o PORTUGU S FUNDA'1ENTAL: Uli VOCABULARIO BAsICO DA LINGUA
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- Rubens de Miranda Chagas
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1 o PORTUGU S FUNDA'1ENTAL: Uli VOCABULARIO BAsICO DA LINGUA Maria Tereza C.Biderman,UNESP,Araraquara A metodologia para a recolha dos materiais do PORTU- GU S FUNDMiENTAL (PF) e a analise dos dados basearam-se em pesquisas realizadas sobre 0 Frances Fundamental e 0 Espanhol Fundamental. Essas pesquisas sobre 05 vocabul~ rios basicos dessas tres linguas latinas visavam obter urn vocabulario fundamental que pudesse ser utilizado no ensino dessas linguas a estrangeiros. Foram usados ~o delos de EstatIstica Lexica para evitar-se a arbitrari~ dade na sele~ao das palavras a serem incluidas no repe! torio lexico basico. o corpus utilizado continha dois tipos de bancos de dados: 19) entrevistas gravadas e transcritas ortograficamente que constituiram 0 corpus da freqaencia; 29) 0 corpus da disponibil~6de, isto e, 0 conjunto de substantivos, adjetivos e verbos, extraidos de 500 inqueritos, feitos com base ern 27 "centros de interesse" di feren tes 05 informantes (l5-65/anos) provinham de todos os di~ tritos portugueses. Representavam todos os graus de in~ tru~ao ( do analfabeto ao formado em universidade).deuse primazia a falantes dos centros urbanos, ja que 0 e~ copo da pesquisa era obter urn vocabulario representativo da lingua comum, isento de regionalismos. Esses informantes compunham uma amostra aleatoria da popula~ao portuguesa, porem, significativa. Os temas tratados foram variadissimos, constituindo 0 corpus global urn ace! vo bem heterogeneo e diversificado da lingua portuguesa, na sua variante lusitana. As entrevistas gravadas forneceram urn total de 700 mil ocorrencias. Essas entrevistas foram feitas nos 10- cais de trabalho e de vida dos informantes; por conseguinte, destituidas das condi~oes ideais para grava~ao.
2 Ademais, como se sabe, a sequencia da fala espontanea muitas vezes gera problemas de interpreta9ao, dificuldades essas acrescidas das condi90es sonoras inadequadas atras referidas. Assim,ao examinarmos ambos os arquivos (a fonoteca e 0 fichario das entrevistas transcritas) constatamos fatos tipicos da oralidade : impr~ cisoes, obscuridades, ambiqdidades, hesita90es, repeti- 90es,~acolutos, intercala90es faticas.embora os pesquisadores tenham tido a maxima cautela, transcrevendo imediatamente as entrevistas e submetendo a primeira transcri9ao ao crivo de 2 ou tres linguistas, ainda assim 0 arquivo revela 0 que seria de esperar,isto e,um acervo de textos com todas as imprecisoes, repeti90es e vacuos da fala. Feita a computa9ao dos dados recolhidos, constatouse que a lista dos vocabulos mais freqdentes (frequencia igual ou superior a 40) nao inclu!a uma serie de p~ lavras indispensaveis a comunica9ao. Algumas tinham ba! xa frequencia, outras nem mesmo tinham ocorrido. Como ja se sabia das pesquisas sobre 0 frances e 0 espanhol, algumas palavras chamadas "disponiveis", so ocorrem qua!!. do os dominios de referencia (campos semanticos) de que fazem parte sao evocados na comunica9ao. Podem tambem nao ser mencionadas na conversa9ao porque 0 locutor recorre a deiticos, ou a substitutivos ( como pronomes), em vez de usar 0 lexema referencial. Alias, como as entrevistas nao tinham side dirigidas para tapicos preselecionados, a fim de garantir ebpontaneidade na fala, houve assuntos nao abordados. Por conseguinte, a equipe do PF iniciou uma nova pesquisa para recolher esses vocabulos "disponiveis". Para a coleta do corpus da disp nibilidade, foi elaborado urninquerito com base em 27 "centros de interesse", ou jreas lexicais.realizaramse, entao, inqueritos com 800 jovens (17 e 18 anos),to-
3 talizando-se mais palavras (substantivos,adjetivos e verbos). Foi computada a freqdencia desse novo corpus. A listagem dal extralda, foi confrontada com os lexemas que tinham tido frequencia inferior a 40 na primeira etapa da pesquisa. Apos minuciosa analise dos dados lexico~ a comissao selecionou mais umas 600 palavras. Entrementes, enquanto se fazia esse trabalho sobreveio a revolu~ao de 25 de abril que depos a ditadura salazarista de 40 anos. Como 0 lexico reflete diretamente realidades socio-pollticas e culturais, a equipe do PF resolveu realizar novos inqueritos, sobre tres campos semanticos que nao haviam side contemplados anteriorme~ te, a saber: 1) vida pollticai 2) rela~oes de trabalhoi 3) problemas economicos de carater_coletivo. De fato, nao constatou-se que muitas palavras/tinham side referidas nos inqueritos da disponibilidade, sendo mencionados n~s ta etapa pelos inquiridos, tais como: assembleia, capit~ lismo, comlcio, comunismo, comunista, constitui~ao, cooperativa, democracia, deputado, desemprego, desenvolvimento, direita, ditadura, eleger, elei~oes, eleitor,esquerda, explora~ao, explorar, fascismo, fascista greve, igualdade, injusti~a, juro, justi~a, or~amento, poder (sub.), politica, reivindica~ao, repressao, revolu~ao, salario, socialismo, socialista, votar, voto. E varias outras de areas lexicais afins. Finalmente a equipe do PF considerou terminada a coleta de dados. Tabulando os resultados, obteve uma lista de palavras que considerou como 0 vocabulario fundamental para a comunica~ao em portugues. Na tabula- ~ao dos dados, uma equipe de cinco pessoas executou e- norme trabalho manual na conferencia dos dados estatisticos brutos gerados pelo computador e, sobretudo, na lematiza~ao das formas para a obten~ao do dicionario de freqdencia do PFi ja que os resultados fornecidos pelo computador tiveram que ser pos-editad~b. A lematiza~ao as
4 isto e, a identificagao dos lemas, ou formas canonicas, representa UBI feito altamente meritorio por parte da e - quipe de lexicologos do Centro de LingQ!stica da Univ~r sidade de Lisboa, por ser tarefa lenta, minuciosa, enf~ donha, porem, precisa. Deve-se lastimar, contudo, 0 fato de que 0 PF nao representa nel~um avango no processo de lematizagao das formas do discurso at raves do computador. Os documentos da pesquisa e os dados do PF estao arquivados no Centro de Lingd!stica da Universidade de Li! boa, instituigao que executou esta pesquisa de Sao os seguintes os arquivos do PF: 19) a fonoteca com as entrevistas gravadas; 29) 0 arquivo dos textos das entrev~as transcritas ortograficamente; 39) as co~ cordancias de textos das palavras homografas; 49) 0 fichario de locugoes; 59) as concordancias de textos das 10cugOes; 69) 0 fichario dos dados sobre a dispon! bilidade. o PF e os arquivos que 0 constituem nao sac urn simples inventario lexical.seus dados revelam aspectos import antes da organizagao e estruturagao interna do lexi co portugues. Em CLUL publicou urn primeiro volume I ~- ques Fundamental - Vocabulario e Gramatica.Esse livrinho esta dividido em duas partes, na primeira os autores explicam 0 que vem a ser urn vocabulario fundamental e os seus objetivos no levantamento desse lexico, alem de descrever as tecnicas e metodologia emoregadas na sua recolha, Na segunda parte publica-se 0 vocabulario fundamental, e outras listas de palavras.neste ano de 1986 esta sendo publicado urn segundo volume mais alentado, composto de tres partes: la.) descrigao do trabalho de campo; 2a.) analise do problema da oralidade, acompan~a da de um exemplario do corpus de entrev~as; 3a.) estudo anal!tico-descritivo que explicita a metodologia e
5 os criterios adotados. Nesse volume estao sendo public~ dos tambem: um exemplario das entrevistas e 0 dicionario de freqdencias das palavras. Examinando detidamente as palavras que compciem o vocabulario do PF, constatei que, em grande parte,esse repertorio lexical poderia ser adotado no Brasil como vocabulario basico. Ha, porem, diferen9as importantes com respeito aos lexemas usuais nos do~paises. Isso se deve, por certo, ao fato de 0 lexico ser a testemunha de uma sociedade como bem frisou Georges Matore em ~ methode ~ lexicologie (1953). Desde os tempos da ditadura salazarista quando Portugal se isolou do resto do mundo, e talvez mesmo antes, Brasil e Portugal foram-se distanciando um do outro. Ora, as mudan9as sociais, as inova90es culturais e tecnicas continuaram a surgir em ambas as sociedades e, juntamente com elas, os signos lexicos que as designavam. Mesmo no dominio das tecnicas modernas e da vida contemporanea, a evolu9ao cultural e lingdistica em Portugal e no Brasil seglu cursos paralelos, independentes um do outro. 0 resultado desse pr2 cesso e evidente no dominio lexical. Ate mesmo nurn voca bulario basico onde est~o alistadas apenas as palavras mais freqdentes do uso cotidiano da lingua falada, encontramos muitas diferen9as entre os termos designativos dos mesmos referentes em cada uma das sociedades.acresce ainda que as realidades fisicas e geoqraficas d! vergem em cada urndesses dois paises, gerando urnnovo acervo de signos lexicos diferentes em consonancia com a realidade que designam. Eis por que alistei perto de 100 voc&bulos que deveriam ser incluldos num vocabulario fundamental para a comunica9ao verbal no Brasil e que nao constam do PF.lnversamente, varias palavras que constam do PF, poderiam ser excluidas no uso da varian-
6 te brasllelra. Deve-se lamentar 0 desconheclmento nos melos academi cos brasileiros, desta importante pesquisa sobre a nossa lingua, bem como muitos outros trabalhos realizados por colegas portugueses. E-tempo que tomemos ciencia dessa produ~ao cientifica e estabele~amos intercambio entre as duas na~oes falantes do idioma portugues.
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