ou poucos. Vai um que era mais resoluto e chegou à porta da igreja, os outros dividiram o dinheiro e continuava o carpinteiro para o alfaiate: - Dá-me os meus trinta reis, dá-me os meus trinta reis. Diz o ladrão para os outros: - Ó rapazes, nem pensar de entrar lá dentro, porque eles são tantos que nem chegam trinta reis p ra cada um. E assim ficaram o carpinteiro e o alfaiate cheios de dinheiro p r ó resto da vida. Maria da Conceição Fortuoso Alves, 54 anos, cassete 1 A Graças a Deus Uma vez, um rapaz casou-se e foi viver para outra aldeia, para casa dos sogros, só que não conhecia os costumes. O sogro tinha por hábito comer muito depressa à refeição e quando acabava de comer dizia sempre assim: - Graças a Deus para sempre, já comi eu e toda a minha gente. As pessoas tinham vergonha e, claro, paravam de comer, não comiam mais, que é o que ele queria, para poupar. Atão o rapaz que tinha casado, o genro, estava a ficar muito magrinho e encontrou o irmão que lhe disse: - Ó pá, então o que é que se passa? Estás tão magrinho, tu não estás feliz com o casamento? Dás-te mal com a tua mulher? - Olha, não. Não, irmão, eu até sou feliz com a minha mulher, mas olha, há um hábito em casa do meu sogro, que ele come tudo muito depressa e depois acaba de comer e diz sempre isto e a gente tem vergonha e não come mais. Eu como devagar e costumo-me servir pouco de cada vez e o que se passa é isto. Diz o irmão: - Olha, então vamos fazer assim, um dia tu vais-me convidar p ra lá ir a casa do teu sogro. E assim foi, o irmão lá convidou e o outro foi lá jantar a casa. Então estavam lá a comer, como sempre lá começa o sogro: - Graças a Deus para sempre, já comi eu e toda a minha gente. E o outro irmão, que era mais esperto, já levava a lição estudada e então diz:
5 - Come, irmão, que ele já comeu e nós ainda não. E daí para a frente eles ficaram a comer, o sogro levantou-se e foi-se embora. O certo é que daí p rá frente, alterou-se o costume lá daquela casa e então o rapaz dali p rá frente já comeu e engordou. Maria dos Anjos Santos, 53 anos, cassete 3 A Um rapaz apaixonado Um rapaz estava apaixonado por uma menina bonita que havia na aldeia, mas ela não lhe dava muita atenção. Então ele resolveu, numa certa madrugada, agarrar numa escada, pôla na janela. Quando viu o pessoal começar a movimentar-se, ele começou a descer pela escada abaixo p ra que o pessoal pensasse que ele vinha de dormir com ela, para a difamar p ra que ninguém a quisesse. Pronto, aquilo começou a espalhar-se na aldeia, toda a gente a falar da rapariga e ela com aquele desgosto ficou tísica e morreu. O rapaz ficou muito triste e foi-se confessar, e disse ao senhor padre que tinha feito aquilo, que gostava dela e que tudo fora por amor e queria que o padre lhe perdoasse, se tinha perdão. O padre disse: - Olha rapaz, p ra te perdoar tens que encher um cântaro de água e vais ao cemitério e deita-a em cima da campa dela e volta-a a apanhar e traz-mo cá. Bom, o rapaz levou a água, chegou ao cemitério despejou e a água sumiu. O rapaz, muito triste, voltou para trás e foi ter com o senhor padre. - Senhor padre, despejei a agua e afinal não consegui apanhá-la, sumiu-se logo. Diz o padre: - Pois, meu filho, da maneira que despejaste aquela água e ele se espalhou, assim tu espalhaste o mal no nome daquela menina, que ela nunca mais encontrou, por isso tu não tens perdão. Maria da Conceição Fortuoso Alves, 54 anos, cassete 1 B
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