conto Mortes sob tutela do Estado p.8 p.8 Idosos são alvos de crimes nas principais capitais do país

Transcrição

1 salvador, 23 de julho de 2005 Idosos são alvos de crimes nas principais capitais do país p.8 Mortes sob tutela do Estado Crime e violência no Centro de Acolhimento ao Menor infrator p.8

2 2 salvador, 05/ 01/ entrevista Projeto de lei luta contra 6 arma Projeto de lei luta contra 8 capa Projeto de lei luta contra 12 violência Projeto de lei luta contra E mais: 11 opinião Projeto de lei luta contra 14 coluna Projeto de lei luta contra 16 fragmentos Projeto de lei luta contra editorial É inegável que, entre muitas outras aplicações, os weblogs (ou blogs) constituem uma excelente ferramenta para a prática de técnicas de expressão jornalística online e até mesmo para a criação de jornais online (aquilo a que podemos chamar blog-jornais). O blog reúne as condições mais do que mínimas para se criar um jornal online (ou jornal digital, webjornal, ciberjornal - não distingo aqui estes conceitos): tem campos distintos para título, lead/entrada e corpo da notícia; permite hipertexto e hipermedia; ordena/destaca as notícias pelo critério mais adequado ao meio - a actualidade; cria automatica mente arquivos e categorias (por datas e temas); a publicação é imediata. Ciente desta oportunidade, o curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (a mais nova licenciatura pública na área e uma das que mais aposta nas vertentes prática e tecnológica) criou no início do Ciente desta oportunidade, o É inegável que, entre muitas outras aplicações, os weblogs (ou blogs) constituem uma excelente ferramenta para a prática de técnicas de expressão jornalística online e até mesmo para a criação de jornais online (aquilo a que podemos chamar blog-jornais). O blog reúne as condições mais do que mínimas para se criar um jornal online (ou jornal digital, webjornal, ciberjornal - não distingo aqui estes conceitos): tem campos distintos para título, lead/ entrada e corpo da notícia; permite hipertexto e hipermedia; ordena/destaca as notícias pelo critério mais adequado ao meio - a actualidade; cria automatica mente arquivos e categorias (por datas e temas); a publicação é imediata. Ciente desta oportunidade, o curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (a mais nova licenciatura pública na área e uma das que mais aposta nas vertentes prática e tecnológica) criou no início do Ciente desta oportunidade, o curso Escrever um pe queno poema ou um rp do pequeno prícipe. POEMA EM LINHA RETA (Álvaro de Campos) Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Expediente Tatiana Mendonça Tatiana Mendonça Tatiana Mendonça Tatiana Mendonça Tatiana Mendonça Tatiana Mendonça Tatiana Mendonça Tatiana Mendonça Tiago Galvão Tiago Galvão Tiago Galvão Tiago Galvão Tiago Galvão Tiago Galvão Tiago

