BULLYING: UMA REALIDADE NA ESCOLA
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- Maria dos Santos Martini Lameira
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1 1 BULLYING: UMA REALIDADE NA ESCOLA Dayanne de Almeida Damasceno de Andrade 1 - UVA Liv Derik Santos Soares 2 - UFRN RESUMO O presente trabalho tem como enfoque principal o Bullying na escola, o bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo especifico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Cada vez mais ações de agressão e violência acontecem no ambiente escolar o que acaba despertando nos educadores dúvidas e aflição quanto ao trabalho que desenvolvem em sala de aula. Os professores sentem-se impotentes para trabalhar com essas questões e entendem que muitas vezes a própria escola não está preparada para enfrentar essa problemática, que diz respeito não só a instituição, mas também a sociedade de modo geral. Neste contexto o presente trabalho tem como objetivo alertar os professores sobre a alta prevalência da prática de bullying entre estudantes, conscientizando-os da importância de sua atuação na prevenção da problemática. Para a realização desse estudo utilizouse como metodologia uma pesquisa bibliográfica, gerada apartir do encontro de diversas vertentes sobre o assunto, na qual foi possível constatar a alta incidência de violência nas intuições de ensino. Concluiu-se que a prevenção do bullying entre estudantes constitui-se em uma necessária medida, capaz de possibilitar o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, habilitando-os a uma convivência social sadia e segura, além de promover um ambiente educacional mais eficiente e prazeroso onde a prática do conhecimento pode de fato ser efetivada. Palavras-chave: Bullying. Escola. Aluno 1. CONCEITUANDO O BULLYING Bullyinng é uma palavra de origem inglesa. É o gerúndio da palavra bully que traduzida significa brigão, valentão. O Brasil ainda não tem um termo que traduza este fato que apesar de antigo só vem sendo estudado há pouco tempo. Bullying trata-se de aversão às diferenças, o aluno usa de atitudes maldosas, humilhando, roubando ou quebrando objetos da vítima, coagindo, ignorando, repudiando, perseguindo, gozando com emprego de apelidos, aterrorizando, usando de violência física e emocional. Sobre o termo afirma Alves: Fica o nome em inglês porque não se encontrou palavra em nossa língua que seja capaz de dizer o que Bullying diz Bully é o valentão: um menino que, por sua força e sua alma deformada pelo sadismo, tem prazer em bater nos mais fracos e intimida-los. (ALVES, 2005, p.22). O termo bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos 1 daydamasceno15@hotmail.com 2 livderik@yahoo.com.br
2 2 repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais que tornam possível a intimidação da vitima. De acordo com Chalita (1999 p.9), não se traduz a palavra bully para português, pois no dicionário da nossa língua valentão significa uma pessoa que é muito valente, que por sua vez, significa ser provida de valor, que tem força, esforçada e corajosa. Esses adjetivos não condizem com o comportamento covarde de quem pratica bullying. Tavares (2003 p. 5) afirma que Bullying é o nome dado para o comportamento agressivo de estudantes em ambiente escolar. Geralmente é um comportamento intencional, repetitivo e sem motivação, provocado por um ou mais estudantes contra outros e explicita uma relação desigual de poder, mesmo entre crianças mais novas. Muitos tipos de comportamento podem ser considerado Bullying, desde ofensas e discriminação dentro do grupo até agressões gratuitas e roubos de dinheiro e pertences. Esse comportamento agressivo tem sido observado nas escolas e, por isso, é motivo de preocupação de pais e educadores já algum tempo, porque demonstra que está faltando afeto nas relações entre crianças e adolescentes, possivelmente em razão de problemas familiares. A falta de diálogo e de respeito parece ser a origem da agressividade infantil e juvenil, um problema que começa a ser discutido com mais intensidade diante do aumento da violência escolar no mundo inteiro. 2. O BULLYING NA ESCOLA O bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo especifico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Pode-se afirmar que as escolas que não admitem a ocorrência de bullying entre seus alunos desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo. Os autores da prática frequentemente, pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros. Seus pais exercem uma supervisão pobre sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos e comportamento agressivo ou explosivo. Um levantamento realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), em 2002, envolvendo estudantes de 5ª a 8ª séries de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying. Estudos revelam que entre o ano de 2000 e 2003, 49% dos alunos do 6º ao 9º ano no Brasil estavam diretamente envolvidos com o bullying, dos quais 22% eram vítimas, 15% eram agressores e 12% eram vitimas agressoras. A pesquisa foi realizada pelo Centro Multiprofissional de Estudos e Orientações sobre o Bullying Escolar (CEMEOBES), com dois mil alunos. Os meninos, com uma freqüência muito maior, estão mais envolvidos com o bullying, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas. Embora com menor freqüência, o bullying também ocorre e se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão ou difamação.
