DO PROFESSOR AO e-professor: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE NO ENSINO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

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1 DO PROFESSOR AO e-professor: RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE NO ENSINO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO Resumo SOUSA, Carlinho Viana de 1 - UNEMAT Grupo de Trabalho: Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento O presente relato trata da experiência docente vivida por um professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) nas disciplinas de Introdução à Informática, do 1 semestre do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas; e Sistemas de Informação e Comunicação no Setor Público, do 4º semestre do curso de Bacharelado em Administração Pública. Ambas as disciplinas foram ofertadas pela UNEMAT em parceria com o programa do governo federal Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). A UAB é responsável pela expansão de cursos e programas de educação superior na modalidade a distância no Brasil. Embora o professor, objeto dessa experiência, atuasse há seis anos em um curso de computação da UNEMAT, era iniciante na modalidade de ensino a distância, por isso sentiu muita dificuldade no início das atividades, teve que repensar a sua metodologia de ensino, adaptar-se ao novo, quebrar as barreiras de separação física entre aluno e professor, enfim, teve que repensar o seu fazer pedagógico. A experiência vivida pelo referido professor apontou algumas dificuldades e facilidades por ele encontradas: dificuldades, principalmente no que se refere ao espaço e tempo no ensino a distância, espaço aqui entendido como a separação física entre professor e aluno, e tempo, entendido como a comunicação assíncrona; e, facilidades como, gravar aulas e atender os alunos de qualquer local com um computador conectado à Internet com recursos mínimos de som e imagem. Com efeito, o tempo/espaço pode tanto atrapalhar quanto facilitar a vida do professor no ensino à distância. Ao final da experiência, apesar de algumas dificuldades, o professor achou positivo atuar no ensino a distância, pois entende que essa é uma evolução natural da educação na sociedade contemporânea. Palavras-chave: EAD. Tecnologias da informação e comunicação. Prática Pedagógica. Introdução 1 Aluno do Mestrado em Educação da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). profcarlinho@unemat.br.

2 5280 O mundo contemporâneo, ora chamado de sociedade do conhecimento, sociedade pósindustrial, sociedade pós-mercantil ou modernidade tardia vem modificando a educação devido ao avanço das novas tecnologias da informação inseridas no ambiente escolar, a ponto de transformá-lo. Libâneo (2011, p. 17) diz que: Essas transformações intervêm nas várias esferas da vida social, provocando mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais, afetando, também, as escolas e o exercício profissional da docência. Nesse cenário, a Educação a Distância (EAD) ganha força, pois ela é totalmente dependente das tecnologias, faz uso das mídias e multimídias para promover o ensino, caracteriza-se por uma educação mercadológica pautada nos princípios da racionalidade, divisão do trabalho e produção em massa. Cropley e Kahl (1983) caracterizam a EAD como [...] uma espécie de educação baseada em procedimentos que permitem o estabelecimento de processos de ensino e aprendizagem mesmo onde não existe contato face a face entre professores e aprendentes ela permite um alto grau de aprendizagem individualizada (apud Belloni, 2003, p. 26). Diante do exposto, o mundo atual requer um professor com competências diversas, inovador, multidisciplinar, multiqualificado, dinâmico, capaz de aprender a aprender, que domina as tecnologias da informação e comunicação, enfim um novo professor para um novo tempo. Nesse sentido, o relato aqui proposto, apresenta a experiência de um docente vindo do ensino presencial para atuar no ensino a distância. O trabalho está divido em três sessões. Na primeira sessão é feita uma contextualização sobre a origem do ensino a distância na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e a parceria realizada com o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Na segunda sessão é relatada a experiência docente em de um professor na modalidade à distância nas disciplinas Introdução à Informática do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e Sistemas de Informação e Comunicação no Setor Público do curso de Bacharelado em Administração Pública. Na terceira sessão são apresentadas algumas reflexões acerca do professor que atua na modalidade à distância. Contextualização do Ensino à Distância da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) Histórico