3 salvador, 05/ 01/ Polêmica armada entrevista Carlos Murgel viajava com a esposa e três crianças para Angra dos Reis quando foi abordado por outro veículo e forçado a parar. Parecia ser um assalto. Imediatamente, o empresário sacou um revólver e deixou-o à mostra. Diretor-presidente e um dos principais acionistas da Forjas Taurus maior fabricante de armas leves da América Latina, Murgel prefere o poder da dissuasão ao das balas. Eliane Brum repórter Mas os defensores do estatuto afirmam que ele vai diminuir a criminalidade... A população deve se armar? Eu sou a favor da idéia de que os indivíduos que se sentem melhor tendo uma arma possam tê-la. Claro, dentro das exigências da lei, com identificação, residência fixa e toda aquela ladainha. Qual vai ser o impacto da nova lei do desarmamento nos negócios da Taurus? Será grande, mas com um detalhe: esse estatuto vai afetar nossa posição somente nos Estados Unidos, onde somos o segundo maior vendedor de revólveres e pistolas, e não no Brasil. A venda no mercado civil brasileiro certamente cairá, mas ela é pequena, não passa de 15% de nossa produção. Em contrapartida, nos EUA temos um grande mercado: embarcamos para lá 70% dos nossos armamentos. Isso não quer dizer que a nossa operação no Brasil é irrelevante. O Brasil é importante para nossa estratégia por causa da escala, dos custos variáveis. Ou seja, no final do processo, dependendo de quantos revólveres se produz, maior ou menor pode ser o preço de cada unidade. Se a venda cai, vamos produzir menos. Isso afetará os preços, um de nossos principais trunfos na América do Norte. Honestamente, eu acho isso uma falácia. Por quê? Porque estão tentando tirar as armas do cidadão de bem. E o cidadão de bem não comete crimes. O governo deveria se preocupar em desarmar os criminosos, esses sim. Deveria apreender as armas ilegais, negociadas no mercado negro. E veja bem: o estatuto pode prejudicar, Transferir nossa produção para os EUA só vai aumentar o desemprego no Brasil mas não vai acabar com a Taurus. Nós temos uma fábrica em Miami. Mesmo sendo um processo custoso, não descartamos a possibilidade de transferir nossa produção para os Estados Unidos. O que não vai acabar com o crime no Brasil, mas com o emprego que nós geramos aqui. Hoje, a unidade de lá supre apenas 3% da venda norte-americana. Em Porto Alegre, fabricamos o restante, 97%, e temos funcionários diretos. A China, hoje, é campeã em atração de investimentos no mundo. A Taurus pensa em instalar alguma fábrica por lá? Não. O mercado consumidor dos Estados Unidos é o que interessa. Para instalar uma fábrica em outro país, você precisa ter mercado interno, o arroz com feijão. Exportar é um prêmio, algo com o que você não pode contar no dia-a-dia. Quem se baseia só em exportação desaparece logo. Das armas produzidas pela Taurus e vendidas no Brasil, quantas vão parar nas mãos da população civil? É quase impossível dizer. Quando afirmo que a quantidade é pequena é porque, para comprar uma arma, necessariamente o cidadão precisa ir a um ponto-de-venda especia - lizado. Acontece que essa loja é a mesma que vende para empresas de segurança privada e, em alguns casos, até para a polícia. Então, eu não tenho o número exato daquilo que é vendido ao José. Por alto, eu diria que não deve passar dos 15%. O resto vai, principalmente, para as empresas de segurança. Eu tenho escutado com freqüência alguns políticos dizerem que, de cada 16 pessoas que reagem a um assalto, 15 morrem. Eu quero saber de onde vem essa informação, já que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por exemplo, elucida somente 2% dos homicídios. Então me diga, como é que se divulga uma coisa dessas? Outra: a Globo gosta muito de dizer que 70% dos homicídios no país ocorrem porque houve reação. Se você não sabe quem foi o criminoso e nem por que ele matou, como você pode saber se houve reação? E, na prática, o que a nova lei traz de novo para a sociedade? Na verdade, não muda nada. Em 1997, foi promulgada uma lei que tratava do mesmo tema. Era a legislação mais restritiva do mundo para posse e porte de armas. Se você analisar a lei, vai ver que ela é excelente. Foi ela que

