REVISÃO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ
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- Luiz Guilherme Gonçalves Brás
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1 REVISÃO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ Por Mario Kendy Miyasaki Introdução Após julgamento do RE , que tratava da aplicação literal do artigo 29, parágrafo 5º, no cálculo das aposentadorias por invalidez, ficou praticamente sedimentado a tese do INSS, que o tempo em que o segurado tenha recebido auxílio-doença, não poderá ser incorporado como sendo tempo de contribuição. Na ocasião, os ministros trouxeram um termo que depois passou a ser utilizado por toda a comunidade jurídica, era o chamado Tempo Ficto. Com isso, a grande maioria das ações, que apenas tratava sobre tal aplicação, foi julgada improcedente, e o tema da repercussão geral desceu como avalanche tratorando milhares de ações, e fulminando o direito fundamental de milhares de aposentados. Naquele momento, alguns poucos heróis da resistência, permaneceram recorrendo destas decisões, e algumas destas, ainda estão pendentes de julgamento, correndo o risco atual, de parar novamente, nas mãos do mesmo STF. Neste mesmo período da decisão do STF, escrevi uma série de textos em meu blog, sobre o assunto, sendo que o mais completo deles, se transformou em um artigo escrito em co-autoria com a minha amiga, Elisangela Cristina, e foi publicado na revista número 08 do IBDP, na página 28. Á época, de acordo com a minha força de hábito, escrevemos com base em forte fundamento jurídico; contudo, sem qualquer decisão favorável, afinal, o STF tinha decidido a pouco sobre a inconstitucionalidade do tema. De lá para cá, em todas as oportunidades que tivemos, divulgamos o assunto, em blog, site, cursos, congressos, etc... E eis que, mais de 2 anos depois, a tese começa a vingar. Todavia, quero esclarecer algo de extrema
2 importância, conforme veremos a seguir, pois não se trata de uma aventura jurídica, ou mesmo, de uma destas teses conhecidas como Voo de galinha, este assunto é sério e precisa ser lidado e interpretado com tal seriedade, sob pena de continuarmos promovendo o sentimento de manada. Salário-de-Contribuição e Salário-de-Benefício em Aposentadoria por Invalidez. Embora o regime de Previdência no Brasil esteja calcado na repartição simples, onde no ato da contribuição não seja possível individualizar qual contribuinte a recolheu, o salário-de-benefício está intimamente ligado às contribuições vertidas pelo segurado. O salário-de-contribuição trata-se da base de cálculo para a incidência da alíquota contributiva do segurado. No conceito conferido por Hermes Arraes Alencar: Exprime a feição tributária, a base de cálculo da contribuição previdenciária exigível do contribuinte ou do responsável tributário. Assim, não é correto afirmar que não existe ligação entre as relações jurídicas de custeio e às prestações previdenciárias, pois o salário-decontribuição é a medida de ponderação do aspecto quantitativo da prestação pecuniária dos beneficio previdenciário(2). A definição deste instituto do direito previdenciário é de suma importância na discussão em tela, isto porque é pelo salário-de-contribuição que se determina o quantum que será recebido pelo segurado. O salário-de-contribuição é disciplinado pelo artigo 28 da lei 8.212/91, de acordo com a remuneração recebida por cada segurado, bem como os limites mínimos e máximos que tais contribuições devem ser efetuadas. Ao definir os critérios para o custeio, as leis 8.212/91 e 8.213/91 vêm cumprir a imposição dos artigos 195 e 201, da Constituição Federal. Consoante lição de Fabio Zambite Ibrahim: O Salário-de-contribuição, instituto exclusivo do direito previdenciário, é a expressão que quantifica a base de cálculo da contribuição previdenciária dos segurados da previdência social, configurando a tradução numérica do fato gerador