3 5281 A Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) iniciou atividades de Educação a Distância (EAD) no ano de 1999 por meio de dois núcleos em regiões que não tinham acesso aos cursos presenciais e uma enorme demanda de docentes atuando na educação básica sem formação adequada. Para atender a solicitação dos municípios e à LDBEN nº 9.394/96, a qual estabelece em seu Art. 62, 2º que: A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância (BRASIL, 2006, p. 18), a UNEMAT criou os núcleos de Jauru e Nova Xavantina, propiciando até o ano de 2010 a formação de aproximadamente três mil professores para atuarem na Educação Básica e Infantil. A EAD na UNEMAT começa a ser pensada e organizada no ano de 2002 com aprovação do regimento da Divisão de Ensino a Distância (DEAD) pela Resolução nº. 036/2002 CONEPE, de 23 de maio de A DEAD ficou subordinada à Pró-Reitoria de Ensino e Extensão da UNEMAT e tinha como responsabilidade promover o desenvolvimento de projetos, cursos, programas e disciplinas nas áreas educacional, científica, tecnológica, artística e cultural utilizando recursos materiais e tecnológicos na modalidade de educação a distância (UNEMAT, 2002). No ano de 2004 a DEAD passa a ser chamada de Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD) sendo vinculada à Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROEG) da UNEMAT, por meio da Resolução nº. 336/2004-CONEPE, de 14 de dezembro de Os objetivos da CEAD pautam-se em quatro pilares: Institucional, Ensino, Pesquisa e Serviços à Comunidade. Atendendo aos quatro pilares a CEAD teria, entre outras responsabilidades, a função de: formar uma equipe de trabalho para a reflexão sobre a prática pedagógica em Educação a Distância (EAD); garantir a formação de docentes em serviço e de forma continuada; facilitar o intercâmbio de práticas pedagógicas diferenciadas entre cursos regulares, modulares, parceladas e a distância da UNEMAT; e prover condições para o desenvolvimento de estudo e pesquisa em EAD (UNEMAT, 2004). Parceria entre Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) foi criada em 2005 e regulamentada em 2006 pelo Ministério da Educação, por meio da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino (ANDIFES) e Empresas Estatais. O Decreto 5.800/2006, de

4 de junho de 2006, dispõe sobre a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil e estabelece no seu Art. 1º que Fica instituído o Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB, voltado para o desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no País (BRASIL, 2006, p. 1). No ano de 2008 a UNEMAT passou a integrar o Sistema UAB por meio de convênio firmado com a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os cursos do convênio firmado entre UNEMAT/UAB que tiveram início em 2010 foram: Bacharelado em Administração Pública, Licenciatura Plena em Física e Licenciatura em Ciências Biológicas; além das especializações em: Gestão Municipal, Gestão Pública e Gestão em Saúde. Nos cursos de graduação são atendidos mais de 1900 alunos distribuídos em dez polos. O Sistema UAB já é organizado da seguinte maneira: coordenador de curso para cada curso; coordenador de tutoria para cada curso, este está vinculado ao coordenador de curso; tutores presenciais e a distância, estes coordenados pelo coordenador de tutoria; corpo docente para cada curso, estes são vinculados ao coordenador do curso; coordenador de polo para cada unidade, este vinculado ao coordenador do curso; curso(s) em cada polo, sob administração do coordenador de polo; alunos matriculados no(s) cursos em cada polo. Vale ressaltar que os polos são criados com o apoio do município onde os cursos são oferecidos, em geral as prefeituras cedem o espaço físico e toda estrutura do curso é montada com bibliotecas, laboratórios de computação com acesso à Internet, projetores multimídia, sala de professores, sala para coordenador de polo, secretaria, entre outros. Estrutura Física e Tecnológica para a Execução dos Cursos A CEAD é responsável por dar suporte aos cursos oferecidos nos polos, portanto ela é quem administra toda estrutura do Sistema UAB. A CEAD tem sede no município de Cáceres/MT, e possui estrutura física, tecnológica e humana para o oferecimento de cursos à distância. Diante do exposto, a UNEMAT pode oferecer ensino à distância, mesmo que não esteja vinculada ao Sistema UAB, pois possui estrutura própria para este fim. A capacitação de professores, tutores (presenciais e à distância), bem como a gravação de aulas e todo suporte para os cursos oferecidos pela UNEMAT/UAB são realizados na CEAD em Cáceres/MT. Para a gravação das aulas é utilizada a plataforma da Rede Nacional