4 4 criou o Sinarm (Sistema Nacional de Registro de Armas e Munições), órgão que deveria funcionar como uma espécie de Detran da segurança, catalogando e monitorando as armas. O que aconteceu é que a lei não foi colocada em prática porque os governos não tiveram dinheiro pra comprar os computadores e contratar gente para trabalhar nisso. Nós mesmos, da Taurus, compramos computadores e doamos para algumas polícias. E nada mudou. Tal como a lei de 1997, você acha que essa pode não pegar? Eu acho que a lei má não é encampada pela sociedade. E vamos e convenhamos: qualquer cidadão tem o direito de acreditar na sua autodefesa, comprando um cachorro brabo ou colocando uma cerca eletrificada em sua propriedade. Eu acho que ele também tem o direito de ter uma arma. Por acaso, você sabe qual é o tempo médio de resposta da polícia nas me trópoles quando há um chamado de emergência? Algumas horas. Vejo chegar o ponto em que o bandido vai entrar em sua casa e você vai ter de dizer: Por favor, vamos tomar um cafezinho enquanto a polícia não chega. Como você define o estatuto, então? É uma demagogia e uma forma de ganhar tempo na televisão e nos jornais. O plebiscito proposto pelo governo para discutir o desarmamento ajuda ou atrapalha? Não sei. Acho que o pior do plebiscito é o dinheiro que se vai gastar com ele. No fim das contas, não deixará de ser uma eleição. E todo o mundo sabe que para fazer campanha é preciso dinheiro. Nesse caso, dinheiro que vai sair dos cofres públicos. Esse plebiscito vai custar uma fortuna. O último balanço da Taurus mostra que houve queda de receita na controladora, exatamente a fabricante de armamentos. As armas estão perdendo espaço? Há uma evidente queda do mercado mundial de armas. Mas a perda de espaço vem acontecendo, também, por causa da diversificação que estamos fazendo nos nossos produtos, principalmente com a produção de ferramentas. Cinco anos atrás, as armas representavam mais de 80% do faturamento do grupo. Hoje, a participação é menor, de cerca de 60% o que ainda é uma porcentagem alta. Nossa meta é reduzir a dependência das armas. Se você me perguntasse para quanto, eu diria que 40% é um bom número. causadas por armas de fogo no Brasil? Claro que não. Você faria essa pergunta para o dono da Ford quando um carro deles atropela 16 pessoas em um ponto de ônibus? Como foi feito o trabalho de lobby na câmara e no senado? Qualquer cidadão tem o direito de acreditar na sua auto defesa e ter uma arma Você já precisou usar uma arma em alguma situação? Sim, mas graças a Deus não precisei atirar. Eu estava com a família no carro, e alguns homens em outro veículo me forçaram a parar. Não sei se era um assalto ou não, mas foi só mostrar a arma e os bandidos fugiram. Essa é a idéia: a arma como instrumento de dissuasão, para impedir o criminoso de lhe atacar. O que acontece é que no Brasil não existem estatísticas. Ninguém sabe quantos crimes as armas evitam. Você já se sentiu culpado pelas mortes Conversamos com os parlamentares, explicamos a situação do ponto de vista real, e não demagógico. Publicamos uma série de informações sobre o que acontece no resto do mundo em relação às armas. Tudo pra que os nossos políticos ficassem mais bem informados. Mas isso só adianta pra quem não quer fazer demagogia. A sociedade tem se manifestado cada vez mais contra as empresas que vendem armas. Há relação entre os protestos e a queda do valor das ações da Taurus? o, esse não é o motivo. Realmente, tivemos uma queda este ano, pequena, salvador, 05/ 01/ 2005 mas perceptível. O que acontece é que, no Brasil, infelizmente, as empresas de capital aberto não têm suas ações valorizadas da maneira correta. O ideal é que se pegue o valor total do patrimônio e se divida pelo número de ações, daí se tira o valor de cada papel. Mas não é isso que acontece aqui. Se você fizer as contas, vai ver que 99% das empresas brasileiras não têm a valorização devida. Isso por que a movimentação das ações na bolsa é muito pequena. Geralmente, quem possui as ações no mercado brasileiro é uma meia dúzia de fundações ou fundos de investimentos, que não comer - cializam esses papéis no dia-a-dia. Essa forma de negociar acaba restringindo os preços. Essa forma de negociar acaba restringindo os preços.essa forma de negociar acaba restringindo os preços. Você já precisou usar uma arma em alguma situação? Sim, mas graças a Deus não precisei atirar. Eu estava com a família no carro, e alguns homens em outro veículo me forçaram a parar. Não sei se era um assalto ou não, mas foi só mostrar a arma e os bandidos fugiram. Essa é a idéia: a arma como instrumento de dissuasão, para impedir o criminoso de lhe atacar. O que acontece é que no Brasil não existem estatísticas. Ninguém sabe quantos crimes as armas evitam. Você já se sentiu culpado pelas mortes causadas por armas de fogo no Brasil? Claro que não. Você faria essa pergunta para o dono da Ford quando um carro deles atropela 16 pessoas em um ponto de ônibus? Ora, você se sentiria até mal por perguntar. Como foi feito o trabalho de lobby na câmara e no senado? Conversamos com os parlamentares, explicamos a situação do ponto de vista real, e não demagógico. Publicamos uma série de informações sobre o que acontece no resto do mundo em relação às armas. Tudo pra que os nossos políticos ficassem mais bem informados. Tudo pra que os nossos políticos ficassem mais bem informados

