MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª REGIÃO RECOMENDAÇÃO

Transcrição

1 Recife/PE, 18 de junho de Ao Representante Legal da MUNICÍPIO DE JABOATÃO DOS GUARARAPES Ref.: IC /7-20 RECOMENDAÇÃO O, por intermédio da Procuradora do Trabalho Maria Roberta Melo Komuro da Rocha, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo art. 129, VI, da Constituição Federal e pela Lei Orgânica do Ministério Público da União (Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993), especialmente aquela prevista em seu art. 6º, XX, que o autoriza a expedir recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como o respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando o prazo para a adoção das providências cabíveis ; CONSIDERANDO ser o Ministério Público instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127 da Constituição Federal); CONSIDERANDO que o Ministério Público do Trabalho, na função de defensor da ordem social e dos direitos trabalhistas indisponíveis, possui por missão constitucional velar pela observância do valor social do trabalho e, na forma da lei, da proteção do salário, nos termos dos artigos 1º, IV; 7º, X; e 127, todos da CF/88; CONSIDERANDO a existência do projeto nacional do Ministério Público do Trabalho denominado Terceirização sem Calote, que tem por escopo assegurar a observância dos direitos dos trabalhadores que prestam serviços terceirizados aos entes públicos, nas diversas esferas de governo, seja na administração direta ou indireta, a partir da adoção de medidas extrajudiciais e judiciais, preventivas ou remediadoras;

2 CONSIDERANDO o teor da Instrução Normativa nº 05/2017, expedida pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que substituiu a Instrução Normativa nº 02/2008 e dispõe sobre as regras e diretrizes do procedimento de contratação de serviços sob regime de execução indireta no âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional; CONSIDERANDO que, embora não vinculantes para as Administrações Estaduais e Municipais que não aderiram ao Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais SIASG, nos termos da Portaria nº 04/2005 da SLTI/MPOG, as disposições da Instrução Normativa nº 05/2017 servem de orientações a serem observadas por todos os gestores públicos, independentemente da esfera de atuação ou competência; CONSIDERANDO que a inadimplência das verbas trabalhistas, seja ela súbita ou contumaz, por parte da empresa terceirizada, acarreta efeitos devastadores nas vidas dos trabalhadores, os quais não podem ficar sem receber sua remuneração, a qual possui status constitucional de verba alimentar, absolutamente necessária e urgente à sua subsistência e das suas respectivas famílias; CONSIDERANDO o entendimento pacificado no âmbito do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região, nos autos do Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº , de caráter vinculante no âmbito de jurisdição do respectivo Tribunal, no sentido não apenas da possibilidade de responsabilidade subsidiária da Administração Pública nos casos culpa in eligendo e in vigilando, na qualidade de tomadora de serviços prestados por empresa terceirizada, como também de lhe incumbir o ônus de provar a efetiva fiscalização do contrato; RESOLVE RECOMENDAR ao MUNICÍPIO DE JABOATÃO DOS GUARARAPES que, na fiscalização dos contratos de terceirização de serviços: 1. Observe o roteiro de fiscalização dos contratos firmados para prestação de serviços, constantes do Anexo VIII-B da Instrução Normativa nº 05/2017 do Ministério

3 do Planejamento, Orçamento e Gestão. 2. Observe as sanções que os artigos 87 e 88 da Lei nº 8.666/93 permitem à Administração Pública aplicar em caso de inexecução total ou parcial do contrato firmado, nos seguintes termos: Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções: I advertência; II multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato; III suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos; IV declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção aplicada com base no inciso anterior. 1º Se a multa aplicada for superior ao valor da garantia prestada, além da perda desta, responderá o contratado pela sua diferença, que será descontada dos pagamentos eventualmente devidos pela Administração ou cobrada judicialmente. 2º As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste artigo poderão ser aplicadas juntamente com a do inciso II, facultada a defesa prévia do interessado, no respectivo processo, no prazo de 5 (cinco) dias úteis. 3º A sanção estabelecida no inciso IV deste artigo é de competência exclusiva do Ministro de Estado, do Secretário Estadual ou Municipal, conforme o caso, facultada a defesa do interessado no respectivo processo, no prazo de 10 (dez) dias da abertura de vista, podendo a reabilitação ser requerida após 2 (dois) anos de sua aplicação. (Vide art 109 inciso III)

