Seminário Política Mineral, Interesse Nacional e Segurança Jurídica

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1 Seminário Política Mineral, Interesse Nacional e Segurança Jurídica Belo Horizonte, 12 de junho de Palestra de William Freire 1 Introdução 1. Neste momento de transição da mineração brasileira, não há temas mais relevantes que a política mineral, o interesse nacional e a segurança jurídica. 2. Não há necessidade de buscar autores rebuscados para entender o que é soberania nacional, interesse nacional, utilidade pública e segurança jurídica, porque são expressões com núcleo de sentido fortíssimo e intuitivo. 3. Segurança jurídica não é um bloco monolítico, uma coisa só. É composta de diversos elementos parciais. 1 WILLIAM FREIRE é advogado formado pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG. Autor de diversos livros sobre Direito Minerário e Direito Ambiental, entre eles o Direito Ambiental Brasileiro, o Código de Mineração Anotado, o Comentários ao Código de Mineração, o Direito Ambiental Aplicado à Mineração, o Natureza Jurídica do Consentimento para Pesquisa Mineral, do Consentimento para Lavra e do Manifesto de Minas no Direito Brasileiro, Fundamentals of Mining Law, Gestão de Crises e Negociações Ambientais e Riscos Jurídicos da Mineração. Publicou mais de cem artigos e proferiu mais de cem palestras sobre Direito Minerário, inclusive no exterior. Árbitro da Câmara de Mediação e Arbitragem Empresarial Brasil CAMARB e Diretor do Departamento do Direito da Mineração do Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Fundador do Instituto Brasileiro do Direito da Mineração IBDM. Professor de Direito Minerário em diversos cursos de pós-graduação. Durante anos seguidos, considerado um dos mais respeitados consultores no Direito da Mineração, por vários institutos. 1 de 12

2 4. Alguns elementos estruturais do regime jurídico da mineração que já existem: 4.1. Soberania do Brasil 4.2. Soberania da União sobre as riquezas minerais Neste momento é importante destacar o que ocorreu quando o Presidente Michel Temer publicou Decreto extinguindo a Reserva Nacional do Cobre, a RENCA, que já não fazia mais sentido. Bastou a resistência de algumas Organizações Não Governamentais ONGs, inclusive um modelito que mora nos Estados Unidos espernear no Twitter, manifestações demagógicas de políticos brasileiros desinformados fisiológicos dependentes de votos dos ambientalistas orgânicos para que o Presidente voltasse atrás, mesmo que esse seu gesto contrariasse o interesse nacional e mostrasse fraqueza em relação à defesa da soberania nacional sobre nossos recursos minerais ONGs são importantes, mas há necessidade de distinguir as sérias (poucas) das oportunistas. É possível que algumas sejam financiadas para defender interesses estrangeiros no Brasil. Cabe investigação Como exemplo internacional, pode-se citar a decisão do Presidente Donald Trump de reativar a exploração de carvão nos Estados Unidos. Os projetos foram retomados, os licenciamentos ambientais foram atualizados e a indústria carbonífera está funcionando a todo vapor. De nada adiantaram as tentativas de bloqueio e interferência de ONGs e da mídia Sobre esse assunto, sugiro a leitura de Máfia Verde e Terra Azul, Algemas Verdes Outros problemas enfrentados pela mineração em outros países: i. Na África do Sul houve a promulgação do Protection investment Act Apesar do nome atrativo, dando a entender que traria segurança jurídica para investidores, essa lei sofre efeitos da agenda do país em relação à comunidade com histórico de desvantagem social quando a lei vai ser interpretada e aplicada. 2 de 12