5 publicidade

6 6 salvador, 05/ 01/ 2005 Cemitério de meninos Eliane Brum repórter Tô com o corpo lanhado de tanto procurar meu filho no mato. Quando deito à noite, não sei se ele tá com frio, se tá com fome, se tá vivo ou se tá morto" Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se transformou em estatística: é o sexto menino assassinado na cidade gaúcha de Passo Fundo entre março e outubro. Dois deles sofreram violência sexual antes da morte. A decomposição dos Miguelina Savero, avó de Alessandro, de 13 anos, desaparecido há 40 dias. corpos de outros três era tão avançada que não permitiu descobrir se ä tiveram a mesma sina. Sobre Leonardo não se sabe. O assassino está solto e sua identidade é um mistério. Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Em Passo Fundo, pelo menos dez pessoas foram jogadas na cadeia, mas os assassinatos continuaram. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, Se eu fosse rica, tinham encontrado meu neto em 24 horas. morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou extorqui-lo. Discutiram e o garoto quis matá-lo. O homem Foto: Tiago Galvão apertou seu pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Reconstituição Quando o representante comercial fez a reconstituição dos acontecimentos, levou a polícia primeiro a outro cenário. Suspeito da morte de Jeferson, ele conduziu os agentes ao mato em que Volnei havia sido achado. A investigação tornouse ainda mais nebulosa. E foi piorando. Desde sua prisão, outros dois meninos foram assassinados.

7 salvador, 05/ 01/ Tô com o corpo lanhado de tanto procurar meu filho no mato. Quando deito à noite, não sei se ele tá com frio, se tá com fome, se tá vivo ou se tá morto" Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se transformou em estatística: é o sexto menino assassinado na cidade gaúcha de Passo Fundo entre março e outubro. Dois deles sofreram violência sexual antes da morte. A decomposição dos corpos de outros três era tão avançada que não permitiu descobrir se ä tiveram a mesma sina. Sobre Leonardo não se sabe. O assassino está solto e sua identidade é um mistério. Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Em Passo Fundo, pelo menos dez pessoas foram jogadas na cadeia, mas os assassinatos continuaram. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um "A gente é do tipo que trabalha de dia para comer de noite" dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A maria lucia, faxineira da baixada, procura seu filho há mais de tres meses. Foto: Tiago Galvão polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Reconstituição Quando o representante comercial fez a reconstituição dos acontecimentos, levou a polícia primeiro a outro cenário. Suspeito da morte de Jeferson, ele conduziu os agentes ao mato em que Volnei havia sido achado. A investigação tornouse ainda mais nebulosa. E foi piorando. Desde sua prisão, outros dois meninos foram assassinados. Para o chefe da investigação, Sebastião Jungles, o representante comercial é culpado de pedofilia, não de homicídio. Ele acredita que todos os garotos, com exceção de Volnei, foram mortos pelo mesmo maníaco. "Essa é a minha convicção pessoal", diz o agente. O último feito da polícia aconteceu em 1o de novembro, no dia seguinte ao sumiço de Leonardo. Seu avô, Gediom Dornelles, policial militar aposentado, procurou a casa de videogames do bairro. Uma testemunha apontou um homem, estranho na comunidade, que tinha sido visto saindo dali com o menino. O avô abordou o forasteiro e o obrigou a ir até a delegacia. Era um sábado. Ele estava sem documentos, mas mesmo assim os policiais o liberaram e mandaram que voltasse na segundafeira. Quando ele não apareceu para depor, descobriram que o suspeito era Adriano da Silva, foragido da prisão de União da Vitória, no Paraná, onde é condenado a 27 anos por ter roubado e esfaqueado um taxista até a morte. "Ele queria comparecer à delegacia. Deixou até uma carta dizendo que pretendia colaborar com a polícia, mas só não apareceu porque ficou com medo ao ser ameaçado pela família Quando ele não apareceu para depor, descobriram que o suspeito era Adriano da Silva, foragido da prisão de União da Vitória, no Paraná, onde é condenado a 27 anos por ter roubado e esfaqueado um taxista até a morte. "Ele queria comparecer à delegacia. Deixou até uma carta dizendo que pretendia colaborar com a polícia, mas só não apareceu porque ficou com medo ao ser ameaçado pela família