3 Nota-se, pelo julgamento do RE , a preocupação (sempre freqüente no judiciário e muitas vezes descabida) de preservar o equilíbrio financeiro e atuarial da previdência. Quando mencionamos que o salário-de-benefício da prestação pretendida está atrelado ao salários-de-contribuição, não é diferente com a aposentadoria por invalidez. O segurado que se aposenta por invalidez, tem aporte contributivo para gerar um cálculo específico para este benefício. Para a verificação do salário-de-benefício, utilizar qualquer outro método (diferente da média dos salários-de-contribuição) estaria em desacordo com a norma. O benefício de aposentadoria é concedido pela reunião de dois requisitos genéricos e um específico, quais sejam a qualidade de segurado, carência e incapacidade permanente para o trabalho. Diferente do Auxílio- Doença, cujo requisito específico é a incapacidade temporária para o trabalho. Desta feita, o fato gerador (mencionado pelo professor Zambite) é o momento em que indivíduo reúne todas as condições previstas no tipo legal. A lei incide quando ocorrem os fatos nela prescritos, a finalidade fundamental da Lei Previdenciária é a proteção do risco social. Enfim, quando o segurando preenche todos os requisitos para Aposentadoria por invalidez, previstos no artigo 42 da lei 8.213/91, faz jus a prestação que deve ser calculada na forma do artigo 29, II do mesmo diploma legal, ou seja, utilizando os salários-de-contribuição constantes em seu período básico de cálculo,devidamente atualizados, conforme preceitua art º da Constituição a Federal. A Aposentadoria por Invalidez tem como data de início o dia seguinte ao da cessação do Auxílio-Doença (mas não possui nenhuma vinculação com este benefício) e deve ser paga, enquanto o segurado permanecer nesta condição. Apenas em dois tipos de benefícios previdenciários não se utilizam o salário-de-contribuição como base para aferição dos valores de benefício: o salário família e o salário de maternidade. Todos os demais benefícios da previdência social utilizam, como base, as contribuições constantes dentro de determinado período. Neste momento, cabe uma importante observação: a aposentadoria por invalidez tem um critério de cálculo tão importante, que suas regras impactam
4 em outros dois benefícios, a pensão por morte e o auxílio reclusão, conforme expresso nos artigos 75 e 80 da Lei 8.213/91. Todos os critérios para aposentadoria por invalidez estão estabelecidos pela Constituição Federal e pelas leis ordinárias, diante disto, não há razão para aplicar nenhum outro ato normativo (Decreto) hierarquicamente inferior. Evolução do Período básico de cálculo e Salário-de-Benefício nos casos de Aposentadoria por Invalidez. O legislador fixou um período, dentro do qual, os salários-decontribuição do segurado serão considerados para a aferição do salário-debenefício, denominado Período Básico de Cálculo PBC. O salário-de-benefício, por sua vez, é a média dos salários-decontribuição. A Lei de , trouxe mudanças na sistemática de cálculo dos benefícios previdenciários, determinando que os benefícios concedidos, após a data da sua publicação, fossem calculados através da média aritmética simples, dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a 80% de todo o período contributivo. A fórmula de cálculo dos benefícios por incapacidade são disciplinadas pelo art. 29, Inciso II da Lei 8.213/91, que determina que deve ser desconsiderado 20% dos menores salários de contribuição do período básico de cálculo. O período básico de cálculo para os filiados antes do advento desta lei é conferido pelo artigo 188-A, do Decreto 3048/99, que determina: Art.188-A Para o segurado filiado à previdência social até 28 de no novembro de 1999, inclusive o oriundo de regime próprio de previdência social, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput e 14 do art. 32 4o Nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez, o salário-de-benefício consiste na média aritmética simples dos maiores contribuição correspondentes a oitenta por cento do
5 período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994 até a data do início do benefício. (Destaquei) Note-se que ao disciplinar sobre os benefícios por incapacidade, o decreto determina que esta fórmula de cálculo se aplica tanto para o auxíliodoença, quanto para a aposentadoria por invalidez. No entanto, quando a Aposentadoria por Invalidez é precedida de Auxílio-Doença, a Autarquia aplica o artigo 36, 7º do Decreto 3048/99 que determina que: A renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez concedida por transformação de auxílio-doença será de cem por cento do salário-debenefício que serviu de base para o cálculo da renda mensal inicial do auxílio doença, reajustado pelos mesmos índices de correção dos benefícios em geral. Esta revisão com base na regulamentação do artigo 188-A baseia-se no fato de que Auxílio-Doença e Aposentadoria por Invalidez cobrem riscos sociais distintos, possuem DIBs diferentes, assim sendo, cada qual deve ter seu cálculo realizado. O cálculo da Aposentadoria por Invalidez deve utilizar-se das contribuições constantes no período básico de cálculo, sendo o termo final a data do afastamento do trabalho, ou seja, até o mês imediatamente anterior a data em que segurado recebeu o auxílio-doença. Contudo, as decisões trazidas em sede de recurso no Juizados Especial Federal, demonstrou um respeito à hierarquia das normas, mantendo aplicação simples do artigo 29, inciso II no cálculo das aposentadorias por invalidez, por entender ser suficientemente esclarecedor, dispensando a própria aplicação do decreto 3048/99, em seu artigo 188-A, vejamos: PROCESSO Nr: AUTUADO EM 20/03/2013 ASSUNTO: RENDA MENSAL INICIAL - REVISÃO DE BENEFÍCIOS CLASSE: 16 - RECURSO INOMINADO