3 3 A psicóloga Samia Jorge 3, afirma que em Natal, os tipos mais comuns do bullying são os xingamentos, difamações, apelidos, além da violência física, incluindo tapas, pontapés e rasteiras. Os educadores ainda recorrem a métodos tradicionais para tentar resolver o problema. Na maioria das vezes, apenas conversam com os alunos envolvidos, diz a psicóloga, lembrando que as ações de conscientização do problema na escola ainda são poucas. A psicóloga ainda explica que essas práticas violentas são reflexos de uma sociedade marcada pela intolerância, em que as diferenças físicas, sociais, comportamentais e ideológicas entre as pessoas são recebidas com xingamentos, agressões e humilhação. Samia Jorge ainda traz outros exemplos, como o menino sensível às artes que é apelidado de gay ou a menina de cabelo crespo que recebe ordens para alisá-lo. Mas o bullying, na opinião da psicóloga, não é apenas resultado da sociedade. A situação pode ser agravada pela má atuação dos pais, como a falta de imposição de limites, carência afetiva, maus tratos domésticos e excesso de permissividade. Tragédias 4 como o Massacre de Virgínia, assassinato em massa que ocorreu na Universidade de Tecnologia da Virginia, Estados Unidos, em abril de 2007, são exemplos de conseqüências extremas a que a prática do bullying pode levar. Na ocasião, o estudante sul-coreano Cho Seung-Hiu, 23 anos, assassinou 32 pessoas, deixou 21 feridas e, em seguida, se suicidou. O estudante era ridicularizado durante o ensino médio pelo excesso de timidez e pelo jeito de falar. Ele sofria rejeição e depressão. Outro caso que foi destaque na imprensa mundial foi o assassinato em Columbine, no Colorado, em abril de No episódio, os estudantes Eric Harris, 18, e Dylan Klebold, 17, alunos da Columbine High School, mataram doze colegas e um professor antes de se suicidarem. Os estudantes não eram populares na escola e eram ridicularizados pelos atletas. No Brasil, também há registros de casos de violência extrema relacionada ao bullying. Em 2004, um aluno de 18 anos de uma escola em Taiúva, no interior de São Paulo, feriu oito pessoas e se suicidou em seguida. Segundo a policia apurou com familiares, o motivo da revolta seria as constantes humilhações que o aluno sofria por ser acima do peso. As conseqüências para as vítimas do bullying vão desde a falta de rendimento escolar, dificuldades de fazer novos amigos e depressão até distúrbios psicossomáticos, como dor de cabeça, náuseas e gastrite. Em casos extremos, as vitimas podem cometer o suicídio, nesse caso também chamado de bullycidio. Para os agressores, as conseqüências também poderão acompanhar pela vida adulta, como a violência doméstica ou o comportamento agressivo em ambiente de trabalho e entre amigos. Em 19 de novembro de 2004, em Atlanta, Estados Unidos, duas meninas de 13 anos foram presas por terem feito um bolo com remédio vencido, água sanitária, barro e molho de pimenta que, depois, serviram aos colegas da escola. Doze adolescentes foram parar no hospital por causa da maldade das garotas. 3 Samia Jorge é psicóloga e atua na área de psicologia educacional, desenvolve pesquisa de mestrado na UFRN sobre a prática do bullying em Natal e concedeu entrevista ao Jornal Diário de Natal em Matéria divulgada no Jornal Diário de Natal, caderno: CIDADES, Domingo, 9 de Novembro. p
4 4 Em fevereiro de 2004, na Bahia, um jovem de 17 anos matou duas pessoas e feriu três. Ele sempre sofria humilhações na escola. Revelou que matou outro garoto de 13 anos, porque este vivia humilhando-o e, no dia do crime, teria estragado sua mochila, jogando um balde de lama sobre ela 5. Seja qual for à atuação de cada aluno, algumas características podem ser destacadas, bem como relacionadas aos papéis que venham a representar: Alvos de bullying são os alunos que só sofrem bullying; Alvos/autores de bullying são os alunos que ora sofrem, ora praticam bullying; Autores de bullying são os alunos que só praticam bullying; Testemunhas de bullying são os alunos que não sofrem nem praticam bullying, mas convivem em um ambiente onde isso ocorre. Os autores são, comumente, indivíduos que têm pouca empatia. Frequentemente, pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros. Seus