3 ii. No Peru, apesar de a mineração ser considerada atividade de utilidade pública ( La industria minera es de utilidad pública y la promoción de inversiones en su actividad es de interés nacional ), há problemas para receber outorgas de servidões minerais. O Ministro de Minas resiste em outorgar servidões minerais em razão de possíveis interesses políticos Condução da mineração no interesse nacional. Esse comando vale para todos: para as empresas de mineração, para o Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário; para as ONGs, para a mídia. Todos que, de algum modo, participam nas relações jurídicas e de interesses na cadeia produtiva da mineração Mineração é de utilidade pública, segundo o Decreto-Lei 3.365/41. E não há gradação de utilidades públicas. Portanto, a mineração está equiparada aos mais altos interesses do Estado: um hospital público, um aeroporto, uma hidrelétrica Poder de Polícia da Agência Nacional de Mineração, do MME e órgãos ambientais. A Administração Pública também tem, em seu favor, o poder de polícia: outorgar, fiscalizar e sancionar. 5. Não há insegurança jurídica para o Poder Público. 6. Que ferramenta jurídica falta para uma gestão pública eficaz da mineração? Nenhuma. 7. Por que, então, não tem dado certo? 7.1. Por que o Brasil não tem política mineral há anos? Lembro-me bem de quando comecei a estudar Direito Minerário. Nos idos de 1987, o Diretor-Geral do DNPM era o Dr. José Belfort, amazonense; em seguida, o Dr. Elmo Serejo Farias, maranhense e o prezado Elmer Prata Salomão, para o período de 1990 a Até o momento, tive o prazer de conhecer onze diretores-gerais, incluindo o Dr. Bicca. 3 de 12

4 7.2. Se o Poder Público tem todas as ferramentas jurídicas, por que não conseguimos eficiência nos órgãos públicos? 7.3. Se os Poderes Públicos têm todas as ferramentas jurídicas, por que não conseguimos normatização razoável? 7.4. Por que o Congresso não consegue passar uma lei que regule adequadamente o setor? 7.5. Por que o DNPM estava à míngua de recursos e estrutura há anos, sobrevivendo à custa de esforços individuais? Há uma nota digna de registro: a Diretoria da ANM muito comprometida em resolver esses problemas. 8. Por que, num suposto Estado Democrático de Direito, há uma sensação e uma vivência diária de insegurança jurídica? Percepção da mineração brasileira no exterior 9. Apesar de todo esse potencial, a percepção de investidores estrangeiros em relação ao Brasil é péssima O World Risk Report edição de 2018, publicado pelo Mining Journal2, mostra o Brasil em péssima classificação Na avaliação geral, entre 96 localidades pesquisadas, considerando riscos concretos e de percepção da comunidade mineral, o Brasil aparece em 52º lugar, atrás de Botswana, Costa do Marfim, Nicarágua, Argentina, Colômbia, México, Peru, Chile, por exemplo, e a da Província de Ontário, no Canadá (1º) Na avaliação do Fraser Institute, o Brasil também não se sai melhor. Há diversas análises disponíveis no sítio eletrônico do Instituto. 3 Na tabela Insegurança em relação à Administração, interpretação e aplicação das normas minerais existentes (Tabela 15), o Brasil ocupa o 63º lugar (entre 95 pesquisados), atrás de Zâmbia, Mali, Burquina Faso, Namíbia, Gana, República Dominicana, Nicarágua, México, Peru, Chile, Portugal, por exemplo, e Irlanda (1º) de 12

5 9.4. No critério sistema jurídico da mineração, sob o ponto de vista de atração de investimentos (Tabela 18), o Brasil classifica-se em 66º lugar (num total de 95 pesquisados), atrás de Equador, Colômbia, Zâmbia, México, Gana, Peru, Namíbia, Chile, por exemplo, e Finlândia (1º). 10. Queremos mineração no Brasil ou não? Se não queremos, sejamos claros com o investidor e vamos deixá-los investir em outros países ou setores Em , o Departamento de Comércio dos Estados Unidos recomendou medidas urgentes para incrementar a produção de minerais críticos É consequência de um decreto presidencial [executive order] / Entre as várias recomendações, estão: Apoiar o setor privado para pesquisar os minérios críticos; Esforços para identificar novas jazidas desses minérios; Rever processos administrativos minerários, otimizando/aprimorando/melhorando o acesso a esses minérios; Reduzir os prazos para obter os consentimentos públicos; Incrementar/aprimorar a descoberta, produção e beneficiamento desses minérios críticos Interagir esforços para dar suporte à pesquisa e lavra no país Outros: reciclagem, verticalização, melhorar a cadeia de suprimentos, acordos comerciais etc. Segurança jurídica para o minerador 11. Segurança jurídica para o minerador De início, penso que o setor deve fazer sua mea culpa. É um setor disperso, sem representatividade. Sem e sem liderança Há excelentes empresas. Entretanto, neste momento de crise institucional, as boas estão pagando pelas pecadoras. Foram todas foram colocadas todas em um mesmo nível. 12. Há vários elementos estruturais da segurança jurídica para o minerador: 5 de 12

