UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A GESTÃO OTIMIZADA DE UM SETOR DE RADIOLOGIA
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- Eduardo Armando Caldeira Marreiro
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1 UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A GESTÃO OTIMIZADA DE UM SETOR DE RADIOLOGIA CARLAINE BATISTA DE CARVALHO (CEFET) carlaine.carvalho@gmail.com Ricardo José Matos de Carvalho (CEFET) rjmatos@terra.com.br Marcus Aurélio Pereira dos Santos (CNEN/CRCN) masantos@cnen.gov.br ANTONIO KONRADO DE SANTANA BARBOSA (UFPE) antonio.ksbarbosa@ufpe.br Este artigo compreende um esforço de integração de três campos da prática e do conhecimento: qualidade, ergonomia e custos-benefícios. O desafio é o de mostrar que, a partir da contribuição destas três abordagens, e orientado pela AET-Análiise Ergonômica do Trabalho, pode-se entender os problemas relacionados com desperdícios, custos, qualidade da imagem radiográfica e proteção radiológica em uma unidade de radiologia. Apresentam-se resultados de testes que avaliam a qualidade do funcionamento dos aparelhos de raios x, sua relação com a qualidade da imagem radiográfica e a saúde e segurança dos operadores, bem como índices de despedícios operacionais e os custos correspondentes. Palavras-chaves: Qualidade, Ergonomia, Custos,Segurança do Trabalho
2 1. Introdução A imagem radiográfica de má qualidade pode gerar dificuldade do diagnóstico médico, desperdício de material, re-trabalho, alargamento do tempo de atendimento ao paciente, diminuição do número de pacientes atendidos, re-incidência de dose de raios-x ao paciente, aumento da exposição ocupacional do trabalhador, fadiga nos trabalhadores, desmotivação, custos adicionais no processo radiológico. Melhorar a qualidade dos exames diagnósticos que envolvem raios-x justifica-se pela redução das doses médicas e ocupacionais e pela melhoria da imagem radiográfica, o que contribui para o adequado diagnóstico. A melhoria da qualidade do serviço de radiodiagnóstico diminui o número de exames que teriam necessidade de repetição; dessa forma os custos do serviço seriam conseqüentemente reduzidos. Uma imagem de boa qualidade é aquela que permite visualizar, com nitidez as estruturas anatômicas do corpo humano requeridas pelo médico. A Portaria nº. 453/98 da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) do Ministério da Saúde (MS) exige que os hospitais que possuem unidades de radiologia elaborem o PGQ - Programa de Garantia da Qualidade. O PGQ é constituído dos testes de constância e inclui o programa de manutenção dos equipamentos de raios-x e máquinas processadoras de imagem (item 3.9, letra b; número ix da referida portaria). Segundo esta Portaria, o PGQ deve compreender: Os testes de constância, com o objetivo de verificar a manutenção das características técnicas e requisitos de desempenho dos equipamentos de raios-x e do sistema de detecção/registro de imagem radiográfica; Identificar falhas de equipamentos e erros humanos que resultem exposições médicas indevidas; Promover medidas preventivas contra falhas tecnológicas e erros humanos; Evitar desconformidade operacional dos equipamentos; Assegurar ações reparadoras através de um programa de manutenção corretiva e preventiva; Estabelecer, implementar e monitorar padrões de imagem; determinar e avaliar a dose a possibilidade de redução; avaliar a calibração e condições operacionais dos instrumentos; avaliar a eficácia do programa de treinamento. Este artigo compreende um esforço de integração de três campos da prática e do conhecimento: qualidade, ergonomia e custos-benefícios. O desafio é o de mostrar que, a partir da contribuição destas três abordagens, pode-se entender os problemas de gestão de uma unidade de radiologia e, assim, orientar um sistema de gestão situado, centrado na melhoria contínua, que integre os aspectos da qualidade, da produtividade e da saúde e segurança do trabalhador. 2.Objetivos Esta pesquisa teve como objetivos principais: Identificar problemas de dimensão física, cognitiva e organizacional da atividade do operador que comprometem a qualidade do serviço de radiodiagnóstico; Identificar os itens de conformidade/não conformidade com a Portaria SVS-MS 453/98 da SVS; Realizar testes de avaliação da qualidade radiográfica previstos pela Portaria SVS- MS 453/98 (colimação, alinhamento de feixe, contato tela-filme, camada semi-redutora, levantamento radiométrico, ponto focal, tensão no tubo, tempo de exposição, linearidade 2