pais exercem uma supervisão pobre sobre eles, toleram e oferecem, como modelo para solucionar conflitos, o comportamento agressivo ou explosivo. Admite-se que os que praticam o bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais e/ou violentos, podendo vir a adotar, inclusive, atitudes delinqüentes ou criminosas. Os alvos são pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as conseqüências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos. Status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda. São pessoas sem esperança quanto ás possibilidades de se adequarem ao grupo. A baixa auto-estima é agravada por intervenções criticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento. Alguns crêem ser merecedores do que lhes é imposto. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com freqüência ou abandonam os estudos. Há jovens que, com extrema depressão, acabam tentando ou cometendo o suicídio. Os alunos alvos sentem-se deprimidos, inseguros e apresentam baixa auto-estima. Geralmente têm poucos amigos e resistem a ir para a escola, chegando a simular doenças ou até mesmo a se sentirem mal. Pedem para trocar de colégio com freqüência. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar. As testemunhas, representadas pela grande maioria dos alunos, convivem com a violência e se calam em razão do temor de se tornarem as próximas vítimas. Apesar de não sofrerem as agressões diretamente, muitas delas podem se sentir incomodadas com o que vêem e inseguras sobre o que fazer. Algumas reagem negativamente diante da violação de seu direito a aprender em um ambiente seguro, solidário e sem temores. Tudo isso pode influenciar negativamente sua capacidade de progredir acadêmica e socialmente. Aqueles 6 que praticam bullying contra seus colegas poderão levar para a vida adulta o mesmo comportamento anti-social, adotando atitudes agressivas no seio familiar (violência doméstica) ou no ambiente de trabalho. 5 Matéria divulgada na Revista: CONSTRUIRNOTÍCIAS. Nº 40 MAIO/JUNHO ANO 07. p
5 5 Estudos realizados em diversos países já sinalizaram para a possibilidade de que autores de bullying, na época da escola, venham a se envolver, mais tarde, em atos criminosos ou de delinqüência. As conseqüências do bullying na escola são imprevisíveis e podem ter até um desfecho desastroso, levando até mesmo a morte. Apesar da profusão de informações, a temática ainda está distante da maioria dos profissionais que atuam na área educacional e, quando estes declaram ter alguma informação sobre o assunto, na maioria das vezes elas estão ligadas a algum relato que presenciou ou ouviu falar, não havendo maior aprofundamento. No que tange a alunos e pais, as informações são mais superficiais ainda, revelando o fenômeno bullying apesar de estar presente na grande maioria das escolas brasileiras, das redes públicas e particulares, e atingir alunos de diferentes níveis de ensino, da Educação Infantil ao Ensino Superior, com conseqüências para o desenvolvimento e a aprendizagem do educando o bullying é um desconhecido da comunidade escolar. A verdade é, que sem o conhecimento necessário ao assunto os educadores não podem contribuir com a sua diminuição e, quando não há intervenções efetivas contra o bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Alguns alunos que testemunham as situações de bullying, quando percebem que o comportamento agressivo não traz nenhuma conseqüência a quem o pratica, podem achar por bem adotá-lo. Alguns dos casos citados na imprensa como o ocorrido na cidade de Taiúva, interior de São Paulo, no inicio de 2003, no qual um ou mais alunos entraram armados na escola, atirando contra quem estivesse à sua frente retratavam reações de crianças vítimas de bullying: Depois de muito sofrerem, esses alunos utilizaram a arma como instrumento de superação do poder que os subjugava; Seus alvos, em praticamente todos os casos, não eram exclusivamente os alunos que os agrediam ou intimidavam; Quando resolveram reagir, o fizeram contra todos da escola, pois todos teriam se omitido e ignorado seus sentimentos e seu sofrimento; As medidas adotadas pela escola para o controle do bullying, se bem aplicadas e envolvendo toda a comunidade