6 [# I - RELATÓRIO A parte autora requereu a revisão da renda mensal inicial com o recálculo do salário-de-benefício na forma estabelecida pelo artigo 29, inciso II, da Lei n 8.213/91 (80% dos maiores salários-de-contribuição). O juízo singular julgou o pedido improcedente. Desta forma, a parte autora interpôs o presente recurso inominado, sustentando, em síntese, o direito à revisão do benefício, na forma assinalada na petição inicial. É o relatório. II VOTO Inicialmente, concedo os benefícios da justiça gratuita à parte autora. Assiste razão à Recorrente. Quanto ao pedido de revisão do cálculo do salário-de-benefício, fixa-se a controvérsia colocada em Juízo na correta aplicação do inciso II, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 9.876/99, no cálculo do salário-de-benefício da aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença da parte autora, benefício este concedido em data posterior ao advento do referido dispositivo legal. Dispõe o art. 29, inciso II, da Lei 8.213/91 que [...] o salário-debenefício consiste [...] para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo. De outra parte, estipulava o 20 do art. 32 do Decreto 3.048/99 que [...] nos casos de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez, contando o segurado com menos de cento e quarenta e quatro contribuições mensais no período contributivo, o salário-de-benefício corresponderá à soma dos salários-decontribuição dividido pelo número de contribuições apurado. O texto normativo da Lei nº 9.876/99 deixa evidente que devem ser considerados apenas os 80% maiores salários-decontribuição, desconsiderando-se os demais. Entretanto, em virtude do que dispunha o Decreto nº 3.048/99, a Autarquia utilizou todos os salários-de-contribuição no cálculo de concessão do benefício da parte autora, deixando de desconsiderar os 20% menores. Resta claro que o decreto regulador afrontava o dispositivo legal, uma vez que restringiu o alcance do artigo 29, inciso II, da Lei nº 8.213/1991,
7 ultrapassando a finalidade de tão-somente dar fiel execução à lei. Correta, portanto, a interpretação da parte autora, pela qual, em qualquer situação, após corrigidos os salários-decontribuição de todos os meses, seleciona-se os oitenta por cento maiores do período de julho de 1994 até a data da concessão. A razão aproxima-se da parte autora, na medida em que o procedimento adotado pelo INSS na via administrativa, amparado no 20 do art. 32 do Decreto nº 3.048/99, extrapolou flagrantemente o dispositivo legal regulamentado (inciso II, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 9.876/99), sendo, portanto, ilegal. Outrossim, o artigo 1º do Decreto nº 6.939/2009 alterou o art.188-a, 4º do Decreto 3.048/99, bem como revogou o seu art. 32, 20º, modificando novamente a forma de cálculo de concessão dos benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. Ademais, a redação do artigo 32, 22, do Decreto nº 3.048/99 estabelece: Art. 32 (omissis) [...] 22. Considera-se período contributivo: I - para o empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso: o conjunto de meses em que houve ou deveria ter havido contribuição em razão do exercício de atividade remunerada sujeita a filiação obrigatória ao regime de que trata este Regulamento; ou II - para os demais segurados, inclusive o facultativo: o conjunto de meses de efetiva contribuição ao regime de que trata este Regulamento." Após as alterações legislativas mencionadas, o cálculo de concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez passou a ser efetuado nos moldes pretendidos pela parte autora, ou seja, descartam-se os 20% menores salários-de-contribuição. (Destaquei) Conclui-se, pois, que o procedimento adotado pelo INSS na via administrativa prejudicou a parte autora (redução da R.M.I.) em virtude da não aplicação correta do disposto no inciso II, do art. 29, da Lei nº 8.213/91, com redação dada pela Lei nº 9.876/99.