3 de exposição); Analisar os fatores que comprometem a qualidade do serviço de raios-x; Propor ações gerenciais e operacionais e de adequação de conformidade à Portaria SVS- MS 453/98 e de melhoria da qualidade dos serviços de raios-x. Expressar e quantificar os rejeitos e desperdícios do processo radiográfico em termos financeiros; Identificar e analisar os fatores determinantes e intervenientes do processo de trabalho radiográfico que produzem os rejeitos e desperdícios; Elaborar protocolos de controle de rejeitos e desperdícios do processo radiográfico; 3. Quadro Teórico 3.1 Qualidade Serviço de qualidade é aquele que atende de forma confiável, de forma acessível, de forma segura e no tempo certo às necessidades do cliente. Portanto, em outros termos, pode-se dizer que qualidade se refere a mínimos defeitos, baixo custo, segurança do cliente, entrega no prazo certo, no local certo e na quantidade certa (adaptado de CAMPOS, 2008). 3.2 Ergonomia A ergonomia visa essencialmente modificar o processo de trabalho no sentido de adaptar as atividades de trabalho às capacidades, características e limitação das pessoas, através de projetos de correção, remanejamento ou de concepção de sistemas de trabalho que possibilitem o desempenho profissional de forma eficiente, confortável e segura (ABERGO, 1999) 3.3 Radiologia Os raios-x são um tipo de radiação ionizante. As radiações ionizantes, por seu alto poder energético, têm capacidade para ionizar a matéria ao incidir sobre ela. A chamada ionização está relacionada com a capacidade desta forma de energia arrancar elétrons dos átomos constituintes da matéria ao incidir sobre a matéria biológica. Os raios-x constituem a radiação eletromagnética correspondente a uma região do espectro de energias acima das radiações denominadas ultravioleta (não-ionizantes) (FUNDACENTRO, 2002). 3.4 Custos Entende-se por Custos as avaliações específicas de dispêndios, gastos, despesas e tudo mais que tende a endividar o empreendimento (HIRSCHFELD, 1992) 4. Metodologia 4.1 O Método da Análise Ergonômica do Trabalho A Análise Ergonômica do Trabalho - AET é uma metodologia chave para a compreensão dos fatos envolvidos na atividade de trabalho (WISNER, 1994). Segundo Vidal (2003, p. 09) a AET... é o método que assegura a positividade da transformação por suas características e propriedades de foco, ordenação e sistematicidade. Trata-se de um método abrangente e cuidadoso que nos fornece uma visão muito boa do que acontece num processo de produção ou no uso e manuseio de produtos e sistemas. A AET - Análise Ergonômica do Trabalho é constituída das seguintes fases (adaptado de VIDAL, 2003; DOS SANTOS, 1995; WISNER, 1994): 3
4 Análise Global: etapa inicial referente ao levantamento de dados globais do Hospital em estudo. Nesta etapa inicia-se a delimitação do terreno da ação e desenvolve-se o primeiro levantamento sobre a empresa, cuja finalidade é o de indicar situações do Setor de Radiologia do Hospital em que caiba instruir uma demanda ergonômica. Compõe-se de estudos de contingências, população de trabalhadores, funcionamento global da unidade produtiva e fluxo de produção. Análise da Demanda: diz respeito à evidenciação dos reais problemas da Estação que necessitam ser analisados e solucionados. Trata-se de explicitar a existência ou não de propostas ou ofertas de locais específicos para o estudo ergonômico; Análise da Tarefa: esta etapa se refere à explicitação do trabalho que o setor de radiologia prescreveu para os operadores de raios-x realizarem; Análise da Atividade: esta etapa diz respeito às observações diretas e sistemáticas das atividades envolvidas no processo radiológico, às ações conversacionais, de registro fotográfico, de filmagem do trabalho efetivamente realizado pelo operador de raios-x e à aplicação de protocolos de análise. Isto permite estabelecer os determinantes e intervenientes da atividade que podem estar comprometendo os custos envolvidos no processo de trabalho, a qualidade, a produtividade, a saúde, a segurança e o conforto do trabalhador. Nesta fase foram realizados os testes de constância dos equipamentos de raios-x. A AET permite ainda que elaboremos e formalizemos as seguintes etapas e documentos: Diagnóstico Ergonômico: refere-se a um conjunto de afirmações e conclusões acerca da atividade, sua relação com a qualidade da imagem radiográfica e às causas intervenientes e determinantes da atividade que têm relação ou comprometem os custos do serviço, a qualidade, a produtividade, a saúde, a segurança e o conforto dos trabalhadores. Caderno de Encargos e Recomendações: reúne o conjunto de ações que devem ser realizadas para melhorar o processo radiológico com vistas à melhoria da qualidade da imagem radiográfica. Os testes de constância são previstos pela Portaria 453/98 da SVS- MS visando checar as condições de funcionamento dos equipamentos do setor. Projetos: Se relacionam com a elaboração de projetos sócio-técnicos em razão das recomendações ergonômicas. Referem-se aos projetos de modificações técnicas, tecnológicas e organizacionais propostas, com vistas à redução dos custos envolvidos no processo de trabalho, à melhoria da qualidade do produto. Implementação: Etapa em que o pesquisador (intervencionista) ou o ergonomista (consultor) interage com as equipes de trabalho (no caso em questão: técnicos em radiologia, médicos e outros funcionários). Esta etapa permite validar, em situação real, o que foi projetado. O ergonomista tem o papel de acompanhar a implementação do que foi projetado, regulando as variabilidades técnicas, organizacionais e pessoais que podem comprometer a adequação do sistema sócio-técnico ao humano. Os testes de constância realizados e previstos na Portaria 453/98-SVS-MS, entre outros, e seus objetivos estão apresentados na tabela 01 apresentada a seguir: TESTES DE CONSTÂNCIA REALIZADOS E PREVISTOS NA PORTARIA 453/98-SVS E OUTROS OBJETIVO 4
5 1. Colimação e Alinhamento de Feixe (salas 1, 2, 3,5). Avaliar a coincidência entre o campo luminoso e o de radiação e o alinhamento do feixe de radiação. 2. Contato Tela-Filme Verificar se existe um bom contato entre a tela intensificadora (écran) e o filme, para se aferir a qualidade dos chassis. 3. Camada Semi-Redutora (salas 1, 2, 3, 5) 4. Levantamento Radiométrico (relativo às salas 1, 2, 3, 5). 5. Teste de linearidade e reprodutibilidade de exposição (salas 1, 2, 3, 5) 6. Rendimento do tubo (salas 1, 2, 3, 5). 7. Exatidão do indicador e reprodutibilidade do kvp (salas 1, 2, 3, 5) 8. Exatidão do tempo de exposição (salas 1, 2, 3, 5). Verificar a penetração dos feixes de raios-x e se atende ao requisito de filtração mínima estabelecido na legislação. Monitorar a área em toda a vizinhança da sala de exames e atrás das barreiras utilizadas para a proteção do operador, tais como: biombos, visores plumbíferos etc. Verificar a linearidade entre a dose de radiação e o valor do mas e verificar a reprodutibilidade da dose de radiação em exames de rotina. Avaliar o rendimento do tubo de raios-x, em termos de mgy/mamin para atender os requisitos determinados na legislação. Avaliar a exatidão da indicação do kvp no painel de comando para qualquer corrente do tubo de raios-x e verificar a reprodutibilidade da tensão mais utilizada na rotina. Verificar a exatidão da indicação do tempo de exposição no painel de comando para os exames de rotina mais freqüentes. 9. Radiação de Fuga do Cabeçote Mede a radiação não pertencente ao feixe útil, mas que consegue atravessar o cabeçote e/ou o sistema de colimação do equipamento. Tabela 1-Tabela de testes realizados e suas respectivas funções Além desses testes também foram analisadas as condições dos equipamentos de proteção individual. 