8 8 salvador, 05/ 01/ 2005 A sexta ossada de criança foi achada na cidad Cemitério de meninos Tô com o corpo lanhado de tanto procurar meu filho no mato. Quando deito à noite, não sei se ele tá com frio, se tá com fome, se tá vivo ou se tá morto" Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca Eliane Brum repórter A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se matálo. O homem apertou seu pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Reconstituição Quando o representante comercial fez a reconstituição dos acontecimentos, levou a polícia primeiro a outro cenário. Suspeito da morte de Jeferson, ele conduziu os agentes ao mato em que Volnei havia sido achado. A investigação tornou-se ainda mais nebulosa. E foi piorando. Desde sua prisão, outros dois meninos foram assassinados. Para o chefe da investigação, Sebastião Jungles, o representante comercial é culpado de pedofilia, não de homicídio. Ele acredita que todos os garotos, com exceção de Volnei, foram mortos pelo mesmo maníaco. "Se eu fosse rica, tinham encontrado meu neto em 24 horas." "Essa é a minha convicção pessoal", diz o agente. O último feito da polícia aconteceu em 1o de novembro, no dia seguinte ao sumiço de Leonardo. Seu avô, Gediom Dornelles, policial militar aposentado, procurou a casa de videogames do bairro. Uma testemunha apontou um homem, estranho na comunidade, que tinha sido visto saindo dali com o menino. O avô abordou o forasteiro e o obrigou a ir até a delegacia. Era um sábado. Ele estava sem documentos, mas mesmo assim os policiais o liberaram e mandaram que voltasse na segundafeira. Quando ele não apareceu para depor, descobriram que o suspeito era Adriano da Silva, foragido da prisão de União da Vitória, no Paraná, onde é condenado a 27 anos por ter roubado e esfaqueado um taxista até a morte. "Ele queria comparecer à delegacia. Deixou até uma carta dizendo que pretendia colaborar com a polícia, Assassinato de reféns chineses comove a mas só não apareceu porque ficou com medo ao ser ameaçado pela família do menino", diz o delegado Márcio Zachello, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) do Rio Grande do Sul. Adriano, que estava usando o nome do irmão, chegou a Passo Fundo no mês de março. O avô abordou o forasteiro e o obrigou a ir até a delegacia. Era um sábado. Ele estava

9 salvador, 05/ 01/ e gaúcha de Passo Fundo, na noite de quarta-feira opinião pública sem documentos, mas mesmo assim os policiais o liberaram e mandaram que voltasse na segunda-feira. Quando ele não apareceu para depor, descobriram que o suspeito era Adriano da Silva, foragido da polícia Tô com o corpo lanhado de tanto procurar meu filho no mato. Quando deito à noite, não sei se ele tá com frio, se tá com fome, se tá vivo ou se tá morto" Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se transformou em estatística: é o sexto menino assassinado na cidade gaúcha de Passo Fundo entre março e outubro. Dois deles sofreram violência sexual antes da morte. A decomposição dos corpos de outros três era tão avançada que não permitiu descobrir se ä tiveram a mesma sina. Sobre Leonardo não se sabe. O assassino está solto e sua identidade é um mistério. "Se eu fosse rica, tinham encontrado meu neto em 24 horas." Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Em Passo Fundo, pelo menos dez pessoas foram jogadas na cadeia, mas os assassinatos continuaram. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou extorqui-lo. Discutiram e o garoto quis matá-lo. O homem apertou seu pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Reconstituição Quando o representante comercial fez a reconstituição dos acontecimentos, levou a polícia primeiro a outro cenário. Suspeito da morte de Jeferson, ele conduziu os agentes ao mato em que Volnei havia sido achado. A investigação tornou-se ainda mais nebulosa. E foi piorando. Desde sua prisão, outros dois meninos foram assassinados. Para o chefe da investigação, Sebastião Jungles, o representante comercial é culpado de pedofilia, não de homicídio. Ele acredita que todos os garotos, com exceção de Volnei, foram mortos pelo mesmo maníaco. "Essa é a minha convicção pessoal", diz o agente. O último feito da polícia