escolar, contribuirão positivamente para a formação de uma cultura de não-violência na sociedade. As crianças que sofrem bullying, dependendo de suas características individuais e de suas relações com os meios em que vivem, em especial a família, poderão não superar, parcial ou totalmente, os traumas sofridos na escola. Poderão crescer com sentimentos negativos, especialmente com baixa auto-estima, tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamento. Poderão assumir, também, um comportamento agressivo. Mais tarde poderão vir a sofrer ou a praticar o bullying no trabalho. Em casos extremos, alguns deles poderão tentar ou cometer suicídio. A questão da violência e as violações dos direitos humanos no Brasil, especialmente as que atingem a vida e a integridade física dos indivíduos, além de serem amplamente divulgadas na sociedade em geral, aparecendo com bastante ênfase nos meios de comunicação de massa, 6 Matéria divulgada na Revista: CONSTRUIRNOTÍCIAS. Nº 40 MAIO/JUNHO ANO 07. p
6 6 constituem-se, segundo as pesquisas de opinião pública, em uma das maiores preocupações da população nas grandes cidades. Waiselfisz (1998 p.45), afirma que a noção de violência, é por principio, ambígua. Não existe uma violência, mas multiplicidade de atos violentos, cujas significações devem ser analisadas a partir das normas, das condições e dos textos sociais, variando de um período histórico a outro. A violência é um dos eternos problemas da teoria social e da prática política. Na história da humanidade, tem-se revelado em manifestações individuais ou coletivas. É comum chegar-se a conceitos mais apropriados, ou seja, ao tempo histórico que se vive ou se examina. Considera-se a violência como parte da própria condição humana, aparecendo de forma peculiar de acordo com os arranjos societários de onde emergem. Ainda que existam dificuldades e diferenças naquilo que se nomeia como violência, alguns elementos consensuais sobre o tema podem ser delimitados: noção de coerção ou força; dano que se produz em individuo ou grupo social pertencente a determinada classe ou categoria social, gênero ou etnia. Define-se violência como fenômeno que se manifestam esferas sociais, seja no espaço público, seja no espaço privado, apreendido de forma física, psíquica e simbólica. (WAISELFISZ, p ). A intenção de ferir, ofender, atingir de forma deliberadamente negativa o outro seria um constituinte de violência, mas não o suficiente para sua caracterização, segundo referências que se localizam mais ao corpo normativo legal como parâmetro do que seria considerado como violência. O destaque dado à agressão física é também questionado por muitos, considerando-se outras formas de relações agressivas quanto à mecanização e à industrialização da violência, como as que se dão em larga escala, as guerras modernas. Outro constituinte hoje questionado e tradicionalmente referido, também pelo senso comum, é a violência como um ato individualizado, pautado por psicopatas, dirigido contra outros. Considerar que muitos agressores não se sentem culpados ou responsáveis por suas ações, que são treinados ou socializados, de forma intencional ou por modos de vida, para serem violentos, desloca a ação preventiva para o campo das relações sociais coletivizadas, focalizando não somente indivíduos, mas grupos, comunidades e organizações. Alguns autores desenvolvem esse raciocínio, pelo qual a intenção não define necessariamente os agressores, referindo-se às estruturas de violência, o que se confunde com situações sociais. Arblaster (1996 p.29) comenta que se a violência não envolve necessariamente uma agressão física no confronto direto de algumas pessoas com outras, então a distinção entre violência e outras formas coercitivas de infligir danos, dor e morte fica enevoada. Uma política que deliberada ou conscientemente conduza á morte de pessoas pela fome ou doença pode ser qualificada de violenta. Essa é uma razão por que slogans como pobreza e violência ou exploração é violência não constituem meras hipérboles. Na contracorrente, existem discussões sobre a não-violência, apelando para a correlação de forças ou o reconhecimento de simetrias quanto a forças para resolver conflitos e obter negociações.