4.2 Parâmetros de Teste Os valores dos parâmetros utilizados para a realização dos testes de constância aqui tratados foram escolhidos tomando-se como base as seguintes fontes: Manual de Instrução da Indústria de Equipamentos Eletrônicos - MRA; Manual de Radiodiagnóstico Médico: Desempenho de Equipamentos e Segurança da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; e as técnicas (valores aplicados) de operação mais freqüentes adotadas pelos operadores no equipamento de raios-x utilizados durante a rotina de trabalho no setor de radiologia do Hospital. a) Teste de Colimação e Alinhamento de Feixe (Portaria nº 453/98, item 4.45, letra b, i; letra c, iv); Figura 1 - Teste de colimação e alinhamento de feixe 5
6 O teste de colimação e alinhamento do feixe foi realizado levando-se em consideração os seguintes parâmetros: filme de 20 cm x 25 cm; tensão de 60 kvp; Tempo x Corrente = 2 mas; DFF (Distância Foco-Filme) = 90 cm. b) Teste de Contato Tela-Filme (Portaria nº 453/98, item 4.45, letra c, v); Figura 2 - Teste de contato tela-filme Os parâmetros utilizados no teste de contato tela-filme foram os seguintes: filmes de 40 x 35, 24 x 30 e 35 x 35; tensão de 40 kvp; tempo x corrente = 2 mas; DFF (Distância foco-filme) = 100 cm. c) Teste da Camada Semi-Redutora (Portaria nº 453/98, item 4.45, letra b, iii); Para a realização deste teste foram considerados os seguintes parâmetros: tensão de 90 kvp; tempo x Corrente de 40 mas; DFF (distância foco-filme) = 100 cm; DCI-PM (Distância câmara de ionização-plano da mesa) = 30 cm; 1º Experimento sem Filtro; 2º Experimento com filtro de 3 mm de Al. Figura 3 - Teste da Camada Semi-Redutora d) Teste de Levantamento Radiométrico (Portaria nº 453/98, item 3.45); Foram utilizados os seguintes materiais neste teste: Recipiente de plástico preenchido com água (para simular um corpo humano, uma vez que não se pode fazer esse tipo de teste com pessoas, segundo a Portaria 453/98 da SVS-MS, cap. 2, item 2.5, p. 06); Câmara de ionização produzida pela Victoreen tipo Babyline e Trena. A distância considerada do tubo ao galão foi de 1m, conforme pode ser observada na figura 4. 6
7 Figura 4- Levantamento Radiométrico e) Teste de Reprodutibilidade da Taxa de Kerma no Ar (Portaria k) Para realizar esse teste, foram utilizados os seguintes parâmetros: Tensão: 80 kvp; Produto da corrente pelo tempo: 20, 50, 100,160 e 200 mas. Os instrumentos utilizados neste teste foram: Eletrômetro da Radcal Corporation modelo 9015; Câmara de ionização da Radcal Corporation modelo10x5-18. f) Teste de Linearidade da Taxa de Kerma no Ar com o mas (Portaria j); Esse teste é realizado simultaneamente ao teste de reprodutibilidade, logo foram utilizados os mesmos parâmetros. g) Rendimento do Tubo de Raios-X (Portaria 453, 4.49 i); Os parâmetros de teste utilizados foram: Tensão: 80kVp; Produto da corrente pelo tempo: 100 mas; DFC (Distância Foco-Centro): 1 m. Figura 5 - Teste de Linearidade e Reprodutibilidade da Taxa de Kerma no Ar h) Exatidão e Reprodutibilidade de kvp (Portaria 453/98-SVS/MS-, item 4.5, alínea i); Para realizar esse teste, foi selecionada a distância de 1m. Colimou-se o campo de raios-x para incidir na região vermelha do detector(ver figura 6). Para dar início as medições foram escolhidas várias técnicas mais utilizadas no serviço. i) Exatidão do Tempo de Exposição (Portaria 453/98-SVS/MS-, item 4.5, alínea i); Esse teste é realizado concomitantemente ao teste de exatidão e reprodutibilidade de kvp. 7