6 12.1. Sobreprincípio da Segurança Jurídica, inerente ao Estado Democrático de Direito (onde a lei obriga a todos); Princípio da Eficiência Administrativa (CR, art. 37); Princípio Princípios da Segurança Jurídica e eficiência da Eficiência, na Lei 9.784/99; Princípio da Segurança Jurídica, reconhecido no Direito Minerário a partir do método indutivo: garantia do produto da lavra (CF, 176), direito de prioridade (CM, art. 11), garantia de unicidade por direito minerário, garantia da concessão de lavra, garantia de não paralisação por disputas com particulares (arts. 57 e 87), caducidade em casos restritos (art. 65), atos administrativos vinculados e utilidade pública (DL 3.365/41) Consequências desses princípios: Deveria haver política mineral de qualidade, que é a base de tudo Deveria haver boa legislação mineral e ambiental, o que não ocorre Deveria haver garantia de cumprimento desses princípios e das leis pelo Poder Público, que não os cumpre Por que essa percepção de que o Poder Público não cumpre suas obrigações e seus prazos? Por que gera insegurança jurídica a todo momento? Por que o Poder Público é quem entulha os tribunais? Por que o excesso de burocracia dos órgãos da administração pública? Estatísticas 13. Resultado da falta de estrutura do DNPM. Processos administrativos pendentes de movimentação na ANM Processos administrativos pendentes em todas as gerências regionais para todas substâncias, posição total em : Futuras disponibilidades Requerimentos de pesquisa em análise de 12

7 Relatórios Finais de Pesquisa Positivos em análise Requerimentos de prorrogação de AP em análise Requerimentos de lavra em análise Requerimentos de licenciamento em análise Requerimentos de PLG em análise Cessões totais pendentes de análise Cessões parciais pendentes de análise Pedidos de GU pendentes de outorga Pedidos de prorrogação de PLG pendentes de análise 357 Procedimentos sujeitos a disponibilidade Total: processos administrativos pendentes de movimentação, sem contar os diversos recursos administrativos em tramitação Em Minas Gerais: Apenas a tramitação regular desses processos já seria suficiente para movimentar a economia Processos pendentes de movimentação para Fosfato: Futuras disponibilidades Requerimentos de pesquisa em análise 409 Relatórios Finais de Pesquisa Positivos em análise 358 Prorrogação de Autorização de Pesquisa em análise 173 Requerimentos de lavra em análise 86 Requerimentos de licenciamento em análise 1 Cessões totais pendentes de análise 89 7 de 12

8 Cessões parciais pendentes de análise 9 Pedidos de GU pendentes de outorga 18 Procedimentos sujeitos a disponibilidade Processos pendentes de movimentação para Lítio: 150. Futuras disponibilidades 2 Requerimentos de pesquisa em análise 110 Relatórios Finais de Pesquisa Positivos em análise 33 Prorrogação de Autorização de Pesquisa em análise 3 Requerimentos de lavra em análise 4 Cessões totais pendentes de análise 2 Procedimentos sujeitos a disponibilidade Processos pendentes de movimentação para terras-raras; 179 Futuras disponibilidades 42 Requerimentos de pesquisa em análise 47 Relatórios Finais de Pesquisa Positivos em análise 48 Requerimentos de prorrogação de Autorização de Pesquisa em análise 13 Requerimentos de lavra em análise 9 8 de 12

9 Cessões totais pendentes de análise 3 Cessões parciais pendentes de análise 8 Procedimentos sujeitos a disponibilidade Processos administrativos pendentes de movimentação para Vanádio: 46 Futuras disponibilidades 25 Requerimentos de pesquisa em análise 5 Relatórios Finais de Pesquisa Positivos em análise 6 Requerimentos de prorrogação de Autorização de Pesquisa em análise 4 Requerimentos de lavra em análise 4 Procedimentos sujeitos a disponibilidade Processos administrativos pendentes para Cobalto: 14 Requerimentos de pesquisa em análise 1 Relatórios Finais de Pesquisa Positivos em análise 4 Requerimentos de prorrogação de Autorização de Pesquisa em análise 1 Requerimentos de lavra em análise 8 9 de 12