10 10 salvador, 05/ 01/ 2005 Tô com o corpo lanhado de tanto procurar meu filho no mato. Quando deito à noite, não sei se ele tá com frio, se tá com fome, se tá vivo ou se tá morto" Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se transformou em estatística: é o sexto menino assassinado na cidade gaúcha de Passo Fundo entre março e outubro. Dois deles sofreram violência sexual antes da morte. A decomposição dos corpos de outros três era tão avançada que não permitiu descobrir se ä tiveram a mesma sina. Sobre Leonardo não se sabe. O assassino está solto e sua identidade é um mistério. Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Em Passo Fundo, pelo menos dez pessoas foram jogadas na cadeia, mas os assassinatos continuaram. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do "Encontrei só os ossos do meu guri, comido pelos bichos no mato" menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo Quando o representante comercial fez a reconstituição dos acontecimentos, levou a polícia primeiro a outro cenário. Suspeito da morte de Jeferson, ele conduziu os agentes ao mato em que Volnei havia sido achado. A investigação tornou-se ainda mais nebulosa. E foi piorando. Desde sua prisão, outros dois meninos foram assassinados. Para o chefe da investigação, Sebastião Jungles, o representante comercial é culpado de pedofilia, não de homicídio. Ele acredita que todos os garotos, com exceção de Volnei, foram mortos pelo mesmo maníaco. "Essa é a minha convicção pessoal", diz o agente. O último feito da polícia aconteceu em 1o de novembro, no dia seguinte ao sumiço de Leonardo. Seu avô, Gediom Dornelles, policial militar aposentado, procurou a casa de videogames do bairro. Uma testemunha apontou um homem, estranho na comunidade, que tinha sido visto saindo dali com o menino. maria lucia, faxineira da baixada, procura seu filho há mais de tres meses. [crise na defensoria púbica brasileira] Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou extorqui-lo. Discutiram e o garoto quis matá-lo. O homem apertou seu pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou extorqui-lo. Foto: Tiago Galvão

11 salvador, 05/ 01/ O avô abordou o forasteiro e o obrigou a ir até a delegacia. Era um sábado. Ele estava sem documentos, mas mesmo assim os policiais o liberaram e mandaram que voltasse na segunda-feira. Quando ele não apareceu para depor, descobriram que o suspeito era Adriano da Silva, foragido da prisão de União da Vitória, no Paraná, onde é condenado a 27 anos por ter roubado e esfaqueado um taxista até a morte. "Ele queria comparecer à delegacia. Deixou até uma carta dizendo que "Se eu fosse rica, tinham encontrado meu neto em 24 horas." pretendia colaborar com a polícia, mas só não apareceu porque ficou com medo ao ser ameaçado pela família do menino", diz o delegado Márcio Zachello, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) do Rio Grande do Sul. Adriano, que estava usando o nome do irmão, chegou a Passo Fundo no mês de março. A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Adriano, que estava usando o nome do irmão, chegou a Passo Fundo no mês de março. A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. O avô abordou o forasteiro e o obrigou a ir até a delegacia. Era um sábado. Ele estava sem documentos, mas mesmo assim os policiais o liberaram e mandaram que voltasse na segunda-feira. Quando ele não apareceu para depor, descobriram que o suspeito era Adriano da Silva, foragido da prisão de União da Vitória, no Paraná, onde é condenado a 27 anos por ter roubado e esfaqueado um taxista até a morte. "Ele queria comparecer à delegacia. Deixou até uma carta dizendo que pretendia colaborar com a polícia, mas só não apareceu porque ficou com medo ao ser ameaçado pela família do menino", diz o delegado Márcio Zachello, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) do Rio Grande do Sul. Adriano, que estava usando o nome do irmão, chegou a Passo Fundo no mês de março. A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA "Não sei se meu filho tá com fome ou frio, vivo ou morto. Não sei se meu filho tá com fome ou frio, vivo ou morto" diálogo DEAM recebe número recorde de denúncias No dia em que morreu, Jeferson foi visto em companhia do representante comercial no Hotel e Churrascaria Veneza - entroncamento de rodovias freqüentado por caminhoneiros e viajantes atraídos pela hospedagem honesta e pela comida caprichada. Alarmada, a proprietária do hotel avisou que "o filho" não podia permanecer no quarto. Ele irmão mais novo foi sozinho. Não voltou. "Na madrugada em que acharam o corpo, eu sonhei que ele chegava em casa todo roxo de hematomas", conta a mãe. Volnei era bom aluno, responsável e amoroso. Como herança, deixou aos sete irmãos uma fortuna de menino: 150 bolinhas de gude. E os R$ 8 que ganhou vendendo rapaduras antes de ser violentado e morto com uma paulada na cabeça. Perto do Hotel Veneza também vivia Luciano Rodrigues, de 9 anos. Filho de papeleiros, não gostava da escola e, sempre que podia, escapava para os fliperamas. Quando o pai lhe pedia para ter cuidado com o assassino à solta, erguia um braço gordinho: "Sou forçudo, pai". Dia após dia João Rodrigues vasculhou a cidade na carrocinha puxada pelo pangaré Arizona em busca do seu "piá". Reconheceu o corpo pelo tênis. Às visitas, a mãe exibe o caderno: "Meu guri tinha letra de doutor". Dias atrás, a mãe de Leonardo dilacerava-se: "Não sei se meu filho tá com fome ou frio, vivo ou morto". A 4 quilômetros de casa, jogado no mato, Leonardo não podia sentir mais nada. Quando a mãe chegou ao local na manhã da quinta-feira, tudo o que havia para reconhecer do filho era o tênis e a calça com que saiu para não voltar. Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os