8 Figura 6 - Medidor de kvp j) Radiação de Fuga do Cabeçote(Portaria b): Para realizar esse teste a câmara de ionização foi posicionada a 1m do tubo (ver figura 7). O colimador foi fechado e filtros de chumbo foram colocados na saída do tubo. Figura 7 - Teste de Radiação de Fuga 4.3 Planilhas desenvolvidas para os testes de constância Para obtenção dos resultados dos testes de Camada semi-redutora, Teste de Levantamento Radiométrico, Linearidade da Taxa de Kerma no ar com mas, Reprodutibilidade da Taxa de Kerma no Ar, Rendimento do tubo de Raios-X, Exatidão e reprodutibilidade de kvp, Exatidão e reprodutibilidade do tempo de exposição e Radiação de Fuga do Cabeçote foram desenvolvidas planilhas padronizadas, através do programa Microsoft Office Excel Resultados e Discussão 5.1 Testes de Constância Colimação e alinhamento: aprovados os testes realizados nas salas 01 e 02; Camada semi-redutora: Segundo a Portaria 453/98 SVS/MS, ao se utilizar um equipamento de raios-x trifásico, selecionado para uma tensão de 90 kvp, a camada semiredutora deve ser de, no mínimo, 3 mm de Al (Alumínio).Foram aprovados os testes das salas 01 e 02; Contato tela-filme: dos 4 chassis verificados 2 não estavam em condição de uso porque apresentavam desuniformidade na imagem; foram reprovados os chassis com as seguintes especificações: chassi Conex 35x35 e chassi Kodak 24x30. Chassis em más condições de uso podem ocasionar borramentos na imagem e dificultar o diagnóstico médico, causando resultados falso-positivos. Foi observado que os funcionários não retiravam os chassis, mesmo danificados, do serviço, por falta de outros. Na época da realização dos testes, o responsável pelo serviço comunicou que estava esperando a chegada de novos chassis. Durante o decorrer da pesquisa observamos que todos os chassis danificados foram retirados do serviço e substituídos por outros novos. Selecionamos alguns chassis e refizemos os testes, dessa vez, todos os chassis foram aprovados. Teste de Levantamento Radiométrico: de acordo com a Portaria 453/98, o limite das taxas de dose equivalente do trabalhador ocupacionalmente exposto é 0,1 msv/sem (área controlada) e do Público 0,01 msv/sem (área livre). Não existe limite de taxa de dose equivalente para exposições médicas, contudo estas devem obedecer aos princípios 8
9 básicos de otimização da dose, ou seja, torná-la tão baixa quanto razoavelmente exeqüível. Os testes radiométricos foram realizados nas mesas de exame e nos buckys das salas 01, 03 e 05 do setor de radiologia. Na realização dos testes foram considerados, em cada sala, os seguintes pontos: A- banheiro; B-atrás da porta; C- atrás do biombo e D- Próximo ao biombo. A seguir estão relacionados os pontos onde foram encontrados os maiores valores com relação ao bucky e à mesa de exame. Sala 01: Bucky mural: A (banheiro= 0,055 msv/sem); Mesa de exame: D (próximo ao biombo=0,018 msv/sem); Sala 03: Bucky mural: A (banheiro=0,018 msv/sem); Mesa de exame: A (banheiro=0,018 msv/sem); Sala 05: Bucky mural: D (próximo ao biombo=0,087 msv/sem); Mesa de exame D (próximo ao biombo=0,045 msv/sem); Todos estes valores encontrados são aceitáveis pela Portaria nº 453/98-SVS/MS. Linearidade da taxa de kerma no ar com mas: o resultado encontrado de acordo com a Portaria 453/98 da SVS-MS deve estar entre 4,8 < x < 6,4 mgy/ma.min. m². O equipamento da sala 02 foi reprovado. Com relação à sala 01, os valores de linearidade da taxa de kerma no ar com o mas limitaram-se apenas até 100mAs. Porém, de acordo com a portaria 453/98 SVS/MS estes valores devem ser lineares para as técnicas comumente utilizadas e como nesse equipamento não eram utilizada técnicas que envolvam valores superiores a 100mAs, ele foi aprovadoos equipamentos das salas 03 e 05 foram aprovados. Reprodutibilidade da taxa de kerma no ar: segundo a Portaria 453/98 da SVS-MS (p. 22) para um dado mas, a taxa de kerma no ar deve ser reprodutível em ± 10%. Isto é, para um grupo de quatro medidas, a diferença máxima entre duas medidas deve ser menor que 10% do valor médio. Todos os equipamentos analisados neste teste foram aprovados (salas 01, 02, 03 e 05); Rendimento do tubo de raios-x: o resultado encontrado de acordo com a Portaria 453/98 da SVS-MS deve estar entre 4,8 < x < 6,4 mgy/ma.os equipamentos das salas 01 e 02 foram reprovados pois apresentaram rendimentos abaixo do limite inferior da faixa de aceitação, ou seja, menores que 4,8 mgy/ma.min. m². Os equipamentos das