7 7 O conceito de violência, muitas vezes, é usado de forma indiscriminada para se referir a agressões, incivibilidades, hostilidades e intolerâncias. Ainda que, na perspectiva da ética geral ou dos sentimentos da vitima, tais fenômenos possam reverberar como violações de direitos, há que se cuidar, principalmente quando se lida com crianças e jovens, dos limites conceituais, já que, no plano de recomendações e políticas, é importante conceituar melhor o tema. Arendt (1994 p29), alerta para as distinções sobre violências e agressões, defendendo que estas, no caso de formação de subjetividade, não necessariamente têm o risco daquelas. Sobre incivibilidades, mais abordadas quando se discute literatura sobre violência na escola, seu uso é extenso, principalmente na literatura francesa. Já o termo bullying, que envolve expressões de hostilidades repetidas, é utilizado também nas abordagens sobre ambiência escolar, sendo mais empregado pela literatura anglo-saxônica. 3. OS PAIS DEVEM FICAR ATENTOS Descobrir que o filho está envolvido com o bullying não é fácil, por isso os pais devem ficar atentos a alguns sinais que podem indicar. Dificilmente uma criança ou jovem que é vitima ou agressor fala sobre isso com a família. Os pais precisam ficar atentos a qualquer modificação de comportamento nos filhos. Se começam a ficar dispersos, tristes ou agitados demais, começam a perder a vontade de ir à escola, se têm o rendimento escolar reduzido, se chegam em casa com hematomas ou feridas, se ficam irritadiços, se queixam de dores na cabeça ou na barriga, alerta a psicóloga 7. Para ajudar uma criança ou adolescente a se defender de tais ataques, os pais precisam, em primeiro lugar, tomar consciência do problema e entender os malefícios que ele pode causar. Sofrer bullying pode levar à dificuldade de aprendizado, baixa auto-estima, depressão, angústia e a doenças como anorexia, bulimia, dores de cabeça e abdominais, pensamentos suicidas e suicídio. Se os pais desconfiam de que o filho é vitima do bullying, a recomendação da psicóloga é que procurem conhecer quem são os amigos dele, conversar com os educadores e, se preciso, procurar ajuda de um profissional de saúde ou psicólogo. A psicóloga destaca ainda a importância do papel da escola na prevenção e conscientização, para que se identifiquem os casos de bullying, mesmo aqueles disfarçados de brincadeiras. Os casos de bullying, assim como outros casos de violência, podem se denunciados pelo Disque 100. Se for constatada a violência no ambiente escolar a omissão da escola, a instituição pode ser processada, assim como os pais dos agressores, que responderão judicialmente pelos atos dos filhos. Os agressores poderão inclusive ser responsabilizados pelas despesas da vitima com tratamento médico ou psicológico necessário em conseqüência do bullying. A família e a escola devem compartilhar de uma parceria em que o dialogo, a orientação, a educação e a afetividade sejam os instrumentos utilizados para desenvolver relações de respeito mútuo, tendo como foco as relações humanas. 7 Samia Jorge é psicóloga e atua na área de psicologia educacional, desenvolve pesquisa de mestrado na UFRN sobre a prática do bullying em Natal e concedeu entrevista ao Jornal Diário de Natal em