5 5283 de Pesquisa (RNP), por meio do software Adobe Connect no endereço eletrônico disponível em As aulas são postadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), o qual é um [...] termo usado para definir uma plataforma de software multiusuário disponível via web que dá suporte a cursos presenciais e a distância, que integra ferramentas que possibilitam a interação entre os usuários, o compartilhamento de arquivos e gerenciamento de turmas (LEITE; BEHAR; BECKER, 2009, p. 114). O AVA está disponível no endereço eletrônico assim como os materiais das disciplinas de cada professor. O ambiente utilizado é o Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment), criado por Martin Dougiamas. Esse ambiente [...] trabalha com uma perspectiva dinâmica da aprendizagem em que a pedagogia socioconstrutivista e as ações colaborativas ocupam lugar de destaque. Nesse contexto, seu objetivo é permitir que processos de ensino-aprendizagem ocorram por meio não apenas da interatividade, mas, principalmente, pela interação, ou seja, privilegiando a construção/reconstrução do conhecimento, a autoria, a produção de conhecimento em colaboração com os pares e a aprendizagem significativa do aluno (SILVA, 2010, p. 16). Além das aulas, são postados no ambiente virtual todos os materiais que compõem a disciplina de cada professor, como: plano de ensino, livro da disciplina, slides das aulas, conteúdos complementares (artigos, vídeos, links etc.). Enfim, toda programação da disciplina do professor é postada no AVA, conforme Figura 1, a seguir. Figura 1 Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Fonte: Organizado pelos autores.

6 5284 Relato de Experiência Docente no Ensino a Distância da UNEMAT Contextualização Antes de relatar a experiência vivenciada no ensino a distância da UNEMAT/UAB, vale salientar que o professor atua no ensino presencial do curso de Licenciatura em Computação da UNEMAT, desde o ano de No ano de 2012 surgiu a oportunidade de ministrar duas disciplinas, a saber: Introdução à Informática (IF) no primeiro semestre do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e Sistemas de Informação e Comunicação no Setor Público (SIC) no quarto semestre do curso de Bacharelado em Administração Pública, ambas pelo Sistema UAB em parceria com a UNEMAT. A primeira disciplina teve as suas atividades executadas no período de novembro de 2012 a janeiro de 2013, já a segunda disciplina ocorreu no período de 03 de fevereiro a 03 de março de Para cumprir as atividades das disciplinas o professor realizou capacitação pedagógico/tecnológica na CEAD em Cáceres/MT e recebeu orientações diversas quanto a: confecção do plano de ensino; conhecimento do projeto pedagógico de cada curso; gravação das aulas; elaboração de questionários; elaboração de avaliações; ambiência do AVA; contatos com as pessoas envolvidas nas disciplinas e nos cursos; e ambiência com o ensino a distância. Experiência Docente no Ensino a Distância O professor desenvolveu, primeiramente, atividades na disciplina de IF, executada no período de novembro de 2012 a fevereiro de Antes de iniciar a disciplina elaborou o plano de ensino de acordo com a ementa, o plano elaborado era diferente do plano de ensino utilizado no ensino presencial, pois era mais completo com: Identificação, Informações sobre a disciplina (Introdução, Ementa, Objetivos: Geral e Específicos), Roteiro das atividades, Estrutura da disciplina (Informações sobre os conteúdos das unidades, Leituras obrigatórias e Complementares), Provas presenciais. Por meio das informações contidas no plano de ensino, a equipe de Tecnologia da Informação (TI) da CEAD montou a página do professor, conforme demonstra a Figura 1. A partir da confecção do plano ensino, o professor entregou todas as atividades avaliativas da disciplina, as quais foram: dois questionários mistos (com questões de:

7 5285 múltipla-escolha, relacionamento de uma coluna com a outra, verdadeiro ou falso) e um trabalho dissertativo, além das avaliações presenciais (primeira chamada, segunda chamada e exame final). No entanto, antes de conhecer os alunos o professor já elaborou todas as atividades avaliativas. Entendemos que avaliação seja em qualquer modalidade de ensino vai se configurando de acordo com as trocas de experiências entre professores e alunos, no entanto é de fundamental importância conhecer primeiramente os nossos alunos para, posteriormente submetê-los a processos avaliativos. Elaboradas todas as atividades avaliativas ocorreram as gravações das aulas, intituladas de web aulas. Para a disciplina de IF gravou-se quatro web aulas, todas elas em tempo remoto (sem a participação dos alunos). Para a gravação das aulas o professor elaborou slides acerca dos conteúdos das unidades propostas no plano de ensino, seguindo algumas regras estipuladas pela equipe de TI, as quais eram: uso moderado de imagens, evitar textos pequenos e evitar transição de slides. Todo material elaborado tem objetivos relacionados à aprendizagem para a incorporação de recursos digitais e a [...] a utilização da tecnologia pela tecnologia não é suficiente para a contemplação de uma nova concepção educacional. O diferencial está no planejamento pedagógico em que esses recursos digitais estão inseridos (TORREZZAN; BEHAR, 2009, p. 33). As autoras enfatizam ainda que para a elaboração de um material educacional deverá ser levado em consideração três tipos de design, a saber: i) instrucional, tem a ver com o planejamento dos materiais educacionais; ii) educacional, tem a ver com os fatores pedagógicos, propiciando momentos de aprendizagem e iii) de sistema, tem a ver com a configuração ou reconfiguração do sistema que serve de suporte ao material educacional (idem, 2009, grifos nosso). Depois de elaborado os slides, estes foram enviados à equipe de TI para que o arquivo fosse carregado para a sala virtual, disponível no endereço eletrônico: onde ocorreria a gravação da web aula. As gravações das web aulas foram agendadas previamente pela coordenação do curso, o professor poderia gravá-las de sua casa ou de qualquer local que dispusesse de um computador conectado à Internet e com recursos mínimos de som e imagem. Optou-se por gravar todas as aulas na CEAD, pois como professor iniciante nessa modalidade seria preciso maior apoio técnico da equipe de TI. A gravação da primeira aula da disciplina não foi uma experiência das melhores, o professor sentiu-se inseguro, meio perdido, um pouco atrapalhado na exposição dos

8 5286 conteúdos, fazendo de forma muito rápida, travando em alguns momentos. Acostumado ao presencial, sentiu muita falta de ver e conversar com os alunos. A separação física entre professor e alunos foi fator predominante no insucesso da primeira aula que durou aproximadamente 29 minutos. Moore (2002) afirma que a educação a distância não é a separação geográfica entre aluno e professor, mas sim um conceito pedagógico. Conceito este que relata o universo de relações aluno-professor que ocorre quando alunos e tutores estão separados no espaço e/ou no tempo. Após a gravação da primeira web aula o professor sentiu que faltou algo, refletiu bastante sobre a aula, sobre a metodologia usada, sobre como o receptor (aluno) absorveria os conteúdos da gravação. Não hesitou em pedir ao pessoal da TI para gravar a aula novamente, queria ter a oportunidade de corrigir alguns erros, acrescentar outras informações, enfim fazer melhor. O pedido foi atendido e a aula foi gravada novamente durando aproximadamente 49 minutos, vinte a mais do que a primeira gravação. Diante do exposto, concordamos com as palavras de Belloni (2003, p. 79), a qual afirma que: Diretamente relacionada com as inovações tecnológicas, com as novas demandas sociais e com as novas exigências de um aprendente mais autônomo, uma das questões centrais na análise da EaD, e talvez a mais polêmica, refere-se ao papel do professor nesta modalidade de ensino, chamado a desempenhar múltiplas funções, para muitas das quais não se sente, e não foi, preparado. Passada a primeira dificuldade, o professor superava cada vez mais a diferenciação de uma aula presencial para uma aula à distância. As pesquisas para as aulas foram mais intensas, as leituras mais intensas, assistiu várias vídeoaulas para apresentar-se melhor. Tinha sempre a preocupação com o seu interlocutor (o aluno), procurava explicar em detalhes o conteúdo de cada unidade, citava nas web aulas o nome dos alunos que participavam dos fóruns de discussão. Para quebrar a barreira de separação física entre ele e os alunos (já que as aulas foram gravadas remotamente) imaginava, em alguns momentos, estar em uma sala cheia de alunos e, em muitas aulas foi capaz de pedir aos alunos que refletissem sobre algumas partes do conteúdo apresentado. Outra forma que o professor utilizou para resolver a separação física entre ele e os alunos foi a do uso de fóruns de discussão, os quais eram utilizados para discutir os conteúdos relacionados à disciplina e para que os alunos pudessem tirar as suas dúvidas acerca dos conteúdos das avaliações. Uma semana antes da avaliação presencial, ocorreram todos os dias