12 12 salvador, 05/ 01/ 2005 Grupo de risco Idosos são as principais vítimas de assaltos nas capitais do país Tatiana Mendonça repórter Tô com o corpo lanhado de tanto procurar meu filho no mato. Quando deito à noite, não sei se ele tá com frio, se tá com fome, se tá vivo ou se tá morto" Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se transformou em estatística: é o sexto menino assassinado na cidade gaúcha de Passo Fundo entre março e outubro. Dois deles sofreram violência sexual antes da morte. A decomposição dos corpos de outros três era tão avançada que não permitiu descobrir se ä tiveram a mesma sina. Sobre Leonardo não se sabe. O assassino está solto e sua identidade é um mistério. porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou extorqui-lo. Discutiram e o garoto quis matá-lo. O homem apertou seu pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Reconstituição Quando o representante comercial fez a reconstituição dos acontecimentos, levou a polícia primeiro a outro cenário. Suspeito da morte de Jeferson, ele conduziu os agentes ao mato em que Volnei havia sido achado. A investigação tornou-se ainda mais nebulosa. E foi piorando. Desde sua prisão, outros dois meninos foram assassinados. Para o chefe da investigação, Sebastião Jungles, o representante comercial é culpado de pedofilia, não de homicídio. Ele acredita que todos os garotos, com exceção de Volnei, foram mortos pelo mesmo maníaco. "Essa é a minha convicção pessoal", diz o agente. "Encontrei só os ossos do meu guri, a cabeça separada do corpo, comido pelos bichos no mato" O último feito da polícia aconteceu em 1o de novembro, no dia seguinte ao sumiço de Leonardo. Seu avô, Gediom Dornelles, policial militar aposentado, procurou a casa de videogames do bairro. Uma testemunha apontou um homem, estranho na comunidade, que tinha sido visto saindo dali com o menino. O avô abordou o forasteiro e o obrigou a ir até a delegacia. Era um sábado. Ele estava sem documentos, mas mesmo assim os policiais o liberaram e mandaram que voltasse na segundafeira. Quando ele não apareceu para depor, descobriram que o suspeito era Adriano da Silva, foragido da prisão de União da Vitória, no Paraná, onde é condenado a 27 anos por ter roubado e esfaqueado um taxista até a morte. "Ele queria comparecer à delegacia. Deixou até uma carta dizendo que pretendia colaborar com a polícia, mas só não apareceu porque ficou com medo ao ser ameaçado pela família do menino", diz o delegado Márcio Zachello, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) do

13 salvador, 05/ 01/ Tô com o corpo lanhado de tanto procurar meu filho no mato. Quando deito à noite, não sei se ele tá com frio, se tá com fome, se tá vivo ou se tá morto" Cláudia Dornelles, mãe de Leonardo, de 8 anos, dias antes de encontrar a ossada do filho no mato "Se eu fosse rica, tinham encontrado meu neto em 24 horas." Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se transformou em estatística: é o sexto menino assassinado na cidade gaúcha de Passo Fundo entre março e outubro. Dois deles sofreram violência sexual antes da morte. A decomposição dos corpos de outros três era tão avançada que não permitiu descobrir se ä tiveram a mesma sina. Sobre Leonardo não se sabe. O assassino está solto e sua identidade é um mistério. Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Em Passo Fundo, pelo menos dez pessoas foram jogadas na cadeia, mas os assassinatos continuaram. Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Em Passo Fundo, pelo menos dez pessoas foram jogadas na cadeia, mas os assassinatos continuaram. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da "Se eu fosse rica, tinham encontrado meu neto em 24 horas." região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Reconstituição Quando o representante comercial fez a reconstituição dos acontecimentos, levou a polícia primeiro a outro cenário. Suspeito da morte de Jeferson, ele conduziu os agentes ao mato em que Volnei havia sido achado. A investigação tornouse ainda mais nebulosa. E foi piorando. Desde sua prisão, outros dois meninos foram assassinados. Para o chefe da investigação, Sebastião Jungles, o representante comercial é culpado de pedofilia, não de homicídio. Ele acredita que todos os garotos, com exceção de Volnei, foram mortos pelo mesmo maníaco. "Essa é a minha convicção pessoal", diz o agente. O último feito da polícia aconteceu em 1o de novembro, no dia seguinte ao sumiço de Leonardo. encontrado morto e violado Foto: Tiago Galvão Grupo anima crianças em bairo periférico de Salvador promovendo a integração social e o combate à violência.