salas 03 e 05 foram aprovados; Esse resultado indicou a necessidade do Hospital em adquirir novos tubos de raios-x para as salas que foram reprovadas. Exatidão e reprodutibilidade de kvp: segundo a Portaria 453/98 da SVS - MS (p.22) o indicador de tensão no tubo deve apresentar um desvio no intervalo de tolerância de +/- 10% em qualquer corrente de tubo selecionada.o equipamento de raios-x da sala 01 foi reprovado quanto à exatidão. Os equipamentos das salas 03 e 05 foram aprovados no requisito de exatidão e reprodutibilidade; Exatidão e reprodutibilidade do tempo de exposição: Segundo a portaria 453/98 da SVS - MS, o indicador de tempo de exposição deve apresentar desvio no intervalo de tolerância de +/- 10% em qualquer tempo de exposição selecionado. Os equipamentos das salas 01, 02 e 03 foram aprovados; Radiação de fuga do cabeçote: De acordo com a portaria 453/98 da SVS MS a taxa de kerma no ar de 1 mgy/h a 1 metro do ponto focal, quando operado em condições de ensaio de fuga Os equipamentos das salas 01 e 05 foram reprovados. Esse resultado mostra que a blindagem dos tubos de raios-x dessas salas não é suficiente. 9
10 A Unidade de Radiologia em estudo apresentou desconformidade em alguns testes. A nãoconformidade representa uma probabilidade de comprometimento da qualidade da imagem radiográfica e de ocorrência de danos à saúde dos operadores de raios-x, dos pacientes e da população circulante no setor de radiologia deste Hospital. Além destes testes ainda serão realizados, oportunamente, oos testes de avaliação do Ponto Focal, da Sensitometria e Densitometria (Avaliação do Processamento Radiográfico), Avaliação Ambiental da Câmara Escura, Avaliação de Vedação da Câmara Escura e de Luminância (Avaliação dos Negatoscópios). 5.2 Qualidade da Imagem Radiográfica x Custos de um Serviço de Radiologia A qualidade da imagem radiográfica tem relação direta com os custos de um setor de radiologia. Quando uma radiografia de má qualidade é gerada, ocorre a repetição do exame com o conseqüente aumento da dose de radiação no paciente, no trabalhador e nos acompanhantes (se houver). Além disso, há o aumento dos custos para o hospital, devido à perda de filmes, gasto de energia, gasto de químicos, tempos improdutivos e re-trabalho. Esses problemas provocam o alargamento do tempo de atendimento dos pacientes, aumentando o tempo de permanência para os exames. Observando-se o serviço de radiologia em questão, verificou-se um significativo número de filmes rejeitados. O setor de radiologia do hospital em estudo não possui um banco de dados organizado que forneça indicadores de produção. Em função disto, resolveu-se registrar os dados de produção deste setor numa planilha do programa Microsoft Office Excel 2007 e gerar os respectivos gráficos que possibilitem ao gestor do setor um acompanhamento contínuo e análises para dar suporte às tomadas de decisões e ações de melhoria. Em razão do grande desperdício observado, com base nos dados fornecidos pelo hospital, surgiu a necessidade de fazer uma quantificação dos filmes rejeitados e a análise de suas causas. Para isso, foram projetados coletores que posteriormente serão implantados em locais estratégicos do setor em estudo (ver figura 9). Esses coletores possuem adesivos (ver figura 8) informativos de fácil percepção para os técnicos em radiologia. Figura 8 - Ilustração informativa para os recolhedores de rejeitos 10
11 Figura 9 - Croqui mostrando a distribuição dos coletores de rejeitos no ambulatório da unidade de radiologia. Legenda: CE = Câmara Escura Verificamos que, no mês de janeiro de 2007, por exemplo, dos 3500 filmes recebidos pelo ambulatório, 1049 filmes foram revelados, representando uma taxa de eficiência de 29,97 %. Ou seja, para pouco mais de 3 filmes recebidos, apenas 1 filme foi revelado com sucesso no mês de janeiro de 2007, tornando este mês o de menor eficiência no período estudado. A tabela 2 apresenta os desperdícios mensais de filmes no Setor pesquisado. JAN FEV MAR ABR MAI Desperdício mínimo de filme