9 5287 chats para sanar dúvidas dos alunos. Vale salientar que tanto nos fóruns de discussão quanto nos chats a participação dos alunos foi mínima. Em relação às atividades avaliativas foi observado que no primeiro questionário os alunos obtiveram média geral de 82,23 pontos, no segundo questionário a média geral caiu para 75,32 pontos, pois o nível de dificuldade de um conteúdo para outro aumentou. Vale salientar que o aluno teve a oportunidade de responder os questionários em duas tentativas, sendo considerada a de maior pontuação. No trabalho dissertativo os alunos obtiveram média geral de 72,72 pontos. Já na avaliação presencial, a média geral da turma foi 48,17, não atingiram o mínimo de 70 pontos. Vale salientar que as atividades no AVA valiam 50% da nota final e a avaliação presencial os outros 50%. Percebeu-se que nas atividades não-lineares no AVA que os alunos obtiveram sucesso, ao passo que na avaliação presencial de forma linear, eles não obtiveram. Para Demo (2002) [...] o conhecimento e a aprendizagem são atividades que expressam processos não-lineares. Entretanto, o debate em torno da avaliação está repleto de pressupostos lineares (apud BASSANI; BEHAR, 2009, p. 94). O autor afirma ainda em relação à dinâmica e à complexidade dos fenômenos que estão sendo avaliados que: [...] tanto a avaliação numa perspectiva quantitativa quanto qualitativa pode ser considerada apenas uma aproximação possível, e que ela precisa ser realizada de modo a colaborar com a aprendizagem do aluno [...] os resultados devem oferecer diagnósticos mais concretos que permitam intervenções alternativas e pertinentes (idem, p. 94). As atividades da disciplina SIC ocorreram no período de 03 de fevereiro a 03 de março de Em linhas gerais, a organização dos conteúdos da disciplina foi semelhante aos da disciplina de IF, ou seja, o professor montou o plano de ensino, elaborou as atividades avaliativas, procedeu com a gravação das aulas etc. O diferencial da disciplina de SIC foi que não houve trabalho dissertativo e ocorreu a gravação de duas web aulas em tempo real (ao vivo). Em resumo a disciplina contou com dois questionários mistos, quatro web aulas em tempo remoto e duas web aulas em tempo real (ao vivo). A pontuação dos alunos nos questionários foi muito alta, médias gerais de 92,03 pontos no primeiro questionário e 93,9 pontos no segundo questionário. O bom desempenho das atividades se deve ao fato de que os alunos são mais experientes (4º semestre do curso) e já adquiriram certa autonomia para estudar a distância. A aprendizagem autônoma pode ser entendida como:

10 5288 [...] um processo de ensino e aprendizagem centrado no aprendente, cujas experiências são aproveitadas como recurso, e no qual o professor deve assumir-se como recurso do aprendente, considerando como um ser autônomo, gestor de seu processo de aprendizagem, capaz de autodirigir e auto-regular este processo (BELLONI, 2003, p. 40, grifos da autora). As aulas gravadas ao vivo serviram para sanar as dúvidas dos alunos acerca dos conteúdos das quatro aulas gravadas remotamente. Os conteúdos das duas primeiras aulas transformaram-se na primeira web aula de tira dúvidas, ao passo que os conteúdos das duas últimas aulas transformaram-se na segunda web aula de tira dúvidas. As duas aulas ao vivo, apesar de terem sido feitas em tempo real ainda não serviram para amenizar a separação física entre professor e alunos, pois a interatividade entre transmissor (professor) e interlocutores (alunos) foi mínima, pois eles só participaram pelo chat, depois que o professor revisou os conteúdos. O professor sentiu falta de ver os rostos dos alunos, de ouvir suas vozes, de ser interrompido durante a aula, enfim de uma maior interatividade. Para Longhi, Behar e Bercht (2009, p. 204) Educação não existe sem interação. As direções do ensinar e do aprender são fortemente fundamentadas nas relações e ações efetuadas entre professores alunos e meio ambiente. A interatividade [...] entre o professor e o estudante ocorre de modo indireto no espaço (a distância, descontígua) e no tempo (comunicação diferida, não simultânea) o que acrescenta complexidade ao já bastante complexo processo de ensino e aprendizagem [...] (BELLONI, 2003, p. 54, grifos da autora). Em síntese apesar de algumas dificuldades o professor achou positivo atuar no ensino à distância, compreendendo que esse tipo de ensino tem características diferentes, alunos diferentes, meios diferentes e metodologias diferenciadas. No entanto, o objetivo é um só democratizar o acesso ao ensino, permitir que pessoas possam receber o ensino em lugares e tempos os mais remotos possíveis. Do Professor ao e-professor: Algumas Reflexões Na sociedade contemporânea, exige-se de um profissional, seja de qualquer área, múltiplas competências como: dinamismo, inovação, adaptação, entre outras. Essas exigências fazem parte do modelo neoliberal de sociedade cada vez mais consumista e moldada conforme a demanda do capital, da produção industrial de bens e serviços. A EAD configura-se como uma educação industrial pautada na racionalização, divisão do trabalho e produção em massa. Na racionalização, pois os objetivos educacionais são

11 5289 planejados o mais sistematicamente possível. Na divisão do trabalho, pois existem equipes de especialistas (cada uma responsável por uma tarefa específica). Na produção em massa, pois cursos e materiais pedagógicos são produzidos para uma grande quantidade de pessoas. Com a racionalização e segmentação do ensino na EAD, o professor figura central no ensino presencial, passa a ser somente parte do processo na EAD. Ou seja, [...] as funções docentes vão separar-se e fazer parte de um processo de planejamento e execução dividido no tempo e no espaço: as funções de selecionar, organizar e transmitir o conhecimento, exercidas nas aulas magistrais no ensino presencial, correspondem em EaD à preparação e autoria de unidades curriculares (cursos) e de textos que constituem a base dos materiais pedagógicos realizados em diferentes suportes (livro-texto ou manual, programas em áudio, vídeo ou informática) [...] (BELLONI, 2003, p. 80). Para atuar em EAD o professor precisa assumir um novo papel, passar de um professor individual para um professor coletivo, de um professor estático para dinâmico, de uma comunicação síncrona e presencial para uma comunicação síncrona ou assíncrona à distância. Mas, o mais importante para o professor é repensar a sua prática pedagógica, não só no ensino a distância como também no presencial. Hoje se discute muito o repensar da prática do professor a partir da sua sala de aula ou para além dela. Autores como Tardif (2011) que discute os saberes dos professores a partir de sua experiência e Schön (1995) que discute o repensar da prática docente a partir da sala de aula são adeptos da epistemologia da prática profissional ou pragmatismo, que pode ser definido como [...] o estudo do conjunto dos saberes utilizados realmente pelos profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar todas as suas tarefas (TARDIF, 2011, p. 255, grifos do autor). Schön (1995) defende a idéia de um professor reflexivo defensor do conhecimento tácito. Para esse autor, o professor enquanto profissional reflexivo vai ao encontro do aluno, busca compreender a reflexão na ação, tem a capacidade de individualizar e prestar atenção em cada aluno, formula problema suscitado pela situação. Belloni (2011) ao mostrar as várias funções que um professor em EAD pode assumir, fala também de um professor que reflete a sua prática, um [...] professor pesquisador: pesquisa e se atualiza em sua disciplina específica, em teorias e metodologias de ensino/aprendizagem, reflete sobre sua prática pedagógica e orienta e participa da pesquisa de seus alunos (p. 83, grifo nosso). A transição de um professor do ensino presencial para o ensino à distância propõe algumas reflexões/ações a serem executadas, entre elas podemos destacar: adaptar-se ao novo; superar a separação física professor/aluno; dominar as tecnologias de informação e