8 8 De acordo com Chalita (1999 p.9), é fundamental desenvolver, nas escolas, ações de solidariedade de resgate de valores de cidadania, tolerância, respeito mútuo entre alunos e docentes. Também é importante estimular e valorizar as individualidades do aluno, além de potencializar eventuais diferenças, canalizando-as para aspectos positivos que resultem na melhoria da autoestima do estudante. Com toda a certeza, se a escola forma indivíduos melhores, teremos motoristas melhores, políticos melhores, empresários melhores. E cidadãos melhores. Não existem soluções simples para se combater o bullying. Trata-se de um problema complexo e de causas múltiplas. Portanto, cada escola deve desenvolver sua própria estratégia para reduzi-lo. A escola deve agir precocemente contra o bullying. Quanto mais cedo o bullying cessar, melhor será o resultado para todos os alunos. Intervir imediatamente, tão logo seja identificada a existência do bullying na escola, e manter atenção permanece sobre isso é a estratégia ideal. A única maneira de se combater o bullying é através da cooperação de todos os envolvidos: professores, alunos e pais. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Infelizmente, atualmente, a escola já não pode ser considerada um local seguro e livre de manifestações violentas. As agressões físicas e verbais entre os alunos nas salas de aulas promovem o crescimento na evasão dos alunos, que por medo não querem freqüentar a escola. Os professores sentem-se impotentes para trabalhar com essas questões e entendem que muitas vezes a própria escola não está preparada para enfrentar essa problemática que diz respeito não só a instituição, mas também a sociedade de modo geral. Em consonância com estes fatos, pode-se afirmar que o bullying é considerado um fato de interesse público, pois abrange tanto o delineamento de comportamentos sociais como também dos órgãos ligados a educação. Para que o pedagogo possa desempenhar um trabalho de assistência satisfatório em relação aos alunos envolvidos na prática da agressão, o planejamento de sua atuação deve considerar todas estas particularidades que ocorrem com os alunos, bem como analisar o contexto de sua vida de forma individualizada, levando-se em consideração aspectos emocionais, psicológicos e sociais. Agindo desta forma o profissional em pedagogia conhecerá melhor seus alunos e atuará de forma mais humanizada, desempenhando não só seu trabalho de assistência à educação, mas também se tornando uma fonte de orientação, colaborando assim para o desenvolvimento deste indivíduo, como um todo. Considerando-se a relevância do tema trabalhado, espera-se que este estudo sirva como suporte para o bom desempenho de profissionais da área de educação, ou não, preocupado em aprofundar a temática. Despertando um novo olhar para a questão da violência na escola.
9 9 Deste modo, acreditamos que o estudo será um importante investimento na formação inicial dos acadêmicos, servindo como fonte de pesquisa para aqueles que se interessam pelo assunto. REFERÊNCIAS ALVES, R. A forma escolar da tortura. Jornal Folha de São Paulo ARBLASTER, Anthony. Violência. Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, BEAUDON, Marie Nathalle; TAYLOR, Maureen. Bullying e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Porto Alegre: Artmed, DUARTE, Renato. Efeitos da violência sobre o aprendizado nas escolas públicas da cidade do Recife. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, FANTE, Cléo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Versus, WAISELFISZ, Jacobo. Juventude, Violência e Cidadania: os jovens de Brasília. Brasília: Unesco e Cortez, TAVARES, J. Revista Espaço Aberto. Nº 49 de Novembro REVISTA CONSTRUIRNOTICIAS. Nº 40 ANO 07 CIRCULAÇÃO NACIONAL MAIO/JUNHO 2008 JORNAL IMPRESSO DIÁRIO DE NATAL. Matéria: Educação: Maltratar, Intimidar ou agredir repetitivamente são atos condenáveis. Seu filho faz isso? Humilhar o colega é Bullying. Edição: Domingo, 9 de Novembro de 2008.
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