8 Ante todo o exposto, dou provimento ao recurso da parte autora para condenar o réu a revisar o cálculo da renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez da parte autora, nos termos do disposto no artigo 29, II, da Lei n.º 8.213/1991, observada a prescrição qüinqüenal quanto ao valor dos atrasados, contada retroativamente a partir de 15/04/2010, data da edição do Memorando Circular n.º 21/INSS/DIRBEN. (Destaquei) Sem condenação em honorários, face o disposto no artigo 55, da Lei n.º 9.099/1995. É o voto. <# III - EMENTA PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DA RENDA MENSAL INICIAL. ARTIGO 29, II, DA LEI N.º 8.213/1991. RECURSO DA PARTE AUTORA. PROPOSITURA APÓS A EDIÇÃO DO MEMORANDO CONJUNTO Nº 21/DIRBEN/PFEINSS.CABIMENTO DA REVISÃO PELO ART. 29, II. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO DA PARTE AUTORA PROVIDO. IV - ACÓRDÃO Visto, relatado e discutido este processo, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma Recursal do Juizado Especial Federal da 3ª Região - Seção Judiciária do Estado de São Paulo, por unanimidade, dar provimento ao recurso do autor, nos termos do voto do Juiz Federal Relator. Participaram do julgamento o(a)s Meritíssimo(a)s Juíze(a)s Federais Marcelo Souza Aguiar, Uilton Reina Cecato e Alexandre Cassettari. São Paulo, 22 de outubro de 2013 (data do julgamento). #>#]#} JUIZ FEDERAL: MARCELO SOUZA AGUIAR Verificou-se exatamente no acórdão anterior, que a turma afastou a aplicação da transformação e passou a exigir a realização de um novo cálculo, conforme critério previsto em Lei; seguimos, no entanto, para uma outra decisão um tanto quanto mais flexibilizada pela turma, afinal de contas, deste caso a seguir, a turma não só afastou o decreto, como reafirmou a aplicação do próprio art. 29, 5º. O relator considerou o princípio da isonomia de tratamentos, e determinou à ré, a consideração do cômputo das contribuições no cálculo da RMI do autor, é o que segue:
9 RECURSO CÍVEL Nº /PR RELATOR:MARCOS JOSEGREI DA SILVA Voto Trata-se de recurso interposto pela parte autora contra sentença que julgou improcedente o pedido inicial, por entender que não há que se falar em aplicação direta do artigo 29, II, da Lei n /91 da aposentadoria por invalidez que havia sido concedida como transformação do auxílio-doença. Defende a parte autora que a aposentadoria por invalidez em questão foi concedida em data posterior à 29/11/1999, como mera prorrogação do auxílio-doença, de modo que deve prevalecer a literalidade da lei, especialmente, o art. 44 da Lei nº 8.213/91, que estabelece o coeficiente de 100% sobre o salário-de-benefício calculado na forma do art. 29, II, impondo, com isso, a formação de novo PBC com a inclusão de apenas 80% dos maiores salários-de-contribuição do período contributivo. Com contrarrazões, vieram os autos a esta Turma. Fundamentação As regras relativas à forma de cálculo da RMI estão dispostas no art. 29, II, da Lei 8.213/91 (redação dada pela Lei 9.876/1999): 'Art. 29. O salário-de-benefício consiste: (...) II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e, e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo.' O dispositivo em comento deixa evidente que o período de gozo de qualquer benefício por incapacidade, inclusive auxíliodoença, deve ser contado como efetivo tempo de contribuição e a renda mensal auferida pelo segurado deve ser equiparada a salário-de-contribuição, sendo alcançado por todos os reajustes a este concedidos. Não merece prevalecer a argumentação no sentido de que o art. 29, 5º não se aplica nos casos de 'conversão' de auxíliodoença em aposentadoria por invalidez, por aplicação do art. 36, 7º, do Decreto nº 3.048/99. Primeiro, porque o dispositivo regulamentar não encontra correspondente na Lei nº 8.213/91 que lhe empreste fundamento de validade, ressaltando que a Constituição Federal veda a existência de decretos autônomos. Segundo, porque a garantia do art. 29, 5º, da Lei nº 8.213/91 é repetida no art. 32, 6º, do Decreto nº 3.048/99, sem qualquer ressalva para o caso de 'transformação' de auxíliodoença em aposentadoria por invalidez. Aliás, esta ressalva sequer poderia existir no decreto regulamentar, uma vez que não existe no art. 29, 5º, da Lei nº 8.213/91.