12 5290 comunicação; passar do individual para o coletivo (aprendizagem centrada nos alunos); refletir constantemente as aulas; motivar constantemente os alunos; repensar práticas pedagógicas; inovar sempre. Essas reflexões também podem e devem servir ao ensino presencial, no entanto, o ensino a distância tem características e alunos diferentes do ensino presencial. Considerações finais A sociedade contemporânea, ou simplesmente neoliberal, impõe mudanças na sociedade, na cultura, na política, na economia e na educação. O avanço das tecnologias da informação e comunicação traz à tona a necessidade de um novo profissional dotado de competências diversas como: inovação, adaptação, polivalência, flexibilidade etc. Essa exigência da sociedade atual começa a criar novos modelos de educação, uma educação que possa atender às exigências do mercado, de maneira cada vez mais prática. Nesse cenário, a EAD se fortalece cada vez mais, pois o ensino a distância serve aos propósitos do neoliberalismo, e é um tipo de ensino pautado na racionalização, divisão do trabalho e produção em massa, ao fazer o uso constante das novas tecnologias da informação e comunicação para promover o ensino, dando uma nova roupagem à educação. Diante do exposto, percebe-se que o professor para atuar nesse cenário também precisa evoluir, ser inovador, dominar as tecnologias, ser um profissional multidisciplinar etc. Concordamos com a evolução do ensino e com novas formas de ensinar e aprender, no entanto, há que se ter cuidado, o uso da tecnologia pela tecnologia se torna um praticismo exacerbado. Devemos pensar em educação, para depois pensar nos meios para que ela possa chegar ao indivíduo, pois o objetivo principal da educação deve ser sempre o de despertar no sujeito o senso crítico e torná-lo emancipado para que ele possa transformar a si mesmo e a sociedade onde vive. REFERÊNCIAS BASSANI, Patrícia Scherer; BEHAR, Patrícia Alejandra. Avaliação da aprendizagem em ambientes virtuais. In: BEHAR, Patrícia Alejandra (Org.). Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, p BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 3. ed. Campinas-SP: Autores Associados, 2003.

13 5291 BRASIL. Decreto nº 5.800, de 8 de junho de Dispõe sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil UAB. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 jun Disponível em: < Acesso em: 20 fev Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez Disponível em: < Acesso em: 19 fev LEITE, Sílvia Meirelles; BEHAR, Patricia Alejandra; BECKER, Maria Luiza. A construção de ambientes virtuais de aprendizagem através de projetos interdisciplinares. In: BEHAR, Patrícia Alejandra (Org.). Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, p LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente. 13. ed. São Paulo: Cortez, LONGHI, Magalí Teresinha; BEHAR, Patrícia Alejandra; BERCHT, Magda. A busca pela dimensão afetiva em ambientes virtuais de aprendizagem. In: BEHAR, Patrícia Alejandra (Org.). Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, p MOORE, Michael G. Teoria da distância transacional. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, São Paulo, p. 1-14, ago Disponível em: < ional_michael_moore.pdf>. Acesso em: 27 fev SCHÖN, Donald Alan. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. et al. Os Professores e a sua formação. 2. ed. Lisboa: Dom Quixote, SILVA, Robson Santos da. Moodle para autores e tutores. 1. ed. São Paulo: Novatec, TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 12. ed. Petrópolis: Vozes, TORREZZAN, Cristina A. W.; BEHAR, Patrícia Alejandra. Parâmetros para a construção de materiais educacionais digitais do ponto de vista do design pedagógico. In: BEHAR, Patrícia Alejandra (Org.). Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, p UNEMAT. Resolução n. 036/ CONEPE, de 23 de maio de Aprova o Regimento da Divisão de Ensino a Distância DEAD. Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres, MT, 23 mai Disponível em: < Acesso em: 19 fev

14 . Resolução n. 336/ CONEPE, de 14 de dezembro de Aprova o Regimento da Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância - CEAD. Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres, MT, 14 dez Disponível em: < Acesso em: 19 fev