radiográfico em m² 329,60 9,60 206,60 305,50 76,80 (Período: Janeiro-Maio/2007; Filme: 18 cm x 24 cm) Desperdício mínimo de filme radiográfico em R$ ,90 143, , , ,50 Tabela 2 - Quantidade de filmes desperdiçados no período de Janeiro a Maio de 2007 Depreende-se da tabela 2 que, no período de janeiro a maio de 2007, o desperdício de filmes radiográficos representou um total mínimo de 928,10 m². Determinou-se este número, consultando, no setor de Radiologia, o registro de números de filmes desperdiçados. Este registro não estava organizado por tamanho de filme, daí uma estimativa mínima de filmes desperdiçados, o que quer dizer que os desperdícios aqui revelados podem ser maiores na realidade. Para se ter uma idéia de grandeza de 928,10 m², este valor representa uma área de 30,46 m x 30,46 m, o que equivale a cobrir, com filmes desperdiçados, o piso de aproximadamente 37 salas de 5m x 5m de área. Considerando o custo de 1 m² de filme radiográfico equivalente a R$ 15,00, obtém-se um total de R$ ,00 em prejuízo financeiro para o hospital no período de 5 meses. O valor do prejuízo encontrado equivale ao pagamento que é devido a um cirurgião da rede pública, na cidade de João Pessoa - PB, para realizar 172 cirurgias cardíacas. Esta estimativa baseou-se no valor pago pelo SUS (Sistema Único de Saúde) a um cirurgião cardíaco que, segundo o telejornal Jornal Nacional exibido no dia 24 de Agosto de 2007 pela Rede Globo, era de R$ 75,00 (setenta e cinco reais) por cirurgia. Elaboraram-se ainda formulários para o acompanhamento adequado das informações obtidas no levantamento do índice de rejeição de filmes, bem como para o registro das causas de refugo do filme. Nestes formulários, as causas foram classificadas de acordo com sua natureza, tais como: problemas ocasionados por disfunção do aparelho, problemas com os filmes radiográficos, falta de colaboração do paciente, problemas no processo de revelação do filme e/ou erros ocasionados pela tarefa mal executada pelo operador de raios-x. 5.3 Radioproteção e Segurança do trabalhador Para a proteção do público, do paciente e do meio ambiente é de extrema importância que os trabalhadores que operam com radiação ionizante conheçam os princípios fundamentais da radioproteção. São três estes princípios: da justificativa, da otimização da dose e da limitação de doses. O princípio da justificativa mostra que em qualquer atividade que envolva exposição à radiação ionizante a mesma deve ser justificada. Sempre o benefício deve se sobrepor ao detrimento provocado pela radiação. O princípio da otimização da dose preconiza que as exposições devem manter o nível de radiação o mais baixo possível. Este princípio é conhecido como Princípio ALARA-As Low As Reasonable Achievable, que em português significa tão baixo quanto possivelmente exeqüível. A proteção radiológica é otimizada 11
12 quando se consegue empregar a menor dose no paciente sem comprometer a qualidade da imagem radiográfica. Já o princípio da limitação de dose implica que as doses de radiação não devem ser superiores aos limites estabelecidos em cada país. Os pacientes não têm limite de dose. Esse princípio só é aplicado para trabalhadores ocupacionalmente expostos e para o público em geral. Em um serviço de radiologia o controle das doses ocupacionais é realizado por meio de dispositivos medidores de dose chamados dosímetros. O dosímetro individual deve ser utilizado pelo trabalhador durante toda a sua jornada de trabalho no setor de radiologia. A cada mês o dosímetro é enviado para a verificação de dose em centros habilitados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear. No setor de radiologia em estudo verificou-se que os trabalhadores não utilizavam os dosímetros com freqüência, comprometendo assim o processo de análise de dados dosimétricos.observou-se também que os técnicos quando realizavam os exames não fechavam as portas, expondo dessa maneira os outros pacientes e funcionários do setor.muitas portas das salas de exame estavam com as travas de segurança quebradas (ver figura 10). Toda sala de raios-x deve ser identificada com o símbolo da radiação e possuir luz indicativa de funcionamento de raios-x. As luzes indicativas das salas não estavam funcionando. Segunda a Portaria nº 453/98 da SVS-MS, deve haver em todas as salas de exame radiológico vestimentas de proteção individual suficientes para pacientes, equipe de trabalhadores e acompanhantes. Além disso, deve haver em cada sala suportes apropriados para para sustentar os aventais plumbíferos de modo a preservar sua integridade. Em todo o setor de radiologia em análise foi encontrada apenas uma vestimenta de proteção individual e a mesma não estava sendo usada em nenhuma das salas. Esse fato demonstra problema de organização do setor e falha na proteção radiológica, o que justifica a necessidade de implantação de um programa de garantia de qualidade do serviço em questão. Figura 10 - À esquerda única EPI encontrado no setor e à direita porta da sala de raios-x com a trava quebrada 6.Conclusão Os testes de constância têm a função de indicar se os equipamentos estão ou não em conformidade com as prescrições normativas. Estes testes podem indicar se há vulnerabilidade da proteção radiológica e problemas que podem estar interferindo na qualidade do processo radiográfico e das próprias radiografias. Como pudemos constatar muitos equipamentos não estavam em conformidade com os parâmetros previstos pela Portaria 453/98 SVS. Esse fato só comprova a necessidade de se implantar um Programa de Garantia de Qualidade no setor. 12
13 Com relação aos custos do processo, a pesquisa mostrou a necessidade da identificação das causas de desperdício e de se implantar um controle de rejeitos. Com a apresentação desses dados à instituição espera-se que haja uma sensibilização dos dirigentes e que eles tomem as medidas necessárias para diminuir as causas de repetição de exame e conseqüentemente de desperdício no setor. Quanto à cultura e comportamento dos profissionais do setor de radiologia bem como as estratégias de controle de riscos parecem estar fundamentadas nas barreiras de proteção (nos sistemas e no indivíduo) e no ato inseguro. Por outro lado, sabemos que o contexto de trabalho, muitas vezes, induz que se derrubem as barreiras, os contrantes, para que o trabalho possa ser realizado e alcance as metas pré-estabelecidas pela organização. O programa de Garantia de Qualidade prevê treinamento para os técnicos do setor, no intuito de contribuir para a diminuição de erros na operação das máquinas cometidos, bem como no aumento da conscientização e desenvolvimento de uma cultura de segurança que valorize a importância da radioproteção no ambiente de trabalho. 7. Referências ABERGO. Ergonomia. Boletim da Associação Brasileira de Ergonomia, v. I, nº 3, nov-dez de BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Radiodiagnóstico Médico: Desempenho de Equipamentos e Segurança, CAMPOS, V. F. consultado em 08/05/2008. CARVALHO, C. B. de; BARBOSA, A. K S.; CARVALHO, R. J. M. de; SANTOS; Marcus Aurélio Pereira dos. Análise do Serviço de Raios-X Diagnóstico Convencional do Setor de Emergências do Hospital Getúlio Vargas em Recife: uma abordagem integrada da Ergonomia e da Qualidade. Relatório de Pesquisa. Recife-Pe: PIBIC-CNPq, CNEN/FUNDACENTRO. Portaria SVS 453, de 01/06/1998; DIMENSTEIN, R.& HORNOS, Y Manual de Proteção Radiológica Aplicada ao Radiodiagnóstico. São Paulo: SENAC, FUNDACENTRO. Condições do meio ambiente de trabalho e riscos da exposição aos raios x no serviço de radiodiagnóstico de um hospital público. São Paulo: FUNDACENTRO, p. HIRSCHFELD, H. Engenharia Econômica e Análise de Custos. São Paulo: Atlas, 5ª ed., VIDAL, M. C. R., CARVALHO, P. V. R., SANTOS, I. J., et al. Propagação de eventos em sistemas complexos e automatizados. Em: Anais do XI Congresso Brasileiro de Ergonomia (XI ABERGO), Gramado, Brasil, WISNER, Alain. A Inteligência no trabalho: textos selecionados de ergonomia. São Paulo: Fundacentro, p. acessado em 27 /08/
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