10 Perfil da mineração brasileira 14. Perfil da mineração brasileira: empresas de mineração, segundo o Instituto Brasileiro da Mineração IBRAM As 100 maiores empresas são responsáveis pelo recolhimento de 88,39% da CFEM. As empresas restantes recolhem 12% da CFEM As 10 maiores empresas respondem por 70% do recolhimento da CFEM Minério de ferro: responde pelo recolhimento de 59% da CFEM. A indústria do Cobre representa 8,4%. A indústria da Bauxita representa 4,52%. A do Ouro, 3,58%. A do Calcário dolomítico, 3,23%. A do Granito, 2,03%. A do Fosfato, 2,0%. A do Manganês, 1,99%. A da Areia, 1,45%. A do Minério de Níquel, 1,07% e a da Água mineral, 2,22% Para as outras empresas de mineração restaram doze por cento da produção mineral brasileira. Como, então, elaborar uma política mineral que atenda a todo o setor? Mineração brasileira: produção e minerais estratégicos. 15. Minerais estratégicos não apenas são aqueles dos quais o Brasil é dependente de importações. Também aqueles em relação aos quais o país é player global merecem tratamento como minerais estratégicos O Brasil é global player 5 no aproveitamento e no comércio de Nióbio (1º), Minério de Ferro (3º), Vermiculita (3º), Grafita (3º), Bauxita (3º) e Caulim (5º) É exportador de Estanho, Níquel, Magnesita Manganês, Cromo, Ouro e rochas ornamentais É autossuficiente em Calcário, Diamante industrial, Tungstênio e Talco É importador-produtor de Cobre, Enxofre, Fosfato, Diatomito e Zinco. 4 Fonte: Revista Brasil Mineral. As 100 maiores empresas do setor mineral. 5 Fonte: Instituto Brasileiro de Mineração IBRAM de 12

11 15.5. Possui dependência externa de Carvão Metalúrgico, Potássio e Terras Raras A Em 2017, o saldo da balança comercial mineral brasileira foi de US$ 21,624 bilhões (US$ 29,128 de exportações US$ bilhões de importações), o que contribuiu significativamente (43%) para o superavit geral da balança comercial brasileira de US$ 67 bilhões. Comércio exterior do Brasil 16. O Brasil caiu, em 2018, da 26ª posição para a 27ª entre os maiores exportadores do mundo, segundo relatório anual divulgado nesta terçafeira (2) pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil participa com menos de 2% do comércio internacional O Brasil foi superado pelo Vietnã no ranking deste ano, continuando atrás de economias como a da Malásia, da Polônia e da Tailândia. Sugestões para a política mineral brasileira 17. Dentro do tema do Seminário Política Mineral, Interesse Nacional e Segurança Jurídica, apresento algumas sugestões para a política mineral: Curto prazo: 360 dias Força-tarefa para diminuir o passivo da ANM, começando por Minas Gerais Revisar o ordenamento jurídico, o que pode ser feito por decretos e Resoluções da ANM. Penso que grandes gargalos podem ser resolvidos por decretos, portarias do MME e resoluções da ANM sem precisar passar pelo Congresso Nacional Digitalização dos processos administrativos da ANM com acesso e protocolo eletrônicos, como já existe no Judiciário Política para minerais estratégicos: Definir os minerais estratégicos como Projetos Prioritários do Governo: outorga e licenciamento ambiental prioritários Médio prazo: Criar política mineral para o país. 11 de 12

12 Lembrar do custo-brasil antes de criar novos custos para a mineração Levar em consideração o perfil da mineração Brasileira Alterar o Código de Mineração Longo prazo Pacto institucional suprapartidário de aperfeiçoamento e de perenidade da política mineral Pacto Institucional privado: pacto a partir da autorregulamentação, como já ocorre no International Mining and Metals Council ICMM. As boas empresas não têm interesse que as más fiquem no mercado, e podem ser as primeiras a organizar o setor. 18. O setor mineral precisa se reinventar (ou se inventar?) e se reapresentar para a sociedade. Deve cumprir os regulamentos e ser responsável por seu destino Se o setor mineral deseja fazer algo, deve fazer diferente do que foi feito até hoje. Precisa ganhar ou recuperar a credibilidade. 19. A primeira orientação é para o minerador, obrigado ao cumprimento das leis, responsável pela qualidade e segurança do seu empreendimento. Ser senhor do seu destino independentemente de cobranças do Poder Público. 20. Os Poderes Públicos não precisam fazer nada além do que já está previsto pelo ordenamento jurídico: cumprir as leis, atentar para o Sobreprincípio da Segurança Jurídica e para o Princípio da Eficiência Administrativa. 21. A palavra final serve tanto para o setor privado quanto para o setor público: cumprir as leis; dar o exemplo. 12 de 12