10 Terceiro, porque a interpretação do INSS para o art. 29, 5º, no sentido de que a renda mensal do auxílio-doença não é tratada como salário-de-contribuição quando há 'conversão' deste benefício em aposentadoria por invalidez é inadequada, já que o dispositivo em comento não induz a esta exceção. Ao contrário institui a regra a ser aplicada em todos os casos, sem qualquer distinção expressa. Ora, se o legislador ordinário não excepcionou da aplicação do art. 29, 5º os casos de conversão de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez, não é dado ao intérprete fazê-lo, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade. Aliás, dá a entender que o art. 29, 5º somente não é observado na 'conversão' de auxílio-doença em aposentadoria por invalidez, sendo perfeitamente viável a sua aplicação quando o auxílio-doença é seguido de qualquer outro benefício continuado, tal como aposentadoria por idade ou tempo de contribuição. Isto é um contra-senso e implica em tratamento diferenciado sem respaldo legal. O 5º, do art. 29 não faz qualquer distinção quanto ao momento de gozo do benefício por incapacidade que integrará o período básico de cálculo e que terá a renda mensal equiparada ao salário-de-contribuição. Portanto, pouco importa que o benefício por incapacidade tenha sido intercalado com períodos de trabalho efetivo ou que tenha sido imediatamente anterior à concessão de outro benefício de prestação continuada, inclusive quando se trata de aposentadoria por invalidez. No caso, também não pode ser desconsiderado o fato de que a concessão de aposentadoria por invalidez não é decorrente diretamente do benefício de auxílio-doença, com o que não pode ser considerada como verdadeira transformação. Isto porque, não obstante ambos sejam benefícios por incapacidade, os requisitos para concessão são diversos. Logo, o cálculo da renda mensal inicial de um não pode servir para o outro.(grifei) O preenchimento dos requisitos para a aposentadoria por invalidez não ocorre no momento da concessão do auxíliodoença, pois enquanto este exige incapacidade temporária, aquela pressupõe a incapacidade permanente. A incapacidade permanente do segurado pode não se verificar jamais e, quando se constata, isso ocorre, via de regra, muitos meses depois do início do auxílio-doença. Portanto, vê-se que o momento de preenchimento dos requisitos necessários para a concessão dos benefícios é sempre diverso, tanto que possuem DIB diferentes. (Grifei) Com isso, chega-se à conclusão de que a aposentaria por invalidez não é decorrente de verdadeira 'transformação' do benefício de auxílio-doença, ainda que possa ser precedido por este. Assim, não pode ter a renda mensal inicial do auxíliodoença emprestada e, via de conseqüência, o salário-debenefício não pode ser simplesmente transportado de um benefício para outro, como pretende o réu. (Destaquei)
11 No momento que a autarquia previdenciária conclui que a incapacidade da parte autora tornou-se definitiva deve conceder-lhe a aposentadoria por invalidez, calculando o salário-de-benefício na forma prevista no art. 29, aplicando o 5º sem fazer qualquer ressalva quanto ao momento de gozo do auxílio-doença. Em outras palavras, todos os salários-debenefício de auxílios-doença gozados pelo segurado, imediatamente anterior à aposentadoria por invalidez ou não, devem ser considerados como salário-de-contribuição e integrar o cálculo da nova RMI, se estiverem dentro do período básico de cálculo. Diante de tudo o que foi exposto, entendo que o INSS não calculou adequadamente a renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez da parte autora, visto que não aplicou art. 29, 5º, da Lei nº 8.213/91, o que merece ser revisado na forma pretendida. Dessa forma, é cabível a revisão do benefício de auxíliodoença, nos termos do artigo 29, II, da Lei 8.213/1991, o que traz reflexos no benefício em questão. Contudo, a existência ou não de diferenças vai depender de cálculo. Correção monetária e juros de mora das parcelas vencidas Conforme novo entendimento desta Turma Recursal, tem-se que a revisão do benefício impõe à Administração Previdenciária que pague ao segurado a diferença dos valores referentes as prestações vencidas desde o início do benefício até a efetiva revisão, respeitada a prescrição quinquenal, cujos valores devem ser corrigidos monetariamente pelo IGP-DI desde o seu vencimento até janeiro de 2004 (Lei n 9.711/1998, art. 10) e, a partir de então, pelo índice utilizado para os reajustamentos dos benefícios do Regime Geral de Previdência SociaL (Lei n /2003, art. 31), acrescidos de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação. Ressalto que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança 'é manifestamente incapaz de preservar o valor do crédito de que é titular o cidadão' (ADI n 4.425) e, sendo assim, deixo de aplicar o art. 1 -F da Lei n 9.494/1997, com a redação dada pela Lei n /2009, no caso concreto. Conclusão À luz do exposto, a sentença deve ser reformada com o fim de determinar a revisão do benefício, utilizando-se, para cálculo do salário de benefício, a média aritmética simples dos 80% maiores salários de contribuição, nos termos do art.29, II da LB. Sem condenação em honorários. Considero prequestionados especificamente todos os dispositivos legais e constitucionais invocados na inicial, contestação, razões e contrarrazões de recurso, porquanto a fundamentação ora exarada não viola qualquer dos dispositivos da legislação federal ou a Constituição da República
12 levantados em tais peças processuais. Desde já fica sinalizado que o manejo de embargos para prequestionamento ficarão sujeitos à multa, nos termos da legislação de regência da matéria. Ante o exposto, voto por DAR PROVIMENTO AO RECURSO. Conclusão Após a decisão do Supremo Tribunal Federal, entendemos que para calcular a Aposentadoria por Invalidez é necessário observar as seguintes premissas: a) Para os benefícios concedidos após , o cálculo deve observar o artigo 29, II da lei 8.213/91, seja a Aposentadoria por Invalidez concedida de forma direta ou precedida de Auxílio-Doença. b) No período básico de cálculo da Aposentadoria por Invalidez, não deve ser computado o período de duração do Auxílio-Doença ( o 5º do artigo 29 da lei 8.213), quando não houver atividade laborativa intercalada, visto que não é permitida a utilização de tempo ficto; c) Em observância ao artigo 201, 3º da Constituição Federal, para o cálculo de Aposentadoria por invalidez devem ser utilizadas as contribuições efetivamente recolhidas, no período básico de cálculo devidamente corrigidos, e não o salário-de-benefício do Auxílio-Doença; d) O Auxílio-Doença e a Aposentadoria por invalidez são benefícios distintos, vez que cobrem riscos sociais diferentes. A Aposentadoria por Invalidez é devida após a cessação do Auxílio-Doença, sem cogitar conversão. e) O processo apreciado pelo Supremo Tribunal Federal trata de um benefício concedido em 1995, na vigência da redação original do art. 29 da lei 8.213/91. Assim, esta decisão só deve ser aplicada aos benefícios concedidos antes da Lei 9.876/99.
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