14 14 Todas as manhãs, durante 47 dias, a família de Leonardo Dornelles dos Santos o procurou. Nos matos, nas estradas, nas ruas. Agarrando-se em boatos de esperança de quem falou com um terceiro que ouviu de um quarto que o menino teve os cabelos pintados de loiro e um brinco na orelha, que era escravo de traficantes, que estava preso numa casa desconhecida. Vivo, ao menos. Os vizinhos traziam notícias de carros pretos misteriosos rondando os arredores, histórias de crianças que foram puxadas pela mão por homens estranhos e conseguiram fugir. A mãe tentou se matar com uma faca num dia em que o desespero lhe tirou o ar. A avó esfolava os joelhos na Igreja Deus é Amor, onde recebia revelações de que o "neto estava vivo, trancado num porão, mas iluminado pelo Senhor". Ao voltar, ela dizia com fervor: "De hoje para amanhã ele vai estar na minha casa". E o amanhã chegava sem Leonardo. A busca A busca terminou no anoitecer da quarta-feira. Ao se embrenhar no mato com seu cão, um agricultor encontrou uma ossada de menino. Foi preciso achar a cabeça, que estava separada do corpo. Ossos foram localizados em tocas de tatu. A confirmação definitiva ainda depende do exame de DNA. Com apenas 8 anos, Leonardo se transformou em ONG oferece o toque e atenção a mulheres que sofreram violência sexual e são atendidas pelo grupo VIVER. salvador, 05/ 01/ 2005 estatística: é o sexto menino assassinado na cidade gaúcha de Passo Fundo entre março e outubro. Dois deles sofreram violência sexual antes da morte. A decomposição dos corpos de outros três era tão avançada que não permitiu descobrir se ä tiveram a mesma sina. Sobre Leonardo não se sabe. O assassino está solto e sua identidade é um mistério. Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Em Passo Fundo, pelo menos dez pessoas foram jogadas na cadeia, mas os assassinatos continuaram. Espumoso e a única menina do saldo macabro em Erechim. A polícia gaúcha concluiu que o horror num raio tão estreito não tem ligação. Suspeitos foram presos nas cidades e as mortes estancaram. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos Crise na defensoria púbica brasileira Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto, o garoto pediu que o levasse para casa e, no caminho, tentou extorqui-lo. Discutiram e o garoto quis matá-lo. O homem apertou seu pescoço com um fio de luz e abandonou-o desmaiado no mato. A polícia supôs que o engraxate era Jeferson Silveira, de 11 anos, encontrado morto e violado. O representante comercial não o reconheceu nem admitiu tê-lo matado. "Nesse caso, não tenho 100% de certeza porque a confissão foi oblíqua", diz o delegado Paulo Ruschel. Mesmo assim, o homem foi indiciado. Primeiro, a polícia botou na Febem sete adolescentes que teriam confessado a violação e morte de um dos garotos, Volnei Siqueira dos Santos, de 12 anos. Teve de soltá-los porque o exame de DNA mostrou que o esperma encontrado na cueca do menino não correspondia a nenhum deles. Mesmo assim, foram indiciados. Depois, prendeu um representante comercial de 48 anos, morador da região metropolitana de Porto Alegre, que foi visto num hotel da cidade com um engraxate. Preso, ele teria confessado que teve relações sexuais "passivas" com o menino. No segundo depoimento, negou. Contou que, ao deixar o quarto.

15 publicidade

16 16 salvador, 05/ 01/ 2005 as pessoas devem ser lembradas, sob pena de mais um pouco de morte Graciliano Ramos Há sete anos o Cedeca atende crianças vítimas de abuso e exploração sexual PMs tem aula sobre Direitos Humanos fragmentos não sei o que dizer, só sei que meu filho não está mais aqui dona maria viu seu filho joão, de 14 anos, ser assassinado por PMs Fórum Comunitário de Combate à Violência Todos os dias, 2 pessoas são assassinadas em Salvador.