4 Art. 88. As sanções previstas nos incisos III e IV do artigo anterior poderão também ser aplicadas às empresas ou aos profissionais que, em razão dos contratos regidos por esta Lei: I - tenham sofrido condenação definitiva por praticarem, por meios dolosos, fraude fiscal no recolhimento de quaisquer tributos; II - tenham praticado atos ilícitos visando a frustrar os objetivos da licitação; III - demonstrem não possuir idoneidade para contratar com a Administração em virtude de atos ilícitos praticados. 3. Observe a possibilidade de inserção dos inadimplentes no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS), que se trata de banco de informações mantido pela Controladoria Geral da União, objetivando consolidar a relação das empresas e das pessoas físicas que sofreram sanções cujo efeito implique na restrição ao direito de participar de licitações ou de contratar com a Administração Pública. O ente público, ao aplicar às empresas prestadoras de serviços sanções administrativas previstas na legislação federal, em virtude de práticas irregulares, deve incluí-la no CEIS, ato este que possui forte caráter pedagógico, posto que demonstra ao empresariado a crescente tendência de o Poder Público não mais coadunar com empresas descumpridoras de suas obrigações contratuais e legais. 4. Observe a possibilidade de pagamento direto das verbas trabalhistas. Em caso de a empresa contratada não cumprir com as suas obrigações trabalhistas, o ente público deverá fazer o desconto na fatura e efetuar o pagamento diretamente aos empregados terceirizados dos salários e demais verbas trabalhistas, inclusive por intermédio do sindicato profissional, sem prejuízo das sanções cabíveis. Essa possibilidade de repasse de valores diretamente aos trabalhadores já deve constar do edital de licitação e do contrato celebrado entre a Administração Pública e a empresa prestadora de serviços. Para tanto, deve o ente público observar as disposições da Instrução Normativa nº 05/2017 do Ministério do Planejamento,

5 Orçamento e Gestão, no sentido de, já no ato convocatório, no caso de adoção da Conta-Depósito Vinculada, adotar, nos termos do item 1.2., d, do Anexo VII-B do mencionado ato normativo: a obrigação da contratada de, no momento da assinatura do contrato, autorizar a Administração contratante a fazer o desconto nas faturas e realizar os pagamentos dos salários e demais verbas trabalhistas diretamente aos trabalhadores, bem como das contribuições previdenciárias e do FGTS, quando estes não forem adimplidos (grifos acrescidos). Desta feita, a fim de assegurar, em caso de inadimplência, o recebimento das verbas trabalhistas, o ente público deve inserir já no instrumento editalício a previsão de que a contratada, no momento da celebração do contrato, autorize a Administração a repassar diretamente tais verbas aos trabalhadores. Nessa esteira, deve a Administração Pública observar ainda o disposto na Portaria nº 297/2012 do Tribunal de Contas da União TCU, que, em seu art. 13, 5º, autoriza expressamente, mediante acordo entre a contratada e o sindicato da categoria, ou no caso de manifestação favorável do Ministério Público do Trabalho, o pagamento direto das verbas trabalhistas aos empregados terceirizados, conforme redação a seguir transcrita: na hipótese de acordo entre a contratada e o sindicato da categoria, ou manifestação favorável do Ministério Público do Trabalho, os pagamentos de salários, de vale-transporte e de vale alimentação, ou referentes a qualquer outra verba trabalhista, poderão ser efetuados diretamente aos empregados terceirizados, em nome da contratada, desde que expressamente autorizados, conforme o caso, pelo Secretário- Geral de Administração, na Sede, por dirigente do Instituto Serzedello Correa (ISC) ou de secretaria de controle externo no estado. 5. Na impossibilidade de repasse diretamente aos trabalhadores, observe a

6 possibilidade de depósito dos valores devidos junto à Justiça do Trabalho, nos termos do item 1.3 do Anexo VII-B acima mencionado, in verbis: Quando não for possível a realização dos pagamentos a que se refere o item d do subitem 1.2 acima pela própria Administração, esses valores retidos cautelarmente serão depositados junto à Justiça do Trabalho, com o objetivo de serem utilizados exclusivamente no pagamento de salários e das demais verbas trabalhistas, bem como das contribuições sociais e FGTS (grifos acrescidos). Ademais, nos termos do item 4.2 do Anexo VII-F da Instrução Normativa nº 05/2017 do MPOG, deve a Administração Pública atentar para que conste do contrato firmado previsão no sentido de caracterizar falta grave o descumprimento das obrigações trabalhistas, podendo ensejar a rescisão do contrato, sem prejuízo de aplicação das demais sanções legalmente previstas. Adverte-se que a presente Recomendação é expedida sem prejuízo de eventuais medidas judiciais ou administrativas cabíveis tendentes à efetiva satisfação dos direitos básicos dos trabalhadores prejudicados. Maria Roberta Melo Komuro da Rocha